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A velha polêmica do sistema de produção

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 16/04/2004

6 MIN DE LEITURA

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É interessante como algumas questões são recorrentes no que se refere às técnicas de produção de leite. A questão do sistema de produção é uma delas. Apesar das grandes transformações que têm pautado o setor nos últimos anos, como a granelização, a redução maciça das importações, o crescimento das exportações, a aprovação da nova legislação de qualidade e o próprio crescimento contínuo da produção, as discussões sobre os sistemas mais econômicos de produção de leite continuam as mesmas de 10 anos atrás. E, diga-se de passagem, trata-se de um assunto sempre quente, que invariavelmente desperta interesse de produtores, acadêmicos, técnicos e da indústria.

Um exemplo dessa polêmica pode ser acompanhado em tempo real no próprio MilkPoint, resultado do artigo publicado na seção Nutrição pelo nosso colaborador Alexandre Mendonça Pedroso, doutorando da ESALQ/USP (Como alimentar as vacas quanto o preço do leite cai - parte 1).

O autor, de forma bastante didática, mostrou o efeito do (correto) conceito de que o custo de manutenção das vacas é diluído no custo do litro de leite à medida que a produção aumenta, reduzindo, evidentemente, o custo fixo por litro de leite.

Mostra também que, à medida que a produção de leite aumenta, há a necessidade de aumentar a suplementação extra, com alimentos com maior teor de energia e proteína, para suprir as exigências para produção de leite, o que resulta em aumento de custos por vaca por dia. A viabilidade econômica da suplementação vai depender, portanto, de 3 parâmetros básicos:
 

  • - custo da suplementação
    - preço do leite
    - resposta (kg de leite por kg de suplemento)

Como esses parâmetros variam de caso a caso, é evidente que é impossível fazer uma recomendação única ou concluir de forma definitiva sobre a viabilidade de aumentar a produção por vaca via suplementação. Sob baixos preços do leite e alto custo de alimentação, a suplementação caminha no sentido de se tornar desvantajosa. É o que ocorre, por exemplo, na Nova Zelândia, cujo custo da suplementação extra, aliado ao limitado preço do leite e à alta qualidade das forragens, torna a conta da suplementação normalmente vermelha. No entanto, em momentos nos quais, por alguma razão, a suplementação fica atrativa, o produtor neozelandês suplementa imediatamente, ou seja, o pastejo exclusivo é uma opção estritamente econômica e não "religiosa"!

No Brasil, em boa parte das situações, especialmente para o público que nos lê, a suplementação tende a ser econômica, pois temos suplementos comparativamente baratos e as pastagens tropicais têm menor valor nutrititivo (a única coisa em comum que temos é o preço do leite limitado!). Nossa situação reflete o oposto exato da Nova Zelândia: mesmo em sistemas a pasto, serão poucas as ocasiões em que a suplementação é desvantajosa economicamente. Isso vale analisando-se um grupo de animais dentro de um sistema de produção. Se, no entanto, o aumento da suplementação exigir outros investimentos, como aquisição de animais ou instalações extras, há necessidade destes investimentos serem considerados.

Um outro dogma é a contraposição entre produção por animal e produção por área. Noto que muitos dos que entendem que o pastejo de vacas em lactação é o melhor caminho para a rentabilidade, parecem repudiar a produção por animal, como se fosse antagônica à produção por área ou mesmo à lucratividade . Não há antagonismo algum. A suplementação não reduz a produção por área de vacas a pasto; pelo contrário, potencializa, não só pelo aumento de produção proporcionado pela suplementação, mas também pelo efeito substitutivo de parte da forragem, de forma que, em um mesmo hectare, se produz muito mais leite. Assim, quanto menor a área e quanto mais valiosa a terra, mais sentido faz em suplementar.

Por tudo isso, normalmente a maior suplementação resulta em maiores Retornos sobre o Custo de Alimentação (RSCA), ou seja, o que sobra de cada vaca, diariamente, para pagar os demais custos e gerar o lucro.

