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A concentração no setor de laticínios está aumentando ou diminuindo?

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 28/03/2003

6 MIN DE LEITURA

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Os números de captação de leite dos principais laticínios dizem bastante sobre o que vem acontecendo no setor nos últimos anos. As informações foram publicadas no site da Leite Brasil (https://www.leitebrasil.org.br/recepcao2002.htm), a partir de dados elaborados pela Leite Brasil, CNA/Decon, CBCL e Embrapa Gado de Leite.

De acordo com a tabela 1, a captação dos 15 maiores laticínios caiu 6,67% entre 2001 e 2002, passando de 6,44 bilhões de litros (número recorde) para 6,01 bilhões. Esse dado sugere que a queda de produção verificada em 2002 foi bem mais intensa no grupo dos 15 maiores laticínios do que a queda verificada na produção total. Entre os 15 maiores, a captação caiu 430 milhões de litros, ao passo que a captação total caiu (estimativa) de 20,5 para 20,4 bilhões no mesmo período (tabela 2).
 

 



Índice de concentração

A captação dos 4 maiores laticínios tem variado pouco nos últimos 4 anos em relação à produção total do país (tabela 2), situando-se na faixa de 18,7 a 19,0% do total. Se considerada apenas a produção formal, há leve tendência de queda: enquanto em 1999 as 4 maiores indústrias captavam 32,9% da produção formal, em 2002 esse número foi de 28,5%. Considerando que a produção total caiu, a produção dos 15 maiores caiu mais ainda e a produção formal cresceu um pouco (estima-se, pois faltam os dados do IBGE relativos ao último trimestre), fica evidente que os laticínios menores aumentaram sua participação no mercado.

Isso pode sugerir que não existe grande concentração no setor de laticínios, ou que, ao menos, a tendência não é de aumento na concentração, especialmente no segmento formal. No entanto, dadas as particularidades da captação, sabe-se que há variações regionais que fazem com que, em determinadas regiões, a captação seja altamente concentrada, ao passo que, em outras, um número maior de empresas atua. Não por acaso, nas regiões onde há maior briga pelo mercado, os preços tendem a ser maiores. No sul do país, por exemplo em Santa Catarina e Oeste do Paraná, isso tem ocorrido. Mais laticínios estão captando leite, em uma salutar concorrência que força os preços para cima. Talvez a redução na concentração tenha contribuído, em algum grau, para a recuperação dos preços, embora a principal causa muito provavelmente tenha sido a oferta mais escassa de leite em 2002.

Outro ponto que deve ser lembrado é que alguns laticínios fornecem leite para outros. O caso mais emblemático é o da Centroleite, que não possui fábrica própria e, portanto, comercializa toda a sua produção para outros laticínios. De acordo com informações passadas pela Leite Brasil, as estatísticas não consideram o volume de leite adquirido de terceiros. O leite vendido pela Centroleite para a Nestlé ou Parmalat, por exemplo, não entra no número destas empresas. Assim, é sensato considerar que, na realidade, alguns laticínios processam mais leite do que apontam as estatísticas, que se referem à captação de leite e não à industrialização.

Em função destas particularidades, fica difícil dizer se está de fato havendo aumento ou redução da concentração no setor (pelo menos nos últimos anos).

Nestlé se destaca

O gráfico 1 mostra que, em ano de oferta apertada, a Nestlé ampliou sua liderança. Dos 5 maiores laticínios, foi o único a aumentar a captação. Aliás, a Nestlé aumentou a captação em todos os períodos analisados (gráfico 5), embora sempre em níveis moderados.

 



A Parmalat teve aumento muito modesto se considerada a aquisição da Fleischmann Royal, ao passo que a Itambé verificou queda de 12% na sua captação. Vale notar que a Nestlé foi bastante agressiva em Minas Gerais, principal região de captação da cooperativa mineira. Elegê, Líder e Batavia tiveram quedas significativas, enquanto que a CCL, ex-Paulista, teve a maior queda em litragem e em % do grupo dos 15 maiores laticínios: 180 milhões de litros ou 36,9% de redução em 2002.

O Grupo Vigor novamente teve queda na captação, pelo quarto ano consecutivo, ao passo que Leite Nilza e Sudcoop, duas cooperativas, mostraram fôlego e aumentaram a captação significativamente. Já a Centroleite, refletindo a redução na produção de Goiás, pouco alterou a produção, o mesmo ocorrendo com Danone, Embaré, Morrinhos e Ilpisa.

