Elevar a eficiência da produção de leite é fundamental para se atingir sucesso na atividade leiteira e existem vários fatores que interferem esta eficiência como, por exemplo, genética dos animais, o ambiente, a alimentação, o uso ou não de hormônios etc... Em se tratando de vacas de alto potencial de produção (acima de 30kg/leite/dia) e mantidas em confinamento, o aumento na frequência de ordenha durante as 3 primeiras semanas de lactação também pode ser um fator que contribui positivamente para o aumento na eficiência de produção de leite.
Conforme rápido levantamento realizado em artigos relacionados a este assunto e publicados no Journal Dairy Science (útimos 20 anos), o que podemos verificar é que com o aumento no número de ordenhas nos primeiros 21 dias após o parto (de 2X por dia a até 6X por dia) há aumento de 9 a 10% na produção de leite. E este aumento é verificado não somente durante as primeiras semanas, mas também ao longo de todo período de lactação (efeito chamado de "carry-over"). Além disso, o que os estudos indicam é que o aumento na frequência de ordenhas no início de lactação e em vacas de alta produção pode levar a redução na contagem de células de somáticas (CCS), por tanto contribui para saúde do úbere dos animais.
A seguir serão resumidos alguns destes estudos publicados no Journal Dairy Science (JDS).
RESUMO DE TRABALHOS (JDS)
O primeiro estudo, publicado em 1995, de Bar-Peled e colabores, comparou a produção de leite de 3 grupos de animais. No primeiro grupo, as vacas foram ordenhadas durante as 6 primeiras semanas 3x por dia; no segundo grupo foram ordenhas 6x por dia durante as mesmas 6 primeiras semanas e o último grupo, além das vacas serem ordenhadas por 3x ao dia, elas também amamentaram 3x por dia. Após a sexta semana de lactação, todas as vacas passaram a ser ordenhadas apenas 3x ao dia. O gráfico a seguir ilustra a produção de leite durante as 6 primeiras semanas e ao longo da lactação de cada grupo de vacas. Vale ressaltar que para estimar a produção de leite das vacas do grupo três, foi admitido que a quantidade de leite que os bezerros mamavam equivaleria a diferença de peso dos mesmos antes e depois da mamada.
LEGENDA:
3x ao dia ( )
6x ao dia ( )
3x ao dia de ordenha + 3x ao dia de amamentação ( )
Neste primeiro estudo, as vacas que foram ordenhas 3x por dia e ainda amamentavam 3x por dia produziram mais nas 6 primeiras semanas de lactação, mas reduziram drasticamente a produção a partir da sétima semana de lactação (talvez pelo estresse da ausência das crias). As vacas que foram ordenhadas 3x por dia produziram menos e as que foram ordenhadas 6x por dia tiveram produção intermediária, porém foram os animais que mantiveram a maior produção após as 6 semanas iniciais de lactação, ocorrendo por tanto o efeito de "carry-over".
Outro trabalho, de Dahl e colaboradores, publicado em 2004, comparou a produção, a composição do leite e a contagem de células somáticas (CSS) em dois grandes grupos de vacas: um grupo de vacas ordenhadas 3x ao dia durante os primeiros 21 dias de lactação e um segundo grupo de vacas que foram ordenhadas 6x ao dia durante os mesmos primeiros 21 dias de lactação. Todas as vacas eram multíparas e tiveram as mesmas condições de manejo (como alimentação, instalações, etc..) exceto a frequência de ordenha. Após os 21 dias iniciais de lactação, todas as vacas passaram a ser ordenhadas 3x ao dia.
vacas ordenhadas 6x ao dia durante os 21 primeiros dias de lactação.
vacas ordenhas 3x ao dia durante os 21 primeiros dia de lactação.
Além da maior produção de leite conforme o gráfico acima, as vacas ordenhadas 6x por dia produziram leite com maiores teores de proteína, gordura e sólidos totais quando comparados com animais que foram ordenhados 3x ao dia. O estudo mostrou ainda que com a maior frequência de ordenha houve redução na contagem de células somáticas e esta redução persistiu por mais 3 meses após o experimento.
Em outro trabalho publicado em 2007 no JDS (Wall e McFadden), os autores se preocupam em mostrar não só o aumento da produção de leite com o aumento no número de ordenhas, mas sim apresentar o motivo desta maior produção. As hipóteses seriam que o aumento viria de uma resposta hormonal ou então devido a aspectos locais internos na glândula mamária. Para tentar responder a esta questão eles dividiram o úbere das vacas em dois grupos: lado direito do úbere e lado esquerdo do úbere. O lado direito de cada úbere foi ordenhado 2x ao dia e o lado esquerdo de cada úbere foi ordenhado 4x por dia e a produção de cada metade do úbere foi medida separadamente. Ao final dos 21 dias iniciais de lactação, o lado esquerdo de cada úbere produziu em média 3,9kg/dia de leite a mais do que o lado direito. E ao final de toda lactação (305 dias), o lado esquerdo, que teve maior frequência de ordenhas, produziu em média 1,8 kg/dia a mais do que o lado direito. Com isso os autores concluíram que a maior produção de leite com o aumento na frequência de ordenhas no início da lactação se deve mais a aspectos internos da glândula mamária do que a modificações hormonais.
CONCLUSÕES
Aparentemente, o aumento no número de ordenhas (4x ou até 6x ao dia) nas primeiras 3 primeiras semanas de lactação é benéfico no quis respeito ao aumento na produção de leite e redução na CCS, porém vale ressaltar que os estudos que comprovam este fato foram realizados com animais de alta produção de leite e mantidos em sistemas de confinamento onde os animais gastam pouca energia para se deslocarem até a sala de ordenha.
Não podemos, portanto generalizar esta prática de manejo, cada caso é um caso. E ainda devemos lembrar que o mais importante é conhecer a relação de custo:benefício da atividade e não somente quantificar o aumento na produção de leite da propriedade.
A seguir serão listadas mais referências de estudos deste assunto.
REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS
Bar-Peled, U., E. Maltz, I. Bruckental, Y. Folman, Y. Kali, H. Gacitua, A. R. Lehrer, C. H. Knight, B. Robinzon, and H. Voet. 1995. Relationship between frequent milking or suckling in early lactation and milk production of high producing dairy cows. J. Dairy Sci. 78:2726-2736.
Dahl, G. E., R. L. Wallace, R. D. Shanks, and D. Lueking. 2004. Hot topic: Effects of frequent milking in early lactation on milk yield and udder health. J. Dairy Sci. 87:882-885.
Fernandes, J., C. M. Ryan, D. M. Galton, and T. R. Overton. 2004. Effects of milking frequency during early lactation on performance and health of dairy cows. J. Dairy Sci. 82(Suppl.1):424. (Abstr.)
VanBaale, M. J., D. R. Ledwith, J. M. Thompson, R. Burgos, R. J. Collier, and L. H. Baumgard. 2005. Effect of increased milkin frequency in early lactation with or without recombinant bovine somatotropin. J. Dairy Sci. 88:3905-3912.
E. H. Wall and T. B. McFadden. The Milk Yield Response to Frequent Milking in Early Lactation of Dairy Cows Is Locally Regulated. Journal of Dairy Science Vol. 90 No. 2, 2007