O professor Luiz Carlos Mendonça de Barros é quem, ao meu juízo, melhor sabe ler a conjuntura brasileira, o que é um grande feito. Afinal, somos um país volátil por natureza. Mais que emocionante, nossa economia é sempre um convite à aventura. Pois, aprendi com ele que para analisar a conjuntura econômica de um país específico ou a conjuntura econômica global, não se deve dar muita importância aos noticiários, mas à cotação do ouro. Afinal, ao sentir a menor possibilidade de abalos, o capital se refugia no ouro, a forma mais genuína de garantir reserva de valor, proteção contra instabilidade. Então, a regra é clara. Se as expectativas são favoráveis, o ouro tem baixa cotação. Se o que se espera é a instabilidade, a cotação do ouro sobe em direção às nuvens!
A Figura 1 traduz o comportamento da cotação do ouro nos últimos 40 anos ou 500 meses. Na primeira está o comportamento da cotação nos Estados Unidos e na segunda aqui no Brasil. Perceba que, quando tivemos a famosa crise do petróleo em 1973 e a economia mundial paralisou, o impacto foi imenso, mas nada similar à falência da economia mundial ocorrida em 1980, quando os países perderam efetivamente a capacidade de gerar políticas públicas setoriais.
Agora, veja que, de 1983 a 2003 a cotação do ouro manteve certa estabilidade nos Estados Unidos. Já no Brasil, surgiu um dente, com queda abrupta exatamente quando tivemos o Plano Real. A partir de 1998 a cotação volta a subir ao patamar anterior ao Plano e, depois de 2003, ocorre uma contínua valorização do ouro. Portanto, estamos há onze anos vivendo um período de maior instabilidade, somado a uma volatilidade nas expectativas, traduzida na volatilidade da cotação do ouro.
Figura 1. Cotação do Ouro nos EUA e Brasil, jan/1975 a dez/2014.
Veja agora a Figura 2. Ao longo de 2009, com a eclosão da crise financeira internacional, ocorreu um contínuo aumento no valor do ouro. Quanto mais acentuou a crise, maior foi a valorização até que, a partir de 2012, a cotação começou um movimento no sentido contrário, ou seja, o ouro continuamente foi se desvalorizando, na medida em que a economia americana foi se recuperando. Já no Brasil, a crise de 2009 não levou a um forte impacto no primeiro momento. Mas, no segundo semestre de 2010, próximo das eleições, a cotação do ouro mudou de patamar e não voltou a cair até hoje. Portanto, a conclusão é clara. Nos Estados Unidos as expectativas estão melhorando e o mesmo não ocorre no Brasil.
Figura 2. Cotação do Ouro nos EUA e Brasil, jan/2009 a dez/2014.
Como se déssemos um zoom, pela Figura 3 perceba que, ao longo deste ano, de março para cá a cotação do ouro nos Estados Unidos tem viés de queda, com pequena variação a partir de novembro, quando o presidente Obama sofreu uma derrota nas eleições legislativas e os republicanos passaram a ter maioria na Câmara e no Senado Federal. Já no Brasil, desde setembro o ouro não para de subir. Quando as expectativas são favoráveis, as pessoas tendem a consumir mais. Leite derivados são bens que reagem muito ao comportamento da economia. Quando o cenário é favorável o consumo é aquecido. Quando o cenário é de tensão, de risco, de ouro valorizado, o consumo de lácteos desaquece. Então, fica a pergunta para você responder: em 2015 teremos um mercado mais favorável ou menos? Faça a sua previsão!
Figura 3. Cotação do Ouro nos EUA e Brasil, jan a dez/2014.
A cotação do Dólar frente ao Real é variável fundamental para definir se seremos exportadores ou importadores de leite. Nos últimos anos tivemos a valorização do Real frente ao Dólar. Isso significou o encarecimento de todos os bens e serviços brasileiros em relação aos produtos importados. O resultado foi que, de 2011 para cá acumulamos importações de R$ 1,5 bilhões de leite e derivados. O Gráfico 4, contudo, mostra um fenômeno interessantíssimo. Veja que a menor cotação desta série de valores médios semestrais e em números-índices ocorreu no segundo semestre de 2011. Em outubro o Dólar chegou a ser cotado em R$ 1,50. De lá pra cá houve uma desvalorização do Real em 50%. Não é sem motivo que as importações este ano fecharão em valores quatro vezes menores que em 2011. Agora, é a sua vez: veja que estimei a tendência do comportamento do Real frente ao Dólar, representado pela reta expressa na Figura. Qual é a sua aposta? Teremos Dólar se elevando em relação ao Real em 2015?
Figura 4. Cotação do Dólar frente ao Real em valores médios semestrais, expressos em números-índices. Brasil, 2008 a 2014.
Os principais importadores de leite do mundo são também exportadores de petróleo. Diamante e petróleo carregam a maldição de não diversificarem as economias dos países exportadores. Esses países passam a depender basicamente da receita das exportações desses produtos para adquirir alimentos. Então, quando o preço do petróleo está elevado ocorre crescimento da demanda mundial de leite, que se traduz em elevação de preços internacionais. O inverso é verdadeiro. Na Figura 5 está representado o comportamento dos preços mensais do barril de petróleo a partir de janeiro de 2013. Perceba que desde maio os preços estão despencando, em função da menor demanda chinesa e da entrada do gás de xisto americano como efetiva alternativa energética. No dia 15 de dezembro os preços chegaram a US$ 60,00. Com petróleo em queda a Venezuela, Angola, México, Rússia e países árabes comprarão menos leite? Então, que aposta você faz para o preço internacional do leite para 2015?
Figura 5. Cotação mensal do barril de petróleo em Londres. Jan/2013 a nov/2014.
Nos últimos anos os preços do milho e principalmente da soja fizeram a alegria dos produtores. Eles receberam bem mais que o custo de produção. Mas, será que isso tem chances fortes de se repetir? A Figura 6 parece mostrar que não. No caso do milho, o soluço atual de preços tem a ver com a entressafra. Então, sua aposta é que a ração complicará ou não os custos de produção em 2015?
Figura 6. Cotação do Preço mensal da soja e do milho Jan/2011 a nov/2014.
Certamente você fez suas previsões, tendo por base essas variáveis básicas e sua experiência. Olhando 2015 daqui, sou levado a imaginar que continuaremos tendo ouro caro no Brasil, ou seja, instabilidade quanto ao futuro da economia. Isso significa que minha aposta é que a demanda por leite em 2015 não crescerá mais que 1,5%. O dólar será a grande proteção do setor, aumentando a competitividade da produção brasileira. Os preços no mercado internacional cairão, o que sempre afeta os preços no Brasil. Mas o impacto no Brasil será menor, em função da desvalorização do Real. A importação manterá o patamar desse ano, pelo menos, com redução dos preços ao produtor. Todavia, a margem do produtor será menos impactada, pela redução dos preços de soja e milho.
Mas, registre e acompanhe: crescerá a internacionalização da indústria. Além disso, fique com uma sugestão: continue a economizar água. Ela fará falta em 2015!