Nos últimos 40 anos, várias pesquisas têm sido publicadas discutindo esse assunto. As principais fontes desses lipídeos são os óleos de sementes, no Brasil principalmente o caroço de algodão e a soja grão, além da semente de girassol, mas esse último de menor importância. A Tabela 1 apresenta a composição destes alimentos.
Tabela 1. Composição média dos ácidos graxos (%) de alguns alimentos para bovinos.
Recentemente, uma revista de grande prestígio internacional, "The Journal of Dairy Science", publicou uma meta-análise muito interessante sobre o assunto, a qual será apresentado a seguir.
Segundo o artigo científico, quando se forneceu baixa quantidade de lipídeo suplementar, as quantidades e proporções dos ácidos graxos de cadeia curta (C4:0) não foram afetados. Mas, os ácidos de seis e 10 carbonos sofreram uma diminuição, exceto quando a suplementação foi feita com semente de girassol protegida da degradação ruminal.
A proteção procedida no grão de soja para evitar alta atividade ruminal e com isso reduzir o efeito deletério não foi bem sucedida, ou seja, não foi capaz de coibir a redução de ácidos graxos de seis e 10 carbonos, quando comparada com as formas não protegida de lipídios vegetais.
Observou-se que os ácidos graxos de cadeia média (C12:0; C14:0; C15:0 e C16:0) foram sempre diminuídos por todos os suplementos. O ácido graxo C12:0 é sempre o mais afetado de todas as formas. Os ácidos graxos C14:0 e C16:0 são normalmente os menos afetados.
Também, observou-se que os ácidos graxos C14:1; C16:1; C17:0 e C17:1 também foram diminuídos pela grande maioria dos suplementos, mas o C16:1 foi notadamente o menos afetado, sendo que na maioria dos casos ele não teve sua concentração modificada.
Por outro lado, as percentagens de C18:0 e C18:1 foram aumentados na presença dos suplementos lipídicos. A média de C18:0 nas dietas não suplementadas foi de 35%, enquanto que nas dietas suplementadas com lipídios o mesmo sofreu um aumento de 45 a 59%. Esse aumento foi muito constante e independente do tipo de suplemento utilizado.
Os ácidos graxos de 20 ou mais carbonos foram fracamente afetados pelos tratamentos estudados, ocorrendo pequenas reduções nas concentrações de C20:3, C20:4, C22:5 e C22:6.
Assim, normalmente os ácidos graxos de 4 e 6 carbonos reduzem linearmente. Os ácidos graxos de 10 e 14 carbonos reduzem linearmente ou quadraticamente. Normalmente, para uma suplementação média de 600 g/dia ocorre uma redução 4,5 a 5,8% nas concentrações de C10:0 e C14:0 do leite.
Os ácidos graxos de cadeia média, em especial o C16:0 diminuiu quadraticamente e em média de 5,7 a 10,1% do total de ácidos graxos, quando fornecidos na forma não protegida, e reduziram em 12,9% quando na forma protegida.
Os modelos predisseram um aumento a concentração de C18 em 11,5 a 20% do total de ácidos graxos. A semente de girassol foi capaz de aumentar a concentração de C18 mesmo quando fornecida em mais de 1 kg/animal/dia. Por outro lado, o grão de soja proporcionou um valor máximo de C18 quando fornecida entre 600 e 850 gramas/dia. De uma maneira geral, os modelos predisseram um aumento de C18 entre 3,6 a 5,6% no total de ácido graxo, para uma suplementação média de 600 gramas de lipídios. As percentagens de cis e trans C18:1 aumentou linearmente em cerca de 7% do total de ácido graxo.
Mais de duas décadas de pesquisas mostraram que o CLA (ácido linoléico conjugado) pode ajudar na redução de gordura corporal de forma muito significativa. Pesquisas mais recentes têm demonstrado também sua capacidade de manutenção e aumento de tecido muscular, o que é importantíssimo para manter um metabolismo acelerado. Seus efeitos antioxidantes também são muito conhecidos.
Em 02/01/2005 o jornal "O GLOBO" publicou uma matéria em que a chamada era a seguinte: "Para ajudar a queimar gorduras e a emagrecer, pílulas de CLA - viram febre de verão no Rio e em São Paulo". Em 07/02/2007 a revista "ISTO É" publicou a seguinte matéria: "Gordura do Bem - A capacidade do composto de reduzir lipídios está confirmada por várias pesquisas. Uma delas, feita na Universidade Estadual de Campinas, revelou uma diminuição de 18% do tecido adiposo em ratos alimentados com dieta rica na substância".
O interesse científico pelo CLA foi despertado em 1988, quando um pesquisador da universidade de Wisconsin descobriu determinadas propriedades do CLA relacionadas a manutenção da saúde. A partir daí, diversas pesquisas foram feitas com o CLA, e os resultados foram surpreendentes.
Neste estudo aqui apresentado, a meta-análise apontou que a percentagem de CLA aumentou linearmente no leite de vacas alimentadas com dietas suplementadas com lipídios, aumento este que variou de 3 a 5% do total de ácidos graxos do leite.
Considerações finais
Lipídios suplementares induzem a um aumento na percentagem de C18, resultado de um aumento na utilização pela glândula mamária de ácidos graxos de cadeia longa absorvidos no intestino e da diminuição da síntese mamária chamada de "síntese de novo".
A modificação da proporção e composição de ácidos graxos do leite mostra a sua grande plasticidade, fato este que pode ser usado em benefício da saúde humana, como no caso da redução dos ácidos graxos de 4 a 16 carbonos e aumento de ácido linoléico conjugado, de 18 carbonos.
Fonte:
Adaptado de:
GLASSER, F.; FERLAY, A.; CHILLIARD, Y. Oilseed Lipid Supplements and Fatty Acid Composition of Cow Milk: A Meta-Analysis. Journal of Dairy Science. 91:4687-4703, 2008.