ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Por que o grão muitas vezes não chega até as vacas?

VÁRIOS AUTORES

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/05/2018

5 MIN DE LEITURA

2
10

O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de cereais do mundo. Isso é decorrente da sua ampla área territorial de solos férteis e clima favorável. Grandes exportações de grãos trazem mudanças na comercialização destes produtos no mercado interno, devido à queda da oferta e a consequente elevação dos preços.

O Brasil possui um rebanho amplo de vacas que consome baixa quantidade de concentrado. Segundo dados da FAO (2014), a participação média do concentrado na dieta total de vacas em lactação no Brasil é de apenas a 20%, sendo que os Estados Unidos e a Argentina são países que fornecem o dobro de concentrado, com produtividade de 7.000 à 9.000 kg de leite/ano/vaca. A produtividade média das vacas no Brasil, segundo o IBGE (2016), é de 1.709 litros/vaca/ano.

Esse dado indica que o rebanho brasileiro tem capacidade de absorver uma grande quantidade de grãos e elevar a produção de leite. O fornecimento de grãos promove o aumento da produtividade das vacas e o leite produzido é comercializado com maior valor agregado. Dessa forma, se o grão for utilizado de forma racional, poderá melhorar não somente a renda do produtor, mas também ajudar a aquecer a economia do país.

Em vários artigos e comunicados técnicos pode-se observar a forte recomendação de diminuir o uso ou substituir o grão por outros ingredientes que muitas vezes são subprodutos da agroindústria. Esta substituição visa principalmente diminuir os custos com a alimentação das vacas, em especial aquelas em lactação. Embora a substituição do grão aparentemente seja economicamente interessante, devemos considerar a superioridade do valor nutricional de um grão de boa qualidade na dieta de vacas em lactação e o potencial do mesmo em aumentar a produção de leite. Tendo em vista essa superioridade e ciente que o sistema de produção de leite é complexo, não podemos descartar a utilização dos grãos, mas sim pontuar e identificar fatores que possam influenciar a utilização destes.

Pastagem: em sistemas de pastagem é essencial o correto manejo do solo e da gramínea, potencializando a produção de volumoso. Cada propriedade possui uma característica e um histórico diferente de uso da terra. Assim, é necessário que sejam feitas análises de solo para correção de possíveis deficiências de nutrientes. Cada gramínea possui particularidades fisiológicas e morfológicas que devem ser consideradas no manejo exercido sobre elas, tais como: altura de pastejo, tempo de ocupação de cada piquete, carga animal, etc. Com a correção do solo e o manejo adequado de cada espécie forrageira, o produtor irá produzir um volumoso de boa qualidade nutricional; podendo assim, suprir parte das exigências nutricionais dos animais. Vacas em lactação exigem nutrientes para manterem as atividades basais do corpo, para produzirem leite, para manterem o desenvolvimento gestacional, entre outros. Em alguns casos, novilhas de primeira e segunda cria, os nutrientes serão também utilizados para crescimento. Assim, quando se produz volumosos de boa qualidade nutricional as exigências básicas podem ser supridas a partir destes, e os nutrientes contidos nos grãos fornecidos na forma de ração concentradas são destinados a produção de leite. Quando isso não ocorre, as vacas passam a utilizar a ração concentrada para suprir as exigências basais sobrando poucos nutrientes para a produção de leite e encarecendo a atividade para o produtor, já que gastará com a compra de grãos e não haverá aumento de produção de leite.

Potencial genético: há anos os sistemas de melhoramento genético animal vêm desenvolvendo ferramentas para que cada vez mais haja animais melhoradores. Nos bovinos de leite várias são as caraterísticas que podem ser selecionadas, aprumo de membros, tamanho de tetos, produção de leite, habilidade materna, entre outros. Em um rebanho mestiço ou pouco especializado, os ingredientes da dieta são transformados de forma mais intensa, em tecido muscular e adiposo, sendo pouco direcionados para a produção de leite. Desta forma, quando um produtor de leite investe no fornecimento de ração concentrada para rebanhos pouco especializados, corre o risco de não aumentar a produção de leite, que é o produto comercializado, podendo inviabilizar a atividade. Por outro lado vacas de raças especializadas possuem uma maior exigência de nutrientes, as quais necessitam de maiores cuidado na oferta destes. 

