A nutrição do rebanho é um ponto fundamental para o sucesso do sistema de produção. O nível de nutrientes ofertado e a genética dos animais são fatores determinantes no desenvolvimento dos animais e na qualidade do produto obtido (rendimento de carcaça; desenvolvimento muscular; deposição de gordura; teor de colesterol na carne; etc.).
Existe uma ampla variação de sistemas de terminação de ovinos no Brasil e no mundo. Podemos encontrar desde animais criados extensivamente com praticamente nenhum tipo de manejo até animais confinados com alto nível de tecnologia (sistema intensivo). É importante que fique claro que não existe um sistema padrão que possa funcionar adequadamente em todas as regiões e propriedades, pois as condições climáticas, a taxa de lotação, a área disponível para a criação e disponibilidade e qualidade das forragens são muito diferentes.
Nos sistemas de terminação de ovinos baseados na pastagem, o desempenho e o rendimento de carcaça dos animais estão diretamente relacionados com a qualidade da pastagem e da disponibilidade de forragem. A escolha do genótipo (espécie e cultivar) da pastagem que será utilizada deve ser feita considerando-se o clima e o solo local, o custo de implantação e manutenção da pastagem, o nível de aceitação dos animais e o tipo de produto que se deseja obter.
Entre os sistemas utilizados para a terminação de cordeiros em pastagem natural (campo nativo) ou cultivada, destacamos:
- cordeiros desmamados mantidos em pastagem até o abate;
- cordeiros desmamados mantidos em pastagem com suplementação (concentrada ou volumosa);
- cordeiros mantidos com as ovelhas em pastagem;
- cordeiros mantidos com as ovelhas em pastagem com suplementação em creep feeding;
- cordeiros mantidos com as ovelhas em pastagem com suplementação em creep grazing;
Trabalhos realizados no Brasil mostram que a utilização de forrageiras como fonte primária de energia na dieta de ruminantes apresenta grandes vantagens econômicas para o desenvolvimento da ovinocultura, entretanto, são necessários: a escolha correta da forrageira, o conhecimento do quanto a forragem atende às exigências dos animais, o manejo das pastagens e a conservação de alimentos para períodos de escassez (Silva Sobrinho, 2001).
A suplementação de cordeiros terminados a pasto deve ser uma ferramenta utilizada para suprir deficiências nutricionais específicas, dar suporte aos períodos de baixa oferta de forragem e também, possibilitar melhoras no desenvolvimento dos cordeiros e nas características da carcaça. O suplemento para animais em pastejo complementa o valor nutritivo da forragem disponível, principalmente quando esta é de baixa qualidade.
Na figura abaixo podemos observar as características da carcaça de cordeiros Suffolk, abatidos com 32 kg de PV, terminados em quatro sistemas:
(1) desmamados e mantidos em pasto de azevém (Lolium multiflorum Lam.);
(2) mantidos com as mães em pasto de azevém;
(3) mantidos com as mães pasto de azevém com suplementação concentrada a 1 % do peso corporal em creep feeding;
(4) confinamento com silagem de milho e concentrado ad libitum (70% de silagem de milho e 30% de ração farelada).
Gráfico 1 - Rendimento de carcaça quente (RCQ%); rendimento de carcaça fria (RCF%); rendimento verdadeiro (RV%) e percentual de gordura na carcaça (G%) de cordeiros em quatro sistemas de terminação.
Adaptado de Fernandes (2008) e Ribeiro et al. (2009)
Observe que apesar dos cordeiros terem sido abatidos com peso vivo semelhante, há diferenças nos rendimentos e na deposição de gordura nas carcaças. Os cordeiros desmamados aos 60 dias de idade e terminados em pastagem de azevém apresentaram os menores rendimentos de carcaça e inferior deposição de gordura. Segundo os autores, o desempenho inferior desses cordeiros pode ter sido causado, provavelmente, pela incapacidade dos animais ingerirem volume suficiente de pasto para atenderem as exigências nutricionais nessa fase. Além disso, é preciso considerar o estresse causado pelo desmame associado à ausência de ingestão do leite materno e o alto índice de verminose nesses animais. A suplementação de cordeiros terminados em pasto promoveu aumento nos rendimentos de carcaça e na deposição de gordura. Observe que as características das carcaças dos cordeiros terminados ao pé da mãe em pasto de alta qualidade são semelhantes as dos cordeiros confinados.
