José Luiz Moraes Vasconcelos
A adequação do manejo produtivo e reprodutivo de vacas leiteiras pressupõe a compreensão da curva de produção leiteira, englobando as variações na ingestão de matéria seca, peso corporal e produção de leite, sendo que o aumento da capacidade genética para produção leiteira, associado com mudanças no manejo nutricional e tamanho do rebanho, tem sido responsáveis por um declínio na fertilidade de vacas lactantes.
Os requerimentos nutricionais mudam abruptamente no início da lactação em vacas de alta produção, sendo que a intensidade e duração do BEN são primariamente relacionados à relação IMS X produção de leite que também são influenciados pela condição corporal ao parto.
O conceito para expressar a condição energética do animal é o balanço energético, definido como a diferença entre a energia ingerida, menos a energia despendida. Vacas com balanço energético positivo depositam gordura, enquanto que vacas com balanço energético negativo mobilizam reservas corporais. O balanço energético negativo não é problema apenas em vacas subalimentadas, mas também, naquelas com proporcional alta produção de leite em relação a IMS.
No início da lactação, vacas de alta produção apresentam balanço energético negativo, e sua magnitude influencia o desenvolvimento folicular e o intervalo para a primeira ovulação. O BEN durante as primeiras 3- 4 semanas pós-parto é altamente correlacionado com os dias para a primeira ovulação, ou seja, quanto mais intenso o BEN, maior o intervalo para a primeira ovulação. O anestro pós-parto também pode reduzir a eficiência reprodutiva por atrasar o primeiro serviço, de forma que vacas que não apresentam estro nos primeiros 30 dias pós-parto, requerem mais serviços por concepção com maior risco de serem descartadas.
Ao estudar a relação entre balanço energético e o intervalo parto-primeira ovulação em vacas holandesas foi observado um intervalo médio entre o parto e ovulação de 36(6 dias, ocorrendo ovulação aproximadamente 10 dias após o balanço energético ter iniciado o regresso ao ponto zero.
O BEN que acomete vacas leiteiras pós-parto influencia o restabelecimento da ciclicidade ovariana pós-parto devido interferência na secreção de GnRH e LH, sendo que dietas com baixo teor energético, tem ação direta sobre o eixo hipotálamo-hipofisário, reduzindo a freqüência de descargas de GnRH e de pulsos de LH, o que ocorre mais por causa da inatividade hipotalâmica, do que da inabilidade da hipófise em responder ao GnRH.
Estudos demonstram que para a restauração da atividade ovariana após o parto, a influência da secreção de LH é fundamental, sendo que a secreção de LH é reduzida em vacas em BEN, modificando o padrão de crescimento folicular nos primeiros 25 dias, em que vacas com melhor balanço energético, o número de folículos classe 1 (3 a 5 mm) diminuía enquanto o número de folículos classe 3 (10 a 15 mm) aumentava. Também existem citações na literatura em que menor IMS reduz o diâmetro e a persistência do folículo dominante, diminuindo o intervalo entre ondas foliculares e também o oposto, de que em dietas altamente energéticas os animais apresentavam maior folículo dominante do que aquelas com baixa dieta energética.
Figura 1 - Exemplo de relação entre produção de leite, ingestão de energia (ED), peso corporal, e balanço energético durante o início da lactação
fonte: MilkPoint