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Efeito do nível de proteína metabolizável na produção de leite e na utilização do nitrogênio por vacas em lactação

POR JUNIO CESAR MARTINEZ

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 11/06/2007

5 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 05/01/2024

Nos últimos anos, os produtores de leite, a exemplo do que vem acontecendo com outros segmentos do sistema produtivo, estão sofrendo forte pressão do público em geral para reduzirem as perdas de nitrogênio que ocorrem durante os mais diferentes processos produtivos.

Assim, com o crescente aumento das limitações ambientais, pesquisas têm sido dirigidas no sentido de melhorar a eficiência de utilização do nitrogênio pelas vacas leiteiras, enquanto otimiza-se a produção e composição do leite.

Segundo revisão publicada em importante revista norte americana, contemplando mais de 10 anos de pesquisa, feita pelo renomado pesquisador e professor da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da USP, Dr. Flávio Augusto, bem como as premissas de um dos principais programas utilizados para formulação da ração para bovinos leiteiros, o "NRC dairy Cattle", a alteração somente do suprimento de proteína não degradável no rúmen não explica variações na produção de leite. Se analisarmos os dados de literatura mais atentamente, notaremos que as variações na produção de leite não estão correlacionadas com proteína bruta ou proteína não degradável no rúmen, mas sim com a proteína metabolizável.

O requerimento em proteína metabolizável é satisfeito principalmente pelo suprimento de proteína degradável no rúmen (PDR) e pela proteína não degradável no rúmen (PNDR), a também chamada proteína "by pass". A PDR, a PNDR e a proteína endógena contribuem com aminoácidos para o intestino delgado, sendo a proteína microbiana a principal fonte do fluxo total de aminoácidos. Portanto, a suplementação de proteína metabolizável é o caminho direto para o aumento do suprimento de aminoácido para o duodeno.

Entretanto, a superalimentação de proteína pode resultar em excessiva excreção de nitrogênio urinário, a principal forma de excreção de nitrogênio label. Existem relatos de que 70% do nitrogênio excretado podem ser perdidos por volatilização, lixiviação ou percolação, contribuindo grandemente para a poluição ambiental.

Frente a essa problemática, um recente estudo publicado na principal revista direcionada ao setor leiteiro, a "Journal of Dairy Science", objetivou determinar os efeitos de diferentes níveis de proteína metabolizável na dieta de vacas leiteiras e as influencias na produção e composição do leite, bem como na excreção do nitrogênio via urina.

Os pesquisadores utilizaram 40 vacas holandesas em terço médio de lactação, pesando em média 590 kg de peso vivo e produzindo em média 30 kg de leite, para estudarem os efeitos das dietas apresentadas na tabela 1.

Tabela 1. Ingredientes e composição das dietas experimentais.
 


A tabela 2 apresenta o desempenho produtivo das vacas alimentadas com os diferentes níveis de proteína metabolizável na dieta.

Tabela 2. Efeito do nível de proteína metabolizável oferecido a vacas leiteiras em terço médio de lactação sobre a produção e composição de leite.

 


Com base nos valores apresentados na Tabela 2, observa-se que embora não tenha ocorrido modificação no consumo de matéria seca das vacas, o consumo de proteína metabolizável apresentou um aumento linear. O mesmo comportamento ocorreu para a produção de leite, aumentando à medida que se aumentou o teor de proteína metabolizável na dieta.

Por outro lado, o mesmo comportamento não foi observado quando analisamos a produção de leite corrida para gordura, onde o comportamento foi quadrático, diminuindo no maior nível de proteína metabolizável. Esse mesmo comportamento quadrático pode ser observado para a maioria dos componentes do leite, dos quais somente a lactose apresentou comportamento linear.

Então, a produção de leite aumentou com o aumento da proteína metabolizável até 9,7% da matéria seca. Outros estudos relatados na literatura demonstraram aumento de 33,9 para 36,2 kg de leite/dia com um aumento de 8,1 para 10,2% na proteína metabolizável.

