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Úlcera de abomaso em pequenos ruminantes

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EM 20/06/2011

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Apesar de não serem frequentes, as úlceras de abomaso podem ocorrer em caprinos e ovinos e constituem uma enfermidade com sério risco de óbito. No Brasil é relatada como casos individuais, ocorrendo em criações intensivas com elevada suplementação concentrada e submetidos a alto estresse. A apresentação pode variar de ausência de sinais clínicos, hemorragia aguda com indigestão e melena subsequente, ou perfuração com peritonite local/difusa caso a lesão atinja todas as camadas do abomaso. A úlcera ocorre por um desequilíbrio ou falha nos fatores protetores da mucosa. Existem muitas discussões sobre as possíveis causas, as mais indicadas são aumento da acidez, estresse, uso prolongado de antiinflamatórios não esteroidais e traumas na mucosa.

A úlcera é definida como a perda do epitélio da superfície da mucosa do abomaso. A descrição, na verdade, é uma escavação na mucosa que penetra até sua camada muscular. Uma escavação parcial, pouco profunda na mucosa, é chamada de erosão. A causa da escavação geralmente é por ruptura da barreira da mucosa gástrica causada por desequilíbrio entre os fatores protetores e agressivos.

Qualquer lesão de mucosa gástrica permite a difusão de íons de hidrogênio e assim da enzima pepsina dentro das diferentes camadas da mucosa, resultando em aumento da lesão. Poderá haver somente uma grande úlcera, porém geralmente se observam numerosas variando em fase aguda e crônica (Figura 01).

Figura 01 - Presença de úlceras em abomaso ovino (foto gentilmente cedida pela mestranda em ciência animal dos trópicos - UFBA - Byanca Ribeiro).



As causas de úlceras no abomaso são complexas e muitas vezes obscuras.
Em bovinos, a presença de estresse, mudanças ambientais, nutricionais, físicas, químicas, genéticas, hiperacidez, acidose lática e consumo de rações grosseiras são relacionadas com a doença. Existem relatos sobre causas infecciosas que geram hemorragia e ulceração no órgão. Os isolamentos bacterianos em animais com úlcera incluem Clostridium perfringens, Escherichia coli, Streptococcus sp, Staphylococcus sp, Salmonella sp., infecções fúngicas e viroses também são implicadas na etiologia da doença nesta espécie (VATN et al., 1999; MORTIMER et AL., 2001).

Em pequenos ruminantes a ocorrência de abomasite e úlceras de abomaso estão relacionadas com acidose ruminal ou ruminite crônica, embora também possam ser causadas por infecções. A infecção por algumas espécies de clostrídios, assim como o fornecimento de substituto de leite à vontade ou silagem, deficiência de ferro e bezoares podem gerar abomasite com posterior hemorragia e ulceração em animais com 2 a 10 semanas de vida. Também pode ocorrer abomasite parasitária, gerada após uma alta infeccçao por Haemonchus contortus, porém nesta não há ulceração.

Tem-se implicado na etiologia da doença, alimentos finamente triturados ou rações peletizadas, uso excessivo de antiinflamatorios não esteroidais, estresse e consumo de forrageiras viçosas. A ingestão de areia com posterior acumulo no órgão (sablose) também pode levar a erosões e ulcerações. Apesar de alguns relatos, não se comprovou a associação entre deficiência mineral de cobre e a ocorrência da enfermidade. Existe a hipótese que a alimentação com grande quantidade de grãos em animais confinados pode ser um fator de risco associado à erosão abomasal.

Figura 02 - Abomaso com multilesionado.



As úlceras podem ser de quatro tipos:

Úlcera não perfurada: Ocorre penetração incompleta na parede do abomaso, com perda da mucosa e parte da submucosa, resultando em grau mínimo de hemorragia dentro do órgão. Podem causar uma gastrite crônica.

Úlcera hemorrágica: Ocorre ulceração aguda com erosão de vasos sanguíneos, resultando em gastrite aguda hemorrágica e acúmulo de líquido dentro do órgão podendo levar a transtornos metabólicos e anemia hemorrágica. Dor abdominal, fezes escuras (melena) e palidez das mucosas são sinais comumente observados neste caso.

Figura 03 - Ovino Dorper com fezes escurecidas (melena) por conta de ulcera hemorrágica (foto gentilmente cedida pela mestranda em ciência animal dos trópicos - UFBA - Byanca Ribeiro).



Úlcera perfurada com peritonite local aguda: Ocorre penetração de todas as camadas do abomaso, resultando em extravasamento do conteúdo para uma região restrita da cavidade abdominal (peritoneal) do animal. O local é sempre próximo da úlcera e é protegido por aderências formadas entre o abomaso e vísceras vizinhas ou omento.

Úlcera perfurada com peritonite difusa: Ocorre extravasamento de grande quantidade de conteúdo do abomaso para a cavidade abdominal espalhando-se por toda cavidade peritoneal resultando em uma peritonite difusa.

