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Uma comparação financeira simples entre milho grão e milho silagem

POR MARCOS NEVES PEREIRA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/04/2003

7 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 29/09/2023

O milho é uma forrageira tropical com alto potencial de produção de matéria seca por área e com alto conteúdo de energia, o que propicia a alta taxa de lotação animal acoplada ao baixo uso de alimentos concentrados por litro de leite produzido. A produção de leite à base de silagem de milho é uma maneira de agregar valor a este grão na forma de produtos lácteos. Em algumas regiões produtoras de leite do Brasil o "casamento" entre leite e café é histórico. Nestas regiões a produção de silagem de milho é tradicional por não competir por máquinas, tempo da administração, mão de obra e local geográfico com a cultura do café. No entanto, a saída de produtores da atividade leiteira e o crescimento simultâneo da produção de milho grão em regiões historicamente produtoras de leite e café questiona a eficiência financeira do processo metabólico de transformar amido de milho em produtos lácteos de alto valor biológico.

O intuito deste artigo é gerar uma discussão simples quanto à eficiência financeira da produção de leite baseada em silagem de milho comparativamente à produção de milho para venda direta na forma de grão. Não é intenção deste exercício se enveredar em discussões sobre sistemas de produção de leite baseados ou não em silagem de milho como forrageira, mais complexas e que requerem dados necessários para delinear uma discussão estritamente técnica, a meu saber inexistentes. Nesta simulação foram assumidos que a produção de leite seria baseada exclusivamente em silagem de milho como forrageira para os animais em lactação e que a produção de milho para grão ou ensilagem seria executada em uma safra anual, visando uma comparação justa. Como os dados aqui apresentados são obviamente não extrapoláveis para todas as situações, anexado segue uma planilha de Excel para simulação de situações específicas. Os campos marcados em negrito podem ser modificados. Estes campos são: Produção de milho em sacas por hectare, custo de produção por saca (R$), preço esperado de venda da saca (R$) e quantidade diária de silagem de milho oferecida por vaca. Sinceramente gostaria que muitos enviassem suas experiências e conclusões. Vamos aprender juntos !

Para iniciar esta simulação o primeiro passo foi buscar dados confiáveis sobre produção de milho no sul de Minas Gerais. Meu amigo Ronaldinho (nome fictício) foi a fonte ideal. Médico veterinário, bem sucedido, profissional exclusivamente agrícola, exímio administrador e hoje um pequeno produtor de leite e grande produtor de milho grão e café. Nada melhor, área grande de plantio, eficiência agronômica, contabilidade e índices de produtividade criteriosamente coletados e muita visão de mercado. Os dados dos campos de milho já colhidos nesta safra 2002/2003 mostram que a produtividade foi excelente, comum entre ex-produtores de leite e ex-ensiladores de milho. Milho em grão com produção acima de 9.000 kg por hectare certamente produziria algo em torno de 50 toneladas de silagem de alta qualidade por hectare a custo abaixo de R$ 30,00 por tonelada. A expectativa de preço médio do grão foi R$ 23,00 por saca, o que deve resultar em um lucro por hectare/ano de R$ 1.603,67.
 

 


O próximo passo foi estimar a necessidade de produção de leite por área necessária para igualar a lucratividade à do milho grão. Neste cálculo foram assumidos lucros por litro de leite (Preço de venda do litro - Custo de produção do litro) variando de R$ 0,02 a R$ 0,10. No custo de produção do litro estão incluídos os custos de recria dos animais de reposição e os administrativos, estes últimos também incluídos no custo de produção da saca de milho (R$ 12,47). Fazendas com produção verticalizada podem conseguir margens superiores a estas, no entanto isto não tem sido comum nos últimos anos. Com lucro de R$ 0,02/litro seriam necessárias cerca de 80 toneladas de leite/ha/ano para que a lucratividade fosse semelhante à lucratividade do milho em grão. Produções de leite acima de 20 toneladas/ha/ano são zootecnicamente eficientes. Nos preços vigentes de leite e insumos parece ser necessário ter bom desempenho por área para que a atividade leiteira seja competitiva proporcionalmente a esta produção de milho grão.

 

 



A necessidade de silagem de milho por vaca foi calculada assumindo um gasto diário por animal de 30 kg. Esta quantidade é bem típica de confinamentos trabalhando com silagens com teor de matéria seca acima de 35% da matéria natural e com vacas com peso ao redor de 580 kg. Silagens mais úmidas serão obviamente mais consumidas. O gasto diário de silagem por animal é pouco dependente da produção diária de leite, desde que animais com menor produção, e com menor consumo de matéria seca, também consomem dietas com menor porcentagem de alimentos concentrados, mantendo o consumo de forragem praticamente constante entre grupos de animais não idênticos em produção diária de leite. Animais com alta produção diluem o custo diário com forrageiras. Cerca de 11 toneladas de silagem foram requeridas por vaca/ano.