Os valores apresentados na Tabela 2 permitiram uma análise de regressão polinomial entre teor de proteína metabolizável na dieta e a produção de leite corrigida para gordura, gerando a seguinte fórmula.

LCG (kg/d) = -151 MP2 + 28,8 MP - 109 (R2 = 0,985)

Sendo:
LCG - Leite corrigido para gordura (4%)
MP - proteína metabolizável (% da matéria seca da dieta)

A partir dessa equação, pode ser estimado que a proteína metabolizável ótima é de 9,54% para a produção de leite corrigida para gordura. Similarmente, se correlacionarmos em função da proteína do leite, encontraremos um valor de 9,65%, que é muito similar ao nível ótimo observado para a produção de leite corrigida para gordura.

Se confrontarmos a recomendação do nível de proteína metabolizável desse estudo com o valor preconizado pelo NRC gado de leite, um dos principais programas utilizados para formulação de dietas para vacas leiteiras, observaremos que está 11% abaixo do recomendado (9,6 vs 10,3%). Por outro lado, se nos referendarmos em outro sistema de nutrição, o AFRC, o valor do presente estudo está 9% superior aos 8,9% recomendado por este sistema.

A eficiência de utilização e a excreção do nitrogênio dietético foram afetados pelas dietas, conforme apresentado na Tabela 3. A medida que se aumentou o suprimento de proteína metabolizável de 8,2% para 10,3%, a eficiência de conversão do nitrogênio diminuiu linearmente e as concentrações de nitrogênio sérico, na urina e no leite aumentaram linearmente.

Tabela 3. Efeito do nível de proteína metabolizável na utilização do nitrogênio e concentração de N-uréico sérico, na urina e no leite.

 


A concentração de nitrogênio na urina pode ser calculada pela seguinte equação:

UR (g/d) = 11,42 x NUL + 41,93

Sendo:
UR = Nitrogênio uréico na urina;
NUL = Nitrogênio uréico no leite (MG/dL)

Assim, a concentração de nitrogênio uréico na urina foi de 154, 168, 190 e 260 g/d para as dietas contendo 8,2, 8,9, 9,7 e 10,3% de proteína metabolizável, respectivamente. A proporção do nitrogênio na urina em relação nitrogênio ingerido foi de 38, 38, 39 e 50%, respectivamente. Portanto, o nível ótimo de proteína metabolizável não se baseia somente na produção e composição do leite, mas também na excreção de nitrogênio, associado a questões ambientais.

Considerações finais

Pode-se constatar que a adequação do nível de proteína metabolizável é importantíssima. Caso esse teor esteja abaixo do adequado, a produção de leite vai ser aquém do potencial dos animais e estaremos deixando de ganhar dinheiro. Por outro lado, caso seja acima do necessário, as excreções serão maximizadas e a contaminação do meio ambiente é inevitável, além claro, de maior custo de produção.

A concentração de nitrogênio na forma de uréia no leite pode ser um balizador para uma avaliação do nível de proteína metabolizável na dieta e da excreção de nitrogênio pela urina.

Fonte:

Journal of Dairy Science, 90:2960-5

JUNIO CESAR MARTINEZ

Doutor em Ciência Animal e Pastagens (ESALQ), Pós-Doutor pela UNESP e Universidade da California-EUA. Professor da UNEMAT.

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LUCIANO SILVA DE FREITAS

CACHOEIRA DO SUL - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 03/08/2011

Tenho   muito  pra aprender ,muito bom o artigo.
ED

SÃO LUÍS - MARANHÃO - ESTUDANTE

EM 03/08/2011

Excelente artigo !
MARCOS DE CASTRO FABRICIO

SANTA MARIA - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 07/05/2008

A utilização de uréia como fonte de nnp em dietas fornecidas para vacas em produção , e por períodos relativamente longos - uma lactação completa por exemplo- , podem trazer algum prejuízo aos animais a longo prazo , mesmo respeitando-se os limites e normas preconizadas para sua utilização?

