Como proposta global, entende-se: discutir temas de negócios, envolvendo empresas e o setor como um todo, no Brasil e no mundo; utilizar um formato objetivo, intenso e aberto a discussões e networking e reunir palestrantes de diversos países e com grande experiência e capacidade de comunicação, e dispostos a liderar. Um evento, enfim, que estimularia a participação de dirigentes de empresas, que abririam mão de 2-3 dias de suas atribuladas agendas para ouvir, refletir e expandir suas visões sobre seus negócios e o próprio setor. Como colocou Isabelle Ortiz, diretora da francesa Bel, citando o Dalai Lama, “quando falamos, apenas repetimos o que sabemos; quando ouvimos, podemos aprender algo novo”.
Também, nosso intuito foi trazer gente (casos de sucesso, consultores) alinhados com o futuro. Há, sem dúvida, muita coisa boa ocorrendo aqui no Brasil. Muitas empresas crescendo – a palavra crise quase não foi citada (ou melhor, foi: um dos empresários disse que, por causa da crise, estava crescendo 50% neste ano e não os 75% planejados...). A agenda foi, enfim, voltada para o futuro.
Também, é altamente digno de nota e elogios o caso da Verde Campo, de Alessandro Rios. Rios representa o novo empresário lácteo brasileiro: antenado, visão progressista, moderna proposta de valor, responsabilidade social e participação ativa nas questões setoriais. Ele merece o nosso aplauso e incentivo. Tivemos, ainda o caso da Yorgus, de Enrico Letta, cuja visão é ser uma Chobani brasileira. Estes três casos de sucesso discutidos no evento simplesmente não existiam há 10 anos atrás. Representam, sem dúvida, um olhar sobre o futuro do setor.
Esse futuro também pode ser percebido na fala de Ricardo Cotta, diretor da Itambé. Tem sido muito comum, em nosso meio, a postura do “fala, fala, e não diz nada”; ficamos em cima do muro em questões-chave e, com isso, deixamos de evoluir. Quase ninguém tem a coragem de colocar o dedo na ferida, em alto e bom som. Foi o que Ricardo fez, ao dizer que temos que abrir nosso mercado caso queiramos realmente ter um projeto de futuro para o setor. Observação: ele fez a ressalva de que muitas vezes não competitimos em pé de igualdade com outros países, como no caso das ajudas aos produtores oferecidas quando o mercado cai, como agora na União Europeia. Mas minha percepção foi de que essa ressalva não elimina a sua opinião de que precisamos ter uma postura diferente, caso contrário nosso mundo lácteo ficará restrito ao Brasil (e a Venezuela).
Como resolver essa questão? A única forma é através da representação setorial atenta e alinhada com o que está sendo feito no mundo lácteo, trazendo informações relevantes e procurando flexibilizar ou alterar as normas vigentes. A impressão que temos é que queremos comprar uma Ferrari, mas nossas estradas ainda são de terra, dando elas o limite de até onde podemos chegar. Nesse ponto, o governo é o nosso limite.
Outro ponto muito interessante foi a visão de Julian Mellentin, da New Nutrition Business, que mostrou que está em curso uma mudança na percepção a respeito dos lácteos como produtos saudáveis. Até 1 ou 2 décadas atrás, os lácteos eram vistos ou como recipientes para componentes externos que seriam os responsáveis por fazer bem (probióticos, fitoesterois, CLA, etc) ou, pior, como produtos que apresentavam limitações para o consumo, como o teor de gordura saturada, sal, etc.
Hoje, isso está mudando. As evidências sugerem que não há associação entre consumo de queijos, por exemplo, problemas de obesidade e cardíacos. Estamos assistindo ao que pode ser provavelmente um renascimento dos lácteos como produtos saudáveis por si só, o que oferece uma excelente plataforma para o setor.
Na mesma linha, a visão do “menos é mais” foi abordada por diversos palestrantes, que mostraram que a redução do número de ingredientes artificiais e a simplificação do processo industrial tem ganho cada vez mais adeptos, inclusive ganhando espaço na mídia, espontaneamente. Foram 23 apresentações de excelente nível e que trataram dos grandes temas atuais do setor: oportunidades de mercado; globalização do setor lácteo; inovação; sustentabilidade; segurança alimentar e casos de sucesso.
Ao término do evento, que realizamos em uma bem sucedida e complementar parceria com a Zenith International, ficamos com a sensação de que havíamos criado algo diferente nesse evento. Evidentemente, um evento por si só não muda o setor, longe disso. Mas ele pode contribuir para que uma nova agenda, voltada para o futuro, seja cada vez mais incorporada, substituindo o blá-blá-blá enfadonho e retórico que há tempos discutimos e que muitas vezes usamos como desculpa para nossa postura. Nesse sentido, esperamos ter sensibilizado os líderes que lá estiveram; são eles, afinal, que já estão construindo o futuro.
15 anos depois da criação do MilkPoint, percebo que fizemos um evento muito alinhado com a nossa proposta primordial: trazendo e discutindo as questões que precisam ser discutidas, para que a cadeia do leite avance. Quem sabe, no futuro, o setor lácteo no Brasil seja reconhecido pela mesma eficiência, competência e liderança mundial que existe em outros segmentos. Se isso ocorrer – e esperamos que isso corra – o LADC foi uma das sementes desse processo. Espero realmente que cresça e frutifique!