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O caso Parmalat: dá para ter algum otimismo? |
MARCELO PEREIRA DE CARVALHO
Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.
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RENATO S. MACHADO POMPÉU-MGPOMPÉU - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS EM 18/01/2004
Sei não é a finalidadade desta seção não é comentar as cartas enviadas. Mas fiquei muito impressionado com a matéria do João Carlos C. Pimentel.
É raro encontrar artigos com tamanha fluidez de texto tratando de um assunto tão complexo. Além disto é um tópico totalmente novo no dilema, a escandalosa quantia de dinheiro desviada. Eu havia pensado que podia ser maior que o PIB de muitos países mas a comparação em bois é bem mais palpável. Obrigado pela matéria. Renato S. Machado Pompéu-MG |
ITAMAR DALL'AGNOLOUTRO - PARANÁ EM 14/01/2004
Concordo plenamente com o artigo, porém, a grande maioria das cooperativas está desvirtuada de seus objetivos a que foram criadas.
Apesar de ter como sócios produtores, e ser dito pelos dirigentes "as cooperativas são dos produtores", legalmente o são, mas mesmo que queiram não conseguem opinar, pois as assembléias são orquestradas e os interesses são direcionados para pequenos grupos, os dirigentes de cooperativas que, mesmo sem nenhuma ou pouca experiência, querem gerenciar tudo e comandar pessoalmente qualquer negócio, atendo-se a pequenos detalhes e tornando o negócio pouco ou nada competitivo. Isso faz da cooperativa o pior negócio para o associado, pois na hora de comprar os insumos na cooperativa estes são os mais caros e na hora de vender os produtos, recebe sempre os menores preços, servindo inclusive na grande maioria como reguladoras dos preços para baixo, sendo referência para que as empresas, ao invés de definir o quanto vão pagar ao produtor, negociam pagando apenas centavos a mais que as cooperativas. |
JOÃO CARLOS DE CAMPOS PIMENTELSÃO PAULO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS EM 13/01/2004
Marcelo, meu caro
Minha contribuição a esta discussão. O ESTRANHO CASO DO FANTASMA DA DRA. JOAN ROBINSON E A PARMALAT Não sei o porquê, mas nesse caso da Parmalat uma frase da Dra. Joan Robinson me veio à mente como um outdoor de neon azul pulsante. "Todo mundo precisa aprender Economia para não ser enganado pelos economistas", disse ela duramente. Robinson foi aluna e posteriormente colega de John Maynard Keynes em Cambridge, durante as décadas de 30 e 40. Faleceu na década de 70 como a única mulher no Kings College. Como dizem alguns amigos economistas, ela trabalhou fortemente na área da Concorrência Imperfeita. Uma outra frase também me veio à mente estes dias: é que aquela que diz que "Economia é uma ciência exata porque erra 100% das vezes". Economia trata de muitos valores que não conseguimos aprender com facilidade. Por exemplo, quanto vale 1 bilhão de dólares? Não adianta dizer que é o equivalente a 3.333,33 Ferraris Dino porque eu vou perguntar quanto valem 3.333,33 Ferraris Dino e nós não chegaremos a nenhum bom termo na disucssão do valor econômico. Aliás, o que é 0,33 de uma Ferrari Dino? Isto para dizer que, na minha opinião, 1 bilhão de dólares é um valor "irreal" no sentido de que muita pouca gente jamais chega a fazer uma boa idéia mental dele. Outra coisa que me veio à cabeça foi aquele fenômeno que aprendemos que oocrre com a naftlalina. Como se chama mesmo aquele fenômeno químico em que aquilo que é sólido passa diretamente para o gasoso? Esse fenômeno tem sido visto com muita freqüência no mundo econômico mas sem as correspondentes explicações dadas pelos químicos. Pois é, valores econômicos tão altos estão volatilizando com certa facilidade ultimamente. Quero dizer que é muito difícil para mim entender o desaparecimento de valores econômicos se os olharmos assim, apenas como valores econômicos. Precisamos transformá-los em coisas mais tangíveis, "pegáveis com a mão", para ter uma idéia do que representa esse desaparecimento. Os valores econômicos com que lidam as pessoas em sua atividade diária são muito mais reais. Cem bois gordos são 100 bois gordos, 5 caminhões cheios e outro pela metade com bois. Trinta e cinco mil dólares, bruto. Não que eles também não possam se volatilizar com facilidade. Basta vender inadvertidamente uma boiada para um frigorífico que está se preparando para quebrar. Mas a explicação econõmica do desvio aqui é muito mais fácil. Não precisa ser nem químico nem físico para entender. Números aproximados da pecuária de corte nacional indicam um abate de cerca 35 milhões de animais. Com cada animal fornecendo em média 14 arrobas de carcaça (por causa das fêmeas de descarte) e com cada arroba valendo em média 19 dólares (também por causa delas), parece ser válido estimar que a pecuária de corte brasileira cria um valor econômico agregado - ao nível do pecuarista que cria, recria e engorda animais para abate - da ordem de 9,5 a 10 bilhões de dólares ao ano. Agora, quanto foi o rombo da Parmalat no Brasil? Segundo a Gazeta Mercantil (de 13 Jan. 04, p. B-10), apenas as dívidas da Parmalat Brasil com os bancos são de 1,8 bilhões de dólares. Portanto, cerca de 20% do negócio do boi de engorda do Brasil em um ano!!! Segundo a mesma notícia, ao nível mundial os promotores italianos que investigam a Parmalat Finanziaria desapareceram 8 bilhões de euros (ao câmbio atual algo como 10 bilhões de dólares) dos cofres da empresa antes da concordata de 24 de dezembro. Ou seja,o rombo mundial da Parmalat é da mesma ordem de grandeza do faturamento bruto de todo um ano de todos os pecuaristas de corte brasileiros. Alguém poderia me confirmar se esta minha conta tem fundamento ou rapidamente me corrigir dizendo que os pressupostos e o raciocínio que usei são falsos e, mais importante, COMO eles são falsos? Tendo transformando todos esses bilhões de dólares em coisas mais palpáveis como bois e vacas abatidos, faço algumas perguntas aos articulistas do site: como alguém pode esconder o equivalente econômico da produção de um ano da pecuária de corte brasileira (que no seguinte estágio da cadeia fornece mais ou menos 7 milhões de t de carcaça)? Imagine o tamanho desse cofre! Um frigorífico! E imagine o tamanho das pistas que a lavagem desse dinheiro deve ter deixado! Será que alguns bancos - suíços ou das Bahamas- poderiam estar envolvidos nesse negócio, como a Arthur Andersen estava envolvida no caso da Enron? Será que os promotores italianos - seguindo a competência profissional dos juízes que enfrentaram a Máfia - não apenas chegarão aos culpados do desvio do dinheiro da boiada mas também conseguirão reaver o dinheiro dos investidores e dos fornecedores? Será que os bancos que financiaram a Parmalat suportarão as perdas relacionadas a esse investimento de risco (como qualquer outro) que se revelou danoso ou será que conseguirão repassar essas perdas - por mecanismos econômicos ad hoc que sempre surgem quando a pressão é adequada - para os contribuintes italianos e canadenses? E muito mais importante. Será que os economistas italianos - dos quais Vilfredo Pareto é o grande e inefável patrono - ajudarão a rastrear as pistas dessa montanha de dinheiro? Será que alguns deles se prestarão a dar as razões econômicas para o embasamento intelectual dessa pressão e justificarão mais uma vez a frase de Joan Robinson ? Mas pelo menos uma coisa todo esse negócio tem sido muito bom. Não é todo ano que começa assim tão bem assim para pessoas que gostam de perguntar... |
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