A partir da propriedade adquirida em 1996, Edvaldo estruturou uma série de atividades inter-relacionadas: produção de leite, suínos, aves e peixes. O leite é processado em laticínio próprio e vendido, entre outros canais, na padaria Alkmim, dele mesmo. Os peixes são filetados e também vendidos ao comércio, na busca constante pela agregação de valor.
O que chama mais atenção é que Edvaldo não era “do ramo”, não dispunha de grandes recursos e está em uma região carente. “Não foi fácil, e não é fácil”, faz questão de frisar. “Meus grandes parceiros foram o Senar e o Sebrae”, explica. A fazenda recebe visitas constantes de outros produtores, de técnicos e de pesquisadores. No ano passado, ganhou o prêmio de Produtor Destaque dado pelo Senar/MG. Já a padaria recebeu prêmio de empreendedorismo do Sebrae.
Conheça um pouco desta história de sucesso, que será retratada no painel de integração do leite com outras atividades agropecuárias, no Interleite Brasil 2016, entre 3 e 4 de agosto próximo.
O início
Nascido na roça, filho de produtor rural e com raízes no campo, Edvaldo Lôpo de Alkmim deixou o banco no qual trabalhou entre 1979 e 1993 para montar uma padaria em 1994 – a padaria Alkmim. Como sempre teve apreço pelo campo, a princípio, pensando no lazer e consumo próprio, adquiriu em 1996 uma propriedade de 109 hectares em Manga/MG.
Com o passar do tempo, Edvaldo foi atuando na fazenda e descobrindo potenciais atividades. “Comecei a investir em pastagens, construí uma casa simples para morar dentro da área rural e iniciei minha produção com dez vacas leiteiras. Como o rio São Francisco fica bem próximo da propriedade, investi em um sistema de irrigação com foco na pecuária e aproveitando a oportunidade, também montei alguns tanques escavados para a criação de peixes”, comentou Edvaldo em entrevista realizada pela Equipe MilkPoint.
Vendo a expansão do seu negócio, Edvaldo percebeu que dez vacas eram pouco e então a história da Fazenda Vista Alegre começou a alçar voos mais altos. As perspectivas em cima da atividade leiteira foram aumentando tanto que a construção de um laticínio dentro da propriedade foi viabilizada – Laticínio Vista Alegre -, os filés dos peixes (Tambaqui e Tilápia) passaram a ser comercializados, houve investimento na criação de javaporcos e em outras atividades. “Hoje a fazenda fornece leite ao laticínio, que fornece lácteos à padaria. A fazenda também atende a padaria com peixes, ovos, galinha caipira, polpa de fruta, carne dos javaporcos e algumas frutas. De volta, a padaria fornece cascas e sobras de frutas usadas para a compostagem, a sobra de pães e biscoitos é usada para a alimentação dos porcos e ainda, as cascas dos ovos são destinadas para a alimentação das galinhas, como fonte de cálcio”, pontuou o produtor.
Todo o processo é direcionado para aproveitar os restos de alimentos com o intuito de reduzir custos e priorizar as questões ambientais. “Tivemos problemas, por exemplo, com a sobra de soro de leite, que é um problema ambiental quando não trabalhado corretamente. Hoje utilizamos essa sobra para a alimentação dos porcos e com os dejetos dos porcos, montamos um biodigestor. Tudo está integrado na minha cadeia de negócios e é aproveitado”, completa. Ainda de acordo com ele, se uma atividade entra em crise, outro setor acaba compensando e ajudando a atividade crítica a “sair do vermelho”.
Hoje a área total da fazenda é de 140 hectares, sendo 53 ha irrigados e 35 ha de pastagem de sequeiro. A pastagem irrigada é composta por piquetes rotacionados, produção de silagem e cana-de-açúcar para a alimentação bovina. A produção de leite média atual é de 1800 litros/dia.
