Assim, descobriu-se que uma bactéria de nome Lactobacillus buchneri é capaz de converter ácido lático em ácido acético em condições de anaerobiose, ou seja, enquanto o silo está fechado; e que esse ácido acético produzido possui a capacidade de evitar o crescimento de fungos, melhorando assim a estabilidade da silagem quando ela está exposta ao ar.
A combinação de L. buchneri com outras bactérias tem promovido ganhos positivos quanto aos atributos de silagens de grãos de cereais. Entretanto, no Brasil é muito comum a ensilagem da planta inteira de milho, portanto, o conhecimento da aplicação desta tecnologia neste tipo de material passa a ser de nosso interesse.
Esse tema já tem sido um pouco estudado e algumas implicações já podem ser feitas. Um estudo publicado no ano de 2006 relatou que a silagem de milho tratada com L. buchneri 40788 e P. pentosaceus R1094 teve fermentação normal e que sua estabilidade aeróbica não foi consistentemente melhorada. Mas, um trabalho mais antigo, datado do ano de 2002, combinando L. buchneri e L. plantarum, melhorou a estabilidade aeróbica, mas neste estudo, a estirpe específica do L. plantarum usada não foi documentada. Estudos posteriores apontam que possivelmente tenha sido a estirpe MTD-1, exatamente por ser essa a que melhor combina com o L. Buchneri 40788.
Produtores acostumados a ensilar o milho com planta inteira convivem com condições climáticas adversas, sendo que muitas vezes não e possível colher o milho no ponto ideal de matéria seca, para que a fermentação não seja prejudicada. Também, é sabido que quando se ensila um material com matéria seca alta, a falta de umidade restringe a fermentação. Neste sentido, um estudo foi publicado em agosto de 2009 no Journal of Dairy Science, o qual vamos discutir aqui.
Os pesquisadores ensilaram planta inteira de milho das cultivares Pioneer 33B51, Pioneer Hi-Bred International, Des Moines e IA, e as colheram com 33,1 e com 40,6% de matéria seca. O processo de picagem para a ensilagem foi com tamanho de partícula médio de 0,95 centímetros. Uma hora depois da picagem, foram impostos os seguintes tratamentos:
Tratamento 1: não tratado (adiciou-se somente água)
Tratamento 2: Adição de L. buchneri 40788 na concentração de 4x105 ufc/g de silagem
Tratamento 3: Adição de L. plantarum MTD-1 na concentração de 1x105 ufc/g de silagem
Tratamento 4: Adição de uma combinação de L buchneri e plantarum nas mesmas concentrações acima.
Os pesquisadores ainda determinaram as características da forragem no momento da ensilagem, conforme descrito na Tabela 1.
Tabela 1. Matéria seca, composição química e microbiana da planta inteira do milho picada para ensilagem.
Após 240 dias do fechamento dos silos, os mesmos foram abertos para serem avaliados. Os dados obtidos estão apresentados na Tabela 2 e 3.
Observou-se que não ocorreu efeito da inoculação sobre a matéria seca e sua recuperação. As concentrações de carboidratos solúveis em água de silagem normal vs silagem de alta matéria seca foram altas, ao passo que silagens tratadas com L. buchneri tiveram menor concentração de carboidratos solúveis em água do que silagens não tratadas com este inoculante, mas as diferenças foram muito pequenas para se estudar a interação existente entre microrganismo e matéria seca. As silagens tratadas com L. buchneri tiveram altas concentrações de NH3-N quando comparadas com aquelas não tratadas com L. buchneri. Fato este que difere de vários outros estudos relatados na literatura. Como esperado, as concentrações de proteína foram baixas e as concentrações FDA e FDN foram maiores na silagem com moderada alta matéria seca em comparação com a silagem normal. Independente do teor de matéria seca, a inoculação de L. buchneri ou L. plantarum sozinhos ou combinados, não afetaram a digestibilidade in vitro da fração FDN.
Tabela 2. Composição química de silagens de milho ensiladas em diferentes teores de umidade e com a utilização de inoculantes bacterianos.
Os resultados deste estudo comprovam recentes pesquisas, já com algumas publicações, mas ainda em andamento na Esalq-USP, estudando o Lactobacillus buchneri como inoculo para silagem de cana. A estabilidade aeróbica da silagem de milho foi melhorada em todas as silagens tratadas com Lactobacillus buchneri, quando comparada com a não tratada com este organismo, sendo na média, 189 horas para as silagens tratadas e 50 horas para as não tratadas, conforme se pode observar na Tabela 3.
Tabela 3. Características fermentativas, composição microbiana e estabilidade aeróbica das silagens.
Considerações finais
Observou-se que o efeito da bactéria Lactobacillus buchneri foi maior na silagem com alto teor de matéria seca, embora esse dado não seja muito consistente. Mas, independentemente do teor de matéria seca, o L. buchneri foi capaz de aumentar a estabilidade aeróbica das silagens, devido muito provavelmente, à maior produção de ácido acético nas silagens tratadas. A adição de L. plantarum não teve efeito sobre a concentração de leveduras e estabilidade aeróbica, não ocorrendo interação entre as duas estirpes de bactérias. A resposta positiva para a silagem de moderado alto teor de matéria seca é interessante para o produtor, pois esse tipo de material é de difícil compactação no silo, situação na qual este inoculo pode ser decisivo para a qualidade da silagem.
Fonte: HU,W., SCHMIDT, R.J, MCDONELL,E.E. KLINGERMAN,C.M. L. KUNG JR, L. The effect of Lactobacillus buchneri 40788 or Lactobacillus plantarum MTD-1 on the fermentation and aerobic stability of corn silages ensiled at two dry matter contents. J. Dairy Sci. 92: 3907-3914. 2009.