A sexta participante é a Transpondo, empresa de pesquisa, treinamento e consultoria agropecuária, especializada na busca de soluções para os desafios da cadeia produtiva do leite, como um todo. Formalizada em 2012, sua história tem raízes em 1993 quando seus sócios fundadores, Wagner e Angela Beskow conheceram, in loco, o sistema de consultoria e de produção agropecuária da Nova Zelândia.
Confira abaixo a entrevista realizada com Dr. Wagner Beskow, pesquisador, consultor e sócio-diretor da Transpondo:
MilkPoint - Quando foi criada a empresa, quais são as áreas de atuação e em que localidade(s) atuam?
Wagner: “A Transpondo é uma empresa de pesquisa, treinamento e consultoria agropecuária, especializada na busca de soluções para os desafios da cadeia produtiva do leite, como um todo. Formalizada em 2012, sua história tem raízes em 1993 quando nós, seus sócios fundadores, Wagner e Angela Beskow conhecemos, in loco, o sistema de consultoria e de produção agropecuária da Nova Zelândia. Ao todo, tivemos 7 anos de estudos, treinamento e trabalho naquele país, que é a referência mundial da produção competitiva de leite, sobretudo naquela época. Fomos procurados e prestamos serviços de consultoria ao governo da Nova Zelândia, ao então New Zealand Dairy Board, à Embaixada do Brasil em Wellington, ao Ministério da Agricultura do Brasil (interesses brasileiros lá) e, no final, ao maior produtor de leite deles, que desejava se instalar em nosso país. Um início bem desafiador e instrutivo.
Fotografia tirada de um quadro de recordações no escritório da Transpondo. *Clique na imagem para ampliar.
Em 2006, trabalhando no RS com pesquisa e ensino formais e consultoria autônoma, chegamos a um sistema de produção que hoje denominamos SIPS: sistema intensivo a pasto com suplementação. Em 2007 fomos desafiados a implantar tal sistema na CCGL (Cooperativa Central Gaúcha Ltda), cuja filosofia de trabalho e visão do setor leiteiro coincidia com a nossa. Como a instituição sabia o que buscava, tinha equipe e conselho técnico muito bons, deu certo e todos avançamos muito com tal experiência (produtores, cooperativas associadas, cadeia gaúcha de leite e nós próprios, também). O SIPS derrubou a guerra cega do "confinamento versus pasto", mostrando que ambas escolas tinham muito a aprender uma com a outra. Cumprida essa missão, em fevereiro de 2012, partimos para criar nosso próprio negócio, pois desejávamos que os benefícios de tantos anos de estudo e trabalho pudessem atingir mais pessoas e mais regiões.
O modelo de empresa que concebemos é enxuto, visando atingir um número grande de clientes, mas com mínima estrutura fixa e de pessoal, praticando o que sempre pregamos. Para isso ser possível, concentramo-nos em atender um número pequeno de clientes presencialmente e um número maior à distância, com ênfase nos "multiplicadores de conhecimento e tecnologia", que são todas as pessoas físicas e jurídicas que lidam com o produtor rural, direta ou indiretamente.
Como o foco da Transpondo está no desenvolvimento do produtor, nosso critério para aceitar ou não uma missão é: 1) ética profissional; 2) viabilidade técnica e econômica, e 3) se o produtor ganharia ou não com o que é proposto. Se o produtor perderia, ou se a proposta é incompatível com nossos valores, a Transpondo não se envolve. Já deixamos de fazer vários trabalhos por não passarem neste crivo. Nossas principais áreas de atuação e as atividades que desenvolvemos podem ser descritas assim (clique na tabela para ampliar):
Atuamos em todo o país, com foco nos problemas de cada cliente, pois uma das deficiências que detectamos, desde o início, era um certo descaso que existia no setor para as diferenças regionais, como profissionais do Brasil tropical, por exemplo, falando em "período seco" no sul ou os do sul falando em "tambo" e criação de "terneiras" acima do PR. Tanto nossos cursos, como nossa consultoria, trabalham problemas e soluções locais.
A imagem abaixo ilustra de onde têm vindo nossos clientes do Curso SIPS Online. Os treinamentos presenciais e a consultoria (tanto presencial como à distância) seguem esta mesma distribuição, com maior concentração no sul”.
MilkPoint - Quantos profissionais fazem parte do quadro da empresa e qual é o perfil desses profissionais?
