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Efeito da forma física e da inclusão de feno em ração inicial no crescimento e no desenvolvimento ruminal de bezerros leiteiros

CARLA BITTAR

EM 07/12/2005

12 MIN DE LEITURA

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Por Carla Maris Bittar 1 e Lucas Silveira Ferreira2

Introdução

Tratamos recentemente da importância do consumo de concentrado para a realização adequada do desaleitamento precoce de bezerras, ferramenta muito utilizada para a redução do custo de produção de animais de reposição. A ingestão de alimentos sólidos é primordial para bezerros em transição da fase pré-ruminante para ruminante funcional. Entretanto, ainda existe muita controvérsia quanto ao fornecimento de feno ou inclusão de fontes de fibra na ração inicial.

O consumo de forragem promove o desenvolvimento muscular do rúmen, estimula a ruminação e fluxo de saliva para o rúmen. Entretanto, a digestão de forragem por microrganismos não fornece concentrações suficientes de ácidos graxos voláteis no rúmen, especialmente butirato, requerido para ótimo desenvolvimento de papilas. Assim sendo, a literatura e a própria observação de campo tem demonstrado não haver necessidade do fornecimento de feno nos sistemas de produção que adotam o desaleitamento precoce, principalmente no Brasil onde a qualidade do feno disponível é muito baixa.

A quantidade de forragem necessária na dieta de bezerros jovens não está bem definida, uma vez que experimentos investigando sua inclusão em rações iniciais têm mostrado resultados inconsistentes. Diversos pesquisadores concluíram que a adição de forragem na dieta aumenta a ingestão inicial. Entretanto, outros têm visto impacto negativo na adição de forragem no consumo inicial.

O tamanho de partículas da ração influencia no ambiente ruminal, produção de ácidos graxos voláteis, estrutura e função das papilas. Dietas picadas ou com tamanho fino de partículas reduzem o pH ruminal e a população de bactérias celulolíticas. Este decréscimo no pH é resultado da menor ruminação e fluxo de saliva para o rúmen em bezerros e vacas adultas. Reduzido tamanho de partícula de forragem resulta deposição de queratina em papilas ruminais, resultando em menor quantidade de tecido ativo e, portanto reduzida capacidade de absorção de produtos finais da fermentação.

Determinar a apropriada taxa de inclusão de forragem em dietas concentradas para o ótimo desenvolvimento ruminal possibilitará o desaleitamento de bezerros mais jovens com maturidade fisiológica adequada para tal processo. O desaleitamento precoce traz uma série de vantagens como: redução na necessidade de mão-de-obra e na freqüência de problemas digestivos. Neste sentido, Coverdale et al. (2004) conduziram estudo para avaliar o efeito da forma da dieta e a taxa de inclusão de feno com tamanho de partícula controlada no desenvolvimento ruminal, crescimento e sanidade na alimentação restrita e à vontade de bezerros.

Material e métodos

Foram utilizados 60 bezerros holandeses, com aproximadamente 2 a 5 dias de idade, com peso médio de 44.2 (± 5 kg), os quais foram alocados individualmente, tendo acesso livre à água. Os animais foram distribuídos em 4 tratamentos (Tabela 1):

1) ração comercial grosseira (G);
2) ração farelada (F) com grãos processados moídos e pellets intactos;
3) ração grosseira com 7.5% de feno (GF1);
4) ração grosseira com 15% de feno (GF2).

Tabela 1:Ingredientes das dietas por tratamento (matéria original).

 


As rações foram formuladas para apresentarem os mesmos teores de energia e nitrogênio. A inclusão de peletes nas dietas GF1 e GF2 foram modificadas de maneira a compensar a adição de feno. O feno utilizado foi picado e classificado quanto ao tamanho de partícula utilizando o separador de forragem Penn State, apresentando tamanho entre 8 e 19 mm de comprimento. As amostras das dietas foram coletadas semanalmente e previamente armazenadas (-20oC) para análises em laboratório comercial (Tabela 2).

Tabela 2. Composição das dietas (com base na MS).

