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A nova fronteira do leite?

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 13/09/2006

6 MIN DE LEITURA

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O Nordeste brasileiro tem tido participação relativa levemente decrescente na produção de leite brasileira na última década, passando de 14,4% em 1990 para 10,7% em 2000. Em 2004, último ano disponível nas estatísticas do IBGE, o Nordeste participou com 11,5%, ou 2,7 bilhões de litros, pouco mais do que a produção goiana. Em termos absolutos, de 1990 a 2004 a produção nordestina aumentou 32% ou 660 milhões de kg, bem abaixo do crescimento brasileiro no período, de 62% ou quase 9 bilhões de kg. Na verdade, de 1990 até 2004, o Nordeste foi a região com menor crescimento absoluto na produção, como se vê pela tabela 1.

Tabela 1. Crescimento da produção, em kg de leite, nas várias regiões brasileiras, entre 1990 e 2004


O menor desenvolvimento da produção leiteira no Nordeste pode ser associado a diversas causas, como a questão climática (a falta de água de fato é sempre colocada como o maior limitante ao desenvolvimento da região, o que nem sempre ocorre), pobreza e educação, entre outros aspectos que, afinal, estão entrelaçados e cuja análise foge do nosso objetivo nesse texto.

O ponto em questão é que, se as condições climáticas exercem seu papel, o Nordeste apresenta bolsões de grande potencial de desenvolvimento na produção de leite. Nas áreas irrigadas ou irrigáveis, não raro encontra-se uma combinação pouco comum e de grande potencial para o desenvolvimento vegetal, como alta insolação, solos muito férteis e topografia favorável. Unindo-se essas características à oferta de água na medida certa, sem os riscos do excesso de umidade que afetam os sistemas mais ao sul, tem-se um leque de sistemas de produção viáveis e, arrisco-me a dizer, extremamente competitivos.

Estive há alguns meses na Chapada do Apodi, na divisa entre o Ceará e o Rio Grande do Norte, e fiquei impressionado com o que vi. Não ainda em desenvolvimento da produção de leite, mas no potencial, que já vem sendo capturado por culturas altamente intensivas como a produção de frutas tropicais destinadas à exportação, como caju, melão, manga, abacaxi, maracujá e banana, além de milho e feijão. As condições encontradas - alta insolação (e proximidade do Equador), água para irrigação, solos muito fertéis e topografia favorável estão entre as mais interessantes para a alta produção por área.

Há vários anos, visitei também o sertão do Ceará, na região do Cariri, e novamente constatei condições muito interessantes, aliada a uma temperatura mais amena, que permite com mais facilidade a exploração de raças mais especializadas, sem contar a existência de alternativas de suplementação nas regiões mais secas, como a palma forrageira.

Um dos novos investimentos na produção de leite vem sendo feito no Oeste da Bahia, fronteira com Goiás, com a participação de produtores de leite da Nova Zelândia. Esses investidores encontraram terras baratas, água disponível, topografia favorável e calor/insolação que viabiliza a produção de pastagens tropicais.

Essas constatações e sinais sugerem que o Nordeste, ao menos em algumas áreas específicas, poderá se constituir em polo importante de desenvolvimento da produção. E, a se concluir pela repercussão do artigo do zootecnista Rodrigo Gregório da Silva, sobre sistemas de produção na região, a consciência a respeito do desenvolvimento de alternativas sustentáveis para a produção vem crescendo, trazendo boas perspectivas de desenvolvimento (clique aqui para ler o artigo).

Se na produção é possível esperar avanços substanciais, passemos a analisar a localização dessa região no que se refere à proximidade dos centros de consumo, interno e externos.

Segundo o IBGE, o consumo de lácteos no Nordeste está entre os mais baixos do país. De acordo com a Pesquisa de Orçamento Familiar 2002/2003, enquanto a média brasileira envolvia gastos de R$ 27,58 mensais com lácteos por família, no Nordeste esse valor foi menor - R$ 22,18, ao passo que na região Sudeste atingia, no mesmo período, R$ 31,88, sugerindo um potencial de crescimento caso as condições econômicas melhorem. Vale lembrar que são 51 milhões de habitantes.

Pode-se afirmar que a questão da renda está na raiz dessa disparidade de consumo, argumento que tem validade. Há, porém, duas novidades nesse cenário. A primeira é o incremento de renda, ainda que através de programas assistencialistas, de parcela significativa da população (em muito contribuindo para a enorme popularidade do presidente Lula na região), trazendo para a zona de consumo uma parcela crescente da população local. A região vem crescendo a uma taxa chinesa, de 10% ao ano, sendo responsável por uma parcela importante das vendas de diversas empresas, como a própria Nestlé, que tem 30% de seu faturamento de R$ 11,5 bilhões advindos da região Nordeste.

