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A vaca louca no Canadá, o leite e as exportações brasileiras

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 30/05/2003

4 MIN DE LEITURA

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Tem sido recorrente o reconhecimento crescente da importância que o acesso aos mercados externos terá para regular e estabilizar preços de lácteos no mercado interno. Com uma válvula exportadora contínua, os efeitos de eventuais desajustes entre oferta e demanda poderão ser minimizados com a exportação de leite e derivados para os outros países. Ainda está fresco na memória de todos o segundo semestre de 2001, quando uma maior oferta momentânea de leite no mercado interno deprimiu consideravelmente os preços, uma vez que não havia escoamento imediato para esse excesso. Se tívessemos já, naquela época, canais de comercialização no exterior bem desenvolvidos, provavelmente isso não teria acontecido, ou pelo menos a intensidade teria sido bem menor.

Portanto, fica evidente que tendo mais mercados à disposição diminui-se o risco do negócio, embora o oposto extremo também tenha suas desvantagens. Em 2002, com a redução geral dos preços no mercado externo, produtores da Nova Zelândia, país que exporta mais de 90% de seu leite, sofreram grande redução nos preços recebidos, visto que, na situação específica desde país, o que falta justamente é o mercado interno, ficando dependência total no comportamento do mercado externo.

Outro item bastante comentado, relativo às exportações, é a necessidade de não ser um participante ocasional, desovando seus produtos quando necessário e se retirando do mercado logo em seguida. É necessário desenvolver canais sólidos de comercialização, fazendo-se sempre presente, identificando nichos e oportunidades de mercado nos quais somos competitivos, acompanhando de perto as negociações internacionais. Estabelecendo, enfim, bases sólidas para a atuação no mercado mundial.

Na semana passada, a notícia mais relevante foi o surgimento de um caso de vaca louca no Canadá, país que exporta 50% da carne produzida. Os reflexos foram intensos e imediatos. Os Estados Unidos, vizinhos e parceiros comerciais, imediatamente embargaram a carne do país. As ações do McDonald's e da rede Outback Steak House despencaram, apesar de ambas não adquirirem carne do Canadá. O Japão, país que também já teve vaca louca, também fechou seu mercado à carne canadense, bem como Nova Zelândia, Austrália, México, Brasil...

Não precisa ir muito mais longe para compreender que uma única vaca com a doença já trouxe enormes prejuízos ao país, sem contar uma possível queda de consumo, fruto do temor de contrair a doença por parte da população.

(para mais informações, leia o artigo de Miguel Cavalcanti, no BeefPoint: Vaca louca no Canadá: impactos na cadeia da carne)

No setor de lácteos, apesar deste não estar diretamente relacionado ao problema, também há preocupação. O produtor John Iversen, em notícia publicada nesta semana pelo MilkPoint, afirmou que "isto certamente gerará impacto à indústria agropecuária como um todo, porque está tudo entrelaçado, e isso deverá ter um longo alcance" (...) "Quando algo assim acontece, as pessoas reagem, e qualquer coisa relacionada com bovinos é afetada".

Com este episódio, percebe-se que as reações mundiais tendem a ser muito rápidas e seus efeitos, intensos. A vaca louca é uma doença com sérias implicações, em função de sua relação com a variante humana Creutzfeld Jacob, de forma que as reações dos países, em maior ou menor grau, se justificam. Porém, em jogo, está não só o risco à saúde da população e à queda de consumo, mas também interesses comerciais que estão sempre à espreita, prontos para aproveitar eventuais deslizes ou ameaça de deslizes.

O Brasil, felizmente, apresenta baixíssimo risco de ter a doença, mas é ingenuidade achar que ocuparemos espaço crescente nos mercados externos, desalojando concorrentes de peso, sem que nossas ações sejam cada vez mais monitoradas de perto, sem que nossos pontos fortes e fracos sejam cuidadosamente analisados, sem que barreiras não comerciais sejam estudadas e propostas, de forma a diminuir nossa possível expansão externa.

Em lácteos, não há porque ser diferente. É o setor mais protegido do agronegócio mundial, com subsídios e ajudas que atingem US$ 40 bilhões anuais. Não há porque achar que a redução das barreiras comerciais e subsídios não seja acompanhada de novas formas de proteção dos mercados, entre elas barreiras ambientais, trabalhistas ou sanitárias.

Para quem duvida da importância destas ações, vai aqui uma notícia. A Fonterra, maior cooperativa da Nova Zelândia, determinou que todos os seus fornecedores serão avaliados em relação a várias medidas ambientais e de bem estar animal, com o objetivo de fortalecer a reputação internacional da empresa para altos padrões e valores ambientais. O presidente da empresa Henry Van Der Heyden, disse que "a Fonterra precisa garantir que todos os fornecedores estejam trabalhando para cumprir as metas de um ambiente limpo e que este progresso possa ser mostrado aos consumidores e ao mundo".

Para que tenhamos os já comentados canais sólidos de exportação e sejamos um participante importante no mercado externo de lácteos, será cada vez mais preciso analisar os pontos fracos da cadeia leiteira e, gradativamente, eliminá-los, caso contrário teremos sempre um grande calcanhar de Aquiles, com risco de ficarmos fadados a exportar para mercados marginais, que remuneram menos.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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OTAVIO A C FARIAS

SÃO PAULO - SÃO PAULO

EM 06/06/2003

Caro Marcelo,
Interessante análise do setor lácteo.

O tema deve provocar reflexões no setor brasileiro para que se posicione de forma consistente em mercados internacionais.

Saudações,

Otavio A. C. de Farias
Hoogwegt do Brasil

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