Cruzamento entre Holandês e Jersey: Jersolando
Sabe-se que a produção de leite nas regiões de clima temperado e subtropical tem sido baseada principalmente em raças leiteiras especializadas, com predominância das raças Holandesa e Jersey. Entretanto, o processo de cruzamento entre raças leiteiras especializadas teve como principal ponto de partida o exemplo da Nova Zelândia, onde produtores começaram há vários anos cruzar animais destas raças.
Por que fazer cruzamentos entre raças?
Muitos produtores de leite, em diversos países, praticam algum tipo de cruzamento entre raças leiteiras especializadas, procedimento este que aumenta a cada ano. Os fatores que motivam este processo incluem principalmente a melhoria no teor de sólidos do leite, fertilidade, longevidade e facilidade de parto, além da redução dos problemas de consanguinidade (CASSELL e MCALLISTER, 2008).
Alguns produtores do Sul do Brasil, observando a utilização de cruzamentos entre raças especializadas no exterior, também iniciaram programas de cruzamentos em suas propriedades. Estes produtores buscam solucionar deficiências nos rebanhos da raça Holandesa referentes à composição do leite, saúde, fertilidade, longevidade e facilidade de parto. Contudo, a falta de informação relacionada às respostas esperadas por esses animais ainda é uma barreira para a utilização destes cruzamentos.
Na Nova Zelândia, em sistema com alimentação baseada em pastagem e parição sazonal e utilizando cruzamento entre raças especializadas, Lopez-Villalobos et al. (2000), observaram que a produção de leite, gordura e proteína/vaca/ano e de leite/ha/ano das vacas mestiças Holandês X Jersey, superavam levemente os valores intermediários das raças originárias, como resultado de heterose, superando as raças puras, especialmente em lucro/ha/ano.
Até o momento ainda existem poucos estudos sobre o desempenho de vacas com outros percentuais das raças Holandesa e Jersey nos sistemas de cruzamento. Em um estudo desenvolvido por Bjelland et al. (2011), na Universidade de Wisconsin (USA), nos quais vacas da raça Holandesa foram acasalados com touros ½ Holandês x Jersey não provados a produção de leite destas vacas ¾ Holandês foi de 11456kg contra 12645kg em 305 dias de lactação nas vacas puras, correspondendo a aproximadamente 91%.
As pesquisas demonstram que ocorre aumento nos teores de proteína e gordura, quando rebanhos da raça Holandesa são cruzados com Jersey, sendo este um dos principais motivos para a adoção dos sistemas de cruzamento nas condições em que a concentração de sólidos afeta o preço do leite. Nos estudos acima citados a concentração de gordura no leite de vacas mestiças superou as vacas puras Holandês em 0.25 a 0.35 pontos percentuais, sendo a superioridade em proteína de 0.05 a 0.20 pontos percentuais.
Ainda existem relativamente poucos trabalhos avaliando a eficiência alimentar e capacidade de consumo de alimentos das vacas mestiças em relação às puras. Em condições de produção baseada em pastagem, com pequena suplementação concentrada no início da lactação, na Irlanda, Prendiville et al. (2009) observaram que o consumo diário de matéria seca/dia das vacas mestiças não difere das puras Holandês.
Estimativas de heterose para características produtivas em torno de 6% a 7% têm sido reportadas para animais mestiços ½ Holandês x Jersey, com valores baixos também para características funcionais quando analisadas de maneira isolada (MCALLISTER, 2002; WEIGEL e BARLASS, 2003; MALTECCA et al., 2006). Prendiville et al. (2009) estimaram heterose de 0,69kg de leite/dia, o que corresponde a 4,3%. Entretanto, níveis de heterose mais elevados podem ser obtidos quando se avalia características como lucro vitalício das vacas, visto que esta variável é fruto da ação conjunta de diversas variáveis (MCALLISTER, 2002).
A partir dos resultados apresentados pode-se concluir que, do ponto de vista da produção, a adoção de cruzamento com Jersey em rebanhos da raça Holandesa pode incrementar os teores de proteína e gordura, sendo para esta última próximo a 0,3 pontos percentuais, com redução na produção de leite por vaca de pouco mais do que 5% e algum incremento na eficiência de transformação de alimento ingerido em sólidos do leite.
Nos próximos artigos iremos abordar outros aspectos relacionados ao cruzamento de raças leiteiras especializadas, tais como fertilidade, saúde, longevidade, facilidade de parto e crescimento, além de sistemas de cruzamento e suas implicações.
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