 


A alimentação com substituto de leite (12.5% MS, 20% PB, 20% EE) foi oferecida diariamente através de mamadeiras na quantidade de 10% do peso vivo durante todo o período de aleitamento. Os bezerros receberam ração de forma restrita sendo oferecido 250g no período de 2 a 24 dias; 350g de 25 a 47; e 450g de 48 a 50, sendo o desaleitamento realizado quando todos os bezerros consumiram 450 g de ração no 52o dia do experimento. O escore fecal (1=consistência fecal normal a 4=diarréia severa) de cada animal foi monitorado diariamente, assim como a administração de antibióticos e eletrólitos. Os animais foram pesados semanalmente até o final do experimento.

Amostras de sangue foram colhidas aproximadamente 3 horas após a refeição da manhã, através de punção da jugular. Após a coleta, o plasma foi coletado por centrifugação (3000 x g por 15 min), colocado em tubos e congelado (-20oC) para posterior determinação de beta-hidroxibutirato, um indicador de desenvolvimento ruminal.

Também foram colhidas amostras de fluido ruminal através de tubo estomacal aproximadamente 3 a 4 horas após a refeição. O fluido foi congelado imediatamente após a colheita e armazenado (-20oC) para posterior determinação de ácidos graxos voláteis.

Resultados e Discussão

Como esperado, o consumo de ração e de matéria seca (MS) total aumentou com a idade dos animais (P<0.01). Houve tendência de animais alimentados com as dietas GF1 e GF2 consumirem maior quantidade de MS total que os bezerros alimentados com os tratamentos G e F. A média total do consumo de MS foi de 0,96, 0,99, 1,04 e 1,00 kg (EP=0.03) para os bezerros alimentados com G, F, GF1 e GF2, respectivamente.

Entretanto, outras diferenças não foram observadas com respeito à ingestão de leite, concentrado ou MS total devido à quantidade restrita oferecida antes do desaleitamento. A utilização de forragem com tamanho de partícula adequado reduziu a variação na ingestão observada em outros experimentos, onde foi incluída forragem com tamanho de partícula superior. Diversos experimentos relatam aumento na ingestão com a adição de forragem na dieta. Entretanto, outros encontraram correlação negativa entre consumo e a inclusão de feno na ração.

Durante todo o experimento, houve uma tendência do peso vivo diferir com os tratamentos (P<0.15) e idade (P<0.01) (Tabela 3). A média de peso vivo entre os tratamentos não diferiram no início do experimento (P<0.15). O ganho de peso diário (GPD) foi afetado pelos tratamentos (P<0.02) e aumentou com a taxa de inclusão de feno na ração (Tabela 3). Não foram observadas diferenças no peso vivo, no GPD e na relação ganho/alimento (G/A) entre os tratamentos antes do desaleitamento (P=0.70, P=0.40 e P=0.33, respectivamente). Entretanto, houve tendência de maior peso vivo para bezerros alimentados com as dietas GF1 e GF2.

Tabela 3. Efeito da forma da dieta e inclusão de forragem no peso inicial, no ganho de peso vivo e na eficiência alimentar (Ganho de peso/consumo de MS)

 


Foram observadas diferenças no peso vivo, no GPD e na relação G/A entre os tratamentos (P<0.01, P<0.01 e P<0.01, respectivamente) após o desaleitamento (Tabela 3). Bezerros alimentados com a ração grosseira foram mais pesados (P<0.03), apresentaram maior GPD (P<0.01) e maior eficiência alimentar (P<0.01) quando comparados a bezerros alimentados com a ração farelada. No entanto, bezerros alimentados com as rações GF1 e GF2 foram mais pesados (P<0.01), apresentaram maior GPD (P<0.04) e maior relação G/A (P<0.03) que bezerros alimentados com a ração grosseira. Bezerros alimentados com a ração GF1 tenderam a ter maior GPD (P<0.07) e maior eficiência alimentar (P<0.12) que os bezerros do tratamento GF2 (Tabela 3).

Estes resultados discordam dos publicados por Beharka et al. (1998) que observaram maior GPD em bezerros alimentados com rações fareladas vs. rações não-fareladas, oferecidas em quantidades restritas e de composição idêntica. Entretanto, todas as rações neste estudo incluíam 25% de feno de alfafa. Outros trabalhos não mostram diferença no ganho de peso vivo em relação à forma da dieta (fina, intermediária e grosseira). Todas as rações utilizadas nestes estudos apresentavam uma taxa de inclusão de feno de 15% da matéria seca. Devido a diferenças tanto na forma quanto na inclusão de feno no presente trabalho, o enchimento do trato digestivo deve ter influenciado no peso vivo dos animais.