 



A taxa de lotação (vacas/ha/ano) foi calculada assumindo três produções de massa verde de silagem por hectare: 30, 40 e 50 toneladas. Produções acima de 40 toneladas, com teor de matéria seca em torno de 35%, podem ser consideradas boas para plantas cultivadas e ensiladas no período chuvoso do ano no Brasil central. A obtenção de produções ao redor de 50 toneladas por hectare tem sido cada vez mais freqüente entre os pecuaristas adotando boas práticas agronômicas, e deveria ser colocada como meta. Trinta toneladas por hectare seria uma baixíssima produção, capaz de questionar a viabilidade da silagem de milho como alternativa para determinado sistema de produção de leite. Produtores com produção de silagem de milho abaixo de 30 ton/ha normalmente têm alto custo de produção por unidade de forragem produzida. A produção eficiente de silagem de milho exige a alta produção por área acoplada ao alto valor nutritivo, esta última mensurável pelo teor de fibra na planta.

 



Com lucro por litro de leite em torno de R$ 0,02 a produção de leite não foi competitiva proporcionalmente à produção de milho grão, mesmo com alta eficiência na produção de silagem, pois produções anuais médias de leite por vaca acima de 17.000 seriam necessárias. Os melhores rebanhos de gado Holandês de Minas Gerais têm produção/vaca/ano em torno de 11.000 kg. Com lucro por litro de R$ 0,04, com alta eficiência na produção de silagem e com vacas com desempenho leiteiro ao redor de 9.000 kg, leite foi no mínimo similar financeiramente a milho grão. Nestes casos a decisão sobre o tipo de atividade agrícola parece ser muito mais de caráter pessoal, ligada ao estilo de vida ou aptidão da fazenda, que de caráter econômico. Com lucro em torno de R$ 0,06/litro rebanhos com produção diária por animal em torno de 20 kg e alta eficiência na produção de forragens foram viáveis. Desde que esta última situação zootécnica e agronômica é freqüente, a saída da atividade leiteira de produtores mais especializados e a entrada dos mesmos na atividade do milho grão parece implicar que remunerações abaixo de R$ 0,06/litro têm vigorado nos últimos anos, o que é vivencialmente verdadeiro. Em remunerações por litro acima de R$ 0,08, alta eficiência na produção de forragens viabilizou sistemas de produção baseados em silagem de milho e animais com produção entre 3.500 e 4.500 kg por ano, mostrando a importância de práticas agronômicas ligadas à produção de forragem em rebanhos com limitação genética da produção por animal. Uma situação que já foi mais típica do sul do estado de Minas Gerais, rebanhos com produção diária por vaca ao redor de 20 kg e baixa eficiência agronômica, só se mostraram viáveis com remuneração por litro de leite acima de R$ 0,10.

 



A saída de alguns produtores da atividade leiteira e a entrada destes na agricultura do milho grão teve um componente financeiro estimulador: a baixa margem de lucro do leite nos últimos anos. Certamente contribuiu a boa aptidão geográfica e ambiental das áreas disponíveis para o cultivo do milho nestas regiões e a experiência dos ex-pecuaristas com a cultura, em grande parte advinda das práticas tradicionais de plantio do milho para ensilagem. Na situação financeira vigente e adotando este modelo de produção, parece que são necessárias alta eficiência zootécnica e agronômica e remuneração por litro acima de R$ 0,04, para a maioria dos produtores R$ 0,06, para manter uma atividade leiteira competitiva. O custo de produção do litro de leite nos últimos meses tem girado em torno de R$ 0,50, independentemente da forrageira utilizada e em rebanhos utilizando alimentos concentrados.

 

Clique aqui para baixar a planilha em Excel (18kb)

MARCOS NEVES PEREIRA

Professor Titular da UFLA (Lavras, MG)

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ANTÔNIO CARLOS BERNARDES SILVA

OUTRO - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 06/05/2003

Custo de produção em torno de R$ 0,50 ?????

Na verdade os custos de produção de um litro de leite são bem maiores. Presto consultorias em diversas fazendas e em nenhuma delas consigo custos de R$ 0,50. São bem maiores. Gostaria imensamente de conhecer a planilha que estima o custo neste valor. Felizmente não posso falar que os produtores que assisto são incompetentes, pois em alguns deles podemos vislumbrar produções acima de 22.000 Kg de leite por hectare ano ou ainda produções acima de 10.000 Kg de leite por lactação. Não considero ruim estas produções. Mesmo com intervalo entre parto de 14,5 meses a produção por dia de intervalo entre partos chega a 22,5 Kg/dia IEP. Contudo, posso dizer que a produção é muito mais rentável que em rebanhos de baixa produção. O problema é que mesmo desta maneira estes produtores que assisto estão trabalhando no vermelho. Isto porque de qualquer maneira, seja com produtividade ou não, o produtor esta perdendo. Só que produzindo menos se perde menos.