<b>Resposta do autor</b>

Prezado Marcos,

O uso contínuo de uréia na ração de ruminantes não trará malefício algum desde que usada em rações balanceadas e em quantidades adequadas. A uréia não disponibiliza para a bactéria esqueleto carbônico, que pode ser usado para construção de aminoácidos, por exemplo. A uréia ao chegar ao rúmen é rapidamente convertida a amônia, produto este que se não for utilizado pelos microrganismos, pode fluir livremente para a corrente sanguínea e chegar inclusive ao leite. N-uréico em excesso no plasma sanguíneo faz com que os animais consumam grandes quantidades de energia (ciclo da uréia) para eliminação desta pela urina.

Altos teores de N-uréico no leite também não são interessantes, visto que a proteína de interesse é a caseína. Como no leite os componentes são proporcionais, se aumenta a uréia, algum outro componente de interesse irá diminuir. Entretanto, para evitar todo esse embólio, basta utilizar quantidades adequadas de uréia suportadas pelo metabolismo ruminal, a fim de assegurar que toda a uréia da ração seja utilizada dentro do rúmen.
FRANCISCO ARALDI JUNIOR

MARECHAL CÂNDIDO RONDON - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/03/2008

Parabéns pelo artigo. Estou pesquisando materiais sobre nitrogênio uréico no leite e este artigo foi incorporado as minhas consultas para elaboração do meu trabalho de conclusão de curso, possibilitou o esclarecimento de várias dúvidas, mas, se possível, gostaria de um esclarecimento com relação ao método de coleta de leite para análise exclusivo de N uréico.

Se a coleta for realizada manualmente (ordenha) descartando os primeiros jatos terá significância ou há variações do nitrogênio do leite do inicio da ordenha para o da metade e o do final?

O que ocorre é a indisponibilidade de medidores de leite (na maioria) nas propriedades onde serão realizadas as coletas, e como as análises serão feitas individual por vaca e não apenas do lote total, o que possibilitaria a coleta direta no tanque, portanto trenho esta dúvida com relação as coletas.

Desde já agradeço a atenção e a certeza da resposta.
Muito obrigado.
Francisco Araldi Junior

<b>Resposta do autor</b>

Prezado Francisco.

Infelizmente não tenho conhecimentos aprofundados quanto a metodologias para colete de leite para análise exclusiva para N-uréico. Nunca vi pesquisa interessada em saber se existe diferença de oncentraçâo de N-uréico no início, no meio ou no final da ordenha de uma vaca.

Talvez até porque, o leite vai todo para a linha de leite e em seguida para o tanque, onde será homogeneizado, portanto, não faz muito sentido saber e a concentração de N-uréco varia enquanto a vaca está sendo ordenhada.

Todos os protocolos que estudei para meus cursos de mestrado e doutorado recomendavam agitar o leite coletado para homogeneizar e somente então proceder a amostragem. Para um estudo mais aprofundado recomendo a Clinica do Leite da Esalq/USP, na pessoa do Prof. Dr. Paulo Machado.
LUCIANO M. REDU

OUTRO - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 07/07/2007

Tudo bem, Junio?

Na sua opinião, quais níveis de MUN são ideais num rebanho de criação semi intensiva? A coleta deve provir do tanque ou em amostras individuais do rebanho? Periodicidade da coleta de amostras? E medidas profiláticas para amenizar este problema?

Obrigado,

Um abraço.

Luciano

<b>Resposta do autor:</b>

Olá Luciano,

Não olhe o sistema de produção como um determinante de níveis de nitrogênio uréico no leite.
O leite terá mais N na forma de uréia quanto maior foi o desbalanceamento em PDR (Proteína Degrdável no Rúmen), ou excesso de N total.

A coleta pode ser feita do tanque sem problemas, lembrando somente que representará a média de todo o rebanho. As amostras podem ser feitas a cada 15 ou até mesmo mensalmente, como na maioria das propriedades que fazem esse tipo de análise.