Porém, nossos leitores levantaram uma outra questão relativa a esse conceito: a de que o maior Retorno sobre o Custo de Alimentação não necessariamente gera maior lucro, porque o desgaste das vacas é superior, resultando em maior incidência de problemas reprodutivos, sanitários e maior descarte (veja as cartas do Prof. Fernando Madalena, do produtor Renato Fonseca e do Prof. Rodrigo de Almeida, além do zootecnista Renato Palma Nogueira, este compartilhando da opinião do autor).

Realmente esse é um ponto importante e precisa ser analisado. Se a maior RSCA for acompanhada de aumento de custos que não a alimentação - e muitas vezes é - é necessário ponderar mais. A conta precisa incluir esses eventuais custos extras, como maior descarte ou maiores gastos com medicamentos, por exemplo. Mais ainda: se, para se obter a própria resposta esperada pela suplementação, for necessário investir em melhores condições para os animais (ou mesmo melhores animais), treinamento de mão-de-obra, assistência técnica, etc, isso certamente precisa entrar na conta.

Utilizando os dados simulados pelo Dr. Alexandre para vacas de 10 e 30 kg de leite/dia e um preço de R$ 0,40/litro, mais próximo da média nacional hoje, vamos considerar que, além de diferenças no custo de alimentação, haja diferenças nos outros custos por vaca por dia (tabela 1).

Tabela 1. Comparação de vacas de 10 e 30 kg/dia
 


Trata-se, claro, de uma simulação, mas a tabela mostra que a vaca de 30 kg/dia poderia, nestas condições, gastar R$ 4,97 a mais por dia em custos além da alimentação e ainda assim geraria o mesmo lucro da vaca de 10 kg/dia (o retorno sobre capital investido é outra história).

O objetivo desse exercício é mostrar que a coisa não é tão simples assim e que "cada caso é um caso". Por essas variações, mesmo em sistemas padronizados, a relação entre produção e lucratividade não é linear, como atestam diversos trabalhos em países que têm estatísticas de custos de produção confiáveis (não é o nosso caso).

O Prof. Madalena, da UFMG, alerta que a análise do autor deveria se fundamentar "na margem líquida da fazenda e na rentabilidade do capital investido, e com dados reais, de alguém que ganhe dinheiro produzindo leite dessa forma".

O Prof. está corretíssimo. Porém, voltemos ao início desse artigo. Infelizmente, continuam faltando informações sobre custos de produção de leite e rentabilidade em função de uma série de parâmetros, como produção por vaca, módulo de produção, região, sistema de produção, etc, etc. O que existem, em sua maioria, são relatos isolados, de determinadas fazendas em determinadas situações, que informam seus custos de produção e sua rentabilidade, sem que sejam analisados a fidelidade dos dados, o histórico e a situação específica da fazenda. Mais confundem do que esclarecem.

São poucos os trabalhos que incluem acompanhamento de longo prazo, com coleta real de dados de custos de produção das fazendas. Esses acompanhamentos são normalmente trabalhosos e tendem a ser caros, o que implica, talvez, em sua não-adoção generalizada. Lembro-me agora do trabalho coordenado pelo Prof. José Ferreira Noronha, da UFG, em Goiás, entre outubro de 1997 e setembro de 1999. Ele acompanhou, durante esses dois anos, um grupo de 54 produtores, com estagiários visitando mensalmente cada fazenda, com o objetivo de acompanhar os custos, totalizando 720 visitas ao final do período. Esse trabalho, ao que consta, foi descontinuado. Se não o fosse, poderia, com o passar dos anos, trazer mais informações e ser inclusive expandido para outras regiões.

Há, mais recentemente e em pleno funcionamento, o Educampo, do Sebrae, que visa também trazer dados econômicos das fazendas e que, ganhando abrangência nacional, pode ajudar a destrinchar essas questões todas.

