A contenção é uma prática exigida em muitas ocasiões na criação de caprinos e ovinos. Entre tantos motivos que justificam essa necessidade, podemos citar aqueles mais rotineiros como a realização de exames físico clínicos, vacinações, everminações, aplicação de medicamentos, curativos e casqueamento. O correto manejo dos animais nessas situações é fundamental para evitar lesões e traumas físicos, e inclusive psicológicos. A forma com que essa contenção é realizada, além de ser essencial para o bem-estar do animal e segurança de quem irá realizar as atividades, está diretamente relacionada ao temperamento e reação dos animais nas próximas ocasiões de manejo.
É bastante comum a contenção de forma inadequada tanto por proprietários, tratadores e até mesmo pelos profissionais durante o manejo na propriedade, como por exemplo, segurando os ovinos pela lã, orelha ou rabo o que acarreta, além de dor ao animal e possibilidade de fraturas, o aparecimento de hematomas que podem comprometer o aproveitamento e a qualidade das carcaças de animais destinados ao abate.
Alguns procedimentos mais complexos (cirurgias, procedimentos que causam dor, animais muito grandes ou estressados) exigem o uso de acessórios (tais como cabrestos, cordas, maca ou brete) e/ou fármacos (tranquilizantes e anestésicos).
Figura 1 - Ovelha em maca imobilizadora para inseminação artificial (a) e carneiro em cirurgia de vasectomia (b).
A contenção pode ser realizada com o animal em pé, sentado ou deitado. A imobilização do animal se torna mais fácil se a intervenção for feita em pé, enquanto que a contenção do animal deitado ou sentado requer meios mais complexos para a imobilização, tornando-se arriscada para as fêmeas em adiantado estado de gestação.
Se preferir trabalhar com os animais sentados (Figura 2) ou deitados (Figura 3) é importante tomar bastante cuidado na hora de derrubar e conter para evitar choques e quedas bruscas. No momento da tosquia, conter o animal sentado com a cabeça virada pode ser útil porque, além de imobilizá-lo, a pele da região pescoço fica esticada e diminui a incidência de lesões pela tosquiadeira.
Figura 2 -Contenção de animal sentado.
Algumas categorias, como as fêmeas gestantes, exigem maior cautela de quem irá realizar a contenção. Em primeiro lugar, é muito importante que o manejo dessas fêmeas seja feito sempre de forma tranquila e com o mínimo possível de estresse, evitando traumas e pancadas, pois estas são importantes causas de aborto em pequenos ruminantes. Quanto mais acostumados estiverem os animais com o manejo e a presença do tratador, mais fácil, rápido e menos estressante será o trabalho. A imobilização deve ser feita com segurança e de forma firme, pois qualquer movimento brusco do animal pode provocar traumas, contusões, ou até mesmo aborto, reabsorção embrionária e lesões graves.
Figura 3 -Contenção do animal deitado.
O sucesso do procedimento também irá depender do local onde será realizado. Este deve ser seco, bem iluminado, abrigado do sol, espaçoso e limpo. Além disso, o ideal é não misturar animais de lotes diferentes no momento do manejo para evitar eventuais brigas. No caso de animais mais arredios, como costumam ser os machos adultos (reprodutores, rufiões e capões), recomenda-se o auxílio de um assistente para conter enquanto o tratador ou profissional realiza o procedimento de forma mais segura (Figura 4). Isso evitará que o animal se debata e que ocorram acidentes, preservando a integridade do mesmo e de quem realiza a atividade. Em relação aos machos adultos, a imobilização exige mais força e atenção. Também, é importante evitar dar as costas ao animal, pois os reprodutores costumam ser um tanto quanto mais agressivos que as demais categorias e comumente dão cabeçadas quando se sentem ameaçados.
Figura 4 - Contenção do animal em pé para casqueamento ou aplicação de medicamento.
A contenção no brete também pode ser utilizada, para diversos fins tais como observação do grau Famacha®, avaliação do escore de condição corporal e procedimentos de manejo reprodutivo (aplicação de hormônios, implantação de esponjas para sincronização de cio e realização de diagnóstico de gestação por ultrassonografia). Muitas vezes o brete é também o local de realização de pedilúvio para cuidados com os cascos.
Dessa forma, é fundamental que as medidas deste sejam adequadas com largura que não permita o animal se virar dentro dele e altura compatível com a possibilidade de realização de tais atividades. As laterais preferencialmente não devem conter espaçamento entre tábuas, pois o risco de algum animal se enroscar e se machucar é alto. O desenho das instalações deve ser sempre projetado com o objetivo de diminuir ao mínimo possível a quantidade de estresse que os indivíduos sofrem.
Em muitos casos, é também necessário o derrubamento dos animais para que determinada atividade possa ser efetuada. Para tal, é essencial que se tomem certos cuidados, evitando assim a ocorrência de acidentes que causem danos ao animal ou mesmo para os manejadores. É importante ressaltar que isso deve ser treinado na prática junto a alguém capacitado, pois se tratando de animais adultos e muitas vezes com peso elevado, erros nesta etapa de derrubamento podem provocar lesões mais graves como até mesmo a fratura dos membros. Primeiramente deve-se escolher o local para derrubá-los, lembrando sempre de evitar pisos com pedras e outros empecilhos. Posicione-se à lateral do animal e com uma mão abaixo da cabeça e a outra na região da virilha (Figura 5a), gire e apoie a cabeça em direção ao costado (Figura 5b), após esse movimento o ovino deverá sutilmente deslizar até o solo.
Alguns animais apresentam maior resistência a este método e isso requer mais prática e habilidade para derrubar o animal. É interessante evitar que o lado esquerdo do animal fique para baixo, pois dependendo da duração da imobilização, pode comprimir o rúmen e ocasionar problemas. Após derrubar o animal, pode-se manter a cabeça deste flexionada e apoiada sobre o costado enquanto se realiza os procedimentos (deve-se tomar o cuidado de não obstruir-lhe a respiração) ou ainda passar a perna dianteira (a situada acima do corpo do animal) por detrás da perna do tratador conforme a Figura 5c, de modo que o animal permaneça imobilizado. É importante que as regiões do pescoço e do costado também não sejam comprimidas demasiadamente, pois pode dificultar a respiração ou mesmo o retorno venoso.
Figura 5 - Derrubamento e imobilização de uma ovelha.
Nota-se que existem várias maneiras de se realizar a contenção de forma segura sem causar grande estresse, e a escolha do método irá depender do grau de imobilização que se deseja obter para realizar determinado procedimento. Muito do que foi aqui discutido para a espécie ovina é também aplicável para os caprinos. Porém, vale ressaltar que, neste caso, diversas raças apresentam chifres.
Esse fator aumenta o risco de acidentes, tanto para o manejador quanto para os animais e, portanto, a contenção desses deve ser realizada com maior dispêndio de atenção. Em algumas situações, o chifre pode servir como auxílio para segurar caprinos já contidos, todavia, este recurso não deve ser utilizado em movimentos bruscos ou com força, o que pode ocasionar lesões nesta estrutura dos animais. De modo geral, os pequenos ruminantes são animais que tendem ao comportamento dócil quando manejados com certa frequência e de forma tranquila. Por isso, a contenção geralmente é realizada sem a necessidade de medidas mais drásticas ou agressivas. Vale aqui enfatizar que na grande maioria das vezes o que se exige nesta etapa é prática e técnica, e não força.