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Ideias equivocadas sobre os alimentos lácteos: uma revisão das evidências - Parte 2/2

POR JULIANA SANTIN

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 27/04/2010

10 MIN DE LEITURA

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Ideia equivocada: crianças com autismo devem evitar alimentos lácteos.

O que diz a ciência: Até agora, não existem evidências claras com relação à causa ou à cura do autismo ou à efetividade de intervenções dietéticas nessa condição (47-51). O autismo, frequentemente chamado de desordens do espectro autista (DEA), é uma desordem complexa de desenvolvimento da função cerebral que tipicamente aparece durante os primeiros três anos de vida (47,52).

Muitos sintomas incluem prejuízo na interação social, problemas com a comunicação verbal e não-verbal, e atividades e interesses incomuns ou severamente limitados (47,52). Antigamente uma condição rara, o número de crianças diagnosticadas com autismo está aumentando a uma taxa de 10 a 17% por ano (53).

Apesar de não haver uma única causa conhecida do autismo, tanto fatores genéticos como ambientais parecem ter um papel na etiologia (47-52). O tratamento para sintomas específicos normalmente consiste de intervenções médicas e educacional/comportamental (47,49,50). Uma das mais populares, ainda que não provada, das estratégias nutricionais para o autismo é uma dieta livre de glúten e de caseína. Levantou-se a hipótese de que alguns sintomas do autismo podem ser resultados de peptídeos opióides formados da quebra incompleta dos alimentos contendo glúten (trigo, centeio, cevada) e caseína (alimentos lácteos) (49,50).

Apesar de algumas pessoas acreditarem que uma dieta livre de glúten e de caseína melhora os sintomas de autismo, existe pouca, se nenhuma, evidência científica da eficácia dessa intervenção dietética (48,49,51). Um recente estudo clínico aleatório, duplo cego, com 13 crianças com autismo não mostrou diferenças significantes nos dados comportamentais ou nos níveis urinários de peptídeos entre crianças tratadas com uma dieta livre de glúten e caseína ou em um grupo controle (49). Além disso, pode haver desvantagens nesse tipo de dieta (sem glúten e caseína), especialmente se autoprescrita (48,54,55).

Alguns dados sugerem que crianças que seguem essa dieta podem ter risco de apresentar deficiências de aminoácidos essenciais (54) e perda óssea (55). A remoção de alimentos de dois importantes grupos alimentícios (grãos e lácteos) dificulta a obtenção de uma dieta nutricionalmente balanceada, particularmente para crianças autistas, muitas das quais já consomem dietas auto-restritas por causa de sua aversão à textura, temperatura ou outras características dos alimentos (56).

Um recente painel multidisciplinar de especialistas concluiu que os dados disponíveis não suportam o uso de dietas especiais, como a dieta livre de caseína, a dieta livre de glúten ou a dieta livre dos dois nutrientes para pacientes com autismo (51). Como muitas crianças com autismo estão em risco de apresentar deficiências nutricionais devido a suas aversões dietéticas e/ou ingestão de dietas terapêuticas controversas e restritivas (57), profissionais de saúde, especialmente nutricionistas registrados, têm um importante papel em ajudar a garantir a saúde nutricional nas pessoas com autismo (50,51,58).

Ideia equivocada: o consumo de leite aumenta a formação de muco no trato respiratório.

O que diz a ciência: De acordo com uma revisão recente, não existem evidências conclusivas para se acreditar que o consumo de leite aumenta a produção de muco e agrava os sintomas de resfriados, alergias e asma (uma doença inflamatória crônica do trato respiratório inferior) (59). Entretanto, as pessoas que acreditam que o leite piora a formação de muco têm mais probabilidade do que as pessoas que não acreditam nessa relação de reportar percepções sensoriais relacionadas ao muco após a ingestão de leite.

Uma explicação provável para essa percepção é que se trata de um fenômeno agudo com a emulsão de leite temporariamente aderindo à fina camada de muco que sempre cobre a membrana mucosa da garganta.

Ideia equivocada: leite cru (não pasteurizado) é mais nutritivo e saudável do que o leite pasteurizado.