Wagner: “Fixos internos somos três: um coordenador de projetos e relações institucionais (até então Max Ramoa, que assumiu recentemente uma missão no Chile e estamos em fase de substituí-lo); Angela Beskow, como sócia-administradora (áreas de estratégias e finanças); e eu, sócio Wagner Beskow, como responsável técnico e diretor geral. Terceirizados fixos (através de contratos com pessoas jurídicas): um programador, um especialista em marketing, uma empresa de gestão financeira, uma empresa de CRM (customer resource management), uma empresa de contabilidade e uma empresa de assessoria jurídica, marcas e patentes. Terceirizados temporários: bastante variável, de acordo com a demanda e com os contratos, mas normalmente técnicos de nível médio, com experiência de campo”.
MilkPoint - Quais as vantagens e desvantagens de atuar em uma empresa de consultoria x trabalhar de forma autônoma?
Wagner: “O trabalho autônomo oferece muitas restrições, inclusive impede de se atender quase que a totalidade das pessoas jurídicas, pois estas, por motivos legais (tributação, documentação contábil e questões trabalhistas), necessitam contratar pessoas jurídicas, sendo que o objeto do contrato social tem que ser compatível com o serviço contratado. A menos que se trate de algo passageiro ou que possa ser suspenso a qualquer momento, não vejo outra forma se não a constituição de uma empresa.
Embora a Transpondo tenha, inicialmente, grande vínculo com nosso trabalho e formação pessoais, ela foi concebida para evoluir além desse horizonte. O primeiro passo foi escolher um nome impessoal vinculado a sua missão e o segundo foi registrar sua marca, processo que levou três anos no INPI.
É importante mencionar que empresas baseadas em áreas de conhecimento profissional específico não podiam ser optantes do simples nacional e, agora que podem, não compensa. Assim a Transpondo paga PIS, Cofins, ISSQN, IRPJ, CSLL, INSS, FGTS etc. em guias separadas. Possui também registro de PJ no sistema CREA/Confea (obrigatório), de empresa de pesquisa no CNPq (opcional), além de outras licenças usuais para qualquer empresa. Todo faturamento vem de uma ordem de serviço e origina uma NFS-e (nota fiscal de serviços eletrônica) e esta os impostos sobre a receita”.
MilkPoint - Quantos produtores de leite atendem (em volume de leite) e quais são os principais desafios encontrados hoje no campo?
“Não utilizamos essa medida, por termos a maioria de nossos clientes nos outros elos da cadeia. Indiretamente, porém, se somarmos o leite dos clientes diretos com o leite dos clientes indiretos (atendidos por nossos clientes diretos, fixos) temos forte impacto, digamos assim, sobre como é produzido um volume de 3,442 milhões de litros/dia (103,26 milhões de litros/mês), distribuídos em 15 estados e em laticínios que vão de 30.000 litros a 1,3 milhão de litros/dia (tanto cooperativas, como empresas mercantis).
Os principais desafios, reunindo todos os tipos de clientes, são: produtividade (vaca, terra, capital e pessoas); escala de produção (em parte devido ao primeiro); custo de produção; eficiência do rebanho como um todo; qualidade do leite (não apenas quanto aos limites da IN 62, mas de desequilíbrios nutricionais, também); viabilidade econômica do fomento e da assistência técnica (para o empregador dos técnicos e para o produtor, quando esta é paga diretamente); eficácia de produtos e a percepção do produtor sobre esta; ausência de cultura de planejamento; e gestão excessivamente informal”.
Wagner: “Usando o mesmo critério da resposta anterior, 90% fica na faixa de 5 a 150 ha para o espectro Brasil, com média de 18 ha de área útil (24 ha no total) no sul, e 42 ha de área útil (52 ha área total) nas demais regiões atendidas. Os outros 10% inclui produtores onde o leite não é a principal atividade, chegando a 3.350 ha de área total”.
MilkPoint - Qual é o método de trabalho (fases do programa de trabalho) utilizado pela empresa?
Wagner: “Na consultoria, recebemos a demanda, que nos chega tanto por e-mail como por telefone; fazemos uma triagem para identificar nossa capacidade de atender ou se devemos encaminhar a outra empresa (como tem acontecido); é providenciado um contrato prevendo as atividades, prazos, entrega e pagamento. Como tratamos de problemas sensíveis para pessoas e empresas, todos nossos contratos têm cláusula de sigilo e isso nos limita na divulgação de nomes, localização e resultados (por isso e por questão ética, normalmente não podemos divulgar); realizamos o estudo (de dias a meses de duração); apresentamos um parecer verbal e, na maioria dos casos, um relatório final com recomendações. A maioria dos contratos prevê um acompanhamento para a implantação das medidas, o que denominamos de assessoria, que pode ter prazo determinado ou indeterminado.
Na pesquisa, definimos os objetivos; elaboramos um orçamento e cronograma; montamos a equipe; realizamos o trabalho de campo, análises e dois tipos de relatórios: um interno, de uso exclusivo do cliente contratante e outro na forma de boletim, para divulgação dos resultados (clique aqui para um exemplo).
