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Intoxicação por cobre em pequenos ruminantes

POR VICENTE DE FRANÇA TURINO

E ANDRÉ MACIEL CRESPILHO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 12/11/2007

7 MIN DE LEITURA

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Na alimentação dos animais existe um grupo de minerais essenciais denominados microelementos, cujas necessidades, em termos quantitativos, são muito pequenas, mas nem por isso deixam de ter importância na nutrição. Os minerais classificados como microelementos representam o cobre, zinco, selênio, ferro, cobalto, iodo e manganês.

Dentre os diferentes microelementos, o cobre (Cu) apresenta um papel fundamental para a regulação do metabolismo orgânico das diversas espécies animais, atuando na formação da hemoglobina, composto responsável pelo transporte do oxigênio celular. No entanto, a deficiência ou excesso de Cu podem desencadear enfermidades severas, as quais, freqüentemente evoluem para o óbito. Surtos esporádicos de intoxicação por Cu ocorrem em diferentes circunstâncias, sendo que a taxa de mortalidade pode chegar a 100%.

As exigências de cobre na dieta de bovinos e ovinos são muito similares, variando de 4 a 10 ppm. Entretanto, ovinos são menos tolerantes ao excesso deste elemento na dieta, quando comparados aos bovinos. Doses únicas de 20-110 mg de cobre por Kg de peso vivo (PV) ou ingestão diária de 3,5 mg de Cu/Kg de PV produzem quadros de intoxicação em ovinos (RADOSTIS et al., 2002).

De acordo com levantamentos de Castro et al., (2007), a intoxicação por cobre representa uma enfermidade de grande ocorrência do sul do país, sendo reportada também na região Nordeste e nos estados do Mato Grosso do Sul e São Paulo. Em virtude de seu expressivo impacto econômico e da ampla distribuição geográfica de ocorrência, os tópicos a seguir discorrem a respeito da intoxicação por cobre em ovinos e caprinos.

O que é intoxicação por cobre e como ela ocorre?

O excesso de diferentes compostos químicos e minerais podem levar a quadros de intoxicações nos rebanhos. De uma forma geral, a suspeita de intoxicação é considerada quando a doença ocorre em determinado número de animais anteriormente sadios, todos acometidos ao mesmo tempo, apresentando os mesmos sinais clínicos e mesmo grau de intensidade (RADOSTIS et al., 2002).

A intoxicação por cobre pode ser caracterizada por duas fases, uma subclínica, durante a qual o cobre se acumula no fígado durante semanas ou meses, e outra fase aguda que ocorre em conseqüência da liberação do cobre acumulado (MÉNDEZ, 2001). A doença manifesta-se de diferentes maneiras nos rebanhos, podendo ser primária relacionada à ingestão de quantidades excessivas do mineral, ou secundária na qual a enfermidade acomete animais mesmo sob condições de baixo consumo de cobre (RADOSTIS et al., 2002). As principais formas de manifestação das intoxicações bem como os principais fatores desencadeantes dos quadros encontram-se sumarizados na Tabela 1.

Dentre as diferentes espécies de animais de produção, os ovinos são os mais susceptíveis aos quadros de intoxicação. O fígado dos ovinos apresenta uma peculiar afinidade por Cu e uma limitada capacidade de excreção desse composto (KELLY,1993), situação que confere uma maior propensão para os quadros de intoxicação em relação as demais espécies animais. Quanto aos caprinos, diversos estudos indicam uma menor susceptibilidade às intoxicações por cobre em relação aos bovinos e ovinos, podendo tolerar altos níveis do mineral na dieta (MESCHY, 2000).

Tabela 1. Classificação, principais formas de manifestação e causas mais comuns para os quadros de intoxicação por cobre (Cu).
 


Legenda: alto, aumento; baixo, diminuição. Adaptado de MacLacchlan & Cullen (1998); Méndez (2001); e Radostis et al., (2002).

O principal fator desencadeante dos quadros de intoxicação primária em ovinos relaciona-se à administração de concentrados (rações) e sal mineral formulados para bovinos. Castro et al., (2007) relatam um surto de intoxicação por cobre no interior de São Paulo a partir da administração de ração peletizada para bovinos leiteiros, ressaltando que todos os animais que exibiram sintomatologia da doença (6 em 20 ovinos) vieram a óbito.

Outro fator importante relacionado às intoxicações é a susceptibilidade diferencial entre raças (HAYWOOD et al., 2005). As raças North Ronaldsay (raça escocesa) e Texel são as mais sensíveis, enquanto a Merino Australiano apresenta-se como a mais resistente (MENDÉZ, 2001). Os caprinos da raça Angorá parecem mais susceptíveis, e os da raça Nubiana, mais resistentes em relação aos ovinos (RADOSTIS et al., 2002). A categoria animal também exerce influência, sendo que animais recém-nascidos ou lactantes são mais susceptíveis aos quadros de intoxicações em relação aos indivíduos adultos, provavelmente em virtude de uma maior absorção e menor capacidade de excreção do cobre (BREMNER, 1998).