Figura 04 - Ulceração hemorrágica difusa.



Nos casos moderados da doença, frequentemente não se notam sinais clínicos. Os principais sintomas incluem anorexia e cólica. Na perda grave de sangue pode se constatar melena (presença de fezes escuras facilitando o diagnóstico clínico), alteração de apetite e ranger de dentes. Dependendo da fase pode haver ausência de motilidade ruminal e palidez das mucosas.

Figura 05 - Vários pontos de ulcera, sendo que algumas já perfuradas.



Quando ocorre peritonite observa-se febre, decúbito e exarcebação de dor local. Não há testes diagnósticos definitivos ante mortem, porém alguns exames complementares podem auxiliar o clínico durante o diagnóstico e curso da doença. Deve-se acompanhar a variação do leucograma, hematócrito (VG), fibrinogenio e sangue oculto nas fezes. O resultado da pesquisa de sangue oculto pode ser negativo a depender do tipo de úlcera envolvido. Antes de dar o diagnóstico final devem ser descartadas outras causas de cólica.

O tratamento se baseia na correção dos problemas da dieta ou da causa identificada, redução do estresse e inicio da terapia específica para os problemas clínicos causados pela úlcera. Pode ser difícil o sucesso terapêutico. As drogas de uso oral, como os agentes protetores de mucosa, passam pelo rúmen e, portanto, chegam ao abomaso diluídas. A utilização de substancias para estimular o reflexo de fechamento da goteira esofágica poderiam se mostrar mais capazes de produzir o efeito desejado no abomaso. Neste contexto a administração oral de Caulim e Pectina ou Sucralfato, após estímulo do reflexo, junto com a aplicação intravenosa de ranitidina poderia gerar grande beneficio. Deve-se realizar fluidoterapia nos animais que demonstrem desidratação e transfusões de sangue podem ser necessária naqueles com baixo valor de hematocrito. Antibioticoterapia de amplo espectro deve ser instituída nos casos suspeitos de peritonite. Aos rebanhos que apresentam acidose ruminal, devem-se fornecer substâncias tamponantes junto aos alimentos. O prognóstico é bom somente para úlceras não perfuradas.

Na necropsia podemos observar fluidos sanguinolentos ou sangue total ao longo do trato gastrointestinal. A lesão no abomaso é tipicamente pequena e envolve vasos sanguíneos da submucosa. Pode ser observada uma única úlcera hemorrágica ou ulcerações e erosões adicionais de diferentes tamanhos e localizações. Caso haja perfuração, observa-se a presença de aderências e de um liquido escuro e mal cheiroso na cavidade peritoneal podendo estar restrito um local ou disperso pela cavidade.

Devido à etiologia e fisiopatologia ainda não serem totalmente esclarecidas, fica difícil realizar um controle e prevenção da doença. Porém o manejo da dieta que reduz outras doenças do abomaso poderia diminuir a incidência de úlceras. Deve-se evitar mudanças abruptas nas rações ou dieta, diminuir o estresse em animais em confinamento ou em preparação para exposições, além de evitar o uso indiscriminado de antiinflamatorios não esteroidais. Quanto aos criadores, caso suspeitem da doença em algum animal da propriedade, é imperativo chamar com rapidez um veterinário para iniciar o atendimento.

Referências bibliográficas

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CADIOLI,F.A.; BOVINO,F.; ARAÚJO,M.A.; TEODORO,P.H.M.; PEIRÓ,J.R.; MENDES,L.C.N.; FEITOSA,F.L.F. Sablose em uma bezerra Holandesa de dois meses de idade - Relato de caso. Vet. Zootec. Supl. 1, v.15, n.2, p. 28. 2008.

FECTEAU ME, WHITLOCK RW: Abomasal Ulcers. In: ANDERSON D.E.; RINGS D.M. Current Veterinary Therapy: Food animal practice. Vol.5. W.B. Saunders, Philadelphia. P.29-34. 2009.

HAJIMOHAMMADI, A.; BADIEI, K.; MOSTAGHNI, K.; POURJAFAR, M. Serum pepsinogen level and abomasal ulcerations in experimental abomasal displacement in sheep. Veterinarni Medicina. v.55, 7, p.311-317. 2010.

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MILLS KW, JOHNSON JL, JENSEN RL, WOODARD LF, DOSTER AR. Laboratory findings associated with abomasal ulcers/tympany in range calves. J Vet Diagn Invest. Jul;2(3):208-12.1990.

MORTIMER, R.G.; ELLIS,R. An [ on Clostridial Diseases/Abomasal Ulcers. Range Beef Cow Symposium XVII Proceedings: 32-35. 2001.

NORO, M.; OLIVEIRA, F.C. Úlcera de abomaso em carneiro ille de France. II CONCCEPAR 2007. Anais eletrônicos. 2007.

