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Sabe o que acontece quando seus bezerros passam sede?

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

CARLA BITTAR

EM 16/10/2007

8 MIN DE LEITURA

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Ainda hoje é prática comum de alguns produtores não fornecer água para bezerros em aleitamento, os quais recebem água somente a partir do consumo de leite. Não existem muitos dados relativos ao consumo de água por bezerros de até 4-5 semanas de idade, mas sabe-se dessa importância, principalmente devido à sua relação com o consumo de concentrado. Thickett et al. (1981) observaram uma correlação significativa entre ganho de peso e consumo de concentrado com o consumo de água antes do desaleitamento realizado na 5ª semana de idade.

Assim, muitos pesquisadores sugerem que o fornecimento de água pode ser vantajoso para o estímulo do consumo de concentrado para bezerros desaleitados precocemente. Por outro lado, produtores têm a sensação que bezerros que tem acesso livre a água apresentam casos de diarréia mais freqüentemente. Jenny et al. (1978) mostraram que o consumo de água aumentou 25 a 50% quando os bezerros apresentavam quadros de diarréia e isso está intimamente relacionado a desidratação dos bezerros.

Kertz et al. (1984) sumariaram dados coletados durante 3 anos em um centro de pesquisa para avaliar a correlação entre consumo ad libtum de água com diarréia, ganho de peso, consumo de concentrado, idade e estação do ano. Os autores também conduziram experimento para avaliar o efeito da restrição de água para bezerros em aleitamento.

Material e métodos

Os dados avaliados são provenientes de 335 bezerros alimentados com sucedâneo (22% PB, 12% gordura) e concentrado inicial (16% PB) a vontade, os quais nasceram no centro de pesquisa durante um período de 3 anos.

A colostragem foi realizada de acordo com o protocolo do centro de pesquisa, sendo fornecido colostro durante 2 dias. A partir do 4º dia de idade os animais receberam sucedâneo até a 4ª semana de vida. Até a 3ª semana os animais receberam 4 L/d, divididos em duas refeições; enquanto durante a 4ª semana os animais receberam 2L/d em uma única refeição.

O ganho de peso e a altura na cernelha foram mensurados semanalmente durante o período experimental. Água e concentrado foram fornecidos a vontade, sendo avaliados o consumo de água, de sucedâneo e de concentrado diariamente. Foi realizada avaliação de escore fecal em uma escala de 1 a 5: 1 a 2: firme; 3: normal; 4 a 5: aquoso; 6: diarréia.

Os dados diários foram agrupados por bezerros ganhando acima ou abaixo de 272g/d durante o período de 28 dias de avaliação. Foram realizadas regressões do ganho de peso total com o consumo de concentrado; e do consumo de água com o consumo de concentrado.

Em 1983, o mesmo grupo de pesquisa conduziu um experimento, com o mesmo manejo alimentar e medidas, para avaliar o desempenho de bezerros recebendo ou não água a vontade.

Resultados e discussão

Experimento 1 - Bezerros com acesso livre à água

A regressão do ganho de peso diário e consumo de concentrado (Y = 0,0913 + 0,613X, r2= 49, P<.001) mostrou que 49% da variação do ganho de peso pode ser explicada pelo consumo de concentrado. Houve uma tendência do consumo de água ser um pouco maior para bezerros com menores ganhos de peso até os 21 dias de vida, quando foi progressivamente maior para bezerros com maiores ganhos (Figura 1).


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O maior consumo de concentrado foi associado com bezerros com maior consumo de concentrado durante os 28 dias de avaliação (Figura 2). O consumo diário de água foi inicialmente alto (Figura 3) e caiu após 3-4 dias do início da avaliação. Esta queda se deveu a mudança da dieta líquida, ou seja, do colostro com alta concentração de minerais para o sucedâneo. Uma vez que a quantidade de colostro foi a mesma quantidade fornecida de sucedâneo, a composição, e não a quantidade deve explicar a diferença no consumo de água.