Não concordo, em hipótese alguma, com este custo de produção que foi declarado como sendo de R$ 0,50. É muito maior.

Segundo pessoas que peço ajuda para a critica dos modelos de planilhas que utilizo, não existe nada de errado nestas. Quanto a parte técnica, peço a colegas veterinários que avaliem e é de comum acordo, que tecnicamente não possuem nada de errado. Tudo foi conseguido da maneira mais rentável possível, sem ser utilizado nada que possa ser considerado supérfluo quanto ao manejo ou inadequado economicamente para a dieta do rebanho. Com tudo isto, posso dizer com bastante segurança que o custo de produção é bem maior que R$ 0,50 e os dados que possuo estão à disposição para qualquer um que queira discutir.

Outro problema que considero muito grave é a divulgação de valores para o custo de produção que subestimados como este, veinculados em orgãos de comunicação. Tais valores servem de alento e justificativa para as indústrias pagarem o que pagam, apoiadas em divulgações como esta que estão longe de serem a realidade.

Por isso faço aqui um apelo a todos nós ligados a produção de leite, que tenhamos cuidado ao divulgar em veículos de comunicação o custo de produção de leite. Que tenhamos certeza que estamos divulgando um custo compatível com a realidade que estamos atravessando. Que este custo leve em consideração todos os custos envolvidos na atividade. Desde a remuneração sobre capital, depreciação de máquinas e instalações, alimentação até despesas tais como mensalidade de associações e registro de animais.

Além disto, com certeza, não vai ser com R$ 0,02 de lucro/litro sobre a produção que o produtor irá poder contruir uma vida digna. E quando falo em vida digna, não quero dizer luxuosa, apenas o mínimo que todos nós procuramos, ou seja, alimento, moradia, meio de transporte adequado e educação. Imagine se desta maneira um produtor pode vislumbrar um dia, pagar uma universidade para um filho. Acho que não.

Por tais motivos volto a dizer: "tenhamos cuidado ao divulgar afirmações". Podem estas não serem a realidade e servirem de apoio para os mais fortes continuarem ainda mais fortes e os fracos ainda mais fracos.

Para finalizar, gostaria de dizer que não possuo nada contra o Dr. Marcos. Conheço seu trabalho e o considero muito competente. Isto é apenas uma crítica construtiva. Não vem de maneira alguma desmerecer seu trabalho que é de extrema coerência, conhecimento e competência.
EDMAM GUIMARÃES MENDONÇA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 27/04/2003

Excelente artigo!

Gostaria de cálculos relativos à silagem de capim e a viabilidade do uso de inoculantes, tanto em grãos úmidos, silagem de milho e capim.

Atenciosamente,

Edmam G. Mendonça
Eng. Agrônomo.
MURILO OLIVEIRA LEME

OUTRO - PARANÁ

EM 25/04/2003

Acho o lucro por litro de R$ 0,02 muito pessimista. Poderíamos fazer uma análise mais simples que esta: uma boa vaca leiteira produzindo 20 litros/dia custa R$ 1.500,00 pelo menos. Este dinheiro aplicado em renda fixa a um juro de 1,7% ao mês vai render R$ 20,40 (já desc. IR) contra R$ 12,00 do produtor de leite. Se assim fosse, não teriamos leite no Brasil.
RENATO FONSECA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 25/04/2003

Prezado Prof. Marcos,

Concordo em linhas gerais com o seu artigo. Discordo apenas que a produção das melhores fazendas alcançe 11.000kg/vc/ano. Esta produção, divulgada pelos serviços de controle leiteiro, refere-se à projeção de lactação idade adulta 305 dias. Nestas fazendas o intervalo entre partos geralmente supera os 15 meses, podendo impactar negativamente a produção anual por vaca. Creio que um número mais realista seria 9.000 kg/vc/ano para as melhores fazendas. Além disso, essas fazendas raramente utilizam a silagem de milho como única fonte de volumoso. Acho oportuno lembrar que deve ser considerada uma perda técnica de pelo menos 10% do material ensilado. Portanto, para uma produção de 40ton/hec (35% M.S.), a quantidade produzida no campo seria de aproximadamente 44 ton/hec. Deve ser lembrado também que os preços do milho estão excepcionalmente altos nesta safra. A parte triste da história é que, desde que comecei a produzir leite, não sei o que é 0,06 centavos de lucro por litro (média durante o ano) e nem mesmo algo próximo disso...

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