Conforme se destacou no artigo anterior "Quanto custa produzir cordeiros?", por meio da devida organização das informações colhidas na propriedade e do conhecimento das metodologias de cálculo, é possível elaborar planilhas para cálculo dos custos produtivos, dos itens que os compõem, e de sua análise de resultado econômico.
Considerando esses aspectos, e a partir de experimentos realizados no Laboratório de Produção e Pesquisa em Ovinos e Caprinos (LAPOC) da Universidade Federal do Paraná, foram identificados todos os custos de produção e posteriormente calculados os resultados das atividades econômicas da ovinocultura em vários sistemas anuais de produção de cordeiros para carne ao longo dos anos. Esses sistemas de produção foram implementados em campo e a partir de seus ciclos anuais produtivos, foram coletados índices e custos. Em seguida foi gerada a análise econômica.
No caso desse texto, para fins de comparação entre si, foram selecionados quatro sistemas de terminação distintos, conforme descreve-se a seguir:
1. Cordeiros terminados ao pé da mãe em pastagem, sem o desmame;
2. Cordeiros desmamados precocemente (45 dias) mantidos em pastagem e suplementados com concentrado com 20% PB em 2% do seu peso por dia;
3. Cordeiros desmamados precocemente (45 dias) mantidos em pastagem e suplementados com concentrado com 20% PB à vontade;
4. Cordeiros desmamados precocemente (45 dias) e confinados em aprisco suspenso com dieta composta por 60% de silagem de milho e 40% de concentrado com 20% PB.
Em cada um desses sistemas, o cálculo foi realizado para um rebanho de 150 ovelhas numa área de pastagem cultivada de capim Tifton (verão) e Azevém (inverno) de nove hectares em três sistemas e sete no confinamento. A produtividade dos sistemas está apresentada abaixo:
Tabela 1. Índices obtidos com os cordeiros
Clique na imagem para ampliá-la.
No artigo anterior apresentamos o custo de produção dos cordeiros, conforme o gráfico a seguir. Os valores referem-se ao custo de um ano de produção da atividade como um todo no módulo das 150 ovelhas, desde o custo da terra até os insumos (alimentos, medicamentos, entre outros).
Gráfico 1. Custo total de produção dos sistemas em um ano de atividade.
Agora apresentamos na Tabela 2 as receitas obtidas nesses mesmos sistemas. Um percentual dos cordeiros que nascem é separado para ser vendido como matriz para produtores, o que contribui na formação da receita (Gráfico 2).
Tabela 2. Receita da atividade
Clique na imagem para ampliá-la.
Gráfico 2. Percentual de contribuição da venda de animais para abate e para reprodução na receita total.
A partir dos dados de custo e receita podemos realizar os cálculos para avaliar as margens e a lucratividade (Tabela 3). A margem bruta, que é a receita total menos o custo variável foi negativa no confinamento, ou seja, a receita obtida não foi capaz de cobrir o custo variável da produção.
Tabela 3. Resultados da atividade nos quatro sistemas
Clique na imagem para ampliá-la.
Nota: CT = custo total de produção; COP = custo operacional efetivo.
Sistemas: 1. Cordeiros terminados ao pé da mãe em pastagem, sem o desmame; 2. Cordeiros desmamados precocemente (45 dias) mantidos em pastagem e suplementados com concentrado com 20% PB em 2% do seu peso por dia; 3. Cordeiros desmamados precocemente (45 dias) mantidos em pastagem e suplementados com concentrado com 20% PB à vontade; 4. Cordeiros desmamados precocemente (45 dias) e confinados em aprisco suspenso com dieta composta por 60% de silagem de milho e 40% de concentrado com 20% PB.
O ponto de equilíbrio representa o percentual da receita necessário para cobrir o custo. Neste caso, no melhor sistema que foi a terminação de cordeiros ao pé da mãe há necessidade de vender 89% da produção para cobrir o custo variável. Observe que no caso do confinamento, mesmo vendendo 100% da produção não é possível cobrir o custo.