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Houve um pequeno aumento no consumo de água aos 4 dias de idade com um pico aos 6 dias, quando o consumo de água reduziu novamente. Este pico foi maior para bezerros no grupo de maior ganho de peso (> 272g/d). O consumo de água então permaneceu baixo e constante até os 18 dias de idade (±1,3 kg/d), e aumentou progressivamente após os 21 dias de idade.

A partir da Figura 4 pode-se observar que este aumento foi concomitante ao aumento no consumo de concentrado para os dois grupos de ganho de peso. Estas mudanças correspondem também ao período final do fornecimento de 4L de sucedâneo em duas refeições e início do fornecimento de 2L/d. O aumento do consumo de água se deveu tanto ao decréscimo no fornecimento de água via sucedâneo, quanto ao aumento no consumo de concentrado.


Figura 5. Relação entre consumo de água e consumo de concentrado.

A Figura 5 mostra grandes mudanças no consumo de água relativo ao consumo de concentrado do dia 1 a 8. Isso ocorreu em função do inicial alto consumo de água (Figura 3) e também ao baixo consumo de concentrado (Figura 4). Como o consumo de água e concentrado permaneceu baixo, sua relação se reduziu a até a 3 semana de vida quando alcançou o ponto mais baixo. Durante a semana 4, a relação continuou constante embora tanto o consumo de água quanto de concentrado tenham sido altos e crescentes a uma mesma taxa.

Quando o processo de desaleitamento foi iniciado (3 semanas) e os bezerros começaram a consumir mais concentrado (Figura 4) e água (Figura 3), esta relação ficou mais forte. Thickett et al. (1981) também observaram aumentos simultâneos no consumo de água e de concentrado.


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O efeito do clima no consumo de água e de concentrado também foi avaliado de acordo com o mês de nascimento dos bezerros. A Figura 6 mostra que existe uma grande variação no consumo de água independentemente da estação do ano, mas que existe uma tendência para maiores consumos na primavera e no verão. Por outro lado, o consumo de concentrado foi baixo para as 2 primeiras semanas de idade e não foi afetado pela estação do ano (Figura 7). Entretanto, o consumo observado nas semanas 3 e 4 foram maiores para o verão e menores para a primavera. O alto consumo no verão não era esperado uma vez que altas temperaturas normalmente reduzem consumo de matéria seca e aumentam consumo de água.

Experimento 2 - Bezerros sem acesso à agua

Bezerros que não receberam água suplementar apresentaram menor ganho de peso diário e consumo de concentrado quando comparados aos animais recebendo água a vontade (Tabela 1). Praticamente todas estas diferenças ocorreram durante a semana 4 com algumas diferenças relativas ao consumo de concentrado sendo observadas também na semana 3.


Tabela 1. Consumo de concentrado, ganho de peso e saúde de bezerros com acesso livre ou sem acesso a água.


O consumo de água começou a aumentar na semana 3, com aumento expressivo ocorrendo na semana 4. Aproximadamente 75% deste aumento no consumo de água se equivale à redução no consumo de água devido à redução do fornecimento de sucedâneo. Entretanto, esta água adicional, não proveniente do sucedâneo, deve entrar no rúmen, assim como o concentrado consumido, e não no abomaso, como ocorre com o consumo de sucedâneo devido ao fechamento da goteira esofágica.

A relação do consumo de água e do consumo de concentrado foi semelhante durante as semanas 3 e 4 para os animais com acesso livre a água. Isso indica a forte relação entre o consumo de água e de concentrado, principalmente quando o consumo de concentrado aumenta. Conseqüentemente, quando a água não está disponível para os bezerros, o consumo de concentrado é reduzido (Tabela 1).

Os bezerros em ambos tratamentos não apresentaram diferenças no número ou na duração de quadros de diarréia (Tabela 1). Estes dados não suportam a hipótese de que a restrição de água reduz a incidência de diarréia como argumentam alguns produtores.

