De acordo com o presidente da APqC, Joaquim Adelino Azevedo Filho, no início da discussão do PL 328, era interesse do Estado se desfazer de 13 áreas destinadas à Pesquisa Científica. Depois de muitos argumentos por parte dos pesquisadores, manifestações e pedidos de associações de produtores rurais a vereadores, prefeitos e deputados, quatro áreas foram retiradas do texto inicial, porém das nove áreas que ainda constam na lista de alienação da Lei 16.338, cinco são consideradas fundamentais para a continuidade de importantes linhas de pesquisa.
“Nós vamos continuar lutando, principalmente pelas áreas de Jundiaí, Pindamonhangaba, Itapeva, Itapetininga e Nova Odessa. Nossa intenção é impedir que o governo venda estas cinco áreas, onde estão alocados anos e anos de pesquisa. É humanamente impossível realocar tudo que temos nestas áreas. Além de ser um custo enorme para que o governo adapte outras áreas para que recebam estes acervos, muito material se perderá. Também temos um fator complicador que é a falta de pesquisadores. Com estas mudanças, muitos devem antecipar a aposentadoria e suas linhas de pesquisa ficarão abandonadas. Sem ninguém para passar o bastão, é óbvio que uma pesquisa chega ao fim”, avalia o presidente da APqC.
Sobre as áreas imprescindíveis para a pesquisa e que constam como alienáveis
O Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa, está localizado na terceira região mais poluída do país, conforme Organização Mundial da Saúde de 2011. A cidade de Nova Odessa tem apenas 2% de remanescentes da floresta original, sendo que todo este percentual está em áreas internas do Instituto de Zootecnia, que o governo pretende alienar. Trata-se de uma das últimas áreas sem urbanização desta região, importantíssima em relação aos serviços ecossistêmicos para a sociedade. O IZ, inclusive, foi recentemente contemplado com R$ 3 milhões do Fundo Estadual de Interesses Difusos da Secretaria de Cidadania e Justiça para execução do projeto “Bioma IZ: uma proposta ambiental”, que visa a delimitação, recuperação e manutenção de extensas áreas de vegetações nativas, algumas remanescentes da Mata Atlântica e reflorestadas, além da implantação de sistemas integrados de produção animal para pesquisas científicas. O projeto ainda não foi executado.
Atualmente, as compensações ambientais efetuadas em matas ciliares, segundo a diretora do IZ, Renata Helena Branco Arnandes, têm recebido maior atenção dentro da pesquisa. “Isso se dá devido à importância ecológica da manutenção da biodiversidade e de corredores biológicos, além da importância da manutenção da qualidade hidrológica dos mananciais, o que salienta a ideia de que o IZ capta água de manancial reflorestado”, afirma Renata.
Localizado em Jundiaí, o Centro de Engenharia e Automação (CEA) teve toda a sua estrutura projetada pelo Departamento de Engenharia e Mecânica da Agricultura (DEMA) para dotar o Estado de São Paulo de um moderno local de treinamento de técnicos em mecanização, bem como para a realização de trabalhos de experimentação e pesquisas relacionados com a mecânica agrícola, à altura dos mais adiantados centros congêneres existentes em outras partes do mundo. O CEA é responsável por diversas linhas de pesquisa em desenvolvimento, como as de protótipos, desenvolvimento de métodos de ensaio, participação na elaboração de normas técnicas (ABNT, ISO) com a utilização de máquinas, equipamentos e componentes agrícolas; Engenharia de biossistemas, com a interação entre a máquina, a planta e o ambiente; Tecnologia de aplicação de insumos agrícolas: avaliação e desenvolvimento da qualidade na aplicação de agrotóxicos, corretivos, fertilizantes e adjuvantes; avaliação das condições de segurança em máquinas agrícolas; Tecnologia pós-colheita; desenvolvimento de tecnologias da informação; e gestão agroambiental.
