Tipo de carboidrato
A presença de concentrados ricos em amido na dieta está frequentemente associada à diminuição no teor de gordura do leite. O amido promove uma rápida fermentação ruminal, decréscimo do pH ruminal e aumento na produção de propionato. Quanto mais processado for o grão de milho, maior será a taxa de fermentação ruminal e maior o seu efeito sobre o teor de gordura no leite.
Cereais com maior digestibilidade ruminal, como a cevada, possuem um efeito ainda mais pronunciado sobre o teor de gordura do leite do que o milho.
Concentrados ricos em pectina, altamente fermentáveis no rúmen, como a polpa de citros, podem ser utilizados em substituição ao amido como forma de manter um ambiente ruminal mais estável. A fermentação ruminal da pectina leva a maior produção de ácido acético do que a fermentação do amido. O caroço de algodão é outro alimento concentrado que possui efeito de fibra que pode ajudar a manter o teor de gordura do leite em dietas com alta proporção de concentrados.
A alimentação com mais carboidratos prontamente fermentáveis usualmente promove um pequeno aumento no teor de proteína do leite devido a maior produção de propionato no rúmen (Emery 1991).
Gordura Dietética
A gordura dietética pode afetar o teor e a composição da gordura do leite. Devemos considerar três aspectos quanto a gordura dietética, sua quantidade, sua composição em ácidos graxos, e sua forma física.
Quantidades moderadas de gorduras protegidas tendem a gerar um pequeno aumento na concentração de gordura do leite, mas grandes quantidades ou o uso de gorduras insaturadas, frequentemente provocam queda de até um ponto percentual no teor de gordura do leite (Sutton, 1989).
A queda no teor de gordura do leite ocorre devido à ação ruminal dos ácidos graxos insaturados sobre os microrganismos do rúmen, diminuindo a digestibilidade da fibra e a produção de ácido acético. Na tabela 9 vemos que os efeitos são extremamente variáveis e dependem dos demais componentes da dieta, além da fonte lipídica utilizada.
Tabela 4. Mudanças relativas na produção e composição do leite de vacas de leite suplementadas com gordura comparadas com dietas controle.
A substituição de fontes de carboidratos fermentescíveis no rúmen por fontes lipídicas insaturadas leva a menor produção de AGV's total e consequente menor produção de proteína microbiana. A menor produção de AGV's no rúmen leva a maior gluconeogênese a partir de aminoácidos, diminuindo o teor de proteína do leite (Wu & Huber, 1994).
Além deste aspecto, o uso de gorduras protegidas ou saturadas pode aumentar o fornecimento de compostos carbônicos (ácidos graxos e acetato) para a célula secretora, aumentando a eficiência de produção de leite por litro de sangue (Cant et al. 1993).
A presença de ácidos graxos oriundos da dieta pode alterar a composição da gordura do leite. O uso de gorduras insaturadas protegidas aumenta a proporção de ácidos graxos insaturados de cadeia longa na gordura do leite (linolêico). A suplementação com gorduras saturadas (sebo animal) pode aumentar a proporção de ácido palmitolênico, esteárico e oléico na gordura láctea (Linn, 1989).
Proteína Dietética
O teor de proteína dietética possui pequeno efeito sobre o teor de gordura do leite. O aumento no teor de PB da dieta que leve a um aumento na produção de leite, está, geralmente, relacionado a um decréscimo no teor de gordura do leite devido a um efeito de diluição.
Em dietas com alta proporção de volumosos, o acréscimo no teor de PB pode levar a melhor ambiente ruminal para as bactérias celulolíticas, aumentando a produção de ácido acético no rúmen, e conseqüentemente, maior porcentagem de gordura no leite (Oldham, 1984).
Também, quanto ao teor de proteína do leite, a proteína dietética possui pequeno efeito, estando mais ligada à produção total de proteína do que com sua concentração.
Quantidades insuficientes de proteína na dieta levam a redução no teor de proteína do leite. No entanto, o aumento da proteína na dieta acima do nível necessário não ocasiona um aumento no teor de proteína do leite.
Tamponantes e outros aditivos
A manutenção do pH ruminal aumenta a produção de acetato relativo ao propionato. O uso de bicarbonato de calcio e óxido de magnésio tem sido associado com a manutenção do teor de gordura do leite em dietas ricas em concentrados, especialmente quando o volumoso é a silagem de milho (Linn, 1989).
O fornecimento de niacina (vitamina B3) tem sido relacionado com uma maior atividade microbiana podendo ocasionar pequenos aumentos na produção de proteína microbiana (Riddell et al, 1981). Em alguns casos, o seu fornecimento pode aliviar o decréscimo no teor de proteína do leite de dietas com suplementação de gordura (Horner et al., 1986). Emery (1991) relata que o fornecimento de niacina pode aumentar o teor de gordura do leite.
O uso de ionóforos (monensina) está relacionado com o decréscimo na porcentagem de gordura do leite. Os ionóforos aumentam a produção de propionato no rúmen, aumentando a produção de leite e diminuindo o teor de gordura do mesmo (Ramanzin et al., 1997).
Referências Bibliográficas
CANT, J. P.; DePETERS, E. J.; BALDWIN, R. L. Mammary Uptake of Energy Metabolites in Dairy Cows Fed Fat and Its Relationship to Milk Protein Depression. Journal of Dairy Science, Chanpaing EUA, v 76, n 8, p.2254-2265, ago. 1993.
EMERY, R. S. Feeding for Milk Components. Large Animal Veterinarian, Mont Morris, Eua, v. 46, n. 3, p. 30-33, mai/jun 1991.
LINN, J. G. Altering the Composition of Milk througt Management Practice. Feedstuff, Minnetonka, EUA, v.61, n. 17, p.18-23, jun. 1989.
OLDHAM J. D. Protein - Energy Interrelationships in Dairy Cows. Journal of Dairy Science, Chanpaing EUA, v.67, p.1090, 1984.
SUTTON, J. D. Altering Milk Composition by Feeding Journal of Dairy Science, Chanpaing EUA, v 72, n 10, p.2801-2814, out. 1989.
WU, Z.; HUBER, J.T. Relationship between dietary fat supplementation and milk protein concentration in lactating cows: A review. Livestock Production Science, v.39, p.141-155, 1994.