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Por que vacas leiteiras deixam seus rebanhos

POR RODRIGO DE ALMEIDA

E DELMA FABÍOLA FERREIRA DA SILVA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/01/2009

5 MIN DE LEITURA

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Introdução

O descarte de vacas em propriedades leiteiras é um assunto complexo e muitos fatores estão envolvidos. Vacas leiteiras podem ser descartadas por razões involuntárias, tais como morte, infertilidade, mastite, etc., ou por razões voluntárias (baixa produção de leite). Quando um rebanho descarta vacas leiteiras em excesso ele é obrigado a repor os bovinos descartados com animais jovens, os quais representam um dos principais custos da atividade leiteira, o que poderá diminuir a lucratividade da exploração.

O principal objetivo deste artigo é compartilhar com os leitores do MilkPoint os resultados de um projeto de pesquisa conduzido no ano passado, que identificou as principais causas que levaram ao descarte e morte de vacas em propriedades leiteiras da região de Arapoti, Paraná, no ano de 2007.

Material e Métodos

As informações foram inicialmente coletadas junto à Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH) que cedeu a relação de vacas que deixaram os rebanhos da região em 2007. Num segundo momento, 19 propriedades da Capal Cooperativa Agroindustrial Ltda., sediada no município de Arapoti, Paraná, foram visitadas e os produtores de leite responderam quais as razões que motivaram a saída de vacas da propriedade: venda para outra leiteria, descarte para abate ou morte na propriedade. O questionário adotado foi originalmente sugerido por FETROW et al. (2006).

O número de vacas nas 19 fazendas visitadas foi de 3.578 vacas, todas da raça Holandesa. Do total de 861 vacas que deixaram os rebanhos, somente 69 foram vendidas para outras leiterias, 685 foram descartadas para abate e 107 vacas morreram na fazenda. Durante o ano avaliado, 792 animais deixaram seus rebanhos por descarte ou morte, o que corresponde a 22,1% do total de vacas. Este valor é inferior ao comumente registrado em outros países (25 a 35%), provavelmente porque no ano de 2007 os bons preços do leite recebidos pelo produtor motivaram uma maior retenção de matrizes.

Resultados

Entre as vacas que foram descartadas foi verificado em relação à ordem de lactação, um alto índice logo na primeira parição (17,2%), o que é preocupante, já que estas vacas de primeiro parto ainda não tiveram tempo de retornar os gastos e investimentos da sua criação (Figura 1).

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Figura 1 - Percentual de descartes por ordem de lactação nos 19 rebanhos leiteiros participantes no ano de 2007 em Arapoti, Paraná, segundo Silva & Almeida (2008).

Em relação aos dias em leite ou meses de lactação, observa-se que os três primeiros meses são críticos, já que apesar de ser um período de alto retorno econômico (pico de produção), muitas vacas estão sob o risco de serem descartadas. No presente trabalho, 53% dos descartes verificaram-se nos três primeiros meses de lactação (Figura 2). Isto evidencia o maior cuidado que esses animais necessitam no primeiro terço da lactação e a importância de adequadas práticas de manejo e alimentação no período de transição.

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Figura 2 - Percentual de descartes por mês de lactação (dias em leite) nos 19 rebanhos leiteiros participantes no ano de 2007 em Arapoti, Paraná, segundo Silva & Almeida (2008).

A razão mais freqüente de descarte em vacas na região de Arapoti está nos problemas reprodutivos, em particular a não-concepção de fêmeas bovinas. A segunda e terceira causas de maior relevância foram doenças podais (pernas e pés), e mastite juntamente com alta contagem de células somáticas. Estas três razões totalizaram aproximadamente 70% de descartes. Na seqüência foram relatados problemas na conformação do úbere e finalmente a baixa produção de leite. As principais razões de descarte estão detalhadas na Figura 3.

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Figura 3 - Razões de descarte de vacas nos 19 rebanhos leiteiros participantes no ano de 2007 em Arapoti, Paraná, segundo Silva & Almeida (2008).


Em trabalhos similares conduzidos em outros países, as causas mais freqüentes de descarte são baixa produção de leite, inadequado desempenho reprodutivo e mastite e/ou problemas de úbere (ALLAIRE et al., 1976, BASCOM & YOUNG, 1998).

