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Desaleitamento: desafios e impacto no desempenho

POR CARLA MARIS MACHADO BITTAR

CARLA BITTAR

EM 07/03/2022

8 MIN DE LEITURA

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Durante a fase de aleitamento a maior parte do desempenho dos animais é explicada pela dieta líquida, considerando não só o programa de aleitamento, mas também o protocolo de colostragem bem feito.

Por outro lado, o consumo de dieta sólida, será primordial para que o desaleitamento seja realizado de forma adequada, de meneira que as bezerras mantenham suas taxas de crescimento na fase seguinte.

Os programas de aleitamento são bastante variados no que diz respeito aos volumes fornecidos e duração. Recentemente o NASEM (2021) – Novo NRC –  sugeriu uma nova classificação dos programas de aleitamento, considerando os volumes de fornecimento (Figura 1).

Enquanto as altas taxas de alimentação são justificadas pelo maior desempenho, eficiência de ganho e produção futura, os programas mais restritos (chamados de convencionais até pouco tempo) são justificados pelo maior consumo de concentrado, menor custo diário e até menor ocorrência de diarreias. No entanto, há de se encontrar um equilíbrio entre estas propostas, podendo ser utilizados volumes diferentes de acordo com a idade do animal, uma vez que o consumo de dieta sólida está negativamente correlacionado ao consumo de dieta líquida.

Assim, sugere-se que as altas taxas de alimentação sejam adotadas em idades mais jovens, mas à medida que o tempo passa os volumes podem ser reduzidos de forma a estimular o consumo de dieta sólida e preparar o animal para um processo de desaleitamento mais suave.

No entanto, ainda é alvo de pesquisa entender a melhor forma de realizar o processo de desaleitamento para tirar o maior proveito do aleitamento mais intensivo, mas conseguir desaleitar o animal com aumento rápido no consumo de concentrado.

O período de aleitamento também é bastante variável e embora possa ser realizado aos 60 dias de vida, muitos produtores tem estendido este período, exatamente pela dificuldade no processo de desaleitamento e as frustrações devido ao baixo desempenho.  
 

Figura 1. Classificação dos programas de aleitamento segundo NASEM (2021). Volumes estimados considerando diluição de 12,5% de sólidos.


 

A correlação negativa entre o consumo de dieta líquida e sólida é mais marcante quando taxas de alimentação acima de 800 g MS de dieta líquida por dia, o que corresponde a aproximadamente 6,5 L, com 12,5% de sólidos.

Assim, em sistemas que adotam o fornecimento de 6L/d não ocorre grande problema com o consumo de dieta sólida, de forma o que o processo de desaleitamento será mais fácil.

Vejam que a chave do sucesso para o adequado desaleitamento é o consumo de dieta sólida, pois é este alimento que vai estimular o desenvolvimento ruminal das bezerras e permitir que estas tenham adequadas taxas de crescimento quando foram desaleitadas.

O desenvolvimento ruminal depende de dois fatores principais: idade e consumo de dieta sólida.

A idade está relacionada com a capacidade cetogênica, ou seja, conseguir transformar produtos finais de fermentação ruminal em moléculas que funcionam como fonte de energia para os ruminantes. Como nos sistemas de criação de bezerras leiteiras queremos animais mais produtivos, e isso depende de altas taxas de crescimento durante o período de aleitamento, além do fato de que a capacidade cetogênica se desenvolve em idades bastante jovens, este não é um fator que nos preocupa.

Por outro lado, o consumo de dieta sólida é o fator que vai permitir o estabelecimento de microbiota ruminal, o início de processos fermentativos e a geração de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), responsáveis pelo desenvolvimento do rúmen do ponto de vista anatômico e metabólico.

O estímulo ao consumo de concentrado não depende somente da redução no fornecimento da dieta ou da simples oferta diária. O consumo de concentrado é multifatorial e depende desde a colostragem (saúde) até aspectos como a posição do cocho (Figura 2).

Figura 2. Fatores que afetam o consumo de concentrado por bezerros em aleitamento

A composição deste concentrado deve estar adequada para animais desta categoria (bezerras), considerando a inclusão de carboidratos não-fibrosos (CNF) e carboidratos fibrosos. Embora os CNF sejam os maiores responsáveis pela produção de AGCC e, portanto, o desenvolvimento ruminal, os carboidratos fibrosos têm função extremamente importante relacionada a manutenção da saúde ruminal, seja através do controle de pH, seja pela ação abrasiva que resulta em renovação do epitélio ruminal.

Este aspecto é importante na manutenção e crescimento do consumo de concentrado, uma vez que assim como animais adultos, bezerras também podem apresentar quadros de acidose ruminal.

Bezerras em quadros de acidose vão reduzir o consumo e consequentemente atrasar o desenvolvimento ruminal. Incluir fontes de CNF que tragam FDN para a mistura, como casquinha de soja e polpa cítrica, são estratégias interessantes para aumentar garantir consumo de concentrado.

A inclusão de feno picado na mistura também pode ser feita em taxas de inclusão de no máximo 5%. A recomendação de inclusão de fibra nos concentrados ainda é controversa, mas Davis e Drackley (1998) sugerem faixas de 15 a 25% de FDN e de 6 a 20% de FDA. Infelizmente o NASEM (2021) não apresenta recomendações de fibra para a formulação de concentrados iniciais. A forma física do concentrado (moído, peletizado, multipartícula) também pode ser um fator de risco para acidose, uma vez que as taxas de degradação são diferentes, e por isso o produtor também deve se preocupar com este aspecto.

O fornecimento de volumoso em separado deve ser feito com cautela e de forma estratégica. Como em algumas situações o consumo de feno pode substituir o de concentrado inicial, resultando em menor consumo de proteína e energia, o ideal é fazer fornecimento controlado.

