O rendimento verdadeiro é obtido com a divisão do peso da carcaça quente pelo peso corporal vazio (peso vivo ao abate subtraído do peso do conteúdo gastrintestinal). O rendimento comercial é obtido pela divisão do peso da carcaça fria pelo peso do animal vivo antes do abate. Seu valor pode variar conforme a raça, peso ao abate, idade de abate, nutrição, sexo, etc.
O peso da carcaça totaliza a quantidade de tecido, ou seja, e a soma de músculo, osso e gordura. Já a conformação da carcaça indica, de forma indireta, a quantidade de músculo, ou seja, de carne. Uma conformação boa é aquela que apresenta equilíbrio em todas as partes da carcaça, mas com maior valorização para as que têm maior concentração muscular nas partes nobres da carcaça, como o pernil.
O índice de compacidade da carcaça e da perna faz uma avaliação da quantidade de músculo e gordura em relação ao comprimento da peça. O índice de compacidade da carcaça é feito pela divisão do peso da carcaça fria pelo comprimento interno da carcaça. E o índice de compacidade da perna é obtido pela largura da garupa dividida pelo comprimento da perna.
No trabalho de Santello et al. (2006), foram usadas cordeiras de cruzas Dorset x Santa Inês abatidas com 30 kg de peso vivo, e criadas confinadas ou mantidas em pastejo com suplementação de concentrado. Até o desmame os animais tiveram acesso a ração pelo sistema de creep feeding (ração com 20% PB, 3,0 Mcal de EB/kg na MS, 1,46% de Ca e 1% de P).
A composição da dieta dos animais confinados tinha em média 15,46% PB, 4,32 Mcal de EB/kg na MS. E os animais do semi-confinamento receberam uma suplementação de 27% PB e 4,51 Mcal de EB/kg na MS. O pasto utilizado foi o coast-cross, com 10,21% PB, 4,01 mcal de EB/kg na MS e 66,42% de FDN. O preço do quilo da ração do confinamento foi de R$ 0,39 e do semi-confinamento de R$ 0,54. Provavelmente a suplementação do semi-confinamento ficou mais cara devido a maior quantidade de soja presente na sua composição.
Na Tabela 1 observa-se a idade de abate (IA), o peso vivo ao abate (PVA), condição corporal (CC), peso da carcaça quente (PCQ), peso da carcaça fria (PCF), rendimento verdadeiro (RV) e rendimento comercial (RC), índice de compacidade da carcaça (ICC), índice de compacidade da perna (ICP).
Tabela 1. Médias de medidas do animal e carcaça de cordeiros cruzas Dorset com Santa Inês terminadas em confinamento e em pastagem mais suplementação.
Não houve diferença entre os sistemas de terminação para as característica de carcaça avaliadas, o que indica que carcaças de cordeiros terminados no pasto e no semi-confinamento, abatidos com idade semelhantes, são iguais.
Não houve problema com verminose nos animais do semi-confinamento devido ao manejo adotado: eram recolhidos no período noturno em instalações cobertas e piso suspenso, e soltos na pastagem após a secagem do orvalho e feito controle da verminose com uso de vermífugo.
Os autores fizeram um levantamento de custo, sendo considerados o preço de mercado dos ingredientes da ração de confinamento e do suplemento, e o valor pago na região pela carcaça de cordeiro (R$7,00/kg).
Para o sistema de terminação na pastagem foi atribuído o custo com o arrendamento da pastagem, referente ao valor pago na região com o arrendamento para plantio de cana-de-açúcar. Observaram que o semi-confinamento foi mais lucrativo, e justificam devido ao custo total da ração consumida (quantidade de ração) ser maior pelos animais confinados. Outro ponto importante é que o ganho de peso dos animais no confinamento não foi satisfatório, sendo inferior a 200 g/animal/dia. A renda líquida obtida para 100 cordeiras terminadas no confinamento foi de R$ 2.608,54 e no semi confinamento de R$ 3.210,01.
Desta forma pode-se concluir que o sistema de terminação do pasto com suplementação ou no confinamento não influenciou na qualidade da carcaça. Porém pela análise de custo, recomenda-se a terminação das cordeiras em sistema de pastagem + suplementação.
Almeida et al. (2006), comparou cordeiros machos das raças Ideal, cruzas ½ Border Leicester x ½ Ideal e ¾ Border Leicester x ¼ Ideal, terminados em pastagem cultivada, pastagem cultivada mais suplementação e pastagem natural + suplementação (PNS), na região de São Borla no Rio Grande do Sul. Eles observaram que a suplementação de animais em pastagem possibilita a obtenção de animais com carcaça mais pesada (maior peso da carcaça fria e rendimento de carcaça) quando comparado com os animais terminados somente no pasto.
Frescura et al (2005), estudaram cordeiros cruza Ile de France x Texel, terminados em pastagem de azevém, ou confinado com alimentação privativa previa (creep feeding), ou confinados sem receber alimentação privativa previa. Concluíram que não houve diferença entre as medidas de qualidade de carcaça entre os cordeiros, assim como o seu desempenho foi semelhante.
Ao avaliar esses trabalhos, com foco na qualidade da carcaça, pode-se concluir que não há diferença entre animais terminados no confinamento e no semi-confinamento, bem alimentados (dieta balanceada e alimento a vontade) e com ótimo controle sanitário (principalmente a verminose). O que o produtor deve fazer é um bom planejamento da sua criação, em todas as etapas, para ser o mais eficiente possível, levando em consideração a disponibilidade de mão de obra treinada, custo da alimentação, instalações, preço da terra, consumo de ração, vermífugo, etc., e só então avaliar o custo beneficio (R$ = lucro) de cada sistema de terminação para poder definir qual deverá ser empregado.
Literatura citada
ALMEIDA, H. S. L., et al. Características de carcaça de cordeiros Ideal e cruzas Border Leicester x Ideal submetidos a três sistemas alimentares. Ciência Rural, v. 36, n. 5, p. 1546 - 1552, 2006.
FRESCURA, R. B. M., et al. Sistema de alimentação na produção de cordeiros para abate aos 28 kg. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 34, n. 4, p. 1267 - 1277, 2005.
SANTELLO, G. A., et al. Características de carcaça e análise do custo de sistemas de produção de cordeiros ½ Dorset Santa Inês. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 35, n. 4, p. 1852 - 1859, 2006 (supl).