Sem dúvida nós, técnicos e produtores somos responsáveis pela lamentável situação a que chegamos. Mas não adianta chorar. O que temos a fazer é trabalhar para mudar essa situação, para que técnicos e produtores sejam respeitados e ouvidos. Na Leite São Paulo temos trabalhado para dar nossa contribuição para que essas mudanças ocorram.
Acrescento que havia uma reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Leite e Derivados marcada para 25 de fevereiro próximo, para a qual foi silicitada sugestões para a pauta.
Transcrevo a seguir o que enviamos para a Secretaria da Câmara como sugestão para a pauta da reunião:
"O Brasil durante décadas não produziu leite suficiente para atender ao mercado interno, caracterizando-se como importador de leite. Praticamente só no período 2004/2008 conseguimos atingir a auto-suficiência para abastecer o consumo interno e ter algum excedente para exportação. No segundo semestre de 2008 sob alegação que a oferta de leite era muito grande e que a indústria tinha grandes estoques, foi reduzido substancialmente o preço pago ao produtor. Todavia já em janeiro de 2009 começaram a ser feitas grandes importações de leite em pó da Argentina e do Uruguai, e apesar do cancelamento de licença automática para importação, o volume de importação foi tanto que em 2009 o equivalente em leite fluido das importações superou a 0,5 bilhão de litros. No final de 2009 os preços ao produtor nacional cairam na contramão do que acontecia internacionalmente. Em audiência pública a Comissão de Agricultura e Pecuária da Câmara se comprometeu a verificar a relação de preços entre o que o consumidor paga e o que o produtor recebe para verificar se não estaria havendo abuso de poder econômico e comercial no varejo e na indústria.
Penso que se estes aspectos não forem discutidos com transparência e tomadas as providências cabiveis, corremos o risco de voltarmos a importar grandes quantidades de leite em 2010 e corremos o risco de voltarmos a ser por muitos anos, tal como aconteceu poe décadas, ser grande importador de leite.
Por isso minha sugestão é que a pauta da reunião de 25 de fevereiro próxima se concentre na discussão no que aconteceu no mercado em 2008/2009 em termos de produção, consumo interno, exportações e importações, e com a distribuição das margens entre produtores, indústria e varejo e na perspectiva de equacionar os problemas constatados para o período de 2010/2011.
Seria importante nessa reunião a presença de representantes da Comissão de Agricultura e Pecuária da Câmara, para relatar sa providências que se seguiram depois da audiência pública de 2009 e participar das discussões."
Mas hoje, depois de ler a matéria no Correio Popular, sobre negociações com a Argentina sobre uma política comum para o setor lácteo, e que me motivou a escrever o artigo publicado no Espaço Aberto, acabo de receber e-mail cancelando a reunião, em função da pouca evolução dos assuntos da pauta desde a última reunião, e informando que assim que a nova data seja definida os participantes da câmara serão informados.
A existência dessas negociações com a Argentina sem conhecimento dos produtores, além de ser um sinal de alerta, reforçam que a pauta da próxima reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Leite e Derivados deve se concentrear na discussão no que aconteceu no mercado em 2008/2009 em termos de produção, consumo interno, exportações e importações, e com a distribuição das margens entre produtores, indústria e varejo e na perspectiva de equacionar os problemas constatados para o período de 2010/2011, incluindo a discussão do que estaria sendo tratado com a Argentina nas negociações que estariam sendo conduzidas pelo pelo presidente da Agência brasileira de Desenvolvimento Industrial e pelo secretário de Comércio Exterior, em sequência a uma negociação política que teria havido entre o ministro Miguel Jorge, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, com a ministra argentina da Produção, Debora Giorgi.
Achamos que a pecuária leiteira nacional merce uma reunião da Cadeia Produtiva de leite e Derivados só para tratar desses assuntos, que podem ser determinantes do futuro da atividade no País. E quanto antes essa reunião for realizada, melhor.
Marcello de Moura Campos Filho
Presidente da Leite São Paulo