Os escores fecais não apresentaram diferenças entre os tratamentos durante todo o experimento (P=0.64), pré-desmama (P=0.66) ou pós-desmama (P=0.81), sendo observadas médias de 1,38, 1,39, 1,39 e 1,41 para bezerros dos tratamentos G, F, GF1 e GF2, respectivamente. Também não houve diferenças entre os tratamentos com antibióticos (P=0.68) ou a administração de eletrólitos (P=0.59).

As concentrações totais de AGV (acetato, propionato, isobutirato, butirato, isovalerato e valerato) diferiram entre os tratamentos (P<0.01) e com a idade dos animais (P<0.01) (Figura 1). As concentrações totais de AGV aumentaram com aumento da idade dos bezerros. Outros autores também observaram este aumento nas concentrações de AGV com a idade (Greenwood et al. 1997; Beharka et al, 1998, Nussio et al., 2002). As concentrações totais de AGV observadas neste estudo foram superiores àquelas observadas em outros estudos onde se utilizou a mesma técnica para a colheita de fluido ruminal (tubo estomacal). Isto reflete o tempo de amostragem e a diferença no método de alimentação entre os períodos pré e pós-aleitamento.

Amostras colhidas na oitava semana apresentavam altas concentrações de AGV. Provavelmente, relacionado à mudança no regime de alimentação, quando a ração passou a ser oferecida ad libitum e seu consumo foi aumentado na primeira semana após o desaleitamento. O aumento nas concentrações de AGV após o desaleitamento foi relatado em outros experimentos, geralmente associado ao aumento na ingestão de alimento.

O consumo restrito antes do desaleitamento pode ter resultado em um epitélio ruminal imaturo, inapto à rápida absorção de AGV. Já na 9a semana, as concentrações totais de AGV decresceram a valores comumente observados. Neste período, a ingestão de ração se estabilizou para a maioria dos bezerros, e a disponibilidade de alimento sólido resultou em maior maturidade do epitélio ruminal capaz de absorver grandes quantidades de AGV. As concentrações molares individuais de AGV também aumentaram na 8a semana, retornando a valores normais na semana seguinte.

A concentração total de AGV foi maior em bezerros alimentados com a dieta F vs. G (P<0.01) e tenderam a serem maiores nos bezerros alimentados com GF1 vs. GF2 (P<0.10) (Figura 1). Beharka et al. (1998) observaram também aumento na concentração total de AGV com rações fareladas vs. não-fareladas.

A concentração molar de acetato foi maior nos bezerros alimentados com a dieta F que nos alimentados com a ração G (P<0.01) (Tabela 4). A concentração de propionato também foi maior nos bezerros alimentados com F vs G (P<0.01); e na ração GF1 quando comparada com GF2 (P<0.03) (Tabela 4). As concentrações de butirato foram maiores em bezerros alimentados com a ração F, quando comparadas com aqueles alimentados à ração G (P<0.01) (Tabela 4).

A relação acetato:propionato tendeu a variar com os tratamentos (P<0.12). Bezerros alimentados com a ração GF2 apresentaram maior relação acetato:propionato que os da ração GF1 (P<0.03). Beharka et al. (1998) não encontraram diferenças na relação acetato:propionato entre bezerros alimentados com diferentes formas de ração (farelado vs não-farelado). Outros também observaram aumento na relação acetato:propionato no rúmen de bezerros alimentados com dietas com níveis crescentes de feno.

Houve tendência de efeito de tratamento nas proporções de acetato, propionato e valerato na porcentagem total de AGV (Tabela 4). Bezerros alimentados com a ração grosseira (G), tenderam a ter maiores proporções de butirato que os alimentados com GF1 e GF2 (P<0.10), o que pode ser benéfico uma vez que este ácido estimula o desenvolvimento ruminal. Quigley et al. (1992) encontraram resultados semelhantes com a inclusão de feno na dieta. Bezerros alimentados com GF1 tiveram maiores proporções de propionato (P<0.01) e menores proporções de isovalerato (P<0.05) que bezerros alimentados com GF2.

Tabela 4. Efeito da forma da dieta e inclusão de forragem nas concentrações de AGV ruminais.

