Além dos resíduos da mandioca, ela ainda possui os restos culturais ou a parte aérea. Estes materiais podem ser usados na forma fresca, ensilada ou de feno. Nosso grupo trabalhou com resíduos de mandioca em substituição ao milho na dieta de novilhas e obteve ganhos de peso médios de 1,5 kg/dia com o uso destes resíduos.
Assim, este trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar a substituição do milho moído pela casca da mandioca sobre o desempenho, rendimento de carcaça de cordeiros e a viabilidade econômica desta substituição. Utilizou-se 32 cordeiros mestiços Santa Inês (oito animais para cada dieta), estes animais foram alojados em baias individuais por 63 dias, onde foram alimentados com feno de parte aérea de mandioca, como volumoso, e com concentrado a base de farelo de soja e milho moído e os níveis de substituição deste por 19; 38 e 56% de casca de mandioca em comparação a ração tradicional com milho.
Observa-se na Tabela 1 que não houve diferença significativa para o peso corporal inicial (PCI) e final (PVF), ganho de peso médio diário (GMD), peso de carcaça quente (PCQ) e rendimento de carcaça quente (RCQ) para a dieta com milho e os níveis de substituição do milho pela casca da mandioca.
Tabela 1 - Valores médios de Peso corporal inicial (PCI) e Final (PCF), Ganho médio diário (GMD), Peso de carcaça quente (PCQ), Rendimento de carcaça quente (RCQ) em função dos níveis de substituição do milho pela casca da mandioca.
O GMD 0,155 kg/dia foi, relativamente, baixo, porém aceitável para esta categoria de animais, uma vez que, eram animais jovens, recém-desmamados. Cabe salientar que existem na literatura dados de animais desta mesma categoria com desempenho semelhante a esse. O RCQ médio de 45,03% está dentro do esperado para dietas com teores de fibra elevada como foi o caso destas dietas. O PCQ médio de 14,36 kg está dentro da expectativa do mercado que prefere carcaças com peso em torno de 15 kg.
Os dados apresentados permitem concluir que a substituição do milho pela casca de mandioca não interferiu no ganho médio diário e nos pesos e rendimentos de carcaça dos ovinos confinados.
Por outro lado, para a avaliação da viabilidade econômica do desempenho dos animais submetidos às diferentes dietas, buscaram-se os preços praticados no mercado da região do recôncavo da Bahia no mês de junho de 2011.
Assim, os valores orçados, para cada 01 kg do insumo e/ou produto, foram os seguintes: Feno de Parte Aérea de Mandioca - R$ 0,40 (preço bastante elevado, superando o preço da silagem de milho - R$ 0,28 e do feno de Tifton 85 - R$ 0,29); Casca de Mandioca - R$ 0,20; Milho moído - R$ 0,65; Farelo de Soja - R$ 1,30; Sal Mineralizado - R$ 1,00 e Custo do cordeiro - R$ 6,00 por kg de peso corporal e o preço comercial da carcaça do cordeiro - R$12,00 por kg de carcaça.
Na Tabela 2 estão apresentados os valores referentes à aquisição dos animais, custo com a alimentação, a soma desses dois custos, a receita obtida pela venda das carcaças dos animais e a renda bruta, ou seja, a receita obtida menos os custos efetuados.
Tabela 2 - Custo de compra, com a alimentação, receita com a venda, renda bruta
Cabe salientar que a discussão da viabilidade econômica concentrou-se, apenas, na análise dos custos operacionais efetivos, uma vez que, os custos relacionados a instalações, oportunidades, mão de obra, etc. são os mesmos para as distintas dietas.
Observa-se na Tabela 2 que o melhor retorno econômico ocorreu com o nível de 19% de substituição em relação à dieta padrão (milho), R$ 284,86 e R$ 95,15, respectivamente. Porém, todas as dietas que utilizaram casca de mandioca apresentaram melhor renda bruta que a dieta padrão.
Todavia, há a necessidade de avaliar bem os custos dos insumos e os preços de mercado dos animais, bem como sua qualidade e potencial de desempenho, pois qualquer variação nestes itens resultará em alteração dos valores da renda bruta.
Fazendo uma simulação com relação ao preço de venda dos animais, colocando como sendo R$ 10,00 por kg de carcaça, como se observa na Tabela 3.
Tabela 3 - Custo de compra, com a alimentação, receita com a venda, renda bruta com valor de venda dos animais de R$ 10,00 por Kg.
Nota-se que esta alteração de R$ 2,00 por kg de carcaça, ou seja, uma redução de menos de 17% no preço de venda dos animais resulta em prejuízo para as dietas com milho e com substituição 38% pela casca de mandioca, ficando o nível de 19% com retorno próximo a zero e o nível de 56% com renda bruta positiva.
Ao passo que, se os animais ganhassem 15% mais de peso por dia, isso resultaria em melhor retorno econômico da atividade, como se observa na Tabela 4.
Tabela 4 - Custo de compra, com a alimentação, receita com a venda, renda bruta com o ganho de peso dos animais 15% superior.
Assim, o produtor rural que optar por terminar cordeiros de forma intensiva deve estar atento às condições de mercado, tanto de insumos, como da carne de ovinos.
PS: A condução dos experimentos ficou sob a responsabilidade dos mestrandos Luciano Lemos da Silva e Gilmara Santos Guimarães.