Além da sua própria produção leiteira, Edvaldo compra a matéria-prima de outros produtores do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) da região. Com o leite em mãos, Edvaldo fabrica bebida láctea, iogurtes, queijo muçarela, minas padrão, frescal, parmesão, ricota e manteiga. Os produtos são certificados com o registro estadual e são vendidos tanto na padaria da família como em estabelecimentos nas cidades vizinhas. Ele ainda reforça que a família está envolvida em todo o negócio. “Quando eu comecei com a atividade rural, meus filhos eram pequenos e minha esposa Marta era o braço direito. Meus filhos então fizeram faculdade (João Vitor e Ane Caroline) e hoje dividem conosco a responsabilidade do negócio. O laticínio, com aproximadamente 18 funcionários, é administrado pelo João Vitor e a padaria, com 38 funcionários em média pela minha filha Ane. Na fazenda temos também hoje 18 trabalhadores rurais e ela é administrada por mim e pela Marta. Fazemos algumas terceirizações para serviços pontuais e possuímos também colaboradores. Há períodos que precisamos de mais ou menos mão de obra ao longo do ano”, destaca Alkmin.
Mão de obra
Com relação à capacitação dos trabalhadores, Edvaldo destaca o apoio e a parceria do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) desde o começo do negócio. “Ao longo desses anos, o Senar vem capacitando a nossa mão de obra, formando gestores e lideranças rurais. Parte do sucesso da Vista Alegre é devido a ele”, elogia. De acordo com ele, para a padaria, o Sebrae foi muito importante e, para o laticínio, sempre foram contratados tecnólogos para treinar o seu pessoal. “A cada 30 a 60 dias vem um profissional para auditar e fazer a capacitação dos trabalhadores, pois isso é uma grande preocupação nossa. Infelizmente a rotatividade no laticínio é grande, pois parte da nossa mão de obra treinada acaba sendo levada por indústrias maiores com às quais muitas vezes não conseguimos competir. Também têm aqueles que não se adaptam com o serviço”. Ele ainda reforçou que muitas conquistas foram alcançadas além do apoio do parceiros, pela perseverança e dedicação, e pela coragem em desenvolver as atividades.
Sustentabilidade & Meio Ambiente
Compreendendo a importância das questões ambientais, hoje toda a água utilizada na fazenda passa por tratamento em uma estação construída na própria propriedade. “Sem o rio São Francisco nada disso seria possível. Nós estamos na margem do rio, mas valorizamos muito a água”, frisou o empresário, que ainda usa o esgoto para a irrigação da fazenda e os dejetos dos suínos para a produção de energia via biodigestor e para a fertirrigação. “A piscicultura às vezes é um problema ambiental porque normalmente as sobras são jogadas nos rios, mas como meu sistema é construído de forma gravitacional, nós fazemos o aproveitamento também para a irrigação”, conclui.
Desafios e futuro da Vista Alegre
Os maiores desafios que Edvaldo aponta envolvem a questão climática e sustentabilidade, bem como o trabalho intenso que sua estrutura requer. “Almejamos aumentar a área irrigada, trabalhar cada vez mais com outras alternativas de energia, produzir gás metano a partir do esterco dos bovinos e adquirir máquinas e equipamentos que possam facilitar o nosso trabalho. Pretendo continuar acreditando que é diante das dificuldades que buscamos mais conhecimento e capacitação para superá-las. É diante de situações críticas que nos tornamos mais criativos”, compartilhou o proprietário, demonstrando também preocupação em relação às chuvas na região em que está.
No fim da entrevista, Edvaldo explanou que sempre batalhou muito para alcançar as metas e seguir confiante nos objetivos do negócio. ”Para fazer o que eu fiz e o que ainda estou fazendo é necessário coragem. Se não for por meio de muito trabalho, tudo isso não é possível. O mercado é limitado, o poder aquisitivo do brasileiro é baixo e há concorrência desleal dentro do mercado. Nós queremos trabalhar com todas as exigências em dia. O que mais pesa hoje são os custos de produção, mas queremos provar para nós mesmos que continuar tocando o negócio é possível”.
Veja aqui matéria feita pela afiliada da Rede Globo na propriedade de Edvaldo Alkmim.
Equipe MilkPoint