Por enquanto, ficamos nas simulações e nas opiniões, como há 10 anos atrás. De qualquer forma, estão todos de parabéns; o Dr. Alexandre Pedroso, por colocar um conceito correto, de forma didática e por ter levantado uma discussão oportuna e os nossos missivistas, pelas ótimas contribuições. Fica, ao final, apenas um desejo: que daqui há 10 anos, possamos avançar nessa discussão, a partir de uma boa base de dados, acumulada em situações reais.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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LEOVEGILDO LOPES DE MATOS

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 22/04/2004

Prezado Marcelo:

Sua avaliação elogiosa do trabalho veiculado neste sítio, de autoria do colaborador Alexandre M. Pedroso despertou minha curiosidade, principalmente pela "...forma didática, mostrou efeito do (correto) conceito...". Ao verificar o referido trabalho, deparei-me com uma tradução de parte do artigo escrito no ano passado pelo Dr. Paul Chandler, listado como única "Referência". A comunidade técnico-científica e acadêmica deve primar pela ética, que deve ser cultivada zelada a todo custo. Seria mais honesto e elegante deixar evidente que se trata de uma tradução, de trabalho que o colaborador achou interessante e gostaria de compartilhar com os usuários do MilkPoint. O Sr. Pedroso, não apenas assumiu indevidamente a autoria do trabalho, como recebeu e agradeceu os elogios a ele dirigidos.
Ao traduzir o trabalho, entretanto, o pretenso autor, adaptou de forma equivocada as informações, principalmente a Tabela 1. O intuito original era contrapor a secagem de uma vaca e gastar com ela US $ 0,80 por dia (R$ 2,40) com alimentação com silagem de milho e concentrado ou dieta para grupo de vacas secas. A tabela como apresentada no MilkPoint aponta como custo de mantença R$ 0,72/vaca, o que equivale a 12 kg de MS de pasto, que deveriam suprir nutrientes para produções diárias acima de 12 L de leite/vaca/dia, assumindo uma seleção de pasto com 60% de NDT e 14-15% de PB. Portanto, partindo dessa premissa, as conclusões posteriores ficam invalidadas. Para o exemplo de 10 kg de leite/dia, essas vacas não mereceriam concentrado, portanto com custo de alimentação superestimado. Vacas a pasto, produzindo, em média, 30 kg/dia, deveriam comportar no rebanho animais de 35-40 kg, com alguns animais produzindo 45 ou mais no pico. Como bem cobrado pelo Dr. Madalena, alguém consegue tais índices ou são apenas frutos de exercícios sem fundamento. Nessa mesma tabela, a coluna custo de manutenção (%sobre custo total da alimentação), o colaborador Pedroso copiou os índices diretamente dos equivalentes próximos em libras de 71, 54, 44, 37, 32 e 29, do original, quando se calculados com seus custos em Reais deveriam constar: 47,4; 31,7; 23,5; 19,2; 15,9 e 13,5%. Só acertou o 100% da primeira linha.

Eu, pessoalmente, discordo das argumentações do Dr. Chandler, pois toda sua discussão foi baseada nas premissas de que o custo dos nutrientes aumenta linearmente com o aumento da produção e que mantença não muda com a produção. O custo de 370-400 g de PB e 4 kg de NDT variam muito se as fontes forem pasto colhido pela própria vaca ou silagem de milho + concentrado, combustível e energia, que constituem a dieta de vacas de alta produção. A lei dos retornos decrescentes, ao contrário do proposto por Chandler, se aplica à vaca leiteira, com a todos os sistemas biológicos. O fato do custo de mantença se diluir com o aumento da produção opera da mesma forma como os custos fixos de culturas com taxas de aplicação de fertilizantes. O raciocínio é exatamente o mesmo. Portanto, o ótimo econômico é atingido antes de se alcançar o máximo físico ou biológico, sejam produzidos grãos, casrne ou leite. Esse negócio de calcular dietas para atender exigências nutricionais de vaca, é coisa do passado ou talvez, bastante atual para países que subsidiam a produção de leite. Exceto quando se trabalha com incremento no uso de insumos de custo zero, uma impossibilidade.

