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Estratégias para reduzir perdas embrionárias - Parte 2

POR RICARDA MARIA DOS SANTOS

E JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS

JOSÉ LUIZ M.VASCONCELOS E RICARDA MARIA DOS SANTOS

EM 04/12/2008

8 MIN DE LEITURA

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Este texto é parte da palestra apresentada por Dr. Thomas W. Geary, no XII Curso de Novos Enfoques na Reprodução e Produção de Bovinos, realizado em Uberlândia em março de 2008.

Fatores nutricionais que afetam a perda embrionária

Efeitos da Energia e da Proteína. É provável que as deficiências nutricionais maiores das dietas de animais reprodutores tenham efeitos prejudiciais sobre a fertilidade. Há poucos dados experimentais relativos à nutrição que diferenciam a taxa de fertilização e a mortalidade embrionária. Sabemos, entretanto, que os níveis de energia e proteína da dieta desempenham papel no sucesso da gestação.

Sabe-se há bastante tempo que as vacas cobertas quando estão ganhando peso (aumentando o escore de condição corporal) têm taxas de prenhez mais elevadas do que as vacas que são cobertas quando estão perdendo peso (Wiltbank et al., 1962). A diminuição dos níveis de progesterona após a cobertura pode ser responsável pela diminuição da fertilidade / aumento da mortalidade embrionária entre as vacas cobertas durante o balanço energético negativo (Folman et al., 1973).

Um possível mecanismo pelo qual o balanço energético negativo poderia resultar em diminuição da produção subseqüente está relacionado ao tamanho do folículo ovulatório. As novilhas que receberam altos níveis de energia tiveram taxa de crescimento maior dos folículos dominantes quando comparadas com as novilhas alimentadas com baixos níveis de energia (Armstrong et al., 2001). O tamanho do folículo ovulatório tem relação positiva com o estabelecimento e a manutenção da prenhez, bem como com a produção subseqüente de progesterona (Perry et al., 2005; 2007).

Pode-se fazer o manejo das vacas para que ganhem condição corporal determinando o seu escore corporal ao parto ou logo após, e fazendo o ajuste adequado das dietas. O uso de gordura na alimentação após a parição pode aumentar a densidade energética das dietas, mas esta prática não aumentou as taxas de concepção ao primeiro serviço, de tal forma que somente deve ser considerado quando for esta a fonte mais barata de energia. Com base em uma recente revisão da literatura, Hess et al. (2005) concluíram que o fornecimento de gordura a vacas de corte durante aproximadamente 60 dias antes da parição pode resultar em uma melhora de 6,4% na taxa de prenhez durante a estação de monta seguinte. O mecanismo envolvido nesta melhora parece estar mais relacionado com um intervalo de anestro mais curto após o parto do que com um aumento da sobrevivência embrionária.

O teor de gordura de uma dieta não deve ultrapassar 5% do total de matéria seca ingerida, devido aos potenciais efeitos negativos sobre a digestibilidade da fibra e o consumo (Coppock e Wilks, 1991).

Devemos ter em mente que, para a maioria dos nossos rebanhos de vacas, iniciamos a fase reprodutiva muitas vezes durante o pico da lactação. Por causa das demandas da produção de leite sobre as necessidades energéticas, a maioria das vacas está exposta à reprodução durante a fase de balanço energético negativo. Vacas com elevada produção de leite podem sofrer balanço energético negativo ainda maior e aumento da mortalidade embrionária quando as condições da forragem são limitantes.

Tem sido mostrado que o excesso de proteína (especialmente a proteína degradável no rúmen) aumenta a mortalidade embrionária nas vacas (Blanchard et al., 1990; Elrod e Butler, 1993; Elrod et al., 1993). O aumento do metabolismo ruminal da proteína resulta em aumento do nitrogênio uréico e da amônia do sangue, e diminuição do pH uterino no dia 7 após o estro. Estes estudos sugerem que tanto as taxas de fertilização como a sobrevivência inicial do embrião (antes do dia 17) estão comprometidas, e que as causas prováveis são uma alteração da produção de hormônio (principalmente progesterona) e um pH uterino mais ácido. Os animais mantidos a pasto raramente estão expostos a excesso de proteína em suas dietas.

Casos extremos de consumo excessivo de proteína ocorrem quando os animais estão em pastos de alfafa e trigo. Os efeitos benéficos da suplementação de proteína foram relatados para bovinos alimentados com proteína não degradável no rúmen antes da parição ou durante a fase reprodutiva (Patterson et al., 2003; Wamsley et al., 2005). Não é conhecido o mecanismo exato (ou os mecanismos) pelos qual a ingestão de proteína não degradável melhora a fertilidade, mas é provável que esteja ligado a diminuição da mortalidade embrionária.

