A multinacional francesa Lactalis é uma empresa de capital fechado, que se tornou o maior grupo de laticínios do mundo através de uma agressiva política de aquisições. É proprietária de marcas como Sorrento, Société, Bridel e President. Com a compra de grande parte dos ativos da LBR e da divisão de lácteos da BRF, se tornará provavelmente a maior captadora do leite do Brasil.
Em 1933, André Besnier iniciou sua empresa de fabricação de queijos. Como muitas histórias desse setor, o início foi mais do que modesto: no primeiro dia, coletou 17 litros de leite e produziu 35 queijos camemberts: a então empresa Besnier entrava assim no negócio de lácteos. Desde então, o grupo, que adotou o nome internacional Lactalis em 1999, continuou a expandir-se rapidamente.
Na década de 70, no oeste da França, a Besnier comprou um considerável número de fábricas de queijos macios. Em 1981, a fábrica americana de queijo Belmont se tornou a primeira planta industrial do grupo fora da França e, em 1982, foi feito um acordo com a Nestlé para assumir todas as suas atividades relacionadas ao queijo na França por um período de 3 anos.
No mesmo ano, a empresa entrou no mercado de queijos brie com a aquisição da queijaria Martin Collet. Em 1988, a empresa adquiriu a Solaisud de Montauban, que colocou a empresa no sudoeste da França e deu ao grupo o controle total sobre a marca Lactel.
Um passo decisivo foi dado em 1992 com a aquisição da Société des Caves de Roquefort, o que transformou a Lactalis em uma negociadora importante no mercado americano por meio de sua subsidiária Sorrento, especialista em queijos de estilo italiano.
Em 1998, a compra da filial italiana da Nestlé, Locatelli, deu ao grupo uma posição no mercado de mussarela italiana. Na França, a aquisição da Ladhuie adicionou sobremesas à base de leite na gama de produtos refrigerados. No final do ano, a compra da empresa americana Concord Marketing reforçou a posição do grupo no mercado de queijos italianos. Isso foi complementado pela aquisição da SimplotDairy, no início de 1999, o que transformou a Lactalis na maior empresa de lácteos dos Estados Unidos.
Em 2003, a compra da fábrica de queijo italiano subsidiária do Grupo Kraft deu à Lactalis a posição de número dois no mercado italiano, enquanto na França o grupo diversificou seu portfólio com a compra da Cema, especialista em manteiga e queijos fundidos.
Hoje, o Grupo Lactalis compra 15 bilhões de litros de leite por ano e, devido ao grande volume de leite fresco captado, é o terceiro maior grupo de laticínios do mundo em captação de leite, ficando atrás da Danone e da Nestlé.
Lactalis hoje em dia
O grupo Lactalis emprega 61.000 pessoas em 70 países e seus produtos são fabricados em 200 plantas industriais distribuídas em 37 países, sendo que 64 delas estão localizadas na França.
O queijo continua a ser o foco da empresa e do setor onde continua a liderar mundialmente, representando 34% do volume de seus negócios. A Lactalis também tem uma divisão especializada em leite fresco que responde por 25% do faturamento da empresa, bem como outra especializada em iogurtes e sobremesas refrigeradas que responde por 13%.
Com todas estas aquisições, a Lactalis se tornou uma das maiores empresas de lácteos do mundo - em receita ainda fica atrás da Nestlé e da Danone, conforme ranking do banco holandês Rabobank - depois de adquirir o controle da italiana Parmalat S.p.A em julho de 2011. Mas, antes disso, vinha crescendo por meio da aquisição de negócios de porte pequeno ou médio no segmento de lácteos, principalmente queijos.
Em 2013, a Lactalis faturou no mundo € 16 bilhões e começou a produzir queijos no Brasil, após a compra da Balkis, um laticínio de queijos especiais. Mas, apesar do estilo discreto, já mostrou que tem planos mais ambiciosos para o Brasil, com as recentes aquisições de parte da LBR e da divisão de lácteos da BRF. Na verdade, a empresa já vinha atuando há alguns anos no Brasil, com escritório próprio e importações de produtos como as manteigas e queijos da marca President, de forma que essas aquisições representam uma nova etapa da empresa no mercado brasileiro.
O interesse da gigante francesa é movido por um mercado de 200 milhões de pessoas, onde o consumo de lácteos cresce a cada ano - saiu de 120 quilos per capita em 2000 para estimados 170 quilos per capita em 2013 - e ainda tem espaço para avançar, inclusive em produtos de maior valor agregado. Além do tamanho e do crescimento do mercado, certamente a força da marca Parmalat constituiu-se em um atrativo adicional, além da provável percepção de que o Brasil não será um grande importador de lácteos no futuro, dada a capacidade de expansão da produção e as barreiras existentes. Para acessar o mercado local em larga escala, é preciso estar presente com fábricas no país.