Apesar da importância que hoje o Bem-estar Animal (BEA) vem alcançando em nível mundial, é possível dizer que muitos desconhecem as relações que esse conceito envolve e, consequentemente, sua importância não só para uma criação mais ética de animais, mas também suas relações com os humanos e com a produção.
Ao contrário do apelo atual e crescente para a causa animal, pouca atenção é dada aos trabalhadores/colaboradores envolvidos no ambiente rural. Muitos esquecem que eles são os principais responsáveis que podem influenciar a produtividade e o BEA. Como priorizar BEA na fazenda, sem priorizar o bem estar desses colaboradores?
Algumas pesquisas vêm observando indiretamente que, não só as ações dos trabalhadores/colaboradores no momento do manejo, mas também o bem-estar desses indivíduos (fatores internos e externos ao trabalho) têm papel fundamental na manutenção do BEA, e podem também influenciar, positiva ou negativamente, a produtividade
Dessa maneira, um trabalhador insatisfeito poderá influenciar negativamente a produtividade e o BEA. Isso torna importante a compreensão das dificuldades, insatisfações e necessidades de cada elemento envolvido no processo de produção, no alcance de melhores resultados produtivos e de bem-estar na fazenda, não só para os animais, mas também para os humanos.
Parece não existir trabalhos que abordem diretamente os efeitos do bem-estar do trabalhador em relação à produtividade e BEA. Entretanto, muitas pesquisas já demostraram os efeitos deletérios de um manejo negativo (bater, gritar, chutar, dar choque etc) em relação aos animais (Tabela 1).
Quando se observa a tabela acima, percebe-se que vacas manejadas de maneira negativa deixaram de produzir em média 1,3 kg leite/vaca/dia. Fazendo um cálculo simples, para uma fazenda que tem 100 vacas, isso significa: 130 kg de leite/ dia, 910 kg de leite/semana, 3900 kg de leite/mês e 47450 kg de leite/ano.
É claro que outros aspectos são importantes, comida, água, descanso, conforto térmico, entretanto um manejo positivo é tão importante quando e pode afetar claramente a produção de leite.
Nesse cenário, o manejo negativo pode estar ligado também à insatisfação dos trabalhadores/colaboradores, dessa forma, entender como esses indivíduos se sentem (bem-estar) e como isso pode influenciar na lida diária dos animais – olhando para as melhorias de bem estar humano e animal –, é fundamental para abrir novos caminhos e novas oportunidades na mudança de atitudes e comportamento no cenário rural.
Referências Bibliográficas
Breuer, K., Hemsworth, P. H., Barnett, J. L., Matthews, L. R.; Coleman, G. J. Behavioural response to humans and the productivity of commercial dairy cows. Appl. Anim. Behav. Sci., v. 66, p. 273-288, 2000.
Burton, R.J.F.; Sue, P.; Mark, H. C. Building ‘cowshed cultures’: A cultural perspective on the promotion of stockmanship and animal welfare on dairy farms, Journal of Rural Studies, 28, p. 174 – 187, 2012.