PUGH, D.G. Clínica de Ovinos e Caprinos. 1 ed, São Paulo: Roca, p.87-88. 2005

RADOSTITS, O.M.; GAY , C.C.; BLOOD, D.C.; HINCHCLIFF, K.W. Clinica veterinária. Um Tratado de Doenças dos Bovinos, Ovinos, Suínos, Caprinos e Eqüinos, 9 ed., Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan,p.302-305, 2002.

RISSI D.R., PIEREZAN F., OLIVEIRA FILHO J.C., FIGHERA R.A., IRIGOYEN L.F., KOMMERS G.D.; BARROS C.S.L. Doenças de ovinos da região Central do Rio Grande do Sul: 361 casos. Pesq. Vet. Bras. 30(1):21-28. 2010.

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WASHBURN, K. Abomasal ulcers in cattle. CVC Kansas city proceedings. 2008. Disponivel em: https://veterinarycalendar.dvm360.com/avhc/author/authorInfo.jsp?id=47814.

CARMO EMANUEL ALMEIDA BISCARDE

Formado em 2007 pela UFBa; Residente em Fisiopatologia da Reprodução e Obstetrícia pela FMVZ-UNESP-BTU; Mestre em Medicina Veterinária pela FMVZ-Unesp-BTU; Médico Veterinário da Universidade Federal Do Recôncavo da Bahia - UFRB.

VITOR SANTIAGO DE CARVALHO

Médico Veterinário do Hospital Veterinário da UFBA. Mestre em Ciência Animal nos Trópicos

MV DR. LEANDRO RODELLO, PHD

Médico Veterinário (UNOESTE - Presidente Prudente), com Residência em Reprodução Animal (UNESP- Araçatuba) e Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado em Reprodução Animal (UNESP- Botucatu)

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VITOR SANTIAGO DE CARVALHO

SALVADOR - BAHIA - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 28/12/2014

Olá Cristina. Na úlcera de abomaso não há este problema. Provavelmente seja uma falha esofágica, do retículo ou do cárdia.



Olá Luiz, vermes do abomaso provocam abomasites mas não este tipo de lesão. A origem pode até ser alimentar (acidose) mas deve-se processar o material coletado e excluir outras causas.
LUIZ SANDI

LAGES - SANTA CATARINA - OVINOS/CAPRINOS

EM 25/12/2014

Prezados,



Tive problemas desses  em minha propriedade, os animais estavam sendo tratados anteriormente com descarte de maça "in natura", residuo de suco de maça "cozido"  e por ultimo bagaço de laranja.



Os animais estavam com dificuldade para aumentar de peso, tinham um pouco de diareia e com o tempo vinham a obito.



Eu achava que era verminose entao foram tratados varias vezes com vermifugos diferentes e nada de melhorar.



Quando um estava a beira do obito levei para a UDESC Lages, na qual foi feito autopsia e foi constatado essas lesoes no externo do abomaso e na parte interna das lesoes nao tinha mais aquela cobertura normal do abomaso e sim uma pele completamente lisa como se tivesse sido raspado.



Minha pergunta é pode os vermes causarem essas lesoes ou pode  ser a alimentaçao dada?



CRISTINA

RIO MAIOR - SANTARÉM - PRODUÇÃO DE OVINOS DE CORTE

EM 21/08/2014

boa noite, alguém me sabe dizer se um ovino com úlcera vomita tudo ou quase tudo o que come?

obrigada pela possível ajuda
VITOR SANTIAGO DE CARVALHO

SALVADOR - BAHIA - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 24/10/2011

Prezado Gabriel,



O uso da ranitidina é por via endovenosa pois por via oral não chegaria ao abomaso em quantidade suficiente. A dose (mg/kg) você encontrará no PUGH (Clínica de Ovinos e Caprinos). Você pode comprar a ampola em estabelecimento de produto médico hospitalar humano e então faz o cálculo para utilizar no ovino. Já utilizei a ranitidina em alguns ovinos associada ao resto da terapeutica para a úlcera e tive sucesso. Quanto ao omeprazol desconheço alguma literatura que indique a dose ou sucesso na utilização.

Abrç!
GABRIEL MENEZES

SALVADOR - BAHIA

EM 24/10/2011

Boa tarde, ótimo trabalho.

Gostaria de saber no caso do uso da Ranitidina ou Omeprazol para pequenos ruminantes, seria por via endovenosa, mas não encontro a dosagem em nenhum artigo. Vocês poderiam informar a dosagem?

O omeprazol teria uma meia-vida plasmática maior, seria mais indicado?

Também gostaria de saber se é possível encontrar esse medicamento pronto para uso ou só mandando manipular?

Desde já, obrigado.
CARMO EMANUEL ALMEIDA BISCARDE

OUTRO - BAHIA

EM 05/08/2011

Prezado André,

muito obrigado pelos parabéns!

Continue a participar dos nossos radares!

Os autores ficam extremamente agradecidos!
ANDRÉ MACIEL CRESPILHO

BARUERI - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 28/06/2011

Parabenizo os autores pela excelente matéria!

Grande abraço,

André Maciel Crespilho

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