Esse crescimento levanta nas empresas a necessidade de descobrir quais produtos e canais de distribuição são os mais adequados para se atingir esse público que desperta para o consumo e que apresenta características de consumo diferentes das verificadas em outras regiões. Para citar um exemplo, em se tratando de leite para consumo, o Nordeste não tem a predominância do UHT, como em outras regiões, mas sim do leite em pó. Será que o UHT tal qual o conhecemos hoje é o formato adequado para se conquistar o mercado nordestino, onde, apesar do crescimento da renda, grande parte da população pertence às classes C, D e E, tendo poder de consumo mais reduzido? Pode-se questionar também os canais de distribuição - novamente a Nestlé vem testando vendas porta-a-porta que, caso se comprovem viáveis, poderão ser implantadas em outras regiões marcadas pelo alto crescimento e pela inserção de novos consumidores, com hábitos distintos, como é o caso da própria China.

Essa realidade representa a segunda novidade. Enquanto tradicionalmente os mercados das classes A e B tem sido considerados os mais atraentes, um número crescente de empresas percebeu que é possível atingir crescimento e rentabilidades elevadas atuando na chamada "base da pirâmide", conforme mostrou o consultor C.K. Prahalad, em seu livro "Riqueza na Base da Pirâmide". Porém, a refeição não é grátis. É preciso entender, através do marketing, como atingir esse consumidor, estando nesse ponto grande parte dos esforços de várias empresas. Muitas empresas já atuam nesse mercado, quietas, há vários anos, com resultados significativos.

Há, ainda, um outro ponto favorável relativo à localização do Nordeste. Trata-se da proximidade do mercado externo. Não falo necessariamente da Europa ou Estados Unidos, mas principalmente do México, Caribe e Venezuela, que respondem por parcela relevante do mercado importador mundial e que estão muito próximos do Nordeste. A infra-estrutura para exportação já existe, fruto do escoamento das frutas, e deve ser incrementada com a ferrrovia Transnordestina, que ligará os dois principais portos do Nordeste - Suape, em Pernambuco, e Pecém, no Ceará - à nova fronteira agrícola do país, que se estende do sul do Maranhão, passando pelo sudeste do Piauí, até o oeste da Bahia.

Clique sobre a imagem para ampliá-la.


A melhoria da infra-estrutura, aliada à proximidade com mercados importadores importantes, abre caminho para o desenvolvimento de projetos para exportação de lácteos, partindo-se do princípio que é possível produzir de forma competitiva, conforme acredito que pode ser. Essa mesma infra-estrutura desenvolvida poderá, por outro lado, facilitar o transporte de leite (principalmente pré-evaporado) de outras regiões, daí a importância da região desenvolver sistemas produtivos viáveis caso queira manter para si o valor que poderá ser gerado.

Tudo isso somado sugere que o Nordeste pode ser a nova fronteira do leite. Claro que são conjecturas, há limitações que precisam ser resolvidas e nem sempre os caminhos do desenvolvimento seguem os rumos esperados. Além disso, confesso que não sou um profundo conhecedor da região, o que embute algum resíduo na análise. De qualquer forma, o artigo trata de conjecturas e, dentro delas, coloco minhas fichas nessa região. Não me surpreenderá, se nos próximos 10 anos, a região Nordeste receber investimentos em novas plantas de industrialização e no fomento da atividade leiteira, com o grau de profissionalismo existente em outras atividades agrícolas verificadas na região.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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JOSÉ ALMEIDA DE OLIVEIRA

MAJOR ISIDORO - ALAGOAS - EMPRESÁRIO

EM 03/10/2006

Marcelo,

As políticas colocadas em prática pelos vários Governos aqui no Nordeste tem sido ineficazes. Um exemplo é justamente a atual. O Governo Federal, visando unicamente obter vantagem eleitoreira, oferece migalhas às classes D e E, esquecendo-se propositalmente das classes produtoras, que ficam à mercê das intempéries da região e, conseqüentemente, têm um desenvolvimento pífio.

Nós, em Alagoas, somos também alvo dessa injustiça, apesar de termos a palma forrageira como alimento volumoso de nosso rebanho, com uma produção leiteira significativa. Enfrentamos, como todo o Nordeste, todo tipo de dificuldade, mas alimentamos a esperança de um futuro próspero.
ADRIANO HENRIQUE DO N. RANGEL

NATAL - RIO GRANDE DO NORTE - PESQUISA/ENSINO

EM 03/10/2006

Prezado Marcelo,

Seu artigo caracteriza muito bem o comportamento da cadeia produtiva do leite em nossa região, e mais ainda, aponta perspectivas futuras de crescimento em função dos seus variados ecossistemas, posição estratégica para escoamento da produção, principalmente quando se visa o mercado externo, e acima de tudo, privilegiada infra-estrutura portuária já existente, proporcionado pela fruticultura.

Podemos acrescentar ainda a versatilidade do nosso produtor e grande quantidade de tecnologias geradas pelos órgãos de pesquisas regionais. Portanto, acredito de forma bastante otimista que com a melhoria da infra-estrutura de alguns setores estratégicos, poderemos ser de fato uma nova fronteira na produção de leite.
GUILHERME ALVES DE MELLO FRANCO

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/09/2006

Prezado Marcelo,

Com o avanço tecnológico que presenciamos na pecuária de leite atual, onde as potencialidades genéticas são aliadas ao manejo computadorizado e altamente desenvolvido, as diversidades climáticas tendem a ficar do lado de fora das porteiras.