Conclusões

Tanto o sumário de dados de 3 anos quanto o estudo sobre restrição de água ilustram a forte relação entre o consumo de água, o consumo de concentrado e o ganho de peso. Nenhum efeito causal do fornecimento de água na ocorrência de diarréia foi observado. O consumo de água pode ser particularmente limitante em instalações com difícil acesso ou baixa capacidade de bebedouros.

Referências

Jenny, B. F. et al. Effect of fluid intake and dry matter concentration on scours and water intake in calves fed once daily. J. Dairy Sci. 61:765, 1978.

Kertz, A. F. et al. Ad Libitum Water Intake by Neonatal Calves and Its Relationship to Calf Starter Intake, Weight Gain, Feces Score, and Season J. Dairy Sci. 67:2964-2969, 1984.

Thickett, W. S. et al. The management of calves on an early-weaning system: the relationship of voluntary water intake to dry feed intake and live-weight gain to 5 weeks. Anim. Prod. 33:25, 1981.


Comentários

Muito embora o conceito da importância da água para a vida esteja estabelecido na sociedade, ainda é comum observarmos bezerreiros onde não há fornecimento de água ou ocorre fornecimento de água em quantidade limitada. Como mostrou o trabalho, a disponibilidade de água está fortemente relacionada ao consumo de concentrado. Embora seu consumo seja baixo nas primeiras semanas de vida, como demonstrou o primeiro experimento, o não fornecimento reduz o consumo de concentrado, resultando em baixo desempenho.

A importância da água é ainda maior em sistemas de produção que adotam o desaleitamento precoce e, portanto, fornecem quantidades limitadas de dieta líquida e objetivam consumo de concentrado adequado em idades jovens. A água, além de estimular o consumo de concentrado, é importante para o desenvolvimento do rúmen. Sem sua presença os processos de fermentação são reduzidos de forma que a produção de ácidos graxos voláteis, principal estímulo para o desenvolvimento do rúmen, também é prejudicada.

Com o verão seco que estamos passando, principalmente no sudeste e no centro-oeste, a disponibilidade de água de qualidade se torna ainda mais importante, uma vez que o animal perde água para manter temperatura corporal através de sudorese. Como demonstrou o experimento 2, os bezerros apresentam maior consumo de água durante o verão. Assim, se a capacidade dos baldes ou bebedouros utilizados estão adequados para o outono-inverno, poderão ser limitantes para o verão, devendo ser re-adequados.

Quanto a ocorrência de diarréias, a percepção de produtores de que o fornecimento de água causa diarréia muitas vezes é real. O fornecimento de água de baixa qualidade ou a má higienização dos baldes, os quais podem apresentar resíduos de concentrado, leite, urina e até fezes, pode sim resultar em diarréia. Mas, o fornecimento de água potável em baldes limpos só deve auxiliar os animais na recuperação de desidratação, uma das conseqüências das diarréias.

Forneça água limpa e em quantidades adequadas aos seus bezerros já na primeira semana de vida, isso terá impacto positivo no desempenho e na saúde dos animais.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

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CLÁUDIO VIEIRA TAVARES

CRISTIANO OTONI - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/05/2011

Muito importante e, reforça a atenção que devemos à água, mesmo que o seu consumo não seja notado. A nossa parte enquanto produtor é oferecer a água. A diferença perceptível no desenvolvimento vem rápido.
ROBSON ANDRADE CARVALHO

MONSENHOR PAULO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/11/2007

Foi um artigo de grande importância e referência na minha profissão, pois me esclareceu que é essencial dar água de boa qualidade desde as primeiras semanas de vida dos bezerros.
JORGE

SERTÃOZINHO - SÃO PAULO - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 24/10/2007

Muito bem escrito o artigo, serve de referência para demostrar aos pecuaristas com fatos como deve ser o fornecimento da agua aos bezerros. Importante a ênfase em que a água deve ser de boa qualidade e à vontade.

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