O que diz a ciência: O consumo de leite cru é responsável por doenças que podem representar risco de vida, causadas por bactérias patogênicas como E. coli O157:H7, Salmonella, Campylobacter spp e L. monocytogenes (60-62). Apesar das pessoas que defendem o leite cru acreditarem que esse produto possui melhores qualidades nutricionais, sabor e benefícios para a saúde, dados baseados em ciência não evidenciam essas crenças (60-62). De fato, o consumo de leite cru e seus derivados é uma contínua ameaça à saúde pública.

A pasteurização do leite é a forma mais efetiva de reduzir os riscos de ameaças microbiológicas (60,61,63). A pasteurização envolve aquecer o leite cru por um período breve de tempo a uma temperatura pré-determinada (63). As menores morbidade e mortalidade associadas com o consumo de leite pasteurizado mostram os benefícios de se pasteurizar o leite cru (60). Durante a pasteurização, não existe mudança significante na qualidade nutricional do leite (61). Além disso, diferentemente do leite cru, a maioria do leite pasteurizado como comercializado é fortificado com vitamina D (nos Estados Unidos), um nutriente que melhora a absorção intestinal de cálcio e fósforo e tem um papel benéfico na saúde dos ossos (64). A adição de vitamina D torna o leite pasteurizado uma excelente fonte desse nutriente, fornecendo 25% do valor diário de referência.

Em um esforço para proteger a saúde humana, uma série de organizações tem publicado diretrizes apoiando a pasteurização do leite e a restrição do leite cru e seus derivados (60,61). Essas organizações incluem U.S. Food and Drug Administration (FDA), Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, Associação Médica Americana, Academia Americana de Pediatras, Associação Americana de Saúde Pública, Associação Americana Médica Veterinária, Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), Associação Internacional para Proteção Alimentar e Organização Mundial de Saúde, entre outras (60).

Nos Estados Unidos, é ilegal vender leite cru embalado para os consumidores entre estados (60,61). Entretanto, a venda de leite cru de algumas formas (por exemplo, compra direta) dentro dos estados é permitida. Apesar dos riscos documentados para a saúde causados pelo consumo de leite cru, 29 estados do país permitem a venda desses alimentos (60). Assim, é importante aumentar a conscientização pública sobre os riscos de segurança microbiológica do leite cru e certos produtos lácteos fabricados usando leite cru e recomendar que somente leite pasteurizado seja consumido (60). Regulamentações governamentais estritas e um compromisso da indústria em fornecer leite seguro e de alta qualidade ajuda a garantir que o leite pasteurizado e seus produtos sejam seguros e nutritivos.

No Brasil, a venda de leite cru para consumo direto da população, em todo o território nacional, foi proibida pelo Decreto-lei nº 923, de 10 de outubro de 1969, regulamentado pelo Decreto Federal nº 66.183 de 5 de fevereiro de 1970.

Conclusões

As ideias equivocadas sobre os alimentos lácteos podem levar à eliminação desnecessária desse alimento da dieta, o que quase sempre reduz a ingestão dietética total de nutrientes essenciais do leite, como o cálcio, e potencialmente coloca em risco à saúde. Profissionais de saúde podem positivamente formar as escolhas de alimentos de seus clientes entendendo o raciocínio usado por pessoas que possuem ideias equivocadas sobre os alimentos lácteos e efetivamente comunicar informações baseadas em ciência sobre o valor nutricional dos alimentos lácteos, seus benefícios para a saúde e sua qualidade.


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Baseado no artigo "Misperceptions Regarding Dairy Foods: A Review of the Evidence", do National Dairy Council (https://www.nationaldairycouncil.org) - Dairy Council Digest Archives, Volume 81, Número 1 Janeiro/Fevereiro de 2010.

JULIANA SANTIN

Médica veterinária formada pela FMVZ/USP. Contribuo com a geração de conteúdo nos portais da AgriPoint nas áreas de mercado internacional, além de ser responsável pelo Blog Novidades e Lançamentos em Lácteos do MilkPoint Indústria.

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