A ceratoconjuntivite infecciosa (CCI) é reconhecida em todo mundo como uma doença comum que afeta o sistema oftálmico de pequenos ruminantes, a exemplo de ovinos e caprinos. Geralmente, a doença envolve apenas a superfície do olho, com o primeiro sinal clínico sendo uma conjuntivite uni ou bilateral, resultando em lacrimejamento, pestanejamento, blefaroespasmo e presença de secreção ocular sero-mucosa ou muco-purulenta com aglutinação de pelos da região periocular. No entanto, o quadro pode progredir e envolver a córnea, causando sua opacidade ou esbranquecimento e aumento na vascularização.
Animais gravemente afetados podem desenvolver úlceras de córnea e/ou cegueira, em conseqüência da intensa opacidade existente. No entanto, os primeiros sinais indicativos da potencial manifestação da doença em um rebanho podem ser a ocorrência de coloração castanha abaixo do olho e o acúmulo de poeira nos corrimentos lacrimais.
Figura 1 - Caprino Pardo Alpino apresentando acúmulo de poeira no corrimento lacrimal, hiperemia da conjuntiva e opacidade da córnea.
A designação CCI é usada para descrever uma condição clínica que aparentemente não é sempre atribuída aos mesmos agentes infecciosos, uma vez que, diversos microorganismos podem estar envolvidos, em associação ou isoladamente. O Mycoplasma conjunctivae é um agente importante, mas algumas outras bactérias podem produzir doença clínica similar, a exemplo de Mycoplasma agalactiae, Chlamydia psittaci e Branhamella ovis. Além disso, a CCI pode estar associada a quadros clínicos de pneumonia e artrite, especialmente, quando o M. agalactiae é o principal agente etiológico presente.
Aparentemente, estes microorganismos fazem parte da flora ocular normal e, assim, todo ovino e caprino pode abrigar os agentes na conjuntiva de uma forma latente, com sua ativação e posterior manifestação clínica podendo estar vinculada a traumas, exposição a irritantes mecânicos (como poeira) e a condições estressantes.
A doença é disseminada por contato direto com a secreção ocular e nasal de animais infectados, assintomáticos ou sob condição clínica, assim como, indiretamente por meio de moscas e insetos, ou fômites, como pastagens altas e instalações contaminadas, os quais podem atuar como fontes importantes de infecção para ceratoconjuntivite.
Vários casos de CCI por micoplasmas são autolimitantes e se curam completamente em algumas semanas, sem tratamento, no entanto, geralmente, a persistência da infecção em animais individuais pode atingir um período longo de 3 a 6 meses.
Figura 2 - Ovino Santa Inês apresentando quadro avançado de CCI, caracterizado por lacrimejamento e opacidade intensa da córnea.
Embora não seja uma doença que apresente risco para a vida dos animais, as conseqüências advindas de um quadro tão estressante e com potencial para comprometer a visão, estão relacionadas à redução no consumo voluntário de alimentos ou, até mesmo, à dificuldade na apreensão destes alimentos. Assim a CCI é um quadro agravante que pode desencadear outras situações, como perda de peso e redução no escore de condição corporal e, a depender da categoria animal envolvida e de sua fase fisiológica, pode resultar na redução de índices de desempenho reprodutivo, bem como, no aumento dos casos de cetose e de mortalidade neonatal.
A redução dos casos clínicos de CCI em um rebanho está associada à medidas preventivas fundamentadas em práticas que visem controlar os elementos que podem funcionar como fômites ou agentes disseminadores e/ou estressantes, e envolvem a limpeza diária das instalações (por varredura e/ou raspagem); desinfecção completa das mesmas a cada 7 dias após limpeza prévia (preferencialmente com lança-chamas ou "vassoura-de-fogo"); isolamento dos animais apresentando quadro clínico; controle da população de moscas e insetos (principalmente, por meio de limpeza e manejo adequado dos dejetos animais); redução da exposição a irritantes mecânicos (poeira); manejo do pastejo para manter o relvado em alturas mais adequadas; manejo do rebanho baseado nos princípios de bem-estar e a quarentena de animais récem-adquiridos por no mínimo 15 dias.