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É possível atender a demanda nutricional de matrizes utilizando apenas a pastagem? Parte III de III - Fase de lactação e considerações finais

VÁRIOS AUTORES

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/03/2012

11 MIN DE LEITURA

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Na última parte desta série de artigos vamos mostrar como a pastagem pode ser utilizada para suprir as necessidades nutricionais de ovelhas e cabras em lactação. O período de lactação para matrizes de corte corresponde a quatro meses (16 semanas) e é subdivido em três períodos: início - 1ª a 6ª semana; metade - 7ª a 12ª semana; e final da lactação - 13ª a 16ª semana. Estes períodos são definidos com base nas mudanças na demanda nutricional e na produção de leite das matrizes.

As matrizes permanecem em pastejo com os cordeiros/cabritos durante a lactação. Portanto, a quantidade de forragem disponível na pastagem deve ser ajustada para atender a demanda nutricional das duas categorias. Elaborar um planejamento forrageiro que reduza ao mínimo a perda de peso e de escore de condição corporal (ECC) das matrizes, e que maximize o ganho de peso de cordeiros/cabritos é um dos maiores desafios nos sistemas que utilizam apenas a pastagem como fonte de alimento para ovinos e caprinos.

As três fases da lactação

Início da lactação

As necessidades nutricionais de matrizes são máximas nas primeiras seis semanas de lactação. Comparada à fase de mantença, as necessidades de ingestão de matéria seca (MS) e de energia são superiores em 1,6 a 2,1 vezes para ovelhas, e em 1,4 a 1,6 vezes para cabras em início de lactação. Nessa fase, a necessidade de ingestão de proteína aumenta em 2,5 a 3,4 vezes para ovelhas, e em 2,2 a 2,8 vezes para cabras em relação à fase de mantença. As necessidades de ingestão dos minerais cálcio e fósforo podem alcançar valores 2,4 a 5 vezes superiores à fase de mantença para ovelhas e cabras em início de lactação (NRC, 2007).

Mesmo em boas condições sanitárias e com ECC adequado no período pós-parto (3 a 3,5 pontos, em escala de 5 pontos), ovelhas e cabras não conseguem ingerir quantidade suficiente de alimento para atender a demanda nutricional no início da lactação. Como a ingestão de energia é menor que a demanda, as matrizes apresentam quadro de balanço energético negativo e dependem de suas reservas energéticas para manter a produção de leite. Por isso é importante manter o ECC entre 3 e 3,5 pontos na fase de gestação para garantir o acúmulo de reservas energéticas corporais que são mobilizadas no início da lactação. Nessa fase a diminuição de 1 a 1,5 pontos no ECC é normal para ovelhas e cabras em lactação.

Além da diminuição no ECC, as matrizes apresentam perda de peso no início da lactação. Perdas de peso que variam de -45 a -25 g/animal/dia para ovelhas, e de -70 a -30 g/animal/dia para cabras são consideradas normais nessa fase (Tabela 1). A intensidade destas perdas é influenciada pelo ECC no pré e no pós-parto, pela condição nutricional e sanitária, e pelo potencial de produção de leite das matrizes, assim como pelo número de cordeiros/cabritos em amamentação. Matrizes que iniciam a fase de lactação com ECC baixo (menor que 3 pontos), com alguma enfermidade ou com elevada infecção parasitária, ou que são alimentadas com dieta de baixa qualidade podem apresentar maior perda de peso no início da lactação. Nessas condições, as matrizes apresentam menor produção de leite, o que determina baixo ganho de peso aos cordeiros/cabritos.

Tabela 1 - Necessidade de ingestão de alimento, quantidade e qualidade da forragem que deve ser ofertada na pastagem, e desempenho esperado nas três fases da lactação para ovelhas e cabras de corte com dois cordeiros/cabritos ao pé



Matrizes em início de lactação devem ter acesso à forragem de alta qualidade na pastagem. A forragem deve apresentar 12 a 16,5% de proteína bruta (PB) e 53 a 67% de nutrientes digestíveis totais (NDT). Pastagens com alta proporção de folhas formadas por gramíneas de inverno como azevém (Lolium multiflorum Lam.) e aveia (Avena strigosa Schreb.), ou por gramíneas tropicais dos gêneros Cynodon, como as diversas cultivares de capim bermuda (Coastcross-1, Florakirk, Tifton-85, etc.) podem atingir estes teores de PB e NDT. No entanto, com o avanço do período de utilização destas pastagens, o teor de fibra das gramíneas aumenta rapidamente. Isso leva a diminuição da digestibilidade e, consequentemente, da disponibilidade de nutrientes na forragem ingerida pelos animais.

