Uma das ferramentas para contornar esta situação é a utilização do pastejo rotativo (rotacionado, como é mais conhecido), que pressupõe a subdivisão dos pastos em piquetes menores, onde os animais permanecem durante pequenos períodos, consumindo toda a forragem disponível e passando em seguida para o piquete seguinte. O consumo do capim em curtos espaços de tempo, em conjunto com a redução das áreas, permitem maior controle sobre o pastejo e, conseqüentemente, maior eficiência na produção e no aproveitamento da forragem.
A definição mais comum do momento ideal para o início do pastejo é com base em calendário (dias fixos), e assim recomendações de pastejo a cada 28, 35, 42 dias foram amplamente difundidas em todo o país. Essa técnica de manejo, que por muitos anos auxiliou os pecuaristas e permitiu melhorias na utilização da forragem produzida nas propriedades brasileiras, foi definida com base na quantidade de folhas vivas existentes em cada perfilho, que é uma característica genética, e o filocrono - período de tempo entre o surgimento de duas folhas sucessivas (Gomide & Gomide,1999).
Entretanto, as taxas de crescimento e aparecimento de folhas são fortemente influenciadas por condições ambientais, como a temperatura, e pela adubação nitrogenada, o que faz com que generalizações quanto ao período entre os pastejos gere resultados diferentes. O pastejo rotativo com base em calendário geralmente permite que as plantas tenham tempo para recompor sua área foliar, mobilizar e repor reservas, por outro lado, resultados do crescimento de plantas com base em um mesmo intervalo de pastejo será diferente em função das estações do ano, do clima, dos solos e da região. Assim, um intervalo de descanso de 28 dias em dezembro é diferente dos mesmos 28 dias em abril; 28 dias em Mato Grosso é diferente de 28 dias em São Paulo, por exemplo. Embora o número de piquetes e de dias de ocupação tenha sido previamente definido para o sistema rodar a cada 28 dias com a mudança do período das águas para a seca essa recomendação torna-se inadequada. Como alternativa convencionou-se mudar o intervalo de 28 para 35 ou 42 dias na tentativa de compensar os aspectos climáticos desfavoráveis, mas isso nem sempre garante que a forragem seja colhida adequadamente, com alta proporção de folhas e alto valor nutritivo.
O manejo baseado em dias fixos e pré-determinados de descanso, apesar de propiciar facilidades no planejamento do pastejo rotativo, de certa forma restringe as possibilidades de ganhos em eficiência do sistema, pois não gera um padrão uniforme de respostas fisiológicas de plantas e estruturais do dossel. Esse fato demonstra a inconsistência de respostas e a limitação de se adotar e, especialmente generalizar, um período de descanso fixo e definido a priori, uma vez que dependendo da época do ano e das condições vigentes de crescimento este pode ser demasiadamente curto, o que levaria a perdas de produção em termos de quantidade; ou demasiadamente longo, o que levaria a perdas de quantidade e qualidade, podendo, em ambos os casos, resultar em degradação dos pastos.
No entanto, com a evolução dos trabalhos de pesquisa, pôde-se perceber que é possível adotar práticas de manejo mais eficientes, levando-se em conta características da comunidade de plantas. Para melhorar o manejo, abordagens mais refinadas utilizando estratégias de pastejo intermitente têm sido estudadas com o intuito de fornecer ao produtor mais uma opção na tomada de decisão no momento da colheita. Estudos baseados em respostas fisiológicas de plantas mostraram que as taxas de crescimento foram relacionadas com a porcentagem de luz interceptada pelo dossel e área foliar. Sugerindo que a interceptação de luz além dos 95% resulta na máxima taxa de crescimento (Brougham, 1956) e em gramíneas de clima tropical (Panicum, Pennisetum, Brachiaria, etc.) esse é o momento a partir do qual se intensifica o processo de competição por luz, e o acúmulo de colmos e a senescência aumentam fortemente e, portanto, pastejos realizados a partir desse ponto têm as perdas por pastejo aumentadas e conseqüentemente sua eficiência reduzida.
Apesar de a interceptação luminosa não ser um parâmetro de caráter prático como determinante da entrada dos animais para o pastejo, apresenta alto grau de associação com altura do dossel, sugerindo que essa característica poderia ser utilizada como parâmetro-guia no manejo (Da Silva e Nascimento Jr., 2007). Dessa forma, esse conceito se aplica para diversas plantas forrageiras de clima tropical, em que a entrada dos animais deve acontecer quando os pastos atingirem 70 cm para Panicum maximum cv. Tanzânia (Mello e Pedreira, 2004); 90 cm para Panicum maximum cv. Mombaça (Carnevalli, Da Silva et al., 2006); 30 cm para Brachiaria brizantha cv. Xaraés (Pedreira, Pedreira et al., 2007) e Mulato (híbrido do gênero Brachiaria) (Limão, 2010); e 25 cm em pastos de capim marandu, numa condição de lotação rotativa (Trindade, Da Silva et al., 2007).
O prolongamento do período de descanso ou do intervalo de pastejos além dessas alturas resulta em aumento da massa de forragem por ocasião da entrada dos animais no momento do pastejo, porém, esse aumento é resultado, basicamente, do acúmulo de colmos e de material morto, uma vez que o acúmulo de folhas se estabiliza e, ou, diminui (Moreno, 2004; Barbosa, Do Nascimento et al., 2006; Carnevalli, Da Silva et al., 2006). Nessa condição, tem-se maior acúmulo de forragem por ciclo de pastejo, menor número de pastejos na estação de crescimento (períodos de descanso mais longos), além do valor nutritivo da forragem em oferta ser reduzido (Bueno, 2003).
Por isso, a estratégia de pastejo deve ser feita com base em parâmetros que influenciem a estrutura do dossel. Assim, pode se manipular o dossel conforme a necessidade do sistema de produção de forma objetiva, correlacionando quantidade e qualidade de forragem.
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