A Equipe MilkPoint entrou em contato com alguns produtores participantes da enquete para buscar informações mais detalhadas e publicar uma série de relatos sobre o que vem sendo feito nas propriedades. Confira a primeira série abaixo:
De acordo com Roney José da Veiga, produtor de leite de Honório Serpa/PR, a cadeia do leite vem em descompasso entre os elos já há algum tempo. “Vemos distorções gritantes entre o preço pago ao produtor e preço do produto industrializado nas gôndolas dos supermercados”.
Da porteira para dentro, ele vem rentabilizando o seu negócio por meio de algumas ações, como por exemplo, a produção da sua própria ração. “Com as sobras, engordo terneiros machos, dando um ganho substancial a renda. Além disso, otimizo a utilização de todos os recursos e meios de produção dos quais disponho”. Ele conta que produz milho, colhe e entrega a um armazém, de onde vai demandando conforme a necessidade. O farelo de soja e o núcleo mineral são comprados à parte e, no fim das contas, ele produz uma dieta com 21% de proteína bruta com economia de 20% nos custos. Veiga ainda relata que a economia poderia ser ainda maior (40%) se usasse ureia ou outros substitutos para a soja.
Funcionários – Roney ressalta que cobra eficiência na utilização dos recursos, pois segundo ele “patrão quebrado é igual a funcionário desempregado”. “Tenho um sistema de pagamento de funcionários onde eles recebem parte do ordenado por comissão. Isso faz com que eles se envolvam mais no processo produtivo e queiram também produzir mais”. Para finalizar, ele lembrou que existem muitas variáveis a se considerar antes de implantar algo semelhante ao que ele faz em outras propriedades. “Não existe receita de bolo. O que pode dar certo aqui, pode não dar certo em outro lugar, e vice versa”.
O produtor de leite Antônio de Castro Junior, de Joanópolis/SP, comentou que optou por um sistema de produção simples, economicamente enxuto e sem captação de recursos bancários, ou mão de obra integral, mantendo bons índices de produção, mas contando com animais mestiços, resistentes e adaptados ao relevo. “Nosso rebanho produtivo, hoje, é pequeno e jovem, e as vacas em lactação são filhas de touros girolandos e holandeses em variados graus de sangue. Apesar da pouca especialização genética, nesta primeira semana de novembro elas produziram cerca de duzentos e vinte litros por dia, o que dá uma média por animal de aproximadamente quinze/dezesseis litros”.
Ele relata que os animais se alimentam de silagem de milho, silagem de resíduos úmidos de cervejaria e polpa cítrica. “No mês de outubro adquirimos o resíduo úmido de cervejaria pelo valor de R$180,00 a tonelada, o que é muito atraente, pois o produto é de boa qualidade e muito bem tolerado. A silagem de milho, calculada com valores antigos de combustível e mão de obra temporária, nos custa algo em torno de R$ 0,18 o quilo, enquanto a ração feita a partir de farelo de trigo, algodão e milho, custou R$ 0,84 o quilo. Gastamos, apenas com alimentação, cerca de R$ 6,75 para manter uma vaca diariamente. Estes valores são médios, mas baseados na nossa produção de dezesseis litros por dia”.
Ainda de acordo com Junior, em outubro, ele recebeu R$ 0,92 por litro de leite. “Cada animal nos rendeu R$ 14,70 de lucro bruto apenas com o leite, o que para nosso modelo, dimensão, e época do ano, parece adequado”.
Manejo - “Nossa ordenha é mecânica, mas do tipo “balde ao pé”, de baixo custo de limpeza e manutenção, totalizando duas operacionais e duas reservas. No curral, antiquado, porém bem estruturado, as vacas são higienizadas antes da ordenha com água e panos embebidos em solução pré-dipping. Após a ordenha, apenas as que não possuem bezerros ao pé recebem pós-dipping, as demais amamentam seus respectivos filhotes. Entre as ordenhas, que acontecem às seis horas da manhã, e às quinze horas, o rebanho é liberado para pastar livremente. A sombra é natural, a água é ofertada em caixa abastecida por fonte, e o sal mineral servido em coxos cobertos no pasto, à vontade”, disse o produtor.
Antônio encerrou o seu depoimento expondo que seu modelo funciona sobre um esquema fisicamente limitado, antigo, mas relativamente fácil e barato de manter. “Obviamente, está em nossos planos aumentar e modernizar a produção, desde que consigamos realizar este projeto com recursos próprios, pés no chão e muito foco. Leite mais carne talvez seja a saída para o pequeno produtor, penso eu. Crescer a qualquer custo, aparelhar a qualquer custo, valendo-se de financiamentos longos e nebulosos, sem planejamento e uma direção clara, parece arriscado demais. O profissionalismo não passa, necessariamente, por esta via”.
Em breve, publicaremos a segunda série de depoimentos. Equipe MilkPoint