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Substituição de amido por resíduo fibroso como fonte de energia suplementar para vacas leiteiras mantidas em pastagens. Parte 2: Comportamento ingestivo

POR JUNIO CESAR MARTINEZ

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/09/2008

8 MIN DE LEITURA

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Neste mês discutiremos o efeito da redução no teor de amido na ração das vacas sobre o consumo de pasto. Os detalhes sobre a condução do experimento podem ser encontrados no artigo do mês passado.

O consumo adequado de alimento assegura a sobrevivência e a produtividade do animal. Assim, o entendimento dos fatores que afetam o comportamento ingestivo é crítico. As atividades do comportamento ingestivo são altamente conflitantes, a exemplo da alimentação que é prioritária a ruminação, mas, após as principais refeições, o animal necessariamente necessita ruminar e descansar.

Por não necessitar de equipamentos caros e sofisticados e não depender de análises laboratoriais complexas, o estudo dos fatores que influenciam o comportamento ingestivo de animais em pastejo, relacionados ao animal, às plantas, ao meio ambiente e ao manejo, tem grandes perspectivas de utilização. Ademais, além de ser utilizado como método alternativo para estimar o consumo de forragem, auxilia no entendimento de como os animais ajustam este comportamento em função das variações observadas no pasto e no meio ambiente. Este tipo de estudo possibilita ainda definir as características dos animais e do relvado que influenciam o consumo e fornece informações sobre as relações causais entre forragem e animal que controlam a resposta de ambos.

O ato de se alimentar é influenciado por vários fatores, como facilidade de acesso ao alimento, conforto, competição, número de animais no grupo, efeito de dominância, apresentação física e espacial do alimento, distância percorrida entre as estações alimentares, declividade do terreno, condições climáticas, tipo e quantidade de suplemento oferecido, dentre outros.

O tempo disponibilizado para alimentação varia de 4 a 10 horas. A ingestão envolve atividades de procura, seleção, apreensão do alimento e deglutição do bolo alimentar, que são mais intensas após as ordenhas. Em condições de pastejo, as vacas apresentam comportamento típico, com picos de alimentação ao amanhecer e ao anoitecer, observando-se que esse padrão é mais intenso durante o verão. Normalmente, são verificados seis ciclos de pastejo por dia, quatro entre as ordenhas da manhã e da tarde e dois à noite.

O consumo diário de forragem é o aspecto central para maior compreensão do comportamento dos animais em pastejo, diretamente influenciado por fatores relacionados à planta forrageira e ao animal. O baixo consumo de forragem tem sido apontado como uma das principais limitações ao desempenho animal em regiões tropicais, parte relacionada ao efeito climático sobre a qualidade da forragem e parte às características estruturais das espécies forrageiras tropicais.

A estrutura do dossel forrageiro, relacionada à distribuição vertical e horizontal de componentes morfológicos e botânicos, pode influenciar a facilidade de apreensão da forragem pelos animais e exercer efeitos sobre seu consumo diário. Assim, a massa do bocado, principal estratégia dos animais para regular a ingestão diária de nutrientes, é a base de um ajuste feito pelos animais entre destinar tempo para mastigação, o que pode aumentar a taxa de digestão e passagem, ou para apreensão de novos bocados visando manter o nível de consumo.

Em condições de baixa oferta de forragem, o animal tende a aumentar o tempo de pastejo e a freqüência de bocados para atender sua demanda diária de ingestão de MS. Esses ajustes são recursos importantes do animal em pastejo para o atendimento de suas exigências nutricionais diárias, porém, com certas limitações. Por outro lado, em condições de elevada oferta de forragem, a ingestão de forragem pelos animais também pode ser restringida. Esses autores observaram redução na taxa de consumo por ovinos como conseqüência do maior tempo para formação do bocado, ocasionado pela disposição esparsa das folhas de capim-tanzânia, espécie tropical de hábito de crescimento cespitoso.

Sabendo-se da influência da estrutura da pastagem no comportamento ingestivo dos animais, buscam-se formas de manutenção de uma estrutura de pastagem que conserve um nível ótimo de folhas nas plantas, principalmente em seus estratos superiores, como forma de otimizar a "colheita de forragem". Portanto, a manutenção de níveis de biomassa de lâminas foliares verdes como estratégia de manejo de uma pastagem justifica-se no sentido de manter a maior área fotossinteticamente ativa, bem como disponibilizar aos ruminantes a fração de maior qualidade nutricional das plantas.

