Introdução
A caprinocultura leiteira possui grande importância social e econômica, principalmente nos países em desenvolvimento. Em alguns estados brasileiros, programas governamentais são desenvolvidos com o objetivo de realizar suplementação alimentar contendo leite de cabra para pessoas carentes e idosos por apresentar características físico-químicas que mais se aproximam do leite humano: alta digestibilidade, baixos teores de colesterol, elevado teor de proteínas.
Em termos econômicos, a caprinocultura é um segmento do agronegócio que gera empregos diretos (criatórios) e indiretos (indústria láctea), gerando boa lucratividade em todos os seus setores.
Entretanto, o sucesso da atividade está intimamente ligado à produção de leite com excelente higiene e qualidade, sendo que, o principal entrave para essas características é a mastite.
A mastite ou mamite refere-se à inflamação da glândula mamária. Tal enfermidade ocasiona prejuízos para o produtor através da rejeição na recepção do leite, redução na produção e possibilidade de morte do animal.
É uma patologia de ocorrência mundial que geralmente é causada por microrganismos, principalmente bactérias dos gêneros Streptococcus spp., Staphylococcus spp., Mycoplasma spp., Corynebacterium spp., Escherichia coli. Caracteriza-se por alterações físicas, químicas e bacteriológicas do leite e por alterações patológicas do tecido glandular, podendo ser classificada como clínica e crônica.
Fatores predisponentes
Em condições normais, a glândula mamária possui microrganismos patogênicos que representam risco de contaminação da mesma. A inflamação ocorre através do úbere infectado ou por contaminação oriunda do meio externo.
O leite retido no úbere, principalmente na cisterna do teto, resultante da ordenha incompleta é um importante meio de cultura para a proliferação de microrganismos. A ordenha incompleta ou ineficaz associada à inadequada higienização pré e pós ordenha são os principais fatores predisponentes à instalação da doença.
As infecções importantes são aquelas que persistem facilmente no úbere, em especial por Streptococcus e Staphylococcus. Bactérias provenientes do meio ambiente, tais como Escherichia coli e Pseudomonas, causam mastite com uma menor freqüência, no entanto, apresentam-se mais resistentes às medidas de controle higiênico.
A propagação ocorre durante a ordenha, sendo disseminada principalmente pela má higienização do ordenhador, dos tetos pré e pós ordenha e do material utilizado na ordenha.
Sintomas
A mastite pode apresentar-se nas formas clínica e crônica.
• Clínica - É a forma mais severa, caracteriza-se por: edema, dor, rubor, aumento da temperatura local e/ou sistêmica e alterações nas características do leite (grumos), podendo evoluir para um estágio mais avançado, ocasionando uma mastite gangrenosa. Esta forma clínica apresenta endurecimento uni ou bilateral do úbere, hipotermia (baixa temperatura), isquemia e posteriormente necrose tecidual.
• Crônica - Não apresenta sinais evidentes de inflamação no úbere e nem alteração no aspecto do leite, apresentando elevada contagem de células somáticas, diminuição da produção e ligeira apatia. Esta forma contribui para a disseminação da doença no rebanho.
Diagnóstico
O diagnóstico da mastite clínica não apresenta dificuldade se for feito um exame clínico cuidadoso, observando-se os sinais característicos de inflamação do úbere e alterações nas características do leite.
No caso de uma mastite crônica é importante o acompanhamento individual, observando-se a produção de leite e realizando exames complementares, como contagem de células somáticas (CCS), California Mastitis Test (CMT), exame bacteriológico do leite e antibiograma.
Figura 1. Material utilizado para o teste de CMT.
Tratamento
Pela grande variação de agentes e pelo nível de prejuízo, o tratamento deverá ser avaliado em cada caso, e o grau de resposta obtido depende do tipo de agente causal e da rapidez com que o tratamento é iniciado.
Infusões intramamárias são os métodos de tratamento mais utilizados devido à conveniência e eficácia. Durante este tratamento é necessária uma higiene rigorosa, evitando uma contaminação por outros microrganismos, sendo realizado o esgotamento da teta antes da administração do medicamento.
Figura 2. Tratamento intramamário contra mastite
O tratamento parenteral é recomendado em alguns casos de mastite clínica para prevenir ou controlar o desenvolvimento de infecções generalizadas e auxiliar o tratamento da infecção na glândula.
O tratamento pode ser eficaz na eliminação da infecção e normalização da composição do leite. Entretanto, ocorrerá comprometimento da produção na lactação atual ou até mesmo nas lactações seguintes.
Controle
Recomenda-se um programa profilático de rotina, objetivando o controle de microrganismos em três situações distintas da propriedade: animais, ordenha e ambiente.
Animais:
- Avaliações periódicas do leite, através da utilização dos testes laboratoriais: CCS, CMT, Bacteriológico;
- Controle rigoroso da entrada de animais no rebanho;
- Evitar traumatismo no úbere;
- Descarte de animais com infecção crônica;
- Seleção de matrizes que demonstrem maior resistência às infecções.
- Descarte dos animais que apresentem mastite crônica e recidivante, evitando que a doença seja disseminada aos animais sadios.
Ordenha
- Sala de ordenha limpa e desinfetada;
- Ordenhador com as mãos limpas, unhas aparadas e roupas limpas;
- Realizar a lavagem do úbere, em especial a extremidade dos tetos, utilizando soluções iodadas;
- Os três primeiros jatos de leite devem ser desprezados, por conter elevado número de colônias de bactérias, sendo coletados em caneca de fundo escuro para verificação de possíveis alterações macroscópicas;
- Estipular uma seqüência de ordenha, ordenhando primeiro os animais com menor potencial de contágio, em direção aos animais de maior potencial;
- Evitar que os animais se deitem até uma hora após a ordenha.
Figura 3. Exame da caneca de fundo escuro.
Ambiente
Manter limpo e seco o ambiente que os animais ficam instalados;
Desinfetar periodicamente as instalações com produtos a base de hipoclorito de sódio;
Manutenção e/ou troca periódica do material de ordenha (borrachas, teteiras, etc).
Referências
CASTRO, A. A Cabra. 3 ed. Rio de Janeiro: Freitas Barros, 1984.
BLOOD, D.C.; RADOSTITS, O.M. Clínica Veterinária. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.
CLARKSON, M.J.; FAULL, W.B. Notas Para La Clínica Ovina. Zaragoza: Acribia, 1987.
MACIEL, F.C. Manejo Sanitário de Caprinos e Ovinos. Natal: EMPARN, 2006.
CHAPAVAL, L. Práticas para assegurar a qualidade do leite dentro da fazenda. Rio de Janeiro, 2008. Disponível no site [www.nogueirafilho.com.br]. Acesso em 10/07/2008.
CAVALCANTI, N. A mastite e qualidade do leite de cabra. Rio de Janeiro, 2008. Disponível no site [www.ascoper.com.br]. Acesso em 10/07/2008.
RIBEIRO, S.D.A. Caprinocultura: Criação Racional de Caprinos. São Paulo: Nobel, 1997.
JARDIM, W.R. Criação de Caprinos. 10 ed. São Paulo: Nobel, 1984.