O fato da baixa produção de leite ser a razão mais freqüente de descartes em outros países e neste estudo ter sido tão somente a quinta causa mais citada evidencia, mais uma vez, que houve influência dos altos preços do leite (Figura 4) com a retenção excessiva de animais, independentemente da sua produção, reduzindo o descarte voluntário e assim a seleção genética. O elevado índice de descartes por problemas de pés e pernas indica falhas de manejo.

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Figura 4 - Série de preços médios pagos ao produtor deflacionados pelo IPCA (média dos estados RS, SC, PR, SP, MG, GO e BA), segundo o CEPEA-ESALQ/USP (Dezembro de 2008).

Dentre as causas secundárias e principalmente nas terciárias, destaca-se a idade avançada dos animais, o que demonstra que esta causa não é determinante para o descarte, porém contribui na decisão do produtor, se a vaca apresentar outros problemas.

Neste trabalho, entre as razões de óbito de vacas, quase 50% dos códigos foram devido a outras causas, causas desconhecidas e outras doenças (Figura 5). Isto indica, primeiro, que a coleta de dados pode ser aperfeiçoada em futuros trabalhos nesta área, mas secundariamente também demonstram a pouca adoção da prática de necrópsia em animais mortos por causas desconhecidas ou imprecisas.

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Figura 5 - Razões de morte de vacas nos 19 rebanhos leiteiros participantes no ano de 2007 em Arapoti, Paraná, segundo Silva & Almeida (2008).

Conclusões e Implicações

Os ótimos preços do leite recebidos pelos produtores em 2007 motivaram uma maior retenção de matrizes nos plantéis estudados. Os rebanhos leiteiros analisados descartaram muitas vacas por falhas reprodutivas e poucas vacas por baixa produção de leite.

Falhas no manejo e na alimentação devem ser corrigidas a fim de diminuir o excessivo número de descartes por problemas podais (pernas e pés).
Deve-se adquirir o hábito da necrópsia nas vacas mortas para um melhor controle sanitário do rebanho, pois a morte de vacas leiteiras representa significativa perda econômica.

Os dados de 2008 estão sendo coletados e em breve analisaremos se de fato os piores preços de leite praticados no segundo semestre do ano passado redundaram em maior descarte.

Referências Bibliográficas

ALLAIRE, F.R., STEWART, H.E., LUDWICK, T.M. Variations in removal reasons and culling rates with age for dairy females. J. Dairy Sci., v.60, p. 254-267, 1976.

BASCOM, S.S., YOUNG, A.J. A summary of the reasons why farmers cull cows. J. Dairy Sci., v.81, p. 2299-2305, 1998.

FETROW, J., NORDLUND, K.V., NORMAN, H.D. Invited Review: Culling: nomenclature, definitions, and recommendations. J. Dairy Sci., v.89, p. 1896-1905, 2006.

STONE, W.C., GUARD, C.L., BUTTON, D.A. Why do cows die. Hoard´s Dairyman Magazine, February 25, 2006, p. 117.

Agradecimentos

À Capal Cooperativa Agroindustrial Ltda. e produtores participantes.
À Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa.
À Fundação Araucária pela cessão de bolsa de iniciação científica à graduanda.

DELMA FABÍOLA FERREIRA DA SILVA

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RODRIGO DE ALMEIDA

CURITIBA - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 27/01/2009

Prezado Fernando

Vamos lá, vou tentar responder suas perguntas:

Dos 19 rebanhos participantes (na verdade foram 20 porque um deles deu origem a um segundo rebanho), 13 rebanhos praticam 2 ordenhas e 7 rebanhos adotam 3 ordenhas diárias.

Sim, todos rebanhos são confinados, mas não necessariamente com free-stalls.

Quanto aos problemas reprodutivos (razão mais frequente de descarte) eles representam principalmente dificuldade de emprenhar.

A taxa de reposição é feita 100% com novilhas dos próprios criatórios.

