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O eterno Brasil x Argentina

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 22/02/2002

3 MIN DE LEITURA

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A retomada das preocupações com as importações de lácteos provenientes da Argentina expõe a fragilidade comercial não só do nosso vizinho em apuros, mas também, a nossa. Inicialmente com certo ceticismo ou timidez, agora com alarde bem maior, as lideranças do setor alertam para a inundação de leite argentino no Brasil, caso as tarifas sejam reduzidas. O produtor argentino recebe hoje, em dólar, inacreditáveis US$ 0,043 a US$ 0,068 por litro de leite, fruto, é claro, da grande desvalorização do peso, aliada a um leite tradicionalmente de custo muito baixo.

Aliás, esta situação me leva a acreditar que o maior determinante da competitividade dos países no mercado de leite, depois dos subsídios, é o câmbio, ficando os aspectos técnicos em terceiro lugar. Basta ver como Brasil e, agora, Argentina, ficaram subitamente competitivos no mercado internacional, muito embora seu desempenho zootécnico tenha sido muito pouco alterado. Mas isto é tema para uma outra análise.

Voltando à situação de mercado entre Brasil e Argentina, é evidente que a Argentina lutará pela redução ou pela eliminação da tarifa de US$ 1900/tonelada de leite em pó exportada para o Brasil que, na prática, inviabiliza o fluxo deste produto para cá. Possivelmente estaríamos fazendo o mesmo, se estivéssemos na situação deles. Também, é evidente que o Brasil evitará a qualquer custo ceder terreno nesta questão, afinal a aplicação do acordo anti-dumping seguiu os protocolos adequados junto à OMC e foram aprovados com base em argumentos sólidos. Novamente, os argentinos estariam fazendo o mesmo que nós, fossem eles os beneficiados pelas penalizaçõe legalmente obtidas.

E, com esta contenda entre vizinhos que parece nunca terminar, vamos assistindo à distância e sem maiores preocupações o crescimento de diversos países no mercado internacional de lácteos, principalmente Austrália e Nova Zelândia, que procuram se fortalecer no cenário externo com alianças estratégias (Fonterra e Nestlé é a mais contundente, veja a notícia de hoje), e com o desenvolvimento de produtos talhados para consumidores tão improváveis como a pobre população de Bangladesh ou do Vietnã. Iremos também ouvir, provalvemente em um futuro não muito distante, notícias sobre o desenvolvimento da atividade leiteira em países do leste europeu, especialmente a Polônia, que tem condições favoráveis para produção, a custos relativamente baixos.

Enquanto isso, nosso "mundo lácteo" é composto em grande parte pela necessidade de fechar as fronteiras para a Argentina e, o deles, pela necessidade de exportar seus excedentes para o Brasil. Não se trata de minimizar a questão, classificando-a como secundária. Claro que há um problema concreto a ser resolvido: produtores de ambos os países estão em dificuldades e, no caso argentino, parte da solução está em exportar ao Brasil, seu principal mercado, o que seria mais um fator de desestabilização para o já combalido setor produtivo brasileiro. O acordo anti-dumping, ou a ausência dele, irá prejudicar um dos lados.

O contexto econômicos dos dois países, em especial da Argentina, em frangalhos, também não pode ser ignorado. Sem dúvida deve ser mais fácil um acordo entre EUA e Canadá, do que entre Brasil e Argentina em meio à crise que passa no momento. A necessidade de sobrevivência no curto prazo fala mais alto do que qualquer acordo de cooperação que seja proveitoso no longo prazo, mas que traga custos no presente e no futuro próximo. A prioridade é outra.

Lamenta-se, porém, que, nestes anos todos de Mercosul, tenhamos avançado muito pouco na cooperação entre os dois países, não só no setor lácteo, mas em grande parte da economia. Seria muito bom se pudéssemos conviver pacificamente com a Argentina em assuntos comerciais e, melhor ainda, em um ambiente de cooperação, visando otimizar as ações dos dois países em mercados internacionais, por exemplo.

Mas talvez seja otimismo demais achar que isto possa ocorrer em um futuro próximo, pelos motivos já expostos. Sendo assim, na impossibilidade de um cenário mais positivo de cooperação e parceria entre Brasil e Argentina, nos resta defender nosso território ...

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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