Em palestra apresentada aos ovinocultores durante o B+L NZ Science Day for Farmers (o qual consiste em um fórum científico organizado por produtores e que traz as mais recentes pesquisas em produção ovina de forma clara e enfatizando, principalmente, o impacto econômico destas na propriedade) o Professor Hugh Blair falou sobre as diretrizes do projeto e os resultados obtidos pelo primeiro experimento.
Baseado no fato de que o feto se utiliza do ambiente uterino para predizer o ambiente externo bem como processa esta informação de modo a preparar seu metabolismo e fisiologia para as prováveis condições futuras, uma possível intervenção nesse sistema poderia ser ferramenta-chave para a identificação dos efeitos importantes da programação embrionária em animais de produção. Tal ação possibilitaria ainda o descarte precoce daqueles que apresentarem propensão a desempenho insatisfatório durante a vida adulta. Adicionalmente, a programação embrionária é conhecida por se perpetuar por várias gerações subsequentes do animal e durante sua vida produtiva. No entanto, alguns fatores como primiparidade, início precoce da atividade reprodutiva, múltiplos fetos e disparidade genética entre feto e útero podem afetar os resultados durante a programação.
Pesquisas recentes indicam que a nutrição de matrizes à monta e durante a gestação tem efeitos significativos sobre o crescimento e desenvolvimento do(s) feto(s) que elas carregam. Da mesma maneira, o efeito do tamanho corporal da matriz sobre o desenvolvimento do feto demonstra influência significativa no peso ao nascer do cordeiro.
Assim, foi desenvolvida a primeira parte do projeto a qual visa analisar a influência das condições de tamanho corporal e de alimentação da ovelha durante o período de gestação sobre toda a vida produtiva do cordeiro (de feto à idade adulta). Foi analisada, também, a capacidade de transmissão destes efeitos para a geração subsequente (Figura 1).
Figura 1 - Primeira parte do experimento.
A primeira geração de animais nasceu em 2005. Ambos os cordeiros filhos de ovelhas pequenas e daquelas que sofreram restrição alimentar durante a gestação apresentaram peso ao nascer menor do que o de cordeiros provenientes de ovelhas grandes e daquelas que foram tratadas ad libitum (sem restrição alimentar). As fêmeas nascidas da primeira geração de 2005 pariram em setembro de 2007 e foram ordenhadas 1 vez por semana durante 7 semanas consecutivas. Os resultados obtidos na primeira lactação de 2007 demonstraram algo inesperado: as ovelhas nascidas de matrizes que sofreram restrição alimentar durante a gestação produziram mais leite com concentrações maiores de lactose e proteína (Figura 2 e Gráfico 2).
Figura 2 - Segunda parte do experimento.
Gráfico 1 - Curva de lactação e concentração de lactose.
As diferenças em lactação refletiram diretamente na taxa de crescimento da segunda geração de modo que os cordeiros cujas avós foram expostas à restrição alimentar durante a gestação cresceram mais rápido do que aqueles cujas avós não sofreram restrição alimentar. Os resultados das lactações de 2008 e 2009 não indicaram diferenças no que diz respeito à produção e constituição do leite, entre as ovelhas filhas de matrizes de diferentes tamanhos corpóreos e diferentes níveis de alimentação durante a gestação. As ovelhas cujas mães foram alimentadas com restrição durante a gestação produziram cordeiros mais pesados ao nascimento ainda que elas tenham apresentado peso mais leve ao nascer quando cordeiras.
Em 2010 foram realizadas as seguintes atividades: 4ª ordenha da primeira geração de ovelhas durante a primavera, mensuração da capacidade reprodutiva e lactação das ovelhas pertencentes à segunda geração e acompanhamento do crescimento e puberdade dos cordeiros da terceira geração nascidos em 2009 por meio de um novo experimento. Os resultados serão apresentados no próximo encontro da B+L NZ Science Day for Farmers que acontecerá este ano na Massey University.
O resumo do trabalho ainda não foi publicado, portanto as informações, figuras e gráfico apresentados aqui foram elaborados, adaptados e traduzidos após participação como ouvinte na palestra ´Foetal programming - Lamb performance programmed from conception´ ministrada pelo professor Hugh Blair - Instituto de Zootecnia, Ciências Veterinárias e Biomédicas - Massey University, durante a B+L NZ Science Day em Palmerston North, Nova Zelândia, no dia 23 de junho de 2010.