Em agosto de 2004, o grupo do LAPOC (Laboratório de Produção e Pesquisa de Ovinos e Caprinos da UFPR) realizou um estudo para avaliação da suplementação concentrada de cordeiros desmamados aos 42 dias de idade e terminados em pasto de azevém anual (Lolium multiflorum Lam.). Os seguintes níveis de suplementação concentrada foram comparados: sem suplementação; com 1% do peso vivo (PV) até o abate; com 2% do PV até o abate; suplementação ad libitum (que foi estimada em 3,2% do PV) até o abate. Na figura abaixo podemos observar o desempenho e as características das carcaças desses cordeiros.
Gráfico 2 - Ganho médio diário (GMD); idade de abate (IA); rendimento de carcaça quente (RCQ%); rendimento de carcaça fria (RCF%) e percentual de gordura na carcaça (G%) de cordeiros terminados em pasto de azevém com suplementação concentrada.
Fernandes et al. (2009) e Ribeiro (2010)
A suplementação concentrada promoveu aumento do ganho médio diário, dos rendimentos de carcaça quente e fria e redução na idade de abate de cordeiros desmamados terminados em pasto de azevém. No entanto, o fornecimento de concentrado elevou o custo com alimentação dos animais. Apesar disso, o sistema ad libitum apresentou melhores indicadores econômicos que os demais. Isto se explicou pelo menor consumo total de concentrado neste sistema (menor tempo de terminação), alto rendimento de carcaça e baixa mortalidade em relação aos demais níveis de suplementação (Barros, 2008).
É importante ressaltar que o uso inadequado da suplementação pode acarretar em excesso de gordura na carcaça, o que, além de afetar a qualidade do produto final, repercute na viabilidade econômica do sistema de terminação, tendo-se em vista a transformação de boa parte dos nutrientes em tecido indesejável (gordura), sob o ponto de vista do consumidor (Siqueira et al., 2001).
Na Tabela abaixo podemos observar as características da carcaça de cordeiros em diferentes sistemas de terminação.
Tabela 1 - Desempenho e características da carcaça de cordeiros em diferentes sistemas de terminação.
(PVA= peso vivo ao abate (kg); IA= idade de abate (dias); GMD= ganho médio diário (kg/dia); RCQ= rendimento de carcaça quente (%); RCF= rendimento de carcaça fria (%))
Observe que há diferenças quando comparamos os diferentes sistemas de terminação de ovinos. Mesmo quando comparamos animais terminados no mesmo sistema podemos observar grandes diferenças no desenvolvimento, nas características e na qualidade da carcaça dos cordeiros de acordo com a qualidade, a oferta e o tipo de alimento. Por exemplo: cordeiros desmamados terminados em pastagem de inverno (azevém) X terminados em pastagem nativa X terminados em pastagem de verão (Tifton-85).
Considerações Finais
A qualidade e o consumo de alimento na fase de terminação dos cordeiros são extremamente importantes na obtenção de bons índices produtivos (ganho médio diário; idade de abate; conversão alimentar; rendimento de carcaça; conformação e estado de engorduramento da carcaça; etc.) e estão diretamente relacionados com a eficiência econômica da criação.
É importante que o produtor saiba que não existe uma fórmula pronta e perfeita para produção de ovinos. Para escolher o melhor sistema para a terminação de seus animais, primeiro estabeleça os objetivos de sua criação e o tipo de produto que deseja obter; depois analise a disponibilidade de área, instalações e mão-de-obra; considere o valor da terra e o custo da alimentação. Lembre-se que nem sempre o sistema que apresenta os maiores índices será o de maior lucratividade devido os custos de produção.
No próximo artigo iremos discutir como o tipo (volumoso ou concentrado) e a qualidade (quantidade de energia, proteína bruta, fibra) do alimento podem afetar os rendimentos de carcaça dos ovinos.
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