A pergunta acima é constantemente realizada por grande número de produtores, principalmente pelos que adotam o uso do pastejo como sistema de produção. Até que ponto a distância percorrida pelos animais do pasto até a sala de ordenha ou do confinamento até a mesma, pode vir a comprometer a produção de leite?
Em sistemas de pastejo o problema tende a ser mais significativo, pois existe um gasto de energia maior do que em sistemas confinados, uma vez que os animais percorrem maiores distâncias para beberem água, ou até mesmo para consumirem sal.
Os primeiros trabalhos (Ribeiro et al, 1977) abordando o tema, estimaram que o aumento na energia de manutenção foi na grandeza de 4 a 24% quando animais percorreram, em esteiras, as respectivas distâncias de 1 e 6 km. De acordo com o ARC (1988), o custo de locomoção é de 2,8 e 28,0 KJ/km/kg/peso corporal ou 0,00048 e 0,00067 Mcal/km/kg/peso corporal, para deslocamento horizontal e vertical, respectivamente. Em outras palavras, uma vaca de 550kg, por exemplo, caminhando 1 km em terreno de 0% de declividade tem um custo energético de 0,263 Mcal de energia metabolizável (550kg x 1km x 0,00048 + 550 x 0 km x 0,00067), Penatti e Corsi (1998). Considerando que esta energia seja deslocada da produção de leite, teríamos um decréscimo de 212 g de leite para cada km percorrido (adotando o padrão NRC, sendo 1 kg de leite com 4% de gordura equivale a 1,24 Mcal de energia metabolizável).
A tabela 1 simula diferentes custos energéticos através da associação entre diferentes declividades, deslocamentos horizontal e vertical e pesos dos animais. As comparações foram feitas para distâncias percorridas horizontalmente mais curtas (1km) e mais longas (6km), simulando terreno plano e com declividade de 10%. Considerando que 1 kg de milho = 1,73 Mcal de Energia Líquida de Lactação e que 1 Mcal de ELL = EM * 0.644, transformamos este gasto energético em equivalentes-milho, para facilitar o entendimento.
Tabela 1. Simulação do gasto energético em função do deslocamento horizontal e vertical
Uma vaca de 550 kg, andando 6 km diários em terreno de 10% de declividade destinaria o equivalente a quase 700 g de milho/dia para compensar estes gastos de deslocamento.
A tabela 1 demonstra que, quanto mais pesado for o animal, maior é o custo energético. Também, quanto maior for a declividade do terreno, para uma mesma distância percorrida, maior o gasto energético. Veja que, para pequenas declividades (tabela 2), o custo da energia não atua como fator limitante (Penatti e Corsi, 1998).
Tabela 2. Gasto de Energia Metabólica de um animal pesando 550 kg (PV) para percorrer 1 km em terrenos com diferentes declividades.
Fonte: adaptado de Penatti e Corsi 1998.
Existem diversos dados a respeito do incremento no consumo de energia em função do caminhar dos animais. O NRC atribui um aumento de 3% para cada km percorrido, sendo considerado elevado por alguns pesquisadores. Mendez et al (1996), citados por Penatti e Corsi (1998), utilizaram a técnica da taxa de diluição de dióxido de carbono (CO2) em animais que caminharam entre 6 a 9 km por dia na velocidade de 3 km/hora e encontrou aumento no gasto energético de 4 e 6%. De acordo como os dados do trabalho de Marco & Aello (1998), em terrenos de 0% de declividade, a energia consumida com o caminhar foi de 9 Kcal/km/kg/peso corporal e para a declividade de 6%, os valores encontrados foram de 16,4 Kcal/km/kg/peso corporal, aproximadamente.
Comentário MilkPoint: independentemente dos valores de pesquisa nem sempre baterem totalmente uns com os outros, é importante deixar claro a ordem de grandeza dos efeitos do caminhamento vertical e horizontal. Nota-se, pelas tabelas, que distâncias longas, especialmente em declividade acentuada, elevam as exigências de manutenção dos animais. No exemplo do kg de milho acima, 700 g = R$ 0,15/dia. Se esta vaca produz 10 kg/dia, o custo do litro se eleva em R$ 0,015. Portanto, é significativo. No verão, devido ao efeito do estresse, os valores são ainda mais altos. Cabe aos produtores e técnicos o bom senso no momento de planejar e projetar seu sistema de produção, para que detalhes não venham a comprometer o manejo, assim como o rendimento econômico da atividade.
fonte: Condições Técnicas para Localização e Instalação da Exploração Leiteira (anais 10° Simpósio sobre Produção Animal – FEALQ/1998)