Com relação ao tipo de suplemento, um dos objetivos da minha pesquisa durante o meu doutorado na USP, a equipe liderada por mim e pelo Dr. Flávio Portela procurou identificar e mensurar possíveis fatores ligados ao uso de subprodutos agroindustriais que poderiam favorecer ou desfavorecer o consumo de forragem.

Na Tabela 1 são apresentados os dados de comportamento ingestivo ao se substituir o milho do concentrado em 25, 50 ou 75% por farelo de glúten de milho, o refinasil. As vacas pastejaram e ruminaram mais durante a noite e permaneceram mais tempo em ócio durante o dia.

Tabela 1. Comportamento ingestivo de vacas Holandesas multíparas recebendo níveis crescentes de refinasil no concentrado em substituição ao milho e pastejando capim elefante com 23 dias de intervalo de desfolha durante a estação chuvosa.


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Na Tabela 2 são apresentados os dados do estudo com substituição do milho por caroço de algodão no concentrado de vacas multíparas da raça holandesa. Embora sem efeito estatístico, o caroço possui uma efetividade ruminal um pouco maior que os demais subprodutos estudados. As vacas passaram a ruminar alguns minutos a mais e ocorreu uma certa redução numérica no tempo de pastejo. Isso acusa que níveis muito alto de inclusão de caroço de algodão na dieta destes animais pode reduzir o consumo de forragem, o consumo total de matéria seca, e conseqüentemente, o desempenho produtivo e reprodutivo.

Tabela 2. Comportamento ingestivo de vacas Holandesas multíparas recebendo níveis crescentes de caroço de algodão no concentrado em substituição ao milho e pastejando capim elefante com 23 dias de intervalo de desfolha durante a estação chuvosa.


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Na Tabela 3 são apresentados os dados do mesmo estudo da Tabela 2, entretanto, utilizando animais mestiços. Novamente, observa-se uma discreta mudança no tempo em pastejo e uma mudança um pouco mais proeminente no tempo em ruminação, embora sem respaldo estatístico.

Tabela 3. Comportamento ingestivo de vacas primíparas ½ Holandês/Jersey recebendo níveis crescentes de caroço de algodão em substituição ao milho no concentrado e pastejando capim elefante com 23 dias de intervalo de desfolha.


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Na Tabela 4 são apresentados os dados com vacas da raça holandesa no estudo com farelo de trigo substituindo o milho. Do ponto de vista estatístico não tem efeito nenhum em se tirar milho e colocar farelo de trigo na ração. Entretanto, numericamente, o farelo de trigo pode favorecer um maior consumo de forragem.

Tabela 4. Comportamento ingestivo de vacas Holandesas multíparas recebendo níveis crescentes de farelo de trigo em substituição ao milho no concentrado e pastejando capim elefante com 23 dias de intervalo de desfolha.


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Na Tabela 5 são apresentados os dados do mesmo experimento da Tabela 4, entretanto valendo-se de vacas mestiças. Novamente o farelo de trigo foi igual ao milho mas os números sugerem uma melhora de ambiente ruminal a favor do farelo de trigo.

Tabela 5 Comportamento ingestivo de vacas primíparas meio sangue Holandês/Jersey recebendo níveis crescentes de farelo de trigo em substituição ao milho no concentrado e pastejando capim elefante com 23 dias de intervalo de desfolha.


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Por fim, na Tabela 6 são apresentados os dados do experimento trocando milho por casca de soja no concentrado de vacas holandesas. A casca de soja não afetou em absolutamente nada o comportamento ingestivo dos animais.

Tabela 6 Comportamento ingestivo de vacas Holandesas multíparas alimentadas com níveis crescentes de casca de soja em substituição ao no concentrado e pastejando capim-elefante.


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Nesta última tabela, Tabela 7, os dados obtidos com as vacas mestiças no experimento com casca de soja. Como era de se esperar, a substituição não afetou o consumo de forragem e as demais variáveis do comportamento ingestivo dos animais.

Tabela 7. Comportamento ingestivo de vacas primíparas meio sangue Holandês/Jersey alimentadas com níveis crescentes de casca de soja em substituição ao milho no concentrado e pastejando capim elefante.


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Considerações finais

Na grande maioria dos trabalhos revisados, o refinasil foi usado para substituir parte do volumoso da dieta. Em alguns estudos, a inclusão de 25% de refinasil na ração reduziu o tempo de ruminação em 51 minutos/dia.

Alguns autores hipotetizaram que o comportamento ingestivo de vacas em lactação mantidas em sistema de lotação rotacionada de capim elefante e apresentaram dois fatores como os principais limitantes para o consumo. No início do pastejo o limitante seria o tempo gasto por bocado devido a altura e densidade das plantas, enquanto que no final do período de ocupação, a menor oferta de lâminas verdes seria o limitante para o pastejo.