Quais os sintomas apresentados por animais acometidos pela intoxicação?

Os sinais clínicos aparecem bruscamente, observando-se anorexia (animais param de se alimentar), sede, depressão, andar cambaleante, icterícia (membranas mucosas dos olhos, boca, entre outras, tornam-se amareladas), crise hemorrágica, urina escurecida por traços de sangue, diarréia intensa e dor abdominal. A evolução da doença cursa com a queda de temperatura corpórea e das freqüências respiratória e cardíaca, situações que freqüentemente evoluem para colapso geral e morte (MÉNDEZ, 2001).

A necrópsia dos animais acometidos freqüentemente revela necrose do fígado, que se encontra aumentado de tamanho, friável e de coloração amarelo-alaranjada. Os rins geralmente apresentam-se com aumento de tamanho, coloração marrom-escura e de consistência diminuída.

Os sinais clínicos apresentados pelos animais acometidos, bem como a natureza abrupta de instalação da doença e o histórico da propriedade (utilização de rações ou sal mineral para bovinos, pastos contaminados por resíduos de cobre e plantas tóxicas) representam a base para o estabelecimento do diagnóstico presuntivo. A confirmação do quadro de intoxicação pode ser realizada através da dosagem dos níveis de cobre a partir de amostras de fígado e rins de animais necropsiados.

 


Intoxicação por cobre em ovinos. Esquerda: animal apresentando quadro de icterícia (membrana ocular "amarelada") em virtude dos transtornos sanguíneos e hepáticos da intoxicação. Direita: necrópsia de ovino intoxicado revelando aumento de tamanho e alteração de coloração do fígado. Gentileza: Dr. Matias Pablo Juan Szabó.

O que fazer para combater e prevenir as intoxicações por cobre?

Segundo Radostis et al., (2002) o tratamento dos casos de intoxicação pode ser realizado através da administração de 100 mg de molibdato de amônio e 1 g de sulfato de sódio anidro/animal/dia durante 10 dias, aumentando com isso, a excreção fecal de cobre, prevenindo a morte de um número adicional de animais após a instalação dos surtos de intoxicação. Auxiliando a suplementação mineral descrita, deve-se proceder ao tratamento de suporte dos animais acometidos, sendo, em muitas situações, necessária a realização de transfusões sanguíneas.

A melhor forma de se combater determinada doença é impedir a sua entrada nas propriedades. Nesse sentido, Castro et al., (2007) apontam algumas recomendações importantes para a prevenção da intoxicação por cobre, incluindo a utilização de rações e suplementos minerais específicos para ovinos e caprinos.

As rações não devem exceder 10 ppm de Cu, enquanto que a suplementação mineral não deve apresentar mais que 0,1% de cobre. O controle de plantas tóxicas nas pastagens representa uma importante medida para o controle dos quadros de intoxicação secundária por Cu.

Agradecimentos: Ao Dr. Matias Pablo Juan Szabó e sua equipe que gentilmente cederam as imagens apresentadas nesse trabalho.

Referências

BREMNER, I. Manifestations of copper excess. The Americam Journal of Clinical Nutrition, v.67, p.1069-1073, 1998.

CASTRO, M.B.; CHARDULO, L.A.L.; SZABÓ, M.P.J. Copper toxicosis in sheep fed dairy cattle ration in São Paulo, Brazil. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.59, n.1, p.246-249, 2007.

HAYWOOD, S. SIMPSON, D.M.; ROSS, G. et al. The greater susceptibility of North Ronaldsay sheep compared with Cambridge sheep to copper-induced oxidative stress, mitochondrial damage and hepatic stellate cell activation. Journal Comparative Pathology, vol.133, p.114-127, 2005.

KELLY, W.G. The liver and biliary system. In: JUBB, K.V.F.; KENNEDY, P.C.; PALMER, N. Pathology of Domestic Animals. London: Academic, 1993. p.319-406.

MacLACHLAN, N.J.; CULLEN, J.M. Fígado, sistema biliar e pâncreas exócrino. In: CARLTON, W.W.; McGAVIN, M.D. Patologia Veterinária Especial de THOMSON. Porto Alegre: Artmed, 1998. p.95-131.

MARQUES, A.P.; RIET-CORREA, F.; SOARES, M.P. et al. Mortes súbitas em bovinos associadas à carência de cobre. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.23, n.1, p.21-32, 2003.

MÉNDEZ, M.C. Intoxicação crônica por cobre. In: RIET-CORREA, F.; SHILD, A.L.; MÉNDEZ, M.C.; LEMOS, R.A.A. Doenças de Ruminantes e Eqüinos. São Paulo: Varela, 2001. p.181-186.