Efeitos das Toxinas. O nitrato é um composto vegetal prevalente em épocas de estresse das plantas e que pode tornar-se um problema. O nitrato em si não é particularmente tóxico para os animais. Os nitratos consumidos pelos ruminantes são normalmente reduzidos à amônia, absorvidos e excretados, assim sendo convertidos pelas bactérias em proteína bacteriana. A intoxicação por nitrato ocorre quando o consumo na ração e na água é de tal ordem que os nitratos são convertidos em nitritos. Os nitritos se ligam à hemoglobina e diminui sua capacidade de transporte de oxigênio, o que poderia levar à morte embrionária em casos menos graves.

Devido ao mecanismo que leva à intoxicação por nitrato, os bovinos suspeitos de terem sido intoxicados devem ser manipulados o menos possível, o mais calmamente possível, para minimizar as suas necessidades de oxigênio. Altos teores de nitratos são muitas vezes encontrados em plantas que foram submetidas a estresse por más condições de crescimento, como seca, frio e tempo encoberto, danos provocados pelo granizo e geada. Plantas como aveia, milheto, sorgo e milho são particularmente suscetíveis a altos teores de nitrato e devem ter seu conteúdo de nitrato testado antes do uso para pastejo/arraçoamento. As fontes de água também podem ser ricas em nitratos e fontes novas devem ser testadas. As dietas utilizadas na época de cobertura ou para vacas prenhes não devem ultrapassar 5.000 ppm de nitratos com base na matéria seca (Brownson e Zollinger, 2003).


Influências ambientais sobre a mortalidade embrionária

Numerosos estudos foram realizados em vacas leiteiras enfocando os efeitos do estresse térmico sobre a reprodução, particularmente em vacas leiteiras de alta produção (ver a revisão de Hansen et al., 2001). O estresse térmico não é definido de forma consistente na literatura, mas geralmente se referem às temperaturas ambientes entre 32ºC e 43ºC e umidade relativa acima de 40%. Os bovinos podem ser afetados pelo estresse térmico quando a temperatura corporal aumentar apenas 1ºC, mas a maior parte da literatura refere um aumento a partir de uma temperatura normal, 38,5 a 39ºC, para uma temperatura igual ou maior a 41ºC.

O estresse térmico certamente contribui para a mortalidade embrionária em bovinos de corte na região tropical, e é uma importante razão para a utilização de animais Bos indicus ou mestiços de Bos indicus. O momento da ocorrência do estresse térmico em relação ao dia do ciclo estral e cobertura é crítico. Os bovinos são mais suscetíveis ao estresse térmico durante os 3 primeiros dias após a cobertura e se tornam mais resistentes a temperaturas elevadas com o maior desenvolvimento embrionário.

As temperaturas elevadas durante este período inicial resultam em atraso no desenvolvimento embrionário, de forma que o embrião fica "fora de sincronia" com o ambiente materno em que se encontra. O estresse térmico, entretanto, também pode suprimir a expressão do estro, alterar o desenvolvimento folicular, reduzir a fertilidade dos espermatozóides e do óvulo, além de reduzir a síntese subseqüente de progesterona. Todos estes fatores podem interferir com o desenvolvimento e o crescimento do embrião.

Há relatos na literatura de efeitos diretos e também indiretos do estresse térmico sobre a sobrevivência embrionária. Temperaturas corporais elevadas (1ºC de aumento na temperatura corporal) podem comprometer o desenvolvimento do embrião (Edwards e Hansen, 1997; Sugiyama et al., 2003). Vacas expostas ao estresse térmico do dia 8 ao dia 16 após a cobertura apresentam menor concentração de progesterona e maior secreção uterina de prostaglandina (Biggers et al., 1987; Geisert et al., 1988).

A genética tem efeito claro sobre a suscetibilidade ao estresse térmico, uma vez que os bovinos que evoluíram em climas quentes adquiriram genes que protegem os embriões contra temperaturas elevadas. A utilização de mecanismos para resfriar os bovinos durante a fase reprodutiva ou os primeiros dias depois da IA pode diminuir os efeitos das temperaturas elevadas sobre o desenvolvimento e a sobrevivência dos embriões. Outros métodos para reduzir os efeitos do estresse térmico podem incluir a ovulação sincronizada com a IA em tempo fixo, cobrir as vacas nas estações menos quentes do ano ou em horários de menor temperatura durante o dia, e a utilização na IA de sêmen coletado de touros não submetidos a estresse térmico.