Para amenizar o problema só corrigindo o balanço nutricional. Quanto mais perto da real exigência o nitrogênio for fornecido, menor o teor de N uréico no leite.

Valores por volta de 12 mg/dL são normais, 13 a 14 mg/dL são altos mas ainda podem ser considerados, mas acima de 15 a 16 mg/dL é forte indício que tem excesso de PDR.

Abraços,

Junio Cesar Martinez
SIEGFRIED KARL LINDER

SANTO ANDRÉ - SÃO PAULO

EM 26/06/2007

Como aposentado que trabalhou toda vida em indústria, acho a interpretação deste artigo complicado, uma vez que na maioria da Agropecuária Familiar, o pessoal estudado para esta interpretação deve ser muito limitado.

Qual seria realmente a nutrição mais adequado para vacas de 15 a 20 litros, considerando: pasto, cana, silo de milho, resíduo de cervejaria e concentrado a base de milho, farelo de soja-trigo-amendoim, polpa cítrica e mineral para ir de encontro a esta matéria publicada?

<b>Resposta do autor:</b>

Olá Sr. Siegfried, como vai o sítio Panorama?
Bom, com relação ao texto, o objetivo é trazer o que se tem de mais atual na nutrição de bovinos leiteiros. Pode-se observar nas fontes dos artigos que escrevo que são materiais publicados recentemente nas principais revistas mundiais, como por exemplo no Journal of Dairy Science, a mais importante do mundo para nossa área.

Tenho o entendimento de que novos conceitos requerem um pouco mais de leitura e treinamento para o seu completo entendimento, mas são esses os conceitos atuais que utilizamos para formulação de ração para nossas vacas de leite, portanto, temos que
nos familiarizarmos com ele se quisermos fazer as formulações de forma correta.

Quanto à sua pergunta, no momento é impossível respondê-la. Eu poderia falar de forma genérica, colocando valores de forma arbitraria nos
ingredientes citados pelo Sr., entretanto, prefiro não o fazer a fim de não cometer erro e ser criticado por fazer uma recomendação que pode não alcançar seu objetivo. Explico: pasto, qual pasto? É um braquiarão, é uma humidícola, é um Tanzânia, é um capim-elefante?

Mas só o pasto não basta, é por exemplo um capim-elefante com 38 dias de período de descanso, 30
dias, 25 dias? É um Braquiarão manejado intensivamente ou controla-se a altura de entrada e altura de saída. Esses pastos são adubados? Nós
estamos indo para o inverno, formulo a dieta sem considerar restrição de pasto ou o seu pasto está acabando? Quanto aos demais componentes, cana,
milho, polpa cítrica, etc., é fácil encontrar a composição bromatológica, mas mesmo assim é impossível formular, pois preciso saber todas as características do rebanho, como: raca da vaca (holandesas? Jersey?
Girolando?), o peso das vacas, o estágio de lactação, o escore de condição corporal, o sistema de produção (confinado ou a pasto?), quanto essa vaca caminha, etc. Jogar valores aleatoriamente e calcular qualquer um faz, fazer da forma correta e criteriosa, poucos fazem.

Talvez esse seja o motivo porque poucos produtores tenham sucesso na produção pecuária. Portanto, o objetivo do texto é informar produtores e técnicos quanto às novas descobertas científicas que contribuem para aumentar cada vez mais a precisão dos sistemas mecanísticos que os nutricionistas e produtores
podem lançar mão para balancear as suas dietas.

Quanto à formulação de uma ração para o seu rebanho, preciso de mais informações. De posse destas informações, poderei formular uma ração sem
maiores problemas. Estamos à disposição aqui no Departamento de Zootecnia da Esalq, em Piracicaba.

Grande abraço.

Junio Cesar Martinez
HELEIMAR APARECIDA MENDES

ALEGRE - ESPÍRITO SANTO - ESTUDANTE

EM 16/06/2007

Excelente artigo, serviu para tirar minhas dúvidas e me proporcionar mais conhecimento.

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