As doenças existentes que afetam o rebanho, muitas delas estão relacionadas com a alimentação. O manejo nutricional na propriedade tem que ser realizado de maneira correta, desde da escolha das matérias-primas até a forma como é oferecida para o rebanho.
A capacidade do aparelho digestivo em promover a digestão dos alimentos depende das suas funções motora e secretora. Em vários casos, a atividade da microflora é modificada, de modo que a digestão se torna anormal ou cessa. O fornecimento de uma dieta inadequada que ocorre em casos de uma formulação erronia, principalmente na adição de aditivos, com o objetivo de melhorar o desempenho de ganho de peso, acabam levando a um quadro de intoxicação.
A monensina é um antibiótico ionóforo sintetizado pelo fungo Streptomyces cinnamonenesis, sendo utilizada como aditivo na dieta de ruminantes para controlar a coccidiose e estimular o crescimento e ganho de peso. Essa droga é um poliéter carboxílico que forma complexos lipossolúveis com cátions, facilitando assim o transporte de íons através de membranas biológicas e induzindo distúrbios celulares fisiológicos e morfológicos devidos ao desequilíbrio iônico.
A monensina é considerada segura quando usada em espécies-alvo, dentro das dosagens recomendada pelo fabricante, e é rapidamente excretada após sua ingestão, com mínimo acúmulo nos tecidos. O uso inadequado desse antibiótico tem, no entanto, causado intoxicação em animais, com o falso conceito de que aumentando a dose recomendada, maior será o ganho de peso.
O consumo de doses tóxicas de monensina pode estar ligada em erro na mistura do premix na ração ou mistura heterogênia; uso concomitante com drogas que potencializa a ação da monensina (exemplos: tiamulin, cloranfenicol e eritromicina); alimentação de ruminantes com esterco de galinha ( vale lembrar que é proibido o fornecimento de esterco de galinha/cama de frango na alimentação animal) tratadas com esse ionóforo; e ingestão excessiva por animais vorazes com dominância social. A maior parte dos problemas de intoxicação dá-se no período inicial de adição do ionóforo à dieta.
A dose tóxica varia consideravelmente dependendo da categoria animal. A DL50 (dose letal capaz de matar 50% dos indivíduos de um lote) de monensina é de 12mg/kg, enquanto a DL0 dessa mesma droga é de 4mg/kg.
Sinais clínicos
O estado clínico da intoxicação varia de acordo com a intensidade da dose e o tempo de ingestão. As mortes podem ser súbitas ou o animal pode apresentar quadro superagudo, agudo, subagudo e crônico. Os tecidos primariamente afetados são o muscular estriado cardíaco e o esquelético.
A doença clínica em pequenos ruminantes, na qual o aparecimento dos sinais clínicos varia entre 18 horas e 4 dias. Nos casos agudos caracterizam-se por tremores musculares (principalmente da cabeça), hiperestesia e convulsões, durante as quais pode ocorrer a morte. Inicialmente, o quadro clínico inicia por sinais como recusa ao alimento, diarreia, parada ruminal e depressão, seguidos de tremores, fraqueza muscular, andar com arrastamento das pinças e decúbito. O animal pode vir a óbito agudamente, logo após o aparecimento desses sinais clínicos, por insuficiência cardíaca. Nos casos crônicos há atrofia muscular, principalmente dos posteriores, sinais de insuficiência cardíaca, edema de peito, fezes amolecidas ou liquidas e distúrbios respiratórios. Nesses casos, as mortes podem ocorrer em semanas ou até meses após a suspensão da monensina.
Diagnóstico
Os casos de intoxicação podem ser sugeridos pelo histórico da propriedade, quadro clínico e achados de necropsia.
Os músculos e o miocárdio devem ser examinados e os fragmentos desses órgãos devem ser colhidos em formalina a 10% para exame histológico. Uma dica para evitar artefatos é conservar os fragmentos de músculos em refrigeração até o desaparecimento do rigor mortis, antes de serem fixados em formol.
Controle
Infelizmente não existe tratamento específico. O tratamento com selênio e vitamina E não tem efeito após o inicio da intoxicação, mas o balanceamento desses ingredientes na dieta ajudam a reduzir os efeitos. Uma vez suspeitando ou diagnosticado a intoxicação por monensina, a alimentação deve ser suspensa e os animais que apresentam os sinais clínicos devem receber tratamento de suporte com fluidoterapia para uma possível recuperação.
Considerações finais
As doses a serem utilizadas na dieta variam com a idade e tamanho do animal, portanto, a administração deve seguir rigorosamente as recomendações do fabricante e/ou nutricionista. Os níveis aproximados para a ração é de 5-10ppm. Para o controle de coccidiose em cordeiros/cabritos pode ser utilizado de 11 a 22ppm na dieta completa.
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