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Depressão da gordura do leite: efeito das fontes de ácidos graxos da dieta - Parte I

POR DAVI BRITO DE ARAUJO, M.V., M.S., M.A.B.

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 05/07/2016

8 MIN DE LEITURA

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O leite, alimento indispensável no nosso dia a dia, é composto por vários nutrientes sendo que os mais abundantes são a água, os açúcares, proteína, gordura, minerais e vitaminas. Entre todos estes nutrientes, a concentração ou teor de gordura é o componente que mais sofre variação, e este é afetado por inúmeros fatores fisiológicos e ambientais, entre eles, a alimentação e o manejo nutricional dentro da fazenda.

Quando observamos quedas drásticas no teor de gordura do tanque, geralmente valores que vão abaixo de 3,3%, ou inversão na relação entre a concentração de gordura e proteína, isto é, a razão do teor de gordura e proteína é menos que um (gordura/proteína<1) podemos estar identificando um grande desafio na produção de leite conhecido como DGL ou depressão na gordura do leite.

A DGL é causada por mudanças específicas no padrão de fermentação ruminal. Nesse caso, alterações de biohidrogenação ruminal de ácidos graxos insaturados, provenientes da dieta, resultam na passagem para o intestino, de novos subprodutos intermediários, que subsequentemente, causam redução na síntese de gordura pela glândula mamária. Entre todos os fatores nutricionais que possam comprometer a produção de ácidos graxos pela glândula mamária, resultando em DGL, dois são fundamentais: oferta de ácidos graxos poli-insaturados da dieta e alteração no padrão de fermentação ruminal.

Nos mais variados sistemas de produção de leite no Brasil, a baixa oferta e qualidade do volumoso tendem a ser substituídas por maiores níveis de concentrado na dieta, e estes grãos, além da grande quantidade de amido e carboidratos não fibrosos (CNF) altamente fermentescíveis, podem apresentar maiores concentrações de óleos e gorduras, provenientes principalmente de subprodutos de oleaginosas, tais como soja, algodão, amendoim, girassol e canola.

Dessa forma, os baixos valores de sólidos encontrados no nosso leite estão intimamente ligados aos inúmeros desafios de manejo na rotina diárias das nossas fazendas. A manutenção de níveis ótimos de produção de gordura no leite representa valores que vão além da remuneração feita pelo laticínio, uma vez que a capacidade de síntese de ácidos graxos pela glândula mamária representa, inclusive, um importante marcador de saúde, e consequentemente, produtividade do rebanho.

Síntese de gordura no leite

A gordura do leite é composta por dois grupos principais de ácidos graxos. Geralmente, 50% dos ácidos graxos do leite são formados por ácidos graxos de cadeia longa, isto é, maiores ou iguais a 16 carbonos. Os outros 50% são formados por ácidos graxos de cadeia curta e média, ou seja, menores ou iguais a 14 carbonos. Os ácidos graxos de cadeia longa (>16 C) são provenientes tanto da quantidade de óleo e gordura da dieta, como também da gordura originada na queima da reserva corporal. Ambos são captados pela glândula mamária e incorporados à gordura do leite.

Os ácidos graxos de cadeia curta (<14 C) são sintetizados pela glândula mamária, por precursores como acetato e butirato, através de um mecanismo conhecido por “de novo síntese”. Quando ocorre DGL, os ácidos graxos que apresentam concentração reduzida são aqueles com 14 C ou menos. Esse resultado é um indicativo que a DGL ocorre quando a própria glândula mamária diminui sua própria produção de gordura (Figura 1)

Biohidrogenação ruminal

Mesmo que, geralmente, dietas de ruminantes contenham baixa concentração de óleos e gorduras quando comparadas com as dietas de outras categorias animais, o fornecimento de alguns tipos de forragem, grãos, suplementos a base de óleos e outros subprodutos para vacas de leite podem resultar em significante ingestão de ácidos graxos poli-insaturados. Os ácidos graxos provenientes da dieta na sua maioria são esterificados na forma de triglicerídeos. Uma vez no rúmen, os ácidos graxos são hidrolisados e os ácidos graxos insaturados resultantes passam a ser isomerizados, quando ocorre mudança da posição da dupla ligação, e biohidrogenados, quando ocorre remoção da dupla ligação ou insaturação (Figura 2).

Figura 1. Síntese de ácidos graxos pela glândula mamária.

Figura 2.
Exemplo de triglicerídeos e de ácido graxo insaturado.

É importante lembrar que a extensão da biohidrogenação e a formação de ácidos graxos intermediários são determinadas pelas propriedades de cada fonte de gordura, tempo de retenção no rúmen e características da população microbiana. Fatores inerentes à dieta que modificam o padrão de fermentação ruminal, principalmente a alta concentração de amido, alta concentração de óleos e inclusão de monensina sódica alteram o metabolismo ruminal de ácidos graxos, resultando numa população microbiana que utiliza caminhos alternativos para biohidrogenação. Quando esses caminhos alternativos não se completam, o risco de DGL aumenta.

Os ácidos graxos do tipo trans- são metabólicos intermediários normalmente encontrados no líquido ruminal (Figura 3). Eles são sintetizados durante o processo de biohidrogenação de ácidos graxos poli-insaturados pelos micro-organismos do rúmen. Uma vez que a hidrogenação de ácidos graxos insaturados é incompleta, a passagem de ácidos graxos trans- para o duodeno aumenta.

Figura 3. Biohidrogenação durante fermentação ruminal normal e alterada.

Depressão da gordura do leite

Pesquisadores das universidades de Cornell e Maryland observarem que a DGL está relacionada com a quantidade de ácidos graxos intermediários ou do tipo trans- sintetizados no rúmen, absorvidos pelo intestino delgado e incorporados pela glândula mamária na gordura do leite. Quando as concentrações de ácidos graxos trans- do leite aumentam, a concentração total de gordura do leite diminui (Figura 4). Observe que após a infusão de ácidos graxos do tipo trans-, o teor de gordura caiu de 3,3 para 2,6% e de 4,1 para 3,2% nos experimentos de Cornell e Maryland, respectivamente.

Figura 4. Concentração de gordura no leite após infusão de ácidos graxos do tipo trans-:


Concentração de gordura na dieta

Aumentar a concentração de ácidos graxos insaturados na dieta pode causar inúmeras mudanças na distribuição da população microbiana e alterações características fermentativas do rúmen. Uma vez que algumas populações de micro-organismos ruminais são mais sensíveis que outros, essas mudanças redirecionam a forma que a biohidrogenação acontece, causando acúmulo de ácidos graxos trans-, resultando em DGL. Na figura 5 podemos observar algumas das principais fontes de ácidos graxos insaturados na dieta de bovinos de leite no Brasil.

Considerando dietas típicas brasileiras em que a fonte de concentrado é basicamente milho, soja e algodão; e a fonte de volumoso é silagem de milho e gramíneas, a concentração de ácidos graxos insaturados, principalmente aqueles com duas ligações ou mais é bastante abundante. Dessa forma devemos realmente ser cautelosos em qualquer inclusão ou mudança de níveis de gordura da dieta, uma vez que pequenas mudanças podem causar grandes alterações na fermentação e microbiota ruminal, resultando em DGL.

Estudos realizados por pesquisadores na Universidade de Michigan ilustram muito bem a intensidade da DGL quando fontes de ácidos graxos insaturados é parte da alimentação de vacas em lactação. Ainda, quanto mais insaturações conter as fontes de gordura adicionadas à dieta, mais acentuada a queda nas concentrações de gordura do leite (Figura 6).

Figura 5
. Composição de ácidos graxos de ingredientes típicos em dietas de vacas de leite no Brasil.



Figura 6. Efeito da adição de diferentes fontes de gorduras, de acordo com o grau de insaturação, em dietas de vacas de leite em lactação.



Alternativas para driblar a DGL

Recentemente, pesquisadores da Esalq, Universidade de São Paulo, em Piracicaba, demonstraram os efeitos da suplementação de duas fontes distintas de gordura inerte na alimentação de vacas de leite cruzadas em sistema de pastejo rotacionado ao longo da lactação e seus efeitos na produção de leite e sólidos em geral (Figura 7).

Figura 7. Produção e composição de leite de vacas suplementadas com gordura inerte durante a lactação.



Em relação ao controle, ambas as fontes de gordura aumentaram a produção de leite diária, e ainda quando comparada às duas fontes, a suplementação de óleo de palma foi superior à soja. Uma vez que o óleo de soja é rico em gordura poli-insaturada (ver descrição da figura 5), principalmente ácido linoleico, esperava-se as vacas suplementadas com essa fonte apresentassem DGL, porém, é interessante frisar que os efeitos da DGL são corrigidos quando outra fonte de gordura - no caso óleo de palma - é utilizada.

O óleo de palma apresenta mais de 50% de gordura saturada, que por não apresentar duplas ligações, afeta de maneira mínima a biohidrogenação e consequentemente proporciona aos animais uma produção de leite pela glândula mamária adequada. Mais uma vez observa-se como o aumento de óleos e gordura ricos em ácidos graxos poli-insaturados pode comprometer o teor de gordura no leite, principalmente em dietas típicas brasileiras.

Considerações finais

No artigo de hoje apresentamos o que é e como acontece a chamada DGL, e como a concentração de ácidos graxos poli-insaturados pode afetar a síntese de gordura pela glândula mamária. Suplementação de gordura é comumente utilizada para aumentar a densidade energética da dieta e otimizar a produção de leite. Nem todas as fontes de óleos e gordura disponíveis para alimentação de bovinos são iguais. Conhecer que tipo de ácidos graxos e o processo como são produzidos e extraídos de cada fonte é importante na hora da tomada de decisão da inclusão ou não desses produtos nas dietas de nossas vacas.

De maneira geral, fontes de gordura oriundas de óleo de palma que apresentam uma concentração de ácidos graxos saturados e monoinsaturados maior que de outras fontes vegetais como soja, girassol e milho favorecem a concentração de gordura no leite em dietas de baixa quantidade e qualidade de forragem com alta concentração de grãos. Realidade muito comum em dietas de vacas em lactação no Brasil. Lembre-se de considerar que os potenciais efeitos da suplementação de cada tipo gordura nas dietas de vacas de leite é ferramenta essencial para maximizar consumo, produção de leite e ainda evitar a prevalência de DGL, mantendo assim teores adequados de gordura no tanque.
 

DAVI BRITO DE ARAUJO, M.V., M.S., M.A.B.

Pecuarista e veterinário formado na Unesp-Botucatu. Atuou por 6 anos nos EUA em pesquisas relacionadas a saúde, nutrição e reprodução de bovinos (leite/corte). Tem 2 mestrados pela University of Florida.Hoje atua na área técnica de bovinos no Brasil.

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ALAN DIEGO DE OLIVEIRA

ARVOREDO - SANTA CATARINA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 11/01/2024

Boa tarde, tudo bom?

Parabéns pelo conteúdo, estou procurando mais sobre a relação gordura/proteína do leite, algo mais aprofundado que seja capaz de me dizer mais sobre o animal ou seu estado metabólico, teria algum material pra me indicar? Qual a relação ideal pra manter o animal, e se fugir dessa relação o que significa? Obrigado.
JUNIOR CESAR RIZZI

DOIS VIZINHOS - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 19/12/2017

Boa tarde Davi

Parabens artigo muito esclarecedor.

Sempre tive a intenção de utilizar soja grão tostado em minhas dietas

Meu rebanho esta sendo manejado em pastejo rotativo, irrigado e com altos niveis de adubação compondo aproximadamente 50% do volumoso, sendo o restante do volumoso silagem de milho

Suplementadas com concentrado 3x ao dia(Milho + f. soja)

Nestas condições poderia utilizar soja grão tostado considerando o limite maximo de 6% de gordura "não protegida" na dieta total
DAVI BRITO DE ARAUJO, M.V., M.S., M.A.B.

PESQUISA/ENSINO

EM 25/07/2016

Caro Marco Figueroa,



`Por favor dê uma olhada nesse artigo publicado alguns anos atrás aqui no Milkpint por um grupo de ex-alunos do Pror. Dr. Flavio A. P. Santos da Esalq-USP. Pode auxilia-lo



https://www.milkpoint.com.br/radar-tecnico/nutricao/suplementacao-de-gordura-para-vacas-leiteiras-em-pasto-84531n.aspx



DAVI BRITO DE ARAUJO, M.V., M.S., M.A.B.

PESQUISA/ENSINO

EM 25/07/2016

Caro Paulo Sergio,



Dietas com sub-produtos de oleagenosas ricas em óleos pode contribuir muito para DGL, principalmente em dietas em que ainda valorize os niveis de amido e/ou CNF. Vale a pena ficar atento, principalmente se sua fonte de volumos principal for silagem de milho.



Alguns programas de formulação são preciosos em indicar a relação de gordura saturada em e poliinsaturada. O óleo da soja é rico em ácido linoléico (C18:2) que combinado com outros ingredientes da dieta pode estar estrapolando. Fique atento.


MARCO FIGUEROA

PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 07/07/2016

Excelente articulo Dr. Davi, me gustaría ver algunos resultados en Brasil vacas cruzadas en pastoreo rotasionado y sobre todo hasta que % en la ingesta de Materia Seca (MS) en grasa Sales de Ca en Oleo de Palma afecta el consumo de Consumo de Materia  Seca (CMS). Fuerte abrazo desde Venezuela.
PAULO SERGÍO TERUEL

AVARÉ - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 07/07/2016

Obrigado Dr Davi ,venho tendo esse problema e agora credito a causa ao fornecimento de farelo de soja com auto teor de óleo . Estou revendo a dieta.
JOSÉ EDIRARDO QUEIROZ FREIRE

FORTALEZA - CEARÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 06/07/2016

Devemos sempre ter o cuidado de mantermos a relação de gordura e proteina bem próximo um do outro.

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