O preço de nivelamento é outro indicador importante e indica o preço mínimo que o produto deve ser vendido para cobrir os custos. Veja que o preço mínimo de venda do quilo do cordeiro deveria ser R$ 4,80 para cobrir todos os custos de produção, incluindo juros, depreciação e custo de oportunidade do capital investido. Se retirarmos o custo de oportunidade do capital investido dos custos temos o custo operacional efetivo, dessa forma o preço mínimo de venda seria R$ 3,79 no mesmo sistema. E se considerarmos como custo, apenas o que o produtor realmente desembolsa, ou seja, não considerar os custo com depreciação, juros e custo de oportunidade, temos um valor menor como custo, R$ 2,47. Observe a importância do conhecimento desses indicadores. O mais comum é o produtor considerar como seu custo este último apresentado, e dessa forma pode achar que está tendo lucro, mas na verdade está ocorrendo depreciação do seu investimento que não está sendo considerada. Ao longo dos anos isso tem um reflexo por ocorrer sucatemento dos bens sem haver dinheiro para reposição, caso o dinheiro obtido como receita não seja reaplicado nos itens de produção. Por isso, o produtor deve ter ciência de todos esses preços a fim de optar por avaliar sua atividade da forma que achar mais adequada para sua realidade.
E os outros resultados importantes são a margem por cordeiro ou por quilo de cordeiro e por matriz, que foram calculadas tendo como base o preço de R$ 4,00 o quilo do cordeiro. Outra análise interessante é a produtividade por matriz. Para esse cálculo deve-se dividir o peso total de cordeiros obtidos pelo número de ovelhas, dessa forma tem-se a média por matriz e basta multiplicar pelo preço de venda. Verifique na Tabela 3 que cada ovelha gera receita em torno de R$ 149,00. Lembre-se de que quanto menor for a taxa de fertilidade, natalidade e mortalidade dos cordeiros, menor também vai ser a produtividade por matriz.
O último indicador que temos é a lucratividade que representa o percentual da receita que efetivamente sobra ao produtor. Veja que somente um sistema no fim do ano pagou todos os custos e ainda sobrou dinheiro. Lembre-se de que para lucratividade, todos os custos foram considerados, inclusive aqueles referentes ao juros!
Neste artigo apresentamos os resultados da atividade da forma como foi realizada no LAPOC, com suas peculiaridades e custos reais. Ressaltamos que esse custo não pode ser usado como base, pois cada propriedade tem uma realidade diferenciada. Nosso objetivo é mostrar os diferentes índices e formas possíveis de avaliar as atividades usando como exemplo os valores do LAPOC.
No próximo artigo discutiremos esses índices para um módulo maior, de 600 ovelhas ao invés de 150, e apresentaremos o que é alterado no custo e no resultado econômico. E o próximo passo será mostrar os resultados decorrido um prazo de 20 anos para esses sistemas.
Referências bibliográficas
BARROS, C.S.; MONTEIRO, A.L.G.; PRADO, O.R. CUSTARE CARNE 2009. 1 CD-ROM.
CANZIANI, J. R. F. Uma abordagem sobre as diferenças de metodologia utilizada no cálculo do custo total de produção da atividade leiteira a nível individual (produtor) e a nível regional. In: SEMINÁRIO SOBRE METODOLOGIAS DE CÁLCULO DE CUSTO DE PRODUÇÃO DE LEITE, 1., 1999, Piracicaba. Anais... Piracicaba: USP, 1999.
BARROS, C. S., MONTEIRO, A. L. G., PRADO, O. R. Gestão e controle de custos nos sistemas de produção de ovinos e caprinos In: XIV Simpósio Paranaense de Ovinocultura, II Simpósio Paranaense de Caprinocultura, I Simpósio Sul Brasileiro de Ovinos e Caprinos, 2009, Curitiba-PR. Anais do XIV Simpósio Paranaense de Ovinocultura, II Simpósio Paranaense de Caprinocultura, I Simpósio Sul Brasileiro de Ovinos e Caprinos. Curitiba-PR: LAPOC-UFPR, 2009. v.1. p.1 - 13
Para comentários e dúvidas, utilize o box abaixo.