O tempo em ruminação tem sido usado para medir a efetividade da fibra, sendo útil para medir o efeito físico que a ração provoca. No presente estudo, embora sem efeito estatístico, a inclusão de caroço de algodão obrigou as vacas a ruminarem um tempo extra de 39 minutos/dia (Holandesas) e 84 minutos/dias (Mestiças), dada a maior efetividade que o caroço conferiu em relação a ração controle. Isto ocorreu mesmo com o menor consumo de MS nas rações com caroço de algodão.

Poucos estudos avaliaram o comportamento ingestivo de vacas recebendo ração contendo farelo de trigo. Em rações contendo 6,8 ou 13,6% de farelo de trigo em substituição ao milho de alta umidade, os pesquisadores Clark e Armentano relataram não haver diferença no tempo de alimentação e ruminação. Outros pesquisadores estudaram 17,0% de inclusão de farelo de trigo em substituição parcial ao milho moído fino e silagem de alfafa e observaram que o tempo de alimentação não foi afetado, mas que o temo de ruminação sofreu influencia dos tratamentos.

Com casca de soja não foram encontrados estudo com vacas mantidas em pastagens de clima tropical para comparar com o presente estudo. Com vacas confinadas, a combinação de 8% de casca de soja associado com 15% de soja grão em comparação com ração contendo 15,0% de caroço de algodão e observaram maior tempo de alimentação e menor tempo de ruminação. Também foi observado menor tempo de ruminação quando incluíram 25% de casca de soja na composição da MS de ração total de vacas confinadas em free stall.

Assim, a inclusão de subprodutos fibrosos não afetaram substancialmente o comportamento ingestivo dos animais a pasto. Os tempos em pastejo e ruminação sofreram pequenas flutuações dentro dos experimentos mas sem colocar limitações ao consumo de forragem. De forma intrigante, o tempo em pastejo avaliada em situações bastante similares de clima, época do ano, aspectos físico-químicos da forragem, nível de produção e biotipo de animal, variou de forma considerável entre os experimentos.

JUNIO CESAR MARTINEZ

Doutor em Ciência Animal e Pastagens (ESALQ), Pós-Doutor pela UNESP e Universidade da California-EUA. Professor da UNEMAT.

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JUNIO CESAR MARTINEZ

TANGARÁ DA SERRA - MATO GROSSO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 09/10/2008

Prezado Lucas.
Primeiramente obrigado pelas felicitações sobre minha tese de doutorado.
Sobre sua pergunta a respeito da polpa cítrica peletizada (PCP), ela pode substituir integralmente o milho, uma vez que também é uma fonte muito concentrada de energia. Se é um mero excesso de sua parte, só jogando a sua ração dentro de um programa de formulação para se saber ao certo. Tome cuidado que alguns programas que trazem em suas bases de dados informações incorretas sobre a PCP, dizendo ser 90% do valor energético do milho, fato este que não procede, ela tem 100% ou até mais energia que o milho (do ponto de vista de desempenho, não de composição bromatológia), ok.
LUCAS ANTONIO DO AMARAL SPADANO

GOUVÊA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 01/10/2008

Parabéns pelo estudo e pela defesa da tese apresentada.

Venho utilizando de dois subprodutos pesquisados no seu trabalho, o caroço de algodão e a casca de soja, em Minas, a "casquinha", tanto no gado de leite como na engorda do gado de corte. Já notei que o gado de corte fica mais manso com o uso do caroço, tendo em vista a formação do gossipol quando da ingestão do mesmo. Já as vacas leiteiras, 90% Holandesas e 10% Pardo-suíças, mantêm um comportamento padrão.

A diferença é que eu sirvo o gado com capim elefante, cortado na época própria e não em pastejo. Já havia ouvido falar sobre o pastejo sobre capim elefante, tendo até um livro a respeito. A produção de leite se mantém estável há muito tempo e o ganho de peso do gado de corte também. Com a leitura de sua pesquisa talvez tome coragem para utilizar o método utilizado. Tenho muito capim, pois trato o ano inteiro.

Gostaria de colocar uma pergunta e se possível obter sua resposta.

Tenho utilizado em forma de suplemento, a polpa cítrica peletizada, as vacas adoram a mesma. Em que a polpa cítrica contribui na alimentação das vacas leiteiras? Ou a introdução deste alimento é mero excesso de minha parte? Não me utilizo de milho ou silagem de milho há muito tempo, minha média 25/30 kg de leite/dia/ua.

Obrigado pela publicação e pelo desejo manifestado de compartilhar conosco a sua pesquisa.

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