Traduzindo essa situação do UHT em números, entre abril (pico de preços recebidos pela indústria em 2017) e setembro, o preço do UHT no atacado (preço recebido pela indústria), caiu R$ 0,60/litro (de R$ 2,38/litro para R$ 1,78/litro). Enquanto isso, no varejo, a situação seguia em estabilidade de preços, inclusive com algumas altas mensais, dificultando ainda mais uma eventual recuperação na demanda final. Mas a situação parece estar mudando.
Nas últimas semanas, o preço do leite UHT pago à indústria registrou altas consecutivas (algo que não ocorria desde março/2017), fato que, aliado a alguns outros fatores (tanto na oferta, quanto na demanda), pode indicar um novo cenário se desenhando no mercado.
Gráfico 1. Preço do leite UHT recebido pela indústria (deflacionado pelo IGP-DI).
Alguns movimentos de mercado têm ajudado neste início de recuperação de preços do UHT:
- Oferta do derivado lácteo:
Em função da baixa (ou negativa) rentabilidade do UHT nestes últimos meses, a indústria tem reduzido a produção do derivado e direcionado o leite fresco para outras cadeias, notadamente os queijos e o leite em pó fracionado.
- Demanda de lácteos:
Dois efeitos parecem atuar positivamente do lado da demanda. Primeiro, a volta da confiança do consumidor brasileiro. O colapso da economia brasileira teve enorme impacto no consumo de leite por parte dos brasileiros, e sua recuperação (que de fato, será lenta e gradual) já pode ser levemente sentida no consumo de leite UHT.
Ao mesmo tempo, a queda de preços dos lácteos no varejo tem feito os preços ao consumidor final atingirem patamares bastante baixos. Como mostra o gráfico 2, no caso específico do leite UHT, o nível de preços no varejo da cidade de São Paulo é, em termos reais (descontando a inflação) o menor dos últimos 6 anos!
Gráfico 2. Preços do leite UHT no varejo (deflacionados pelo IGP-DI).
- Oferta de leite fresco
A baixa de preços de leite ao produtor (de cerca de 20 centavos/litro entre os pagamentos de junho e setembro deste ano, segundo a média Brasil do Cepea) e a elevação dos preços dos concentrados estão desestimulando a produção de leite; soma-se a estes dois fatores o atraso nas chuvas em Goiás e Minas Gerais. Por fim, a perspectiva é de uma safra do Sudeste/Centro Oeste menor e mais curta do que em anos anteriores.
A conjunção de todos estes fatores traz uma perspectiva de sustentação/elevação de preços do leite UHT no “atacado” nas próximas semanas. O tamanho da safra do Sudeste/Centro Oeste e a reação do consumo final do produto indicarão o quão sustentável é este cenário de mercado.