De acordo com o presidente da APqC, não há como deslocar apenas as duas áreas mencionadas na Lei sem graves prejuízos, qualitativos e quantitativos, às atividades de pesquisas científicas. “Além disso, muitas das ações são interligadas e interdependentes. É inviável transferir a pesquisa feita no CEA para outro local, como pretende fazer o Governo. Não existem no CEC em Campinas ou mesmo no Centro de Frutas em Jundiaí estrutura física adequada para receber tais laboratórios. A transferência do CEA, com o simples abandono deste investimento, impactará seriamente na pesquisa, bem como nos investimentos já realizados pelo Estado e por parceiros”, garante Adelino.
A Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Itapetininga, cuja principal linha de pesquisa é a ovinocultura, desenvolve trabalhos científicos na região há 58 anos, beneficiando a sociedade com o desenvolvimento de tecnologias para agricultura familiar. A área a ser alienada hoje sedia uma pesquisa de cana-de-açúcar em um projeto de arrendamento, que arrecada em torno de R$100.000,00 anuais. Esses recursos têm sido aplicados nos últimos anos para o desenvolvimento dos projetos de pesquisas com compras de equipamentos e insumos para experimentos, bem como para a alimentação do rebanho experimental e sua manutenção, manutenção da própria unidade com cercas elétricas, galpões, confecção de silagem para alimentação, compra de equipamentos, reforma no prédio, na hospedaria e nos galpões experimentais. “O Governo afirma que todos os projetos de pesquisa serão transferidos e não encerrados. Porém, nós estamos mostrando que essas possíveis transferências trarão prejuízos irreparáveis para as pesquisas que vem sendo realizadas”, acrescenta Joaquim.
Atualmente a UPD de Itapeva possui projetos registrados de atividade de pesquisa e validação de tecnologia para transferir para os pequenos suinocultores, como inseminação artificial; manejo sustentável; nutrição e melhoramento de suínos; comportamento animal; bem-estar animal; desempenho; tratamento de dejetos; experimentos com alimentos alternativos e utilização de soja grão tostada no preparo de rações. A propriedade da Unidade, recebida como doação em 1941, foi originalmente criada para o desenvolvimento da suinocultura no Estado de São Paulo, e representa hoje, um Centro de Referência no estudo, desenvolvimento e difusão de tecnologias nessa área, mantendo rebanho de alto valor genético que é utilizado para as mais diversas atividades.
A UPD de Itapeva também mantém, atualmente, parceria com os produtores, sindicatos e associações, o que a caracteriza como uma área de atividade predominante da agricultura familiar. A Unidade mantem preservada sua área de proteção ambiental (22,23 hectares), composta pelo rio, corpos d’água, vegetação nativa remanescente e reflorestamento.
Por fim, o Polo Regional do Vale do Paraiba, de Pindamonhangaba, possui diversos importantes projetos ligados à pecuária, além de novos cultivares de arroz irrigado para o Vale do Paraíba, com elevado potencial produtivo, grãos de boa culinária e de maior valor agregado, bem como a diversificação da produção dos solos de várzea no período do verão, atendendo os consumidor com novos tipos de arroz. Entre os projetos em andamento, o programa reprodutivo utilizando inseminação artificial em tempo fixo seguido de ressincronização em fêmeas bovinas leiteiras se destaca. Além dele, também são de fundamental importância o programa de implantação de um sistema demonstrativo de produção de gado de corte no Vale do Paraíba, o melhoramento genético do arroz e o manejo cultural do arroz. Em 70 anos de atividade, foram selecionadas e recomendadas mais de 20 cultivares de arroz, o que caracteriza verdadeiramente uma escala evolutiva nos aspectos da performance produtiva e qualidades de grãos, que se modificaram em conformidade com as exigências e perspectivas do mercado.
Governo paulista pretende vender 13 fazendas de pesquisas agropecuárias
As informações são da Assessoria de Imprensa da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC).