O produtor, e mesmo o técnico de campo, no Brasil utiliza poucas técnicas no controle parasitário. Uma entrevista nacional revelou que, caso seja indagado, ele sabe dos principais: tratamento com produtos químicos, rotação de pastagem, rotação de "tipos" de drogas e o aumento da dose dos produtos. Porém, como o objetivo é "limpar" os animais de forma rápida, o controle acaba sendo feito, quase que exclusivamente, por meio do tratamento químico. Existem várias formas de administrar tais produtos e este procedimento é tão comum que já é, erroneamente conhecido como vacinação dos animais, mesmo quando o produto é por via oral.
Os medicamentos administrados por via oral (benzimidazóis, levamisol, closantel, lactonas macrocíclicas - ivermectina e moxidectina) podem atingir os vermes por duas vias: (1) diretamente no abomaso/intestino/pulmão na sua forma livre ou (2) através do sangue, depois de absorvido e distribuído. Em ambos os casos, a concentração da droga deve ser tóxica o suficiente para causar a morte do parasita, eliminando até as fases imaturas e/ou inibidas. Deve-se observar que o tempo de ação das drogas varia de acordo com a classe do composto utilizado e a espécie animal.
A duração do período de eliminação representa o tempo em que o composto estará acima do seu nível tóxico (Figura 1). Este período é chamado de "período de eliminação ou zona da morte", pois os níveis da medicação estão acima do que é tolerável pelo parasita. Vale ressaltar que cada espécie de parasita apresenta um limite tóxico próprio e cada produto tem uma "zona da morte" característica, devido a particularidades farmacológicas. Por exemplo: o oxibendazol, que é um benzimidazol, é indicado para o tratamento e profilaxia de verminoses gastrintestinais e pulmonares de pequenos ruminantes, apresenta um período de eliminação menor do que a ivermectina (macrolactona).
Figura 1. Curva de concentração da droga no sangue e área de eliminação parasitária (Zona da morte). Quanto maior a zona da morte, maior será o período de eliminação e duração da eficácia da droga.
Para se obter um efeito positivo da aplicação oral deve-se obedecer alguns pontos importantes:
- Aplicação correta: de pouco valerá estabelecer o peso do animal, se a aplicação da droga não for feita de maneira correta. O técnico deve se certificar de que o aplicador ou a pistola dosadora está sobre a língua do animal e que a droga será depositada no fundo de sua boca. O objetivo é que a droga passe primeiro pelo rúmen, onde será biodegradada, sendo mais facilmente metabolisada e transportada para outras câmaras do sistema digestório, onde será absorvida. Isto irá aumentar sua concentração na circulação do animal, maximizando seu efeito. Depositar a droga na parte da frente da boca do animal pode ativar a goteira esofágica, fazendo com que a droga passe direto, sem cair no rúmen, diminuindo consideravelmente a "zona da morte". Veja a figura 2.
Outra dica importante para os benzimidazóis é a posição da cabeça do animal. Deve-se atentar para que a cabeça do animal esteja sempre paralela ao solo, jamais levantada, porque isto poderá novamente, ativar a goteira esofágica, causando a biodegradação antecipada do produto, diminuindo seu período de ação, leia-se "zona da morte".
Figura 2. Curva de concentração da droga no sangue e área de eliminação parasitária. Efeito da droga atingindo o rúmen (A) e passando direto (B). Observar a diminuição do período de eliminação da droga no sangue, devido às falhas na deposição da droga ou posição da cabeça do animal.
- Jejum antes do tratamento: os produtos antiparasitários de administração oral trazem em sua formulação um veículo oleoso, fazendo com que muito do produto fique aderido nas fibras alimentares.
Este efeito de aderência pode ser negativo, visto que a droga pode ser eliminada sem que seja efetivamente absorvida e metabolisada. Associado a isto, está o fato de que a presença de alimento com fibra (pasto ou volumoso) acelera os movimentos intestinais. Surgiu então o interesse em se verificar qual o efeito da restrição alimentar (jejum) na concentração dos medicamentos. Como a retirada ou redução da quantidade de alimento promove uma redução considerável nos movimentos intestinais, a droga teria duas vantagens: (1) maior tempo de permanência do organismo do animal, (2) menor quantidade de fibra vegetal para ser aderida e carreada com baixa absorção.
Foi determinado que o jejum, ou período de restrição, de 24 e mesmo de 12 horas antes do tratamento pode aumentar significativamente a eficácia de drogas como o albendazol (benzimidazol). Alguns resultados demonstraram que o período de 24 horas é o ideal, impulsionando sua concentração em mais de 100%, porém pode-se alcançar bons índices de absorção e maior permanência da mesma no organismo do animal com um jejum de 12 horas (acima de 50%).
O objetivo desta estratégia é eliminar os parasitas que não entrariam em contato com a droga caso o tratamento fosse feito em condições menos ótimas ou até mesmo parasitas resistentes à concentração normal, porém em curto período da droga. A Figura 3 demonstra como o efeito da dieta pode prolongar a absorção, a concentração e a permanência destas drogas.
Figura 3. Curva de concentração e período de eliminação da droga, (A) com dieta normal e (B) com jejum de 12 horas no sangue de ovinos.
Neste caso, o indicado seria, após reunir o rebanho no fim da tarde, oferecer pouco alimento com nada de verde até o dia seguinte, deixando acesso livre para água. Os animais devem ser tratados na manhã seguinte e para melhorar ainda mais o efeito da droga, deve-se deixar os animais presos, em restrição por mais seis horas após o tratamento. Depois então, os animais devem ser soltos na pastagem. Deve-se evitar tratar fêmeas próximas do parto, animais fracos ou febris e animais em condições de estresse com esta forma de manejo.
É importante conhecer e utilizar o potencial tóxico dos produtos para as situações de risco real. A administração de medicamentos de forma errada pode ser confundida com queda na eficácia e até mesmo no diagnóstico precipitado de resistência parasitária. A somatória destas estratégias simples de manejo pode reverter em um aumento significativo da eficácia dos produtos.
Cuidados antes do tratamento:
- Observar o bom funcionamento da pistola dosadora ou de pressão.
- Avaliar o estado geral dos animais e separar os animais caso necessário.
- Observar as indicações de uso contidas no rótulo do produto.
- Manter os animais calmos.
- Tratar os animais no horário de clima mais ameno do dia.
- Utilizar mão-de-obra técnica e instruída de suas funções.