A renda com venda de matrizes é muito variável; dependendo da idade da matriz, da razão que esta fêmea está deixando o rebanho e também do ano de análise. Em 2007, com os bons preços de leite praticados, o preço de venda de matrizes estava bastante satisfatório (como no resto do Brasil).

Finalmente, sua última pergunta, da receita total da fazenda, quanto percentualmente vem do leite e quanto da venda de matrizes sadias? Sinceramente não tenho este número exato. Acredito que alguns destes produtores calculem este percentual preciso, mas tenho que consultá-los. Mas me arrisco a dizer que 80-90% da renda destas fazendas é oriunda da comercialização com o leite.

Espero ter ajudado a esclarecer seus questionamentos.

Atenciosamente

Prof. Rodrigo de Almeida
FERNANDO ANTONIO DE AZEVEDO REIS

ITAJUBÁ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/01/2009

Gostaria de saber dos 19 rebanhos, se são 2 ou 3 ordenhas, se todos rebanhos são confinados e no caso de problemas reprodutivos, são no parto ou dificuldade de emprenhar?

Se está na ordem de 22% o descarte ou morte, qual é a taxa de reposição com novilhas crioulas? Qual é a renda com venda de matrizes? Ou melhor, da receita total da fazenda, quanto vem do leite e quanto é devido a venda de matrizes sadias, porcentualmente?

Atenciosamente,
Fernando
RODRIGO DE ALMEIDA

CURITIBA - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 15/01/2009

Prezado Ricardo Eirea

Não somente neste nosso estudo realizado no Paraná, mas também em trabalhos similares realizados nos Estados Unidos e no Canadá, idade avançada nunca é uma das principais razões de descarte em rebanhos leiteiros. Como mencionei no artigo, idade avançada pode ser uma razão secundária ou terciária de descarte, mas raramente é a principal razão da saída da vaca do rebanho.

No nosso estudo de fato 7,2% dos descartes foram justificados por má conformação de úbere. Não acho este número exagerado. Também não concordo com sua afirmação de que "geneticamente os estabelecimentos leiteiros analisados estão muito por debaixo da média, quanto a qualidade genética dos animais da raça Holstein". Muito pelo contrário! Todos os 19 rebanhos participantes são rebanhos tradicionais, com gado Holandês registrado, com controle leiteiro oficial e são rebanhos que periodicamente fazem classificação para tipo. Também são rebanhos que adotam 100% de I.A. e usam material genético provado e superior de centrais americanas, canadenses e holandesas.

Mas por que então estes 7,2% de descartes por má conformação de úbere? Porque isto é normal em qualquer rebanho de alta produção. Cabe salientar que os rebanhos analisados neste projeto tem uma produção média entre 27 e 38 L/vaca/dia. Assim, talvez uma razão pelos poucos descartes por má conformação de úbere nos seus rebanhos do Uruguai seja simplesmente a menor produção de leite destes rebanhos...

Espero que esta resposta tenha esclarecido alguns pontos.

Prof. Rodrigo de Almeida
RICARDO EIREA

MONTEVIDEO - MONTEVIDEO - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 14/01/2009

Coleta de vacas de descarte:
Nós somos uma empresa especializada na cria de bezerros machos Holstein para a produccion de carne e serviço de agrupamento e comercialização de vacas leiteiras de descarte. Neste sentido, atendemos em forma constante la coleta de vacas y bezerros aproximadamente de 300 Granjas Leiteiras Uruguaias e os descartes de vacas feitas ou em início anuais, nunca chegaram a mais de 23% do total da fazenda nestas granjas leiteiras.

Embora nunca nos propusemos uma avaliação exata, o motivo mas comum dos descartes é a idade ou quantidade de pariciones, seguem-lhe problemas sanitários tais como mastitis e patas e por último, os problemas de baixa produtividade logo do primeiro parto e finalmente problemas reprodutivos. No Uruguai jamais chega a produzir uma vaca com problemas deformativos de úbere ou qualquer seja este.

Chama poderosamente a atenção, os parâmetros tão altos de descarte de vacas em "primeira lactação", por isso dá para pensar que geneticamente os estabelecimentos leiteiros analisados estão muito por debaixo da média, quanto à qualidade genética dos animais de raça Holstein.

Saudações, Ricardo Eirea

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