Portanto, recomenda-se que as matrizes permaneçam em pastagens de gramíneas consorciadas com leguminosas, ou que tenham acesso a pastagens formadas apenas por leguminosas (bancos de proteína) no início da lactação. As diversas espécies de trevos (branco - Trifolium repens, vermelho - Trifolium pratense, vesiculoso - Trifolium vesiculosum), o cornichão (Lotus corniculatus e Lotus pedunculatus) e o amendoim forrageiro (Arachis pintoi) são leguminosas de alta qualidade utilizadas em consorciação com gramíneas ou na forma de bancos de proteína (Stivari et al., 2011). Estas estratégias, que são as mesmas utilizadas para matrizes em final de gestação, permitem a ingestão de forragem de alto valor nutritivo, o que tem reflexo positivo na produção de leite e no ganho de peso dos cordeiros/cabritos.

O potencial de ingestão de alimento na lactação pode ser estimado com base no peso corporal (PC) das matrizes e no número de cordeiros/cabritos em amamentação. O consumo de MS por matrizes em início de lactação com dois cordeiros/cabritos pode variar de 1,45 a 3,2 kg MS/animal/dia para ovelhas, e de 0,65 a 2,05 kg MS/animal/dia para cabras (Tabela 1). Entretanto, a oferta de forragem na pastagem não pode ser calculada apenas com base no potencial de ingestão de MS das matrizes, pois os cordeiros/cabritos permanecem com as mesmas na pastagem. Apesar da ingestão de forragem e de alimentos sólidos ser baixa até as quatro a seis semanas de idade (Kenyon & Webby, 2007; Silva et al., 2010), o consumo de MS por cordeiros/cabritos pode representar 23 a 47% do potencial de ingestão de MS de matrizes em início de lactação (NRC, 2007). Portanto, nesta e nas demais fases da lactação a oferta de forragem deve ser calculada com base no potencial de ingestão de MS das matrizes e dos cordeiros/cabritos (Tabela 2).

Metade da lactação

A metade da lactação compreende o período entre a 7ª e a 12ª semana de lactação, no qual as necessidades nutricionais das matrizes são inferiores as primeiras seis semanas de lactação. A partir da 7ª semana de lactação a demanda por energia, proteína, cálcio e fósforo diminui em relação ao início da lactação, e a quantidade de alimento ingerida pelas matrizes é suficiente para atender suas necessidades nutricionais (NRC, 2007). Dessa forma, o balanço energético na metade da lactação passa a ser "nulo" e, em condições normais, perdas de peso e de ECC não devem ser observadas a partir da 7ª semana de lactação.

O ECC deve permanecer entre 2 e 2,5 pontos, e as matrizes não devem perder ou ganhar peso na metade da lactação (Tabela 1). Isso ocorre porque a quantidade de nutrientes consumida nessa fase é suficiente para suprir apenas as necessidades de mantença e de produção de leite das matrizes. Ofertas de forragem de média qualidade (12% de PB e 53% de NDT) são suficientes para atender a demanda nutricional de matrizes mantidas em pastagem. Assim, pastagens formadas por gramíneas de inverno (azevém e aveia) ou tropicais (dos gêneros Cynodon, Panicum e Brachiaria) manejadas de forma adequada (consultar o primeiro artigo) são recomendadas para ovelhas e cabras na metade da lactação.