Os treinamentos presenciais são totalmente customizados e abertos em termos de possibilidades. Os treinamentos à distância se dão por cursos online que resumem nossa filosofia própria de trabalho, nossos resultados e recomendações. São cursos eminentemente práticos, muito focados e restritos ao SIPS (sistema intensivo a pasto com suplementação). As palestras sempre são preparadas para cada evento (não repetimos palestras) e, como visto na tabela acima, versam sobre diversos temas de nossa área de atuação”.
MilkPoint - Como é feito o acompanhamento dos clientes e quais são os principais indicadores utilizados para avaliar os resultados?
Wagner: “Em trabalhos presenciais, sejam de clientes produtores, empresas ou cooperativas, fazemos uma visita por mês. Pela diversidade de clientes, há uma diversidade de acompanhamentos e indicadores. Em todos temos três momentos: (a) o de escutar, anotar e registrar; (b) o de analisar; e (c) o de falar, aconselhar e orientar. Em 95% dos casos são gerados dados para análise em escritório. Para os clientes mais avançados, usamos ferramentas de colaboração online, de forma que Transpondo e cliente acessem os mesmos dados e as alimentações e modificações que uma parte faça, a outra visualize”.
MilkPoint - Como é feita a gestão e o planejamento da empresa e quais são os principais desafios encontrados pelo estabelecimento atualmente?
Wagner: “Fazemos um planejamento estratégico com dois horizontes: para o ano seguinte (nosso curto prazo) e para três anos à frente (nosso médio prazo). A condução atual de nosso país não está nos permitindo planejar além desse horizonte. Apesar disso, nossos principais desafios somos nós mesmos: a empresa e seus sócios. Como nosso trabalho é todo baseado na solução de problemas, somos especializados em pensar e enxergar onde outros não conseguiram ou já desistiram. Temos recebido casos sem respostas em termos mundiais e, para a maioria, apresentamos soluções após período previsto de estudo e de pesquisa. O desconhecido, o difícil e o não compreendido nos motivam e justificam a existência da Transpondo”.
MilkPoint - O que vem mudando na consultoria e no perfil dos produtores ao longo dos anos?
Wagner: “Considerando o período de 1995 para cá, vem mudando o produtor que está cada vez melhor informado, com mais expectativas, mais exigente e melhor preparado para receber orientação (embora muito aquém do que desejamos ver); a concorrência entre empresas, que vem aumentando gradativamente (o que tende a qualificar o setor); e o nível dos profissionais recém formados que, salvo algumas boas exceções, vem caindo significativamente. O maior desafio está deixando de ser do produtor e passando a ser do profissional em conhecer os reais problemas (não as aparências), em acompanhar a evolução das tecnologias e propor soluções eficazes e viáveis, em todos os sentidos”.
MilkPoint - Deixem um recado para os produtores de leite.
Wagner: “Aos produtores, a Transpondo deixa o seguinte recado, neste momento de aperto que o setor passa: Produzir leite não é para qualquer um! É para aquele que desempenha o papel da formiga, que trabalha de maneira inteligente, coordenada e previdente e não o da cigarra, que aproveita o momento de bonança para desfrutar do que julga ter direito, esquecendo-se do inverno e não fazendo nada por onde.
Note, porém, que o tempo da valorização do suor na testa, calo nas mãos e do trabalho de sol a sol foi-se. É hora de trabalharmos cada vez mais com a cabeça para termos mais tempo livre para a família, com mais resultados por unidade de esforço e consequente satisfação. Tempo é o recurso mais escasso e valioso que temos e fazer as coisas "do jeito que papai fazia" não propiciam mais os resultados que papai obtinha. Que bom que não! Sinal que o mundo mudou.
O produtor de leite brasileiro está no rumo de conquistar seu lugar de respeito. Façamos cada um nossa parte. A sua é a de obter lucro e fazê-lo com leite de qualidade. Queixar-se dos governos, dos preços ou da mão-de-obra não ajudarão em nada, pelo contrário. Produtividade, escala, custo, qualidade, menos trabalho e mais constância devem ser sua obstinação. Ver você atingindo isso é a nossa”.
Wagner, Angela e Augusto Beskow, a família por trás da Transpondo (2012, ano de fundação da empresa).
CNPJ: 16.797.632/0001-68
Blog Transpondo/MilkPoint: www.milkpoint.com.br/mypoint/transpondo/blog.aspx
Website: www.transpondo.com.br
Facebook: www.facebook.com/Transpondo
E-mail: adm@transpondo.com.br
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