 


As concentrações plasmáticas de ß-hidroxibutirato (BHBA) não diferiram entre os tratamentos antes ou após a desmama e durante todo o experimento (Tabela 5). Estes dados conflitam com os de Quigley et al. (1992), que observaram decréscimo no BHBA plasmático com o aumento na ingestão de feno. Entretanto, neste experimento foram utilizadas quantidades restritas de grãos e acesso ad libitum ao feno pós-desmama. Outros autores observaram um aumento no BHBA com a idade e consumo de carboidratos fermentáveis. Da mesma forma, alguns trabalhos demonstraram influência da forma da dieta nas concentrações de BHBA plasmático. Concentrações de BHBA plasmático foram similares àquelas observadas por Greenwood et al. (1997), que também utilizaram 15% de feno nas dietas.

Tabela 5. Efeito da forma da dieta e inclusão de forragem no BHBA plasmático.

 


Conclusões

O trabalho demonstrou que tanto a forma física, quanto a inclusão de feno com tamanho de partícula adequado na ração podem influenciar a ingestão e crescimento em bezerros. Forragens com tamanho de partícula adequada podem ser utilizadas com sucesso em rações concentradas para bezerros jovens, podendo resultar em bezerros mais pesados, melhor eficiência alimentar e maior consumo de matéria seca. A forma da dieta oferecida também afeta a ingestão de alimentos sólidos. O aumento na eficiência alimentar e alteração na produção de AGV observadas devem ter ocorrido provavelmente em resposta ao melhor ambiente ruminal. Além disso, a inclusão de feno pode ser benéfica do ponto de vista econômico, barateando o custo de rações iniciais para bezerros jovens. Trabalhos adicionais são necessários para determinar os efeitos em longo prazo, de rações iniciais contendo feno.

Referência Bibliográfica

BEHARKA, A.A.; NAGARAJA, T.G.; MORRILL, G.A. et al. Effects of form of the diet on anatomical, microbial, and fermentative development of the rumen of neonatal calves. Journal of Dairy Science, v.81, n.7, p.1946-1955, 1998.

COVERDALE, J.A.; TYLER, H.D.; QUIGLEY, J.D.; et al. Effect of various levels of forage and form of diet on rumen development and growth in calves. J. Dairy Sci. v. 87, n. 8, p. 2554-2562, 2004.

GREENWOOD, R.H.; MORRIL, J.L.; TITGEMEYER, E.E.; et al. A new method of measuring diet abrasion and its effect on the development of the forestomach. Journal of Dairy Science, v.79, n.10, p.2534-2541, 1997.

NUSSIO,C.B.; SANTOS, F.A.P; ZOPOLLATTO, M. ; et al. Parâmetros de fermentação e Medidas Morfométricas dos Compartimentos Ruminais de Bezerros Leiteiros Suplementados com Milho Processado (Floculado vs. Laminado a Vapor) e Monensina. R. Bras. Zootec., v.32, n.4, p.1021-1031, 2003.

QUIGLEY III, J.D.; BOEHMS, S.I.; STEEN, T.M.; et al. Effects of lasalocid on selected ruminal and blood metabolites in Young calves. Journal of Dairy Science, v.75, n.8, p.2235-2241, 1992.

Comentário

O trabalho demonstra benefícios da inclusão de feno em rações iniciais para bezerros leiteiros, prática não muito comum no Brasil. A recomendação do não fornecimento de feno durante o período de aleitamento é justificada no fato de que este não tem efeito positivo no desenvolvimento ruminal, além de ser via de regra um alimento de baixíssima qualidade para esta categoria animal. Por outro lado, têm-se verificado que alterações nos teores de fibra de rações iniciais devem ser realizadas com o objetivo de promover melhor ambiente ruminal evitando-se assim problemas como a parakeratose.

O trabalho demonstrou que a inclusão de 7,5% de feno e ração inicial beneficiou o ganho de peso e a eficiência alimentar de bezerros leiteiros, e não prejudicou ou atrasou o desenvolvimento ruminal. É bom salientar que o feno utilizado foi de alta qualidade, sendo primordial a escolha de bons ingredientes quando se faz a formulação de ração inicial para bezerros. Além de beneficiar o desempenho animal, a inclusão de feno (de boa qualidade) pode ser interessante do ponto de vista econômico.



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1 Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP
2 Aluno de Graduação em Eng. Agronômica - UFSCAR/Araras

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