Quando são fornecidos concentrados moídos, com maiores taxas de degradação e, portanto, maior risco de acidose, o fornecimento de feno é recomendado. Por outro lado, em sistemas que fornecem concentrados multipartícula, que normalmente já tem inclusão de casca de aveia ou similar, o fornecimento de feno não precisa ser realizado.

De qualquer modo, o fornecimento de feno deve ser feito de forma controlada, especialmente quando for de alta qualidade para que não represente consumo superior a 5% do consumo total de matéria seca, conforme recomendação do NASEM (2021). Interessante que os dados de literatura mostram que quando o feno é de média a baixa qualidade, seu fornecimento pode ser feito à vontade, uma vez que os animais vão apresentar consumo entre 5 e 7%. A ideia é que o feno atue como controle da saúde ruminal e garanta que o consumo de concentrado seja crescente, estimulando o desenvolvimento ruminal para o desaleitamento eficiente.

O desaleitamento deve ser feito de forma gradual a partir de uma determinada idade, e que seja completo quando o animal apresentar consumo de concentrado que represente adequado desenvolvimento ruminal.

O trabalho de Stamey et al. (2012) sugere o consumo de 1 kg/d para o desaleitamento completo, o que foi correlacionado com ótimo desempenho durante o processo. No entanto, o NASEM (2021) sugere que este consumo seja de 1,5 kg/d para adequado desaleitamento.

Assim, a estratégia de desaleitamento deve considerar o volume de dieta líquida fornecido, a meta de idade para desaleitamento completo e o volume a ser reduzido por dia no fornecimento para garantir que tudo isso funcione. Vejam que utilizar a idade como critério para o desaleitamento pode resultar em grandes erros de manejo, uma vez que o consumo de concentrado depende muito mais do volume de dieta líquida fornecida do que da idade do animal.

O início da redução do volume de fornecimento deve ser entre 10 e 7 dias antes da data de desaleitamento completo para que o animal tenha tempo de aumentar o consumo de concentrado e se preparar para o desaleitamento. Quando é iniciado muito tempo antes, por exemplo 20 dias, acaba reduzindo o consumo total de energia pela bezerra, impactando no ganho de peso, apesar de resultar em alto consumo de concentrado ao desaleitamento completo. Quando iniciado muito próximo, com grandes reduções no fornecimento de uma dia para o outro, a bezerra não consegue acompanhar aumentando o consumo de concentrado e isso vai resultar em menor ganho ou até mesmo perda de peso na fase seguinte.

O desaleitamento é uma grande fonte de estresse aos animais devido a mudança na alimentação, mas também à rotina diária. Assim, em bezerreiros com problemas no desaleitamento são comuns a maior ocorrência de doenças neste período, associadas a queda no desempenho e grandes alterações comportamentais das bezerras.

No entanto, o produtor pode lançar mão de várias estratégias para reduzir o estresse neste período. Além do desaleitamento gradual ou de sistemas de aleitamento em escadas (step-down), aspectos relacionados ao agrupamento dos animais e enriquecimento ambiental (bolas, correntes, coçador)  podem auxiliar.

O momento de agrupamento dos animais é ainda pouco estudado, muito embora exista recomendação de vários pesquisadores para que ocorra após 5-7 dias do desaleitamento. No entanto, Bach et al., (2010) mostrou que quando o agrupamento foi feito no dia do desaleitamento os animais ganharam mais peso.

O que se vê em campo é que animais que são mantidos na mesma instalação após o desaleitamento manifestam maior frustração, com alta vocalização e maior tempo em pé, pela expectativa de receber dieta líquida como outros animais que estão no mesmo ambiente. De qualquer forma, a inclusão de animais em lotes deve ser feita sempre pelo menos aos pares para que os animais rapidamente se integrem ao lote e tenham acesso aos recursos disponíveis (água, alimento, sombra, local seco para se deitar).

Concluindo, o desaleitamento deve ser feito em momento adequado do ponto de vista de desenvolvimento anatômico e metabólico do rúmen, o que depende de consumo de concentrado.

Quando o desaleitamento é realizado de forma inadequada, resulta em grandes prejuízos no desempenho animal e consequentemente perdas do investimento realizado com a dieta líquida, especialmente quando se adota aleitamento intensivo.

Assim, entenda o seu programa alimentar e elabore um protocolo de desaleitamento que permita o aumento no consumo de concentrado para que que ao final do processo suas bezerras estejam consumindo 1,5 kg/d. Dessa forma, você terá bezerras recém-desaleitadas tão bonitas quanto aquelas em aleitamento.
 

Referências

Bach, A., J. Ahedo, and A. Ferrer. 2010. Optimizing weaning strategies of dairy replacement calves. J. Dairy Sci. 93:413–419.

Stamey, J. A., N. A. Janovick, A. F. Kertz, and J. K. Drackley. 2012. Influence of starter protein content on growth of dairy calves in an enhanced early nutrition program. J. Dairy Sci. 95:3327–3336.

NASEM. Nutrient Requirements of Dairy Cattle, 8th edition. 2021.

CARLA MARIS MACHADO BITTAR

Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

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LUCAS FALLOUT

TOLEDO - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/03/2022

Ótimo conteúdo. Obrigado pelo texto.
LUCAS FALLOUT

TOLEDO - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/03/2022

Ótimo texto. Mas além dessa fase, eu enfrento um problema que é a mamada cruzada. Demoro mais de 10 pra agrupar os animais. Um número significativo acaba procurando os tetos uma das outras para mamar. Eu fico desesperado. Colocar "tábua"/desmamador, é uma coisa muito chata, estressa os animais e atrapalha a alimentação. Mas infelizmente não vejo outra opção no momento.

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