Apesar das necessidades nutricionais de matrizes na metade da lactação serem atendidas com forragem de média qualidade, esta não é suficiente para atender a demanda nutricional e maximizar o ganho de peso dos cordeiros/ cabritos. Nesse caso, três estratégias podem ser utilizadas para este fim: 1) manter matrizes e cordeiros/cabritos na pastagem de alta qualidade utilizada no início da lactação, ajustando-se a oferta de forragem com base nas duas categorias; 2) ofertar suplemento concentrado com teores elevados de proteína e energia (iguais ou maiores que 20% de PB e 70% de NDT) em cochos com acesso restrito aos cordeiros/cabritos (creep feeding); 3) permitir o acesso exclusivo destes animais a pastagens de alta qualidade (com alto teor de proteína e alta digestibilidade) formadas por gramíneas, leguminosas ou ambas as espécies em consórcio (creep grazing). Essas estratégias podem determinar ganhos de peso iguais ou superiores a 300 g/dia, conforme demonstrado para cordeiros produzidos em pastagens de verão (Poli et al., 2008) e de inverno (Ribeiro et al., 2009; Silva, 2010).

Em pastagens de média qualidade, o consumo de MS para matrizes na metade da lactação com dois cordeiros/cabritos ao pé pode variar de 1,55 a 3,4 kg MS/animal/dia para ovelhas e de 0,95 a 2,50 kg MS/dia para cabras (Tabela 1). Na medida em que o período de lactação avança, a produção de leite das matrizes diminui e os cordeiros/cabritos aumentam a ingestão de forragem para suprir sua demanda nutricional. Dependendo do PC e do potencial de ganho de peso destes animais, o consumo de MS pode representar 27 a 65% do potencial de ingestão de MS das matrizes (NRC, 2007).

Final da lactação

O final da lactação corresponde ao período entre a 13ª e 16ª semana de lactação, no qual as necessidades nutricionais das matrizes atingem o limite mínimo. A quantidade de alimento, nutrientes e energia ingeridos por ovelhas e cabras nas últimas quatro semanas de lactação pode exceder a demanda nessa fase. Nessa condição, o balanço energético no final da lactação passa a ser positivo e as matrizes devem apresentar recuperação do PC e das reservas corporais que foram perdidas no início da lactação. Além do aumento no ECC, ganhos de peso de 20 a 50 g/animal/dia para ovelhas e de 25 a 55 g/animal/dia para cabras devem ser observados no final da lactação (Tabela 1).

Matrizes e cordeiros/cabritos devem permanecer na mesma pastagem utilizada a partir da metade da lactação, assim como as estratégias adotadas nessa fase para atender a demanda nutricional dos cordeiros/cabritos devem ser mantidas. O consumo de MS por matrizes em final de lactação com dois cordeiros/cabritos ao pé pode variar entre 1,45 e 3,25 kg MS/animal/dia para ovelhas, e entre 0,85 a 2,25 kg MS/animal/dia para cabras em pastagens de média qualidade (Tabela 1). Dependendo do PC e do potencial de ganho de peso dos cordeiros/cabritos, a ingestão de MS pode representar 40 a 94% do potencial de ingestão de MS das matrizes (NRC, 2007).

Estimativa da oferta de forragem para matrizes em lactação

As ofertas de forragem no início, na metade e no final da lactação podem ser calculadas para matrizes e cordeiros/cabritos em relação ao peso corporal médio (PCM) das matrizes (Tabela 2). As equações desenvolvidas com base no NRC (2007) e nos conceitos estabelecidos por Hodgson (1990) permitem estimar a oferta de forragem necessária para maximizar a ingestão de forragem e o desempenho animal em condições de pastejo.

As equações foram ajustadas para potencializar a ingestão de forragem e a produção de leite das matrizes, e para obtenção de ganhos de peso que variam de 200 a 300 g/dia para cordeiros, e de 150 a 250 g/dia para cabritos. Utilizando o mesmo critério da fase de gestação (consultar o segundo artigo), as equações foram desenvolvidas com base nas necessidades nutricionais de ovelhas e cabras em lactação com dois cordeiros/cabritos ao pé.

Tabela 2 - Equações de estimativa de oferta de forragem (kg MS/animal/dia) para matrizes e cordeiros/cabritos durante a fase de lactação



Conforme foi enfatizado nas demais fases, os animais devem ter acesso irrestrito à suplementação mineral e a água potável de boa qualidade. Ofertar suplemento mineral à vontade para ovelhas e cabras em lactação é importante, pois a demanda por minerais é alta nessa fase e deve ser atendida para não limitar a produção de leite. Cordeiros/cabritos também têm alta demanda por minerais devido à alta taxa de crescimento e a participação destes nutrientes na deposição de tecido muscular e ósseo.