Lidar com o estresse pode afetar o estabelecimento da prenhez e pode ser um problema que criamos em bovinos de manejo intensivo. Algumas vezes, os produtores que usam IA, por exemplo, transportam os animais para o pasto após a cobertura, o que poderia afetar o estabelecimento da prenhez (Harrington et al., 1995). Novilhas que foram transportadas durante 6 horas, 8 a 12 dias ou 29 a 33 dias após a IA tiveram taxas de prenhez mais baixas do que as novilhas que foram transportadas 1 a 4 dias após a IA, sugerindo que o estresse provocado pelo transporte resultou na perda embrionária.

Foram conduzidos 3 estudos adicionais nesta área, com o objetivo de determinar o mecanismo pelo qual o estresse provocado pelo transporte leva a perda embrionária, e assim poder prevenir esta perda. Como a placentação já está em andamento no dia 29 após a cobertura, os níveis elevados de prostaglandina como resultado do estresse provocado pelo transporte parece ser o método mais lógico pelo qual o estresse poderia afetar a sobrevivência embrionária inicial.

Uma única administração do inibidor de prostaglandina Flunixin meglumine (o ingrediente ativo de Banamine) a vacas e novilhas submetidas a estresse pelo transporte aproximadamente 13 dias após a IA, resultou em supressão da prostaglandina na corrente sangüínea e um aumento nas taxas de prenhez (Merrill et al., 2007). A administração de Flunixin meglumine a vacas sem o estresse pelo transporte, aproximadamente 13 dias após a IA, não aumentou as taxas de prenhez. Por outro lado, a administração de Flunixin meglumine a novilhas também sem o estresse pelo transporte, aproximadamente 13 dias após a IA, reduziu as taxas de prenhez (Geary et al., 2005).

A nossa interpretação destes dados é que reunir e manejar os animais nas instalações para administrar uma injeção é percebido pelas novilhas como algo mais estressante do que para as vacas. Não sabemos se o manejo das novilhas, levando-as a um novo pasto durante a fase reprodutiva, cria estresse suficiente para afetar a mortalidade embrionária, mas é provável que para a maioria das novilhas do rebanho isto dependa do estágio da prenhez. É provável, entretanto, que fazer o manejo das novilhas, fazendo-as passar pela seringa para fazer o diagnóstico precoce de prenhez (cerca de 35 dias após a IA sincronizada, por exemplo), possa afetar a sobrevivência embrionária nas novilhas que emprenharam no retorno ao estro, e que estariam no dia 14 da prenhez. Esses resultados mostram a importância de sempre manejarmos os animais como muita calma e cuidado.

RICARDA MARIA DOS SANTOS

Professora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia.
Médica veterinária formada pela FMVZ-UNESP de Botucatu em 1995, com doutorado em Medicina Veterinária pela FCAV-UNESP de Jaboticabal em 2005.

JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS

Médico Veterinário e professor da FMVZ/UNESP, campus de Botucatu

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RICARDA MARIA DOS SANTOS

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 06/01/2009

Prezado José Ricardo,
A primeira providência é realmente fazer uma análise da dieta.
Para as vacas que já estão gordas uma tentativa seria usar bST, pois assim elas iriam usar um pouco da reserva corporal e perder peso.
O Folligon é indicado para vacas em anestro no inicio da lactação, não acredito que ele ajudaria vacas gordas. Você precisa confirmar se essas vacas gordas estão realmete em anestro ou se esta ocorrendo falha de detecção de cio.

Obrigada pela participação,
Ricarda.
RICARDO JOSÉ DA COSTA SILVA

CEARÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 19/12/2008

Boa tarde, Professor(a)

Estou no Ceará, temperatura elevadíssima, 60 km do litoral. Bom, as vacas estão superalimentadas (20 kg de cevada + 7 kg de mandioca fresca + 7 kg de concentrado + 20 kg de cana), as vacas atrasadas ficaram obesas, então sugeri ao proprietário para rever a dieta (pv=550kg + 22kg leite),´vacas estão com ovários sem estruturas e ligamentos não flexiveis, poucas manifestão de cio e ainda pouca concepção e algumas mortes embrionárias (estas considero dentro do padrão). O que está acontecendo na concepção, será alimentação e clima? E para as obesas (protocolo com folligon ajuda?).

Obrigado e um Bom Natal!
JOSÉ FELIPE WARMLING SPRICIGO

LAGES - SANTA CATARINA - PESQUISA/ENSINO

EM 09/12/2008

Muito bom artigo, este auxiliou a esclarecer algumas duvidas sobre o manejo inicial de vacas e novilhas postas a reprodução.

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