A pneumonia é reconhecida em todo mundo como a principal doença respiratória na espécie ovina e uma das mais importantes causas de mortalidade de cordeiros, tornando-se responsável por grandes perdas econômicas no sistema agroindustrial dos maiores produtores mundiais deste segmento.
Atingindo geralmente cordeiros de até 3 meses de idade em sua forma aguda e animais um pouco mais velhos em sua forma crônica, o primeiro sinal da doença pode ser a morte súbita, no entanto, os sinais clínicos mais comumente encontrados incluem tosse, secreção nasal, secreção ocular, taquipnéia, febre e ruídos anormais à auscultação, associados à perda de peso, depressão, isolamento, anorexia e decúbito.
Figura 1. Mudanças de comportamento envolvendo depressão, isolamento, anorexia e decúbito regular podem ser os primeiros sinais visíveis de pneumonia entre os cordeiros lactantes do rebanho.
Os principais patógenos envolvidos no complexo respiratório ovino são Mannhemia haemolytica e Pasteurella multocida, isoladamente ou em associação, no entanto, alguns outros agentes infecciosos, a exemplo de Mycoplasma ovipneumoniae e Escherichia coli, podem estar associados no processo patológico, culminando quase sempre em um quadro de broncopneumonia fibrinosa aguda e/ou septicemia tendo como origem os órgãos respiratórios.
Embora possa haver transmissão exógena por meio do contato direto ou por aerossóis, os microrganismos envolvidos são comensais do trato respiratório superior, podendo invadir os tecidos e expandirem a área de colonização em animais imunodeficientes ou sob condições estressantes.
Dessa forma, fatores predisponentes e ambientais relacionados à transmissão passiva de imunidade e nutrição pós-parto (produção e ingestão insuficientes de colostro/leite), peso ao nascimento (baixo PN), condições climáticas (vento, temperatura, umidade, precipitação, estação do ano e a ampla interação entre suas respectivas variáveis), dimensionamento e qualidade das construções e instalações pecuárias (espaço, ventilação, insolação, piso e correntes de ar), manejo operacional (caudectomia, castração, transporte, manipulação, mudança de dieta e desmama), deficiência nutricional (proteína, minerais e vitaminas) e doenças intercorrentes (parasitismo) podem ter um papel de suma importância na etiologia da doença, causando debilidade imunológica e/ou estresse e, subsequentemente, supressão dos mecanismos de defesa do hospedeiro, permitindo que os agentes infecciosos induzam uma condição patológica.
Embora a mortalidade entre os cordeiros pneumônicos possa não superar os 8%, aqueles que se recuperam espontaneamente e tornam-se cronicamente afetados, já em fase de terminação ou engorda, apresentam menor capacidade respiratória, baixo ganho de peso e pior conversão alimentar, aumentando bastante os custos envolvidos ao longo do processo produtivo, uma vez que o desempenho desses animais é seriamente afetado, podendo ser até 50% e 20% inferior ao de cordeiros saudáveis com relação ao ganho de peso diário e ao peso de carcaça na mesma idade de abate, respectivamente.
Figura 2. Cordeiros neonatos e de até 2 meses de idade compõem a categoria mais acometida por casos de pneumonia, resultando em baixa performance e/ou morte.
Com isso, medidas preventivas e terapêuticas devem ser implementadas a fim de diminuir a ocorrência dos casos clínicos assim como para reduzir os efeitos deletérios da pneumonia sobre a performance dos cordeiros, por meio de iniciativas imediatas assim que constatado alguma anomalia.
Dentre as medidas preventivas e terapêuticas, destacam-se:
1.Manejo nutricional das ovelhas gestantes, otimizando a produção de colostro e o bom desenvolvimento do cordeiro, favorecendo uma boa oferta de colostro/leite no pós-parto assim como um peso ao nascimento satisfatório;
2.Dimensionamento das construções e instalações, de forma a permitir boa ventilação superior sem correntes de ar a nível de piso e dos animais, assim como, espaço adequado para o lote de cordeiros que proporcione conforto térmico e social;
3.Limpeza diária das instalações (por varredura e/ou raspagem) e desinfecção completa das mesmas a cada 7 dias após limpeza prévia (preferencialmente com lança-chamas ou "vassoura-de-fogo"), evitando-se o excesso de umidade, de agentes contaminantes (como amônia), o acúmulo de dejetos e a proliferação de possíveis agentes infecciosos;
4.Fazer uso de práticas de manejo como caudectomia, castração e brincagem somente quando realmente necessário e tomando os devidos cuidados anti-estresse;
5.Evitar práticas de natureza violenta (física, comportamental e/ou sonora) por parte do pessoal operacional na rotina de manejo dos animais;
6.Isolar os animais apresentando sinais clínicos de pneumonia objetivando reduzir a disseminação da doença e facilitar os procedimentos terapêuticos envolvendo o grupo;
7.Entrar com antibioticoterapia assim que constatado os primeiros sinais de doença respiratória, especialmente em cordeiros mais jovens (possuem um menor custo de tratamento por serem mais leves).