Para finalizar, em sistemas confinados, como nos exemplos das últimas linhas com médias elevadas de produção, a alimentação responde por 35 a 40% do custo de produção do leite. Dessa forma, com rebanho de 30 L de média por vaca, à R$ 5,30 de custo de alimentação, o custo total por vaca seria de R$ 13,25 a 15,14 por dia, responsável pelo prejuízo que tem levado aqueles que adotam esses sistemas de produção ao abandono da atividade. Informações plenamente disponíveis na literatura mostram, sem deixar dúvidas, que o aumento de produção por indivíduo, traz como consequências os problemas metabólicos, a maior incidência de doenças e os gastos veterinários e índices reprodutivos insuficientes para a própria manutençaão desses rebanhos. Os rebanhos ditos "superiores, acompanhados pelo DHI nos Estados Unidos, ostentam taxas de reposição de 40%, economicamente inconcebível para quem não dispõe de ajuda financeira direta ou indireta dos governos.

Infelizmente, os malefícios causados por informações equivocadas como essa, nunca serão corrigidos, mesmo com uma parte 2 a ser escrita, mesmo que esta venha com o título "...Parte 2 - O Desastre ou A Crônica de uma Morte Anunciada".

Atenciosamente,

Leovegildo

<b>Resposta do autor</b>:

Prezado Leovegildo,

Obrigado mais uma vez por nos brindar com sua opinião sobre esse assunto. No aspecto técnico, conforme abordei no Editorial, "...mesmo em sistemas a pasto, serão poucas as ocasiões em que a suplementação é desvantajosa economicamente. Isso vale analisando-se <b>um grupo de animais dentro de um sistema de produção</b>. - negrito meu, colocado agora. Com isso, concordo que comparar uma vaca de 5 kg de leite com uma de 30 kg leva a distorções se os animais estiverem sendo submetidos a sistemas de alimentação muito distintos, o que provavelmente ocorrerá (o kg de proteína e energia, mesmo para manutenção, variará entre os animais).

Por outro lado, tendo a discordar que essa situação seja suficiente para crucificar o confinamento, ainda que concorde que é mais suscetível a variações negativas nos preços do leite e diversos insumos. Se fosse tão universal e cristalina assim a diferença, considerando que o preço do leite é o mesmo para os "dois sistemas" (generalizando com exagero, pois o que define o grau de pastejo será o peso que possui na MS total ingerida no ano), não teríamos notícias de rebanhos a pasto fechando e rebanhos confinados ainda operando. Essas notícias existem. Um mercado competitivo, com margens baixas, não permitiria tamanha ineficiência.

Não tenho a pretensão de dizer que o pastejo tem viabilidade igual a do confinamento, mesmo porque não tenho esses dados em quantidade suficiente. É provável que seja um pouco mais competitivo a preços de leite mais baixos, considerando mesmo um nível tecnológico. Porém, ao conversar com fazendas a pasto, que tem sido referência e que tem os custos todos controlados, frequentemente, à boca miúda, falam de custos muito parecidos e, muitas vezes, dizem que os valores não são diferentes de quando trabalhavam confinados, mesmo porque os animais ainda são confinados por boa parte do ano em função da baixa disponibilidade de pastagens na época mais fria e seca nas condições do centro-sudeste.

Essas questões me levam a outra: será que muitos daqueles que reportam custos mais baixos associados a determinados sistemas não o fazem por não considerar todos os custos? Custos fixos, por exemplo, como custo de oportunidade da terra e mão-de-obra familiar são corretamente considerados? Muitas vezes não são.

Em base anual, certamente existem rebanhos a pasto dando lucro, existem rebanhos confinados dando lucro. Por outro lado, existem outros a pasto e confinados fechando, assim como existem rebanhos de girolando crescendo e outros liquidando, rebanhos com gado holandês idem, etc. Há que se considerar as características de cada propriedade e a gestão. Acho que esses aspectos fazem mais a diferença do que sistema A, B ou C. É claro que posso estar errado!

Finalizando esse ponto, uma sugestão: porque não se pensa em um trabalho de longo prazo, junto a propriedades em diversas regiões e diversos sistemas, com acompanhamento efetivo de custos de produção e tendo a participação efetiva de especialistas na matéria, representando universidades, consultores e centros de pesquisa? Vamos fazer?