Considerações finais (Partes I, II e III)

Demonstramos por meio desta série de artigos que a demanda nutricional de ovelhas e cabras pode ser atendida utilizando-se apenas a pastagem como fonte de alimento. No entanto, isso está condicionado ao uso de matrizes com tamanho corporal adequado (pequeno a médio porte); a disponibilidade e ao potencial de produção de forragem de alta qualidade ao longo do ano; a um planejamento forrageiro eficiente, onde as áreas de pastagens são manejadas e adubadas corretamente; e, por fim, ao monitoramento frequente da condição nutricional e sanitária das matrizes.

As equações para cálculo de oferta de forragem permitem estimar a quantidade de forragem necessária que deve estar disponível na pastagem para atender a demanda nutricional das matrizes nas diferentes fases dentro do sistema de produção. Portanto, elas podem ser utilizadas como ferramentas auxiliares na elaboração do planejamento forrageiro para ovinos e caprinos.

Referências bibliográficas

HODGSON J. Grazing management: science into practice. New York: John Wiley & Sons, 1990. 203p.

KENYON, P.R.; WEBBY, R.W. Pastures and supplements in sheep production systems. In: RATTRAY P.V.; BROOKES I.M.; NICOL A.M. (Eds.) Pasture and supplements for grazing animals. 14 ed. Hamilton: New Zealand Society of Animal Production, 2007. p.255-274.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of small ruminants: sheep, goats, cervids and new world camelids. Washington: National Academy Press, 2007. 362p.

POLI, C.H.E.C.; MONTEIRO, A.L.G.: BARROS, C.S. et al. Produção de ovinos de corte em quatro sistemas de produção. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.4, p.666-673, 2008.

RIBEIRO, T.M.D.; MONTEIRO, A.L.G.; PRADO, O.R. et al. Desempenho e características das carcaças de cordeiros em quatro sistemas de produção. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.10, n.2, p.366-378, 2009.

SILVA, J.J.; COSTA, C.; DUCATTI, C. et al. Determinação da fase lactente-ruminante de cordeiros pela técnica do 13C. Ciência Animal Brasileira, v.11, n.2, p.264-270, 2010.

SILVA, C.J.A. Estratégias de suplementação e desmame precoce de cordeiros e sua influência nas características da pastagem e na produtividade animal. 2010. 93f. Tese (Doutorado em Agronomia) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2010.

STIVARI, T.S.S.; MONTEIRO, A.L.G.; PAULA, E.F.E. et al. Leguminosas na alimentação de ovinos: possibilidades de uso e resposta animal. PUBVET, v.5, n.32, p.1-20, 2011.

SERGIO RODRIGO FERNANDES

Zootecnista pela UFPR. Mestre e atualmente doutorando em Ciências Veterinárias na UFPR. Participa de pesquisas com sistemas de produção de bovinos (LAPBOV-UFPR), caprinos e ovinos para corte (LAPOC-UFPR). Atua na área de nutriçao de ruminantes.

LUCIANA HELENA KOWALSKI

Médica Veterinária pela UFPR. Mestranda em Nutrição e Produção Animal pela UFPR- Campus Palotina. Tem experiência e atua na área de produção e reprodução de ovinos e caprinos.

DAMARIS FERREIRA DE SOUZA

Médica Veterinária pela UFPR. Com experiência em ovino e caprinocultura.

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MARCOS CAETANO DE OLIVEIRA

VITÓRIA DE SANTO ANTÃO - PERNAMBUCO - PRODUÇÃO DE OVINOS DE CORTE

EM 17/10/2012

Quanto é benéfico ou maléfico mel de furo no capim passado em forrageira. falo( 50ml de mel em 3,6 litros de água para 20 kg de forragem).

                                                                        ( marcoscaetanodeoliveira@hotmail.com)
MARCELO TAVARES PINHEIRO

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RIO DE JANEIRO - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 05/04/2012

Parabéns! Muito bom artigo.

Poderia haver um link visando a facilitar o acesso aos demais artigos deta série.

Abraços.

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