Hodiernamente, já podemos amenizar o calor intenso com neblinas de água, e o frio rigoroso com o aquecimento dos estábulos. A falta de pastos pode ser substituída pela grandiosidade do feno, dos suplementos alimentares, pela adição de componentes na cana-de-açúcar. A ausência de água, com poços artesianos e outro meios de extração suterrânea do mineral.

Destarte, não há por que nutrirmos quaisquer modalidades de receio em relação ao Nordeste como fronteira possível da produção de leite. É claro que os investimentos devem ser maiores, para o implante de tais tecnologias de correção do clima e de outras adversidades naturais.

Mas, no total, não se diversificará muito das demais regiões brasileiras, onde a experiência da estabulação, antes só utilizada em escala larga para o gado de corte, arregimenta adeptos em volumes consistentes, não só pela facilidade de elaboração de dietas mais precisas para a alta produtividade, mas, certamente, pela possibilidade de ocupação de espaços rurais reduzidos e na certeza de minimizar os rigores das estações.

Assim, acredito piamente que o Nordeste pode sim ser a nova fronteira da produção de leite no Brasil, o que não representa querer compará-lo ao Sudeste, tradicional maior produtor pátrio.

Parabéns pelas informações transmitidas e pela seriedade com que trata o tema.
ÍTALO DIÓGENES HOLANDA BEZERRA

LIMOEIRO DO NORTE - CEARÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 19/09/2006

Caro Marcelo,

Mais uma vez, suas palavras são próprias e acertivas. Sabemos que estamos num longo caminho a seguir, rumo ao que chamamos de uma produtividade, porém, temos feito o dever de casa.

Estamos fazendo das ameaças, várias oportunidades, estamos buscando e gerenciando água, investino em energia limpa e de custo reduzido, em genética e em qualificação.

Peço que continue estudando e divulgando sobre a nossa região e verá que as surpresas serão constantes.
CAIO JADSON ALVES DE FIGUEIREDO

ALMENARA - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 15/09/2006

A Coopleal- Cooperativa de Produtores de Leite do Baixo Jequitinhonha Ltda, apesar de ter sua sede em Almenara - região Sudeste (Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas Gerais), está na divisa com a região Nordeste, e aposta neste desenvolvimento que você comenta.

Estamos nos preparando para estimular o aumento da produção e da produtividade das fazendas da região. Que bom que não estamos sozinhos com este pensamento, esperamos contribuir para que sua análise se torne uma realidade.
RODRIGO GREGÓRIO DA SILVA

LIMOEIRO DO NORTE - CEARÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 14/09/2006

Caro Marcelo,

Fico feliz em ver que a região Nordeste vem sendo observada por pessoas como você da forma como acreditamos ser a necessária e mais apropriada, ao contrário da visão antiga de detentora de condições não compatíveis com uma estrutura produtiva moderna.

Mencionamos a pouca educação do nosso povo como sendo um dos maiores entraves. Maior que a falta de água, que a seca etc. Educação necessária para a apropriação das tecnologias há tanto tempo desenvolvidas, mas tão pouco utilizadas nessa região.

O Nordeste é rico, com características singulares passíveis de proporcionar os mais variados sistemas de produção animal, vegetal, industrial etc. Mas também acreditamos ser um limitante a falta de tecnologia desenvolvida para essa região. Falta conhecimento técnico compatível com a realidade nordestina.

A falta de educação pode até ser bastante interessante para algumas pessoas que vivem dessa características, mas não vem ao caso nessa carta.

Trabalhei nos últimos três anos na região cearense do Baixo Jaguaribe (onde se localiza a chapada do Apodi), e reforçamos a existência do grande potencial daquela região. E nesses poucos anos de assistência técnica, o que encontramos foi um povo despreparado para a realidade atual.

E esse potencial todo sendo disponibilizado para capital externo, ficando o povo local à margem do desenvolvimento (futuros funcionários). Não sou contra essa prática, muito pelo contrário. Mas acreditamos ser necessário também políticas de desenvolvimento local. Oferecendo, pelo menos, a oportunidade de conhecer as novas tendências de mercado, novas técnicas etc. Deixando a escolha de participar ou não a cargo da geração atual e futura, fortalecendo o verdadeiro desenvolvimento regional, a tanto tempo relatado.
BRUNO LAVRATTI

IJUÍ - RIO GRANDE DO SUL - ESTUDANTE

EM 14/09/2006

Muito bom. Muito embora existam todos os problemas edafoclimáticos da região, que é muito castigada com as secas severas e limitantes no desenvolvimento produtivo, o Nordeste pode ser considerado uma nova fronteirado do leite.

Porém, seriam necessários investimentos em tecnologia, genética, melhoramento de pastagens e corporações técnicas capacitadas para acessoramento das unidades de produção.

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