Sobre o nosso colunista Alexandre, mantenho o elogio no contexto que fiz. O conceito de diluição do custo de manutenção à medida que a produção aumenta não foi inventado por ele nem pelo Dr. Chandler. É um conceito correto do ponto de vista biológico. Retornos decrescentes são outra história (correta também), assim como a ressalva feita com precisão em sua carta que, caso haja alteração de tipo de alimento, o custo pode ser mais alto por kg de nutriente.

Uma das propostas dos Radares Técnicos (o nome ja diz) é buscar o que está sendo publicado no meio acadêmico no Brasil e no exterior, bem como em revistas de extensão, e que possam ser de interesse para nosso público. Vários dos artigos do MilkPoint são baseados em trabalhos feitos no exterior e muitos deles são baseados em apenas uma referência. Isso não invalida o mérito destes artigos. Isso posto, gostaríamos muito de receber trabalhos feitos no Brasil e estamos tentando fomentar, junto aos grupos de pesquisa existentes em universidades e centros de pesquisa, a divulação destas informações em nossos sites.

De qualquer forma, respeito muito seus comentários e saiba que vou considerá-los em nossos passos futuros. Afinal, nosso objetivo é criar um veículo democrático, que possa discutir o setor de forma ética, isenta e com profundidade. A colaboração de profissionais como você é muito importante.


Um abraco,

Marcelo

PS: realmente há um erro na tabela, ao colocar as porcentagens, mas que não invalida o conceito. Assim que tivermos a correção, publicaremos.

<b>Resposta do Alexandre Pedroso:</b>

Prezado Marcelo,

Nossa, não imaginei que a metade de um artigo fosse dar tanto o que falar! Mas acho isso extremamente positivo. Com relação aos comentários e críticas do Dr. Mattos, cabem alguns esclarecimentos.

O objetivo dos radares técnicos do MilkPoint é levar aos leitores novidades e aspectos interessantes publicados na literatura técnico-científica, que na maioria dos casos não é prontamente acessível por produtores e técnicos de campo, que compõem a maior parte dos usuários do site.

O artigo citado é sim uma transcrição do artigo do Dr. Chandler, com as adaptações e adendos que julguei pertinentes, o que está em completo acordo com a proposta do radar. A imensa maioria dos artigos publicados nesta seção é concebida da mesma forma. Os textos publicados não são destinados à comunidade científica, e quando são feitas transcrições de artigos de terceiros, principalmente de autores estrangeiros, como nesse caso, quase sempre são necessários alguns ajustes para facilitar o entendimento dos conceitos.

Com relação à questão técnica, realmente houve um erro nos cálculos relativos ao custo de manutenção, já devidamente corrigidos. Peço desculpas pela falha. Mas isso não invalida a premissa, nem a argumentação, como colocado pelo Dr. Mattos.

Vejamos. Ao inserir os dados da simulação no NRC, considerando uma vaca HPB de 550 Kg, com 260 dias em lactação, o programa estima CMS de 10,8 Kg/dia. Se considerarmos uma dieta com 10,4 Kg MS de um pasto com 14% PB e 62% NDT, e 0,4 Kg de mineral, o custo vai ser bem próximo dos R$ 0,72 da tabela, o que valida a simulação, como ela está. Aqui na ESALQ, e em vários sistemas intensivos de produção, as vacas pré-parto (ultimos 30 dias) recebem 2 Kg de concentrado, o que eleva ainda mais o custo.

De qualquer forma, acho que todo debate é válido e importante, pois faz as pessoas refletirem sobre os conceitos, ampliando seus horizontes.

Um grande abraço,

.........................
Alexandre M. Pedroso
ESALQ/PPG-CPA



ROBERTO JANK JR.

DESCALVADO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/04/2004

Marcelo,

Gostei da polêmica e do artigo (seu e o do Alexandre).