O gráfico 2 traz as mesmas informações, porém em porcentagem. Conforme colocado acima, a CCL teve o pior desempenho, com variação negativa de 37%, ao passo que a Leite Nilza foi a que mais subiu, com 30%. Um aspecto interessante é que a variação entre a captação de cada empresa no último exercício, comparada com os anos anteriores, o que pode ser visto pelas alturas das barras azul claras, azuis e vermelhas, foi bem menor (barras amarelas).

 



Embora aumento ou redução da captação possam dar pistas sobre as estratégias de cada empresa, não necessariamente uma maior captação reflete, por exemplo, melhor resultado econômico para a empresa e/ou acionistas (ou cooperados). Uma empresa pode reorganizar a linha de produtos, captando menos leite porém agregando valor aos produtos. É o que busca, por exemplo, a Itambé, que praticamente abandonou a produção de longa vida nesse ano.

Centro-Oeste pisa no freio

O gráfico 3 traz os dados médios de crescimento nos últimos 6 anos, somente para os laticínios presentes todos os anos na relação dos maiores. Nota-se que os laticínios com forte captação no Centro-Oeste, ex: Morrinhos e Centroleite, tiveram altas taxas médias, embora no último exercício tenham reduzido a captação. Isso significa que o "boom" de produção, especialmente em Goiás, verificado nos últimos 10 anos, teve um revés em 2002.

 



Produção por produtor continua subindo

A produção média por fornecedor (tabela 1) continua subindo. Desta vez, os 15 maiores laticínios captaram leite de 95.847 produtores, uma redução de nada menos do que 18,42% ou 21.647 produtores, que produziram em média 172 litros diários.

 



O destino destes produtores pode ter sido o encerramento das atividades, visto que não temos dados estatísticos atualizados sobre o número de produtores de leite, ou a migração para outros laticínios menores. O mercado informal sempre é considerado ao se analisar o destino de produtores alijados dos grandes laticínios, mas se considerarmos que a produção formal subiu de 2001 para 2002 e a produção total caiu, o mercado informal teve nova queda e, desta forma, parece pouco provável que tenha havido migração maciça de produtores para este segmento.

Uma dúvida que sempre surge é relativa ao tratamento que se dá aos tanques comunitários, que recebem a produção de diversos produtores. No número de fornecedores, cada produtor é considerado, ou apenas o "titular" do tanque ? Segundo informações passadas pela Leite Brasil, a solicitação para as empresas foi relativa ao número total de fornecedores, independente da entrega se efetuar diretamente à empresa ou em tanque comunitário. Em outras palavras, o número de fornecedores seria real e não mascarado pelos tanques comunitários.

Variações entre laticínios

A maior parte dos laticínios (gráfico 5) verificou queda no número de fornecedores, sendo a Nestlé o de maior variação acumulada desde 1999, quando tinha mais de 22 mil fornecedores, chegando a pouco mais de 7 mil ao final de 2002.

 



Novamente, a Nestlé (gráficos 6, 7 e 8) se destaca no que se refete ao módulo médio de captação, tendo não só o maior produtor médio, como também a maior variação nos anos acumulados, como já mencionou Maurício Palma Nogueira, da Scot Consultoria, na seção Panorama de Mercado ( "Leite na mão de poucos"). Alguns laticínios, especialmente os do Sul e Centro-Oeste, continuam com um módulo de captação bastante baixo, refletindo possivelmente a estrutura fundiária da produção de leite de suas regiões, bem como a estratégia das empresas, muitas delas cooperativas. Outros, como Batávia, Embaré e Danone, verificaram redução da captação média por produtor, demonstrando que o aumento do módulo de produção não é estratégia comum a todas as empresas.

 

 

 

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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PAULO MAURICIO B. BASTO DA SILVA

JARAGUÁ DO SUL - SANTA CATARINA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 30/03/2003

Seria interessante ter cuidado ao solicitar levantamentos de número de fornecedores individuais às empresas, pois em tanques comunitários, existem muitos casos em que é considerado somente 1 fornecedor, apesar do artigo citar que foi bem esclarecido às empresas.

Isso porque muitas empresas, na verdade, não controlam o tanque comunitário, mas somente o fornecedor cadastrado, pois o mesmo negocia a colocação de outros leites em seu tanque, independente do conhecimento das empresas. Outro cuidado é com o chamado comprador de leite, que é um fornecedor, mas também compra leite de outros pequenos fornecedores individuais e coloca em seu tanque, sendo assim melhor remunerado por causa do volume de leite entregue à sua empresa compradora.

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