MESCHY, F. Recent progress in the assessment of mineral requirements of goats. Livestock Production Science, v.64, n.1, p.9-14, 2000.

QUIROZ-ROCHA, G.F.; BOUDA, J.; ORDÓÑEZ, V.V. Importância do diagnóstico de deficiências de cobre, zinco e selênio. In: GONZÁLEZ, F.H.D.; BORGES, J.B.; CECIM, M. Uso de provas de campo e laboratório clínico em doenças metabólicas e ruminais dos bovinos. Porto Alegre: Gráfica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2000. p.43-46.

RADOSTIS, O.M.; GAY, C.C.; BLOOD,D.C. et al. Doenças Causadas por Substâncias Químicas Inorgânicas e Produtos Químicos. In:___.Clínica Veterinária - Um Tratado de Doenças dos Bovinos, Ovinos, Suínos, Caprinos e Eqüinos. ed.9. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. cap.31, p.1417-1471.

TOKAMIA, C.H.; DÖBEREINER, J.; PEIXOTO, P.V. Deficiências minerais em animais de fazenda, principalmente bovinos em regime de campo. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.20, n.3, p.127-138, 2000.

VICENTE DE FRANÇA TURINO

ANDRÉ MACIEL CRESPILHO

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ROGÉRIO COSTA

OVINOS/CAPRINOS

EM 04/10/2016

Rebanho que passou por intoxicação por cobre, com morte de alguns indivíduos, pode voltar a receber ração específica de ovinos com presença de cobre?
OSCAR BOAVENTURA NETO

ARACAJU - SERGIPE - ESTUDANTE

EM 27/11/2007

Parabéns aos autores pelo artigo.
VICENTE TURINO

BOTUCATU - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 25/11/2007

Pergunta muito pertinente, Edilson.
Eu costumo formular os concentrados (rações) das fazendas que presto consultoria (não indicamos a aquisição de rações comerciais. Embora sejam de ótima qualidade geralmente são caras e não são feitas de forma personalizada, ou seja, mediante os objetivos e demanda de cada propriedade em particular).
Em tais rações, não utilizo fonte de Cobre. Faço o balanceamento dos outros minerais de tal forma que as exigências dos animais sejam atendidas, porém, sem me preocupar com níveis que causem antagonismo com o Cobre (visto que não coloquei fonte mineral do mesmo).

Mas dai vocês me perguntam: "´Mas se não colocar Cobre os animais não terão suas exigências atendidas e este elemento é importante para várias funções vitais dos animais, como descrito no início do artigo..."

Lembrem-se: praticamente todos os alimentos que utilizamos para ruminantes possuem - em menor ou maior quantidade - Cobre em sua composição bromatológica.

Portanto, os próprios alimentos fornecem Cobre ao animal.

Resumindo, procurem por um especialista em nutrição e tentem fazer o concentrado (ração) na própria fazenda.
Caso não tenham equipamento, tentem terceirizar as fórmulas desenvolvidas pelo especialista.

Para elucidar: a minha empresa tem uma parceria com uma Cooperativa que confiamos na idoneidade e na responsabilidade de fazerem exatamente o que formulamos.
Quando nossos clientes não possuem estrutura para bater a ração, terceirizam a fórmula personalizada da propriedade nesta cooperativa.
Espero ter conseguido solucionar as dúvidas de vocês.

Obrigado por terem lido nosso artigo

Vicente e André
NILSON PAULO MICHEL MISSEL

CIDREIRA - RIO GRANDE DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 24/11/2007

A recomendação é que se use ração específica para ovinos, mas estas rações também contém indices altos de Cu, chegando até a 35 ppm. Nestes casos a quem devemos recorrer. O MAPA somente aprova o produto sem qualquer fiscalização posterior e o produtor está entregue as "feras", geralmente, multinacionais que dominam o mercado de rações.
EDILSON WISENFAD

MARINGÁ - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 24/11/2007

Ótima matéria! Diante da carta enviada sobre a utilização de minerais antagonicos nas formulações comerciais, gostaria de saber qual a posição de voces. Usar estes produtos para a não assimilação do cobre, não seria melhor retirá-lo da formulação para ovinos?
ALBERTO DUDA

PONTA GROSSA - PARANÁ - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 16/11/2007

Parabéns aos profissionais pela matéria .
Gostaria de colocar também que a utilização de um produto mineral que possua o Carbo-Amino-Fosfo-Quelato de Cobre e ainda Molibdênio e Enxofre como antagonistas não haverá problema com o Cobre na dieta, sendo que porventura haver excesso de Cobre advindo de outra fonte estes potentes anatagonistas o impedem de causar danos ao animal

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