Compra e estocagem: o preço de comercialização dos grãos na época da safra é menor, assim se o produtor tiver a possibilidade de estocar os grãos terá a possibilidade de passar a época de entressafra sem adquirir e manter os custos com alimentação reduzidos. Sabe-se porém que muitas vezes o produtor é limitado pela disponibilidade de capital, já que a compra teria que suprir pelo menos três meses de demanda, portanto, além do planejamento financeiro do produtor, políticas públicas que forneçam acesso a créditos aos produtores de leite deveriam ser estudadas e formadas.

Reprodução: o desempenho reprodutivo das vacas está intimamente ligado a alimentação do rebanho. Vacas com escores baixos dificilmente ficarão prenhas e conseguintemente maior intervalo entre partos. Todos sabemos que a vaca parida é vaca produzindo e gerando renda, quanto maior for a porcentagem de vacas em lactação em relação às vacas secas, mais eficiente é o sistema. Para isso, as vacas devem estar supridas nutricionalmente e o manejo reprodutivo a ser adotado deve estar “afiado”. A adoção de técnicas como o diagnóstico de gestação das vacas, a inseminação e o acompanhamento da manifestação do cio das vacas, são importantes para que o produtor tenha êxito na atividade. 

Por último, algo que influencia a menor oferta de grãos no mercado interno mas que não está no comando do gerenciador da propriedade leiteira, é a existência da Lei Complementar Nº 87 mais conhecida como Lei Kandir. Esta lei deixa isento de impostos (ICMS) os agentes que exportarem grãos ao invés de vendê-los no mercado interno, isso acaba sendo um incentivo do próprio Estado à exportação de grão in natura. Este pode ser um dos pontos negativos no aumento do preço de alguns grãos e produtos no mercado interno, já que a venda para o exterior pode ocasionar menor oferta interna, elevando preços. Além do mais, o processamento do grão dentro do país gera maior disponibilidade de subprodutos, como o farelo de soja, que é obtido pela retirada do óleo do grão da soja.

Em suma, o fornecimento de grãos às vacas em lactação não pode ser visto como algo que traz custo e sim uma ferramenta que potencializa a produção de leite. Tendo em mente a complexidade do sistema, o administrador deve examinar minunciosamente os tópicos abordados no texto e buscar as correções necessárias e assim, ter os benefícios do aumento da produtividade.

Referências bibliográficas

FAO, IDF and IFCN. 2014. World mapping of animal feeding systems in the dairy sector.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2016. Produção da pecuária municipal.  Rio de Janeiro

PEDRO GUSTAVO LOESIA LIMA

Doutorando em Zootecnia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Membro do Grupo de Inteligência em Sistemas de Produção Animal e Ambiental (GISPA).

MARCIO GREGÓRIO ROJAS DOS SANTOS

Doutorando em Zootecnia pela Universidade Estadual de Maringá, membro do Grupo de Inteligência em Sistemas de Produção Animal e Ambiental (GISPA). Av. Colombo, 5.790 Jd. Universitário - Maringá - Paraná - Brasil. Bloco J45 - PPZ/UEM

2

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

MURILO SHIBATA

MARECHAL CÂNDIDO RONDON - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 25/05/2018

Olá Srs. Parabéns pelo artigo!

Complementaria dizendo que existe uma certa competição no mercado interno pelo grão de milho. Principalmente aquele de qualidade e nas regiões onde existem grandes cooperativas integradoras.
As dietas de suínos e aves são menos versáteis que as de ruminantes. Em razão disso, as rações comerciais de bovinos sempre acabam com menores percentuais de milho (e outros ingredientes mais nobres), o que prejudica muito a qualidade do concentrado comercial.
Ao sugerir ao produtor a busca pelo produto (milho) no mercado, como forma de suprir aquela deficiência da "ração" comercial, acabamos esbarrando no preço, mais caro devido aos custos de secagem/armazenamento tidos pelo cerealista.

Atenciosamente,
Murilo Shibata
Zootecnista - Emater Paraná
PEDRO GUSTAVO LOESIA LIMA

MARINGÁ - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 11/06/2018

olá Murilo,

Bela colocação.

Considerando o grande volume de grãos exportados na forma "in natura", vejo que o país ainda tem muito a ganhar com os grãos através da produção animal.

att.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures