Ser liderança rural é uma das atividades mais complicadas que existem. Primeiro, é preciso representar milhares (às vezes milhões) de pessoas com realidades e anseios muito distintos entre si. Depois, é preciso dar forma e rumo à grande quantidade de opiniões e percepções destas pessoas, caso contrário há o risco de gerar apenas ruído e colher pouco resultado prático, além da insatisfação e das críticas generalizadas. Terceiro, é preciso negociar com elos mais fortes economicamente e, não raro, com lobbies mais ativos nas esferas governamentais. Quarto, é preciso ainda defender o setor junto à grande mídia, que nem sempre retrata a situação do produtor rural de forma imparcial e tal qual ela é.
Há, por fim, a questão da disponibilidade de recursos, geralmente insuficiente para aquilo que precisa ser feito, gerando frustração de quem lidera e insatisfação de quem é liderado.
Por tudo isso, ser líder de qualquer atividade rural não é uma tarefa fácil ou simples, que possa ser destinada a pessoas cujas qualidades principais são as boas intenções e a vontade, embora estes dois ingredientes não podem de forma alguma faltar.
Mas além delas, é preciso conhecer a matéria profundamente, ter boa articulação política, conhecer o funcionamento do sistema público e do meio político, ser exímio estrategista, ter bons assessores para as diversas áreas envolvidas e ter liderança. É preciso conhecer ou ter meios de se informar rapidamente a respeito das oportunidades existentes em cada momento e das ameaças à espreita, bem como dos pontos fortes a explorar e dos pontos fracos que precisam ser eliminados. É necessário acompanhar e entender as transições do mundo globalizado e as limitações da produção rural no contexto econômico. Enfim, como em qualquer empresa, o líder precisa ser um maestro, que consegue reger bem a orquestra que está sob sua responsabilidade e que lhe guarda as mais altas expectativas.
Parte destes atributos é inata, ou seja, cada pessoa já nasce com sua carga de liderança, umas mais, outras menos. Porém, a outra parte pode ser aprendida, não só com a experiência, mas com uma formação adequada para esta difícil função.
E põe difícil nisto. O líder rural defende um setor que, via de regra, está em desvantagem com todos os outros, seja em comparação aos demais elos da cadeia, seja em comparação a outros setores da economia. Sua única alternativa é ser melhor do que os outros. É como uma pequena empresa que pretende competir em um mercado recheado de grandes empresas: como prosperar tendo a mesma capacidade de realização das demais ? É quase impossível. É preciso ter os melhores quadros e vencer na eficiência, na criatividade, na capacidade.
É exatamente assim com as lideranças rurais. Os tempos estão mudando e cada vez mais a formação de líderes rurais se torna importante. Os produtores americanos, por exemplo, conseguem conquistas fenomenais no campo da política apesar de representarem pouca coisa no PIB americano. A nova Farm Bill está aí para provar. Os produtores da Nova Zelândia criaram uma estrutura de produção e comercialização de leite que lhes garante segurança e lhes permite agora atuar no mercado mundial, inclusive comprando empresas em outros países.
No Brasil, o setor rural produziu e vem produzindo bons líderes ao longo dos anos. A produtividade agrícola vem crescendo; o país, em diversos setores, vem sendo cada vez mais respeitado no exterior, como potência agrícola. A própria produção de leite brasileira cresceu de forma notável na última década. No entanto, um dia, os líderes deverão ser substituídos. Aliás, o grande líder é, acima de tudo, aquele que faz o seu substituto; mais do que isso: o substituto deve ser melhor preparado que o próprio líder, afinal a complexidade do mundo atual, a agilidade de mudanças e a disponibilidade de informações para se trabalhar colocam aquele que está melhor preparado em condições mais favoráveis para obter melhores resultados. No mundo competitivo de hoje, o sucesso do passado não garante um futuro tranqüilo. Quem não tem a sensação de, hoje, precisar ser melhor do que costumava ser há tempos atrás, para continuar no rumo de seus objetivos pessoais e profissionais ? Não há porque não ser assim em se tratando de lideranças rurais.
Mas como formar líderes rurais ? Pois saiba que já existem cursos próprios para isso. A ESALQ/USP tem um programa de formação de lideranças rurais, o líderusp II, que consiste de uma pós-graduação "latu sensu", com duração de dois anos, onde temas como associativismo, cooperativismo, análise e elaboração de projetos, economia e liderança são discutidos.
Iniciativas como esta são louváveis e devem ser seriamente consideradas tanto por quem almeja se tornar um líder rural, como para quem hoje está nessa importante e difícil posição, seja para sua própria formação, seja para a preparação dos seus substitutos.
Quem desejar obter mais informações sobre o liderusp II, visite o site www.ciagri.usp.br. ou entre em contato com o Prof. Fernando Peres, coordenador do curso, no email fcperes@esalq.usp.br.