Há os que discordam (Fernado Madalena) e os que concordam discordando (Leo L. Matos). Para mim (que concordo), a melhor síntese é do Renato Palma Nogueira quando diz que o problema é a "época que trabalhamos com preços abaixo do custo de produção". Esta é a frase que engloba nossas dúvidas quanto ao complicado custo de oportunidade do leite, aos riscos associados ao ganho de produtividade e escala e traz como consequência a eterna mediocridade e amadorismo que cerca a atividade.

Por que até hoje estamos prioritariamente discutindo fonte e custo de comida de vaca? Porque não somos profissionais para entender, dentro da nossa realidade de País (ex: N. Zelândia), como estabilizar e comercializar essa commoditie de uma forma "parecida" com os "cinco" (cana, laranja, soja, frango/ boi, café). A culpa é nossa e o catalisador do processo somos nós.

Roberto Jank Jr.
JEFERSON LUIS BELÉIA FARIAS

PORTO ALEGRE - RIO GRANDE DO SUL - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 18/04/2004

Caro Marcelo, como diz o Alexandre, em seu comentário sobre este artigo, não existe a possibilidade de esgotar-se o este assunto em duas páginas, digo mais, este assunto jamais se esgotará, pois, como você coloca, este dependerá de caso a caso e de cada momento. Um exemplo é o da flutuação do preço do farelo de soja nos últimos 12 meses. Porém, uma verdade é absoluta, independente do modelo da unidade produtora (sistema de produção) e do momento econômico, o conhecimento, por parte de produtores e técnicos, das variáveis que afetam os resultados dos processos produtivos é fundamental, pois a verdade é efêmera, a de hoje não servirá amanhã.

Eng. Agr. Jeferson Farias
Porto Alegre - RS
LEOVEGILDO LOPES DE MATOS

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 17/04/2004

Parabéns Marcelo. Como sempre, com competência e elegância você mostra ser um excelente moderador para esses assuntos importantes.

Infelizmente essa polêmica continua, e não é por falta de dados, mas sim porque nossos técnicos ainda não conseguem avaliar, com o devido critério as informações disponíveis. Só para mencionar dois exemplos: não existe nenhum sistema biológico com retornos lineares crescentes e sim retornos decrescentes. A vaca leiteira não seria a única a responder linearmente. Além disso, maximização da resposta biológica ultrapassa a fase de otimização econômica, por esse e alguns outros motivos. Esse conceito de mantença para vaca leiteira não nos ajuda muito e na maioria das vezes atrapalha bastante. Ainda está para aparecer o nutricionista que consiga alimentar uma vaca em lactação apenas para mantença. A mantença de uma vaca produzindo 10 litros de leite a pasto tem um custo muito diferente da mantença de uma vaca leiteira de 30 litros consumindo silagem de milho e concentrado.

Análises superficiais, com uma contabilidade grosseira e não com dados reais, me faz a lembrar do corpo médico de um hospital, avaliando suas normas e procedimentos na condução da UTI, que vem mostrando índices de insussessos alarmantes e concluem que os procedimentos estão corretos e os pacientes é que estão errados e, teimosos que são, estão insistindo em falecer.

Vejamos os exemplos reais do que acontece com nossa pecuária e com os pecuaristas que insistem em manter índices individuais elevados. A liquidação dos rebanhos ou a desistência da atividade são os eventos que se pode esperar e realmente estão acontecendo sempre. Precisamos rever nossos conceitos e não ignorar os fatos.
ALEXANDRE M. PEDROSO

PIRACICABA - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 17/04/2004

Meu caro Marcelo, fiquei bastante feliz com a discussão gerada em torno do meu artigo. Acho que se todos fossem questionados e debatidos o ganho dos leitores seria muito maior. No que se refere ao tema, não há verdades absolutas e ninguém pode ter a pretensão de esgotar assuntos em 2 páginas de texto. É por isso que a troca de opiniões é tão importante. O que vale para uma propriedade pode não valer para outra, e assim por diante.

Espero sinceramente que os artigos continuem a ser questionados e debatidos, e que, como você disse, possamos passar das simulações para a discussão de dados reais, que reflitam com fidelidade os problemas enfrentados